segunda-feira, 12 de setembro de 2022

O miúdo a quem tiraram a camisola: Indignação que não passa de uma farsa


O Sporting ganhou de forma absolutamente categórica ao Portimonense, tornando mais fácil o que parecia poder ser um jogo complicado. O adversário estava moralizado e nós vínhamos de um encontro extenuante, o que obrigou Rui Amorim a fazer algumas trocas nos jogadores titulares. Não é incomum assistir à perda de pontos na ressaca de um jogo europeu com estas características.  

Mas do fim-de-semana ressaltou um facto que está a merecer todas as atenções do mundo do futebol nacional. O caso do menino que foi obrigado a tirar a camisola no jogo Famalicão - Benfica. 

Não deixa de ser curioso que só agora um caso como este mereça esta projecção mediática quando não é inédito nem em Famalicão, nem nos estádios portugueses. Como o caso se tornou incontornável não falta quem venham hoje rasgar as vestes de indignação, como se o sucedido fosse inédito e não resultasse da incúria e desleixo em cascata: dos governantes, dos responsáveis organizativos até aos clubes. 


Todos eles se pronunciaram como se o caso fosse virgem e não tivessem directa ou indirectamente responsabilidades no assunto. Mas o acontece que não é embora venham todos agora, também em cascata, fazer de conta que estão surpreendidos:

O Secretário de Estado, João Paulo Correia disse "o que que se passou exige o maior protesto, e que as entidades envolvidas têm de prestar esclarecimentos pelo sucedido”.

O Presidente da Liga afirmou que “se queremos que o futebol seja uma festa para as famílias, temos de reflectir quanto ao significado de uma criança ser obrigada a despir a camisola do seu emblema pelo simples facto de estar numa bancada onde a maioria dos adeptos torce por outro clube. Não é este o futebol que queremos”.

O clube da criança, o SLB, veio dizer, entre outras coisas “Queremos um futebol diferente e todos temos de contribuir para isso”. Sim, esse mesmo clube cuja ilegalidade das claques continua saliente e cujos adeptos continuam em estádios e pavilhões a festejar, com assobios a imitar um very-light,  o pior acontecimento num estádio de futebol: a morte de um  adepto aos olhos dos seus familiares.

Todos os clubes desejam e proclamam aos quatro ventos que o futebol seja um espetáculo apelativo para os adeptos, de forma a que estes acorram aos estádios e estes se encham, reproduzindo os melhores exemplos conhecidos. Porém as praticas estão muito longe de conseguir resultados práticos satisfatórios. Tirando os jogos grandes e onde os três grandes acorrem, poucas vezes se registam bancadas cheias. Aliás, assiste-se agora ao triste fenómeno de se fecharem bancadas para que o acesso aos estádios seja apenas permitido aos associados do clube anfitrião e acompanhantes destes e à quota obrigatória de adeptos forasteiros, vedando-se o acesso aos lugares sobrantes. A imagem abaixo ilustra o estádio de Braga, quando da última recepção ao FCP, precisamente na casa do presidente do clube que vem pregando aos quatro ventos uma fórmula milagrosa para salvar o futebol português.... Aconteceu o mesmo aquando da visita do Sporting, recentemente.


No âmbito interno, também o Sporting precisa de reflectir sobre a presença dos seus adeptos em Alvalade. Tanto quando me apercebo, continuamos a ser o único clube com uma parte da sua bancada ( a sul) por preencher. As assistências previstas, de acordo com os bilhetes e gameboxes vendidos, ficam sempre aquém do esperado, como aconteceu esta semana, ao não chegarem a trinta mil o número de presentes, quando a expectativa apontaria para um número próximo dos quarenta mil. Ninguém, dos responsáveis aos adeptos, pode não deixar de se interrogar sobre o que se está a passar connosco, o que sucede em contra-ciclo com o momento.

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