quarta-feira, 17 de abril de 2019

10 pontos sobre a auditoria

1- A divulgação integral da auditoria é um facto de difícil qualificação. Tudo o que se pretende com a execução de um processo destes - clarificação de procedimentos, identificação de falhas, avaliação da qualidade dos processos de gestão e governance, avaliação do real estado do clube nas suas diferentes vertentes - tende a perder-se no ruído criado em torno de aspectos que em tudo lhe são laterais. Por isso, ao invés de estarmos a falar dos resultados que se terão apurado, estamos à procura do wally ou dos wally's que terão estado na origem do furo.

2- Os principais suspeitos não são desta feita o mordomo, como nas boas novelas policiais, mas todos aqueles que puseram as mãos e os olhos no documento. À cabeça está por isso o CD, que o recebeu em mãos e que o poderia estar a utilizar como arma no processo de expulsão do presidente deposto. Não há, pelo menos até agora, qualquer indicio que comprove esta teoria. Mas foi o próprio CD que se colocou na linha de fogo ao fazer chegar a terceiros o relatório, nomeadamente à PJ, segundo o que foi noticiado. 

3- No mínimo este acto tem de ser tido como precipitado. Porque o Sporting, como instituição, tem um órgão fiscalizador, o CFD, a quem competiria avaliar em primeiro lugar os factos apurados pela auditoria. E se as autoridades policiais não consideram os factos suficientemente relevantes para abrir uma investigação? Mantendo o relatório na esfera do clube limitava o indecoroso streap tease do clube, para gáudio dos adversários e inimigos externos e internos e angustia de todos quantos sentem o clube como uma parte de si.

4- Mesmo partindo do principio que o CD tem fundadas razões para requerer a intervenção das autoridades policiais e judiciais, existia ainda a possibilidade de ter enviado apenas a matéria sob suspeita. Enviando todo o relatório expôs matérias cujo sigilo é sua obrigação zelar. Não sabendo que consequências tal terá no futuro, podia pelo menos ter-nos poupado a mais este momento de desassossego.

5- Na sequência da divulgação da auditoria foram várias as reacções. Da indignação e estupefacção generalizada por parte dos adeptos até ao comunicado da YoungNetwork e de Carlos Vieira. Sobre estas reacções algumas notas: 
  • Não tenho dados para contradizer o comunicado da empresa de comunicação que trabalhou com a anterior direcção. Mas o custo da sua presença e acção no Sporting é muito maior do que a que vem contabilizada em números nos relatórios, nomeadamente a sua intervenção por via directa e indirecta na vida associativa do clube.
  • Carlos Vieira tem razão quando invoca o lucro, mas os dados da auditoria lançam pelo menos sérias dúvidas sobre alguns actos de gestão, seja sobre a sua qualidade, seja pela transparência ou mesmo até necessidade. Ficou curta a reacção.
  • O comunicado do clube foi curto também. Disse muito pouco para a gravidade do sucedido e nada sobre a intenção de apurar como se chegou a tal.
  • Não se conhece para já qualquer reacção da empresa auditora perante algumas acusações que lhe foram feitas, nem sobre o que pensam sobre a fuga da informação. Fugas essas que começaram por escorrer desde muito cedo para a CMTV, ainda sobre a vigência do mandato da Comissão de Gestão, que foi quem encomendou o trabalho, lembre-se.
6- Um capitulo especial para a reacção dos adeptos. Na sua maioria sobretudo com acento tónico na fuga da informação por um lado e, por outro, a procura das habituais teorias de conspiração. Estas mais não visam do que o desvio das atenções e descredibilização de alguns dados no mínimo preocupantes sobre alguns actos de gestão que carecem de um cabal esclarecimento. Para alguns a capacidade de indignação parece ter-se esgotado em 2013...

7-  Ainda que possam não configurar ilícitos, chamam particular atenção e devem ser esclarecidos para lá de qualquer dúvida:
  • O negócio com o Batuque. O valor envolvido é claramente excessivo para o resultado que se poderia obter. Mas também pelo que representa aquele tipo de valores para o clube cabo-verdiano e na realidade económico-social em que se insere.
  • Os valores despendidos no scouting, (por quem e com quem?) bem como a falta de justificação de despesas no valor de 1 milhão de euros.
  • A circulação de dinheiro vivo em elevados montantes, completamente contrárias às boas regras.
  • Os negócios da China com empresas que se esfumaram depois de receber do clube verbas elevadas face ao seu histórico. A CHOW abre falência depois de receber 60 mil euros, quando a sua facturação média era de 1.300 euros. A PTCN extingue-se depois de receber 20 mil e nenhuma delas teria colaboradores registados à data. 
  • O acerto de contas com as claques, no valor superior a 1 milhão de euros. Aqui não é apenas o tempo em que foi feito, que pode ser questionado, mas sobretudo como e quando, por não haver documentação relacionada.
  • A relação com a firma de advogados MRA. Pelos elevados valores envolvidos e pela sua proximidade com um elemento da direcção entretanto deposta.
8- Fica evidente que o aumento dos orçamentos foi determinante para a maior competitividade das modalidades mas praticamente inútil no futebol. Perceber o porquê é determinante para o sucesso da modalidade mais representativa do clube.

9- Fica claro pela auditoria que houve uma indiscutível recuperação económica do clube, face ao que conhecíamos de anteriores direcções,  em particular das duas últimas.

10- Fica claro também que, com o passar do tempo, os órgãos sociais entretanto depostos, abandonaram as melhores práticas e os melhores princípios que tinham como bandeira eleitoral, como se tivessem sido tomados por um sentimento de intangibilidade.

1 comentário:

  1. Caríssimo, muitos parabéns. Este post é extremamente equilibrado e lucido. Ao contrário de outros textos que tenho lido, este prima pela racionalidade em vez do extremar de emoções e juízos de valor.

    De qualquer modo, todos temos uma opinião pessoal. E a minha é que quem foi eleito para gerir e pacificar o Sporting está mais preocupado com as suas guerrinhas e ódios de estimação do que com o Clube. Até ordenados de pessoal e atletas vieram cá para fora...

    Que danos causou toda esta divulgação ao clube? Eu respondo: enormes e inquantificáveis...alias, isso já tinha acontecido com o tal comunicado anterior à CMVM e no buraco de tesouraria reportado, que podia ter esperado pelo empréstimo negociado entretanto, para ser enviado...qual foi o impacto do barulho criado no juro contratado é algo que nunca vamos saber. E já nem falo nos danos á imagem do Clube...

    É tempo de o Sr. Varandas perceber que cada vez que atira em Bruno de Carvalho, está a acertar também em cheio no coração do Sporting. É bom que alguém lhe explique isso e também a missão para a qual foi eleito...

    Há responsabilidades a apurar em relação ao passado recente? Com certeza. Ninguém deve estar acima da ética e da Lei. Mas isso deve ser feito preservando a imagem e a Paz do Clube. Que deve estar sempre primeiro.

    É bom que este Presidente arrepie caminho e se foque no essencial da sua Missão!

    E já agora...é muito desagradável que o relatório da auditoria tenha tido como mensageiro previligiado os órgãos de CS da COFINA. É muito desagradável mesmo. Sr. Varandas, espero que estes não sejam os seus novos amiguinhos, porque, nesse caso, o Sporting perdeu todas as suas referencias éticas...

    José Gomes (JG)

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