terça-feira, 12 de dezembro de 2023

O eterno e famigerado "sistema"


Até o adepto menos atento já ouviu falar no famigerado "sistema". Felizmente as consequências práticas da sua existência são bem diferentes das das décadas de 80 e 90 do século passado, onde Guímaros, Irmãos Calheiros, Martins dos Santos e muitos outros se tornaram tristemente célebres. Isso não quer dizer que o tal "sistema" tenha deixado de existir. Adaptou-se às circunstâncias ou, se quiserem, refinou a sua actuação. 

Hoje já não se "compram árbitros como se compravam tremoços", como dizia o treinador Manuel José, profundo conhecedor do meio. Já houve apitos de várias cores, vouchers, trocaram-se emails, padres a rezar missas e vários outros métodos que provavelmente desconhecemos.

Hoje quem controla as promoções controla as carreiras dos árbitros porque uma internacionalização não vale apenas prestigio mas também muito dinheiro. E o inverso para quem é despromovido. Quem escapa a esse controlo apanha pela medida grande:


Não sendo tão descarados nem óbvios os métodos, a verdade é que a arbitragem continua envolta em escândalos que nem o VAR tem ajudado a evitar. Este ano têm sido muitos mais que a introdução da tecnologia faria supor.

Para o observador menos atento deve ser difícil encontrar explicações para que a regeneração seja uma obra permanentemente adiada. Porém, se atentarmos ao passado recente e olharmos para quem gere a arbitragem, há uma constatação que salta aos olhos: muitos dos actuais dirigentes são antigos árbitros ligados precisamente a um passado em que arbitragem era ainda mais nebulosa que é hoje. 

Atente-se aos nomes do actual Conselho de Arbitragem: João Ferreira, Paulo Costa, Lucílio Baptista. Quantos destes nomes representam má memória para o Sporting?

Um dos factos mais gritantes desses tempos é que mesmo aqueles que nos poderiam infundir algum respeito ou pelo menos condescendência nunca foram capazes de falar sobre o que passava nos bastidores. Tal não é apenas intrigante, deixa muito mal classificada toda a classe.

A postura corporativista tem sido dos principais factores de entrave à regeneração e melhoria da arbitragem. À autocrítica sobrepõe-se o branqueamento e a falta de memória. Veja-se ainda agora o caso sucedido em Guimarães. Ao invés de reconhecer o óbvio, a APAF atira-se novamente
a quem diz que o rei continua nu
, pedindo castigos que, em última análise, vão até contra o mais elementar dos direitos: a liberdade de expressão. 

Até o presidente do CA de Arbitragem da AF de Braga se achou no direito de dizer qualquer coisa. Até de dizer algo que não tem qualquer sustentação em factos, como o de que "João Pinheiro é dos melhores árbitros portugueses para os adeptos".  O que se sabe é que os adeptos portugueses têm má imagem da arbitragem nacional o que apenas deve surpreender este senhor, o João Pinheiro e poucos mais.

E quem é este senhor? Nada mais nada menos que Cunha Antunes, um ex-árbitro que passou pelo futebol português mas não deixou atrás de si uma imagem de acerto, independência e competência, como deveria. Mas chegou a dirigente da arbitragem...

Não é crível que, desta forma, haja melhorias sensíveis neste sector, quando se pretende que um erro tão gritante como o de Pinheiro e Hugo Miguel ao invés de ser devidamente analisado e explicado seja abafado como se nada tivesse acontecido.

Mais, erros como estes não só devem ser usados de forma pedagógica, de forma a que não voltem a suceder, como há muito que deveriam ter consequências práticas também, nomeadamente com suspensões e até multas, quando resultam de óbvia negligência, não observância grosseira das regras e regulamentos.

Por vezes, quando certas noticias surgem, parece que se está a entrar no caminho certo. Há dias circulou a intenção de penalizar monetariamente os erros. Logo de seguida surgiu a ideia que a péssima actuação de António Nobre, perdoando um penalty claro e uma expulsão, ia ter pena adequada. 

Afinal o castigo redundou numa viagem aos Emirados, de onde certamente voltou com os bolsos recheados. Não é apenas a antítese da pedagogia necessária, é a abertura escancarada da justificada suspeição: “terá sido o pagamento de algum favor?”

1 comentário:

  1. Apenas com confissões seria possível provar estes esquemas. E como tal é com esse trunfo que tudo é jogado e ganho.
    Guardo esta imagem para mostrar como é possível branquear este sistema e a verdade é que resulta.
    Para os mais velhos recordarem e para os mais novos rirem..............é hilariante....
    Sporting CP vs Varzim SC – 1987-88
    https://www.zerozero.pt/video.php?id=220390
    Ver o golo do Varzim SC aos 2min e 10s

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