São muitas e imensas as saudades SENHOR JORDÃO. Já elas eram muitas quando fui atropelado pela noticia da fragilidade da sua saúde e vão ficar assim, incomensuráveis, com a noticia do seu desaparecimento. Ao longo destes anos acalentei a esperança de que seria possível despedirmo-nos condignamente de si, com um estádio cheio, consigo ao centro e, na duração de cada uma das muitas merecidas palmas lhe pudesse voltar a agradecer tudo quanto nos deu. Não apenas os golos, as jogadas imprevisíveis, os títulos em que participou, mas também a lição de Sportinguismo da sua postura simultaneamente grandiosa e discreta. E que em todas as palmas ouvisse um sincero pedido de desculpas pela forma como nos desfizemos de si.
Acabou-se a magia, Sr. Jordão. Quando aquele punho, no final de um braço estendido no ar se erguia, era como que um farol que nos indicava o caminho, que toda a energia se concentrava naquele ponto, como um superpoder que era nosso e do qual era guardião. Esta imagem, de super-herói, não permitirei jamais que me seja negada ou roubada, mesmo que todos aqueles que tiveram o privilégio de conviver de perto consigo a contrariem, devolvendo a imagem de um homem simples e genuinamente humilde. Essa humildade e a sobretudo a facilidade com que conseguia fazer as coisas mais assombrosas eram de génio.
Acabou-se a magia Sr. Jordão. É que sabe, eu lembro-me de si desde o tempo longínquo em que os jogadores de futebol eram os nossos heróis, quase imaculados, em que só os víamos lá longe na relva ou na caderneta de cromos. Sim, o tempo trouxe-nos infinitas possibilidades, uma miríade de comodidades, entre as quais essa que tanto uso de ir ao Youtube rever os seus golos. Neste percurso que nos trouxe até ao "futebol moderno" perdemos muitas coisas boas pelo caminho e uma delas é precisamente a magia de ver num profissional de futebol um verdadeiro herói. É tudo demasiado fugaz, light e descomprometido. Continuamos a ver excelente futebol e mesmo golos enormes, mas dificilmente nos vamos lembrando da camisola com que foram marcados. Jordão, golos e Sporting são três palavras que associamos de forma instintiva e que a gramática deveria muito legitimamente hifenizar.
Acabou-se a magia Sr. Jordão. Espero que agora seja finalmente o tempo de lhe fazermos justiça e deixarmos para trás o anacronismo da alcunha "gazela de Benguela". Não sei onde é aquela gente tinha a cabeça, quem pode confundir o Bambi com o Rei Leão? Quem conseguiu ver na sua velocidade, na forma letal como finalizava, na forma impiedosa com que castigava as balizas adversárias para alimentar a nossa prole na ânsia de vitória uma presa e não um temível felino? Um verdadeiro leão!
Jordão deixa saudades mas não morreu. Há muito que o seu nome está gravado na galeria de imortais pelo jogador que foi para nós, pelos golos que marcou por onde passou e especialmente pelo marca impressiva que deixou em todos os que com ele conviveram. A forma despojada como se retirou, sem nunca reclamar atenção ou o legitimo reconhecimento do lugar de destaque que lhe era devido, deixando atrás de si o silêncio que entendia fazer falta ao futebol, deveria fazer escola. No futebol e no Sporting.
Senhor Jordão, os ídolos não morrem, são para sempre!
Enorme texto, sentido, escrito com alma, com paixão, porque o Jordão merece que quando se fale dele, que seja assim, desta forma, com amor.
ResponderEliminarEra puro talento, magia e quando serrava aquele punho e corria a festejar mais um golo era como um farol, sem dúvida.
Num tempo em que o Sporting era tudo aquilo que não é hoje. É por esse Sporting que temos que lutar, porque apesar de toda a evolução do mundo e de todas as mudanças que lhe são inerentes, os valores e a identidade das pessoas e das instituições não mudam muito se tiverem bom princípios e forem coerentes no tempo.