A primeira nota vai para a precaução tomada na hora de escrever este post: antes de o começar a redigir fui buscar uma âncora ao Rio Ave (não ao clube) que me obrigasse senão a manter sempre os pés no chão pelo menos que me fizesse lá voltar, de vez em quando. É que tão mal habituado que estava ao futebol exibido no passado recente que, depois do jogo de ontem, posso ser traído pelo entusiasmo e começar a sonhar já com a Liga dos Campeões. Como o tempo se encarregará de provar, para lá chegar vai ser preciso remar muito mais, com mais acerto e vigor.
A segunda nota é de penitência, o que pode soar um pouco estranho, quando estamos a menos de um mês do Natal e Quaresma ainda vai longe. Mas sinto-me obrigado a ela por honestidade intelectual para com aqueles que me vão lendo. Estou a referir-me aos receios aqui manifestados por altura da chicotada psicológica em Peseiro, sobretudo em relação ao "timing" escolhido. Como se prova em menos de meia dúzia de jogos, era possível outro futebol, usando exactamente os mesmos jogadores. Bastou para tal simplificar processos e ideias.
Como se vê, o futebol não é propriamente uma ciência oculta, embora também se recomende algum estudo e preparação. A ideia de satisfação pelo jogo e simplificação de processos é o que transparece hoje quando se vê o nosso Sporting jogar. Ao contrário do passado recente, em que parecia a cada jogada que os jogadores paravam para efectuar uma equação de terceiro grau ou para fazer um complicado cálculo de geometria e fisica aplicada. Tudo isso para calcular um atraso ao guarda-redes ou mandar a bola para fora, que eram então as nossas jogadas melhor estudadas e preparadas.
Depois, os jogadores jogavam tão longe uns dos outros que quase precisavam de walkie-talkies para comunicar. Sendo que alguns, pelas distâncias entre si, só se deveriam ver ao intervalo. E nós imaginando como deveriam ser efusivos os cumprimentos - ou quiçá saudades até... - do Dost com o Bruno Fernandes ou Nani: "há quanto tempo, pah!" ou "também vieste hoje? Até pensei que não tinhas sido convocado!". Isto sem falar de quantas eram as vezes que o Gudelj se imaginou em Viseu, tantas eram as rotundas que tinha que fazer para se virar para o lado correcto, cada vez que era chamado a conduzir uma jogada.
Ontem, pelos vinte e cinco minutos de jogo e já com belas jogadas e golos, cheguei a pedir o intervalo, tanto era o desgaste emocional e até físico que ver jogar futebol me estava a causar. Um homem já de uma certa idade como eu desabitua-se e depois aquela calma com que trocam a bola em sucessivos emparelhamentos e triangulações provoca muito mais suspense que uns charutos para o ar e para a frente. É que enquanto a bola ia e vinha dava para ir ao site das Autoridade Tributária validar umas facturas, optimizando-se assim o tempo e o dinheiro do bilhete.
Assim agora sinto-me obrigado a estar sempre a olhar para o relvado, não vá eu perder o Wendell a parar uma bola como se a chuteira e a bola tivessem velcro. Ou o Jovane a dizer ao guarda-redes em que canto da baliza ele vai ver sair o Pai Natal com as renas ou as coelhinhas (já não sei bem quem é quem nestas novas versões natalícias que todos os dias os meus amigos me mandam, via whatsapp...). Uma canseira!
Mas convém não embandeirar em arco e para isso tínhamos ontem o Renan e o seu acordo com uma clínica de cardiologistas (que mais tarde ou mais cedo será revelado pelo CM em primetime). Ou que esta equipa ainda tem alguns elementos que nos fazem lembrar quando tínhamos que por a mesa, e a mãe, entre a paciência infinita e a perplexidade nos dizia: esse talher que aí está não tem nada a ver com os restantes, não se vê tão bem? O que ela diria hoje se tivesse visto o Diaby ou o Bruno Gaspar...
Há mais razões para contermos o entusiasmo. Por exemplo, há demasiados Xistras neste campeonato e poucos oftalmologistas. Só assim se percebe que não tenha expulso o Vinicius, esse jovem e encorpado jogador, muito interessante de facto. Mas há homicídios que começaram por muito menos do que aquela entrada sobre o Jefferson.
