quinta-feira, 23 de maio de 2019

Modalidades: uma boa altura para reflectir

Aproximam-se do seu epilogo os campeonatos nacionais das mais diversas modalidades. Ao contrário do que sucedeu na época passada,  o Sporting não arrecadará o pleno dos títulos das modalidades de pavilhão mais representativas: o andebol, o voleibol, o hóquei em patins e o futsal. A verdade é que a época transacta foi verdadeiramente excepcional no seu mais de um século de histórias e muito dificilmente repetível: limpou literalmente tudo o que havia limpar de forma categórica e incontestável. Tal situação não se irá repetir sendo que, neste momento, apenas o futsal tem uma intactas as aspirações de renovação. No hóquei, no voleibol e no andebol a questão está já encerrada.

Seguramente que estes resultados merecerão, ou estarão já a merecer, uma profunda reflexão interna, no sentido de voltar a colocar o Sporting na senda dos títulos. A primeira observação a ter em conta é que o Sporting, na generalidade destas modalidades, cumpriu a obrigação primordial, que é estar presente nas decisões do titulo. A outra igualmente obrigatória a considerar é a conquista de títulos europeus em duas delas - futsal e hóquei patins - e uma participação honrosa, alcançando fases das competições até agora inéditas entre nós, como se registou no andebol e voleibol. Isto é, o valor das equipas em causa é um excelente ponto de partida para reorganização dos respectivos plantéis e departamentos. Talvez a mais visível seja a que terá começado no voleibol, com a relocalização da equipa no Pavilhão João Rocha e mudança de técnico.

Porque é que estas duas observações são importantes? É que quando não se ganha, há tendência para  procura desenfreada dos culpados dos desaires quando, muitas vezes, eles são exactamente os que foram culpados pelos êxitos anteriores. Por vezes não há necessariamente um mau trabalho, apenas os adversários acabam por se reorganizar e voltar mais fortes. Aí há que acreditar no trabalho feito  e reconhecer o mérito dos adversários e olhar para o que fizeram de melhor para que rapidamente os possamos voltar a superar. Por outro lado, quantas vezes na hora dos festejos das vitórias que se começam a perder os campeonatos com o doping da conquista e invencibilidade?

No voleibol foi clara a superioridade do novo campeão nacional, o SL Benfica. Essa superioridade ficou marcada logo à nascença das competições desta época, aquando da disputa da Supertaça. Apesar do bom percurso europeu o Sporting deu mostras de alguma irregularidade nas competições internas e perdeu todos os títulos disputados com o rival, agora campeão. Para lá das considerações de ordem técnica, a introdução pouco sustentada pela falta histórico da modalidade faz com que a grande surpresa não tenha sido propriamente o resultado deste ano mas, antes sim, o titulo do ano passado. Alguns equívocos em algumas escolhas dos reforços também poderão ter ajudado ao resultado final. Fica a grande expectativa para a forma como a secção se reorganizará, quer ao nível da estrutura, dos reforços. Para já conheceu-se já o novo director desportivo, Miguel Pombeiro, um homem da casa e, apesar de ter passado por outras secções, um homem da modalidade. E é com grande expectativa que se aguarda o trabalho de alguém como Gérsinho, o novo treinador.

No andebol talvez tenha residido a maior surpresa. A equipa bi-campeã teve um começo deveras auspicioso, mesmo apesar de alguns resultados reveladores de alguma "distracção". Tomou o caminho europeu de forma entusiasmante, escrevendo novos capítulos. Foi precisamente no final da campanha europeia, quando regressa a "terra" que a equipa nunca mais se equilibrou. Falta de foco, desconcentração, cansaço físico numa equipa com alguma veterania, podem ter sido alguns dos problemas. Hugo Canela, bicampeão, sempre um pouco contestado pela sua juventude e falta de background, continua sem renovar o contrato, abrindo-se a possibilidade de uma substituição. Apesar de tudo esta é ainda uma equipa que conquistou os adeptos e escreveu momentos gloriosos. Não se sabe quantos dos actuais jogadores continuarão na próxima época, mas são eles, talvez mais do que ninguém, os principais interessados em rectificar a pálida imagem com que se despediram esta época.

O hóquei em patins e o futsal são as novos campeões em título. Mas a época ainda não terminou e o estatuto agora conquistado não  lhes dá outra alternativa que não seja a disputa dos títulos que lhes faltam (ao futsal é possível a dobradinha, ao hóquei a Taça de Portugal) até à última gota de suor. É isso que esperam os adeptos e seguramente os atletas e dirigentes daquela que é já uma época histórica.

É indiscutível que o Sporting nos últimos anos anos se reorganizou e reinventou, começando os resultados a aparecer de forma mais consistente nos últimos dois/três anos. É dessa forma que o Sporting termina com a hegemonia do FC Porto no andebol, intromete-se na luta bi-partida no hóquei, triunfa no regresso do voleibol e mantém a soberania no futsal. Tal parece ter apanhado de surpresa os adversários numa fase inicial, o que os obrigou a rapidamente se habituarem a voltar contar com o Sporting.

Que ninguém se iluda: as máquinas de Benfica e FC Porto continuam bem oleadas e com estruturas muito bem sustentadas, fruto de anos ininterruptos de funcionamento ao mais alto nível. O que o andebol do FC Porto e o voleibol do Benfica fizeram na preparação desta época, demonstra-o. O que o SL Benfica está a fazer na preparação da próxima (tem já sob contrato quatro jogadores - Borko Ristovski, Kevin Nyokas, René Toft Hansen e Petar Djordjic  - que seguramente causarão grande impacto na competição) suscitam um enorme esforço e reacção por parte do Sporting. Veremos qual será a resposta do Sporting a esta inversão de papéis.

3 comentários:

  1. Totalmente de acordo.

    Só não concordo com uma coisa. À exceção do andebol (e mesmo aí, tivemos aquela fantástica campanha na Champions) este ano não foi inferior ao ultimo. A 4 títulos de campeão nacional, sucedem-se 2 títulos de campeão europeu, um deles que nos fugia à anos e anos...

    Qual dos anos foi mais brilhante? Eu diria que não consigo escolher. Foram 2 anos absolutamente fantásticos. Os títulos europeus são títulos nacionais a dobrar, a triplicar!

    E é verdade que os desafios vão ser cada vez maiores. Até porque só a nós nos apontam o dedo por investirmos nas modalidades. Parece que somos criminosos. Os outros investem tanto ou mais e é clara a tentativa de branquear esse facto... O sucesso do futuro depende do trabalho que está agora a ser feito.

    Nós, sportinguistas, queremos que estas modalidades continuem a ser vencedoras porque isso faz parte do nosso ADN!

    José Gomes (JG)

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    1. Não convém branquear que o discurso crítico em relação ao investimento nas modalidades vem da direcção em funções ou de gente próxima dela.

      Valdemar

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  2. Sem querer desvalorizar as conquistas europeias, a época passada fica na história verde e branca exactamente por ser praticamente irrepetível. A reconquista nas provas europeias é por incrível que pareça mais crível.
    Vencer todos os campeonatos nas modalidades de Pavilhão e quase todos nas restantes modalidades é quase impossível.
    A época passada fica manchada pelo futebol mas as modalidades brilharam como nunca antes. Foi uma época inesquecível.

    Saudações Leoninas

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