Vinicius, esse sem dúvida muito interessante jovem jogador que o treinador do Rio Ave não trocava por Bas Dost. O que se compreende, porque ele não deve gostar de futebol, gosta é de pieguices e picuisses. Quem se queixa do lance do nosso primeiro golo não gosta de golos, logo não gosta de futebol, talvez de rendas de bilros. Claro que assim se percebe que não queira trocar Bas Dost e fique lá com o Vinicius. Que eu não me importava de ter no Sporting e que, se se acabasse de revelar tão bom como o Castaignos, sempre tínhamos quem rachasse a lenha que não se parte sozinha nem vai em filinha para a lareira.
Mas há um enorme mérito nesta mudança que nunca será reconhecido. Não estou a falar do Frederico Varandas, que em quinze dias montou a equipa técnica, apesar da preguiça revelada na escolha do treinador e ser incapaz de inovar: foi descobrir Keizer onde já tínhamos descoberto Vercauteren. Nem do próprio Keizer, que só está a fazer aquilo que se pede a um treinador: por uma equipa de futebol a jogar... futebol. Não me estou a referir a eles, mas sim à equipa de professores que em duas semanas puserem o treinador a falar português e todo o plantel a falar inglês e holandês. Só assim se percebe as rápidas melhoras da nossa equipa.
Parece que afinal até temos gente. Gente na equipa, porque Sportinguistas há muitos, como ontem se viu numa noite de segunda-feira de futebol. E acreditem que há poucas coisas de efeito mais terapêutico do que ir com os amigos ver o Sporting voltar a jogar numa noite de nevoeiro e dar a boa nova aos amigos que ficaram em casa a torcer por fora.
Caro Leão de Alvalade,
ResponderEliminarexcelente e bem humorado Post. Como a brincar, a brincar se dizem as verdades. Os meus sinceros parabéns.
Pedro Azevedo
"É que enquanto a bola ia e vinha dava para ir ao site das Autoridade Tributária validar umas facturas, optimizando-se assim o tempo e o dinheiro do bilhete. " muito bom :)
ResponderEliminarExcelente texto. Os meus leoninos parabéns.
ResponderEliminarDepois de um jogo tipo "comer e chorar por mais", saborear um texto destes, a nossa alma, fervor leonino não podia ter melhor "repasto".
ResponderEliminarTexto tão bom como "stand up comedy"! Leões inspirados com a bola e com a caneta! (Teclado) nem o Bocage! Ri-me tanto como aquele Golaço do Cabral! Maravilha! Só quero amendoas na Páscoa e o Campeonato! 🙏🍷! Saúde!
ResponderEliminarGrande LdA, excelente post!
ResponderEliminarDepois de tudo o que se passou, nós merecemos esta alegria, merecemos ver futebol, merecemos ver o Sporting por cima. Ver o Sporting assim dá outra alegria e como diz cheguei ao intervalo a dizer: Podemos perder/empatar, mas esta 1ª parte e este futebol já ninguém nos tira.
Pés bem assentes na terra e vamos lá lutar por títulos, não pelo presidente, treinador, jogadores, mas por nós que tanto sofremos, mas que tanto merecemos!
Agora 4 jogos em Alvalade para ganhar e com muito apoio, pois nós merecemos! Pena continuarem a marcar os jogos todos para Domingos às 20h, onde se priva quem vive longe e as crianças de sentir o Sporting, o verdadeiro Sporting!
Grande abraço,
Espectacular comentário ao jogo, parabéns. A única excepção que penso que temos de dar o benefício da "dúvida" é em relação ao Diaby... custou os olhos da cara, vai ter com certeza mais oportunidades, gostei do jogo fora com o Qarabag (se bem que a culpa do golo sofrido foi dele por não ter acompanhado a subida do lateral), e este com o RA foi menos conseguido, mas penso que vai continuar a ter obrigatoriamente de ter oportunidades... vamos ver se as "agarra", espero que sim.
ResponderEliminarO que disse o Pedro aqui em cima foi exactamente, sem tirar nem pôr, o meu pensamento ao intervalo. Parabéns mais uma vez SL
Ex-membros da direção de Bruno de Carvalho deram nega ao atual Conselho Diretivo do Sporting. Rui Caeiro e Bruno Mascarenhas recusam deixar o lugar de representantes do Sporting na FPF.
ResponderEliminarLixo é sempre lixo. Para quem ainda tinha dúvidas. Estes dois precisam é de uma carga de porrada.
Comentário infeliz.
EliminarEles não podem simplesmente sair e duvido que isso algum diq lhes tenha sido pedido pela direcção. Em caso de saída dos representantes do Sporting, serão substituidos pelo clube em espera e não por outro representante do Sporting, o que significaria ficar fora.
Informe-se antes de mandar postas de pesacada só para a critica fácil.
SL