domingo, 11 de julho de 2010

O que vês ao espelho?

Decorreu ontem no Solar do Norte a III Tertúlia Leonina, jornada de reflexão que desta vez incidiu sobre as modalidades anteriormente ditas amadoras. Estiveram presentes na mesa de promoção do debate o Engº Júlio Santos, vice-presidente para a área, ao tempo de Sousa Cintra, o Eng.º Gilberto Borges, líder do projecto autónomo para o hóquei-patins, que tantas alegrias nos tem proporcionado e Juvenal Carvalho, amigo desta “casa”, membro fundador do núcleo de Paço de Arcos e com passado no dirigismo leonino, nas secções de basquetebol e andebol e futebol juvenil. Com ele veio também o Hugo Malcato, editor deste blogue e um exemplo de dedicação às modalidades, como devem ter testemunhado, via TV, na 1.ª mão da final da Taça Chalenge, na Polónia.

As intervenções, de grande pertinência e qualidade, centraram-se inevitavelmente na sustentabilidade financeira da actividade desportiva das modalidades, da nossa competitividade face aos nossos rivais e nas soluções que urge encontrar e implementar, de forma a devolver ao clube o estatuto que indiscutivelmente perdeu. A velha mas não estafada conversa à volta da paixão e da razão, que é há muito transversal a toda a actividade do clube. A exposição do Eng.º Júlio Santos, um exemplo de dedicação à causa Sportinguista, foi de um realismo demolidor, a lembrar, se preciso fosse, a difícil situação económico-financeira em que se encontra o clube, bem como a conjuntura desfavorável. Do lado da paixão e da dedicação o Eng.º Gilberto Borges e o nosso amigo Juvenal Carvalho, lembrando que sempre que os Sportinguistas querem a obra nasce e acontece. De todos veio um forte reparo às opções estratégicas do passado recente da vida do nosso clube, que nos empurraram para a situação em que hoje nos encontramos. Conclui-se que a esperança de que um futuro melhor é possível desde que haja razão devidamente temperada com a imprescindível paixão. A necessária adequação de modelos racionais de gestão não pode ser feita sem paixão e devoção leonina.

Estas reflexões são necessárias e foi nesse sentido que centrei a minha intervenção. É necessário que o Sporting se olhe ao espelho com sentido crítico, perceba a sua actual dimensão, o que ela representa em relação ao passado e qual o Sporting que queremos projectar para o futuro. Sem prejuízo do necessário apuramento de responsabilidades que levaram ao encolhimento do clube face aos rivais, que me parece inevitável, até para a sua própria pacificação interna, urge repensar os modelos que usamos para nos habilitar a competir. É pacífico hoje admitir que os clubes, seja nas modalidades, seja no futebol, caminham inexoravelmente para a falência. Se dantes se temia que aos grandes pudesse acontecer o mesmo que ao Belenenses, o Boavista é o hoje o exemplo que os piores pesadelos acontecem na vida real. Estou convencido que os clubes que encontrarem e aplicarem primeiro “o sempre difícil caminho das pedras” serão os que mais depressa se habilitarão a liderar num futuro próximo e de forma duradoura. É por isso que julgo ser esse o caminho a trilhar, mesmo que, se, em nome de um futuro melhor, for necessário dar um passo atrás para dar, de seguida 2 em frente. Ao contrário do que muitas vezes se insinua, nos últimos anos apenas se tem feito é a apenas a 1.ª parte, isto é, os passos atrás. Sem ignorar que nos encontramos numa situação difícil, estou absolutamente convencido que, se os Sportinguistas quiserem, o Sporting pode voltar a projectar o seu nome. Mais difícil foi fazer do Sporting, partindo do zero, um dos maiores entre os maiores. Haja paixão na relação com o clube e haja realismo e razão nas decisões.

Custa-me por isso perceber, e centrando agora na actualidade do clube, que os adeptos suspirem por Drenthe e outros jogadores completamente “out of  our league” e de valor desportivo muito mais que duvidoso. Não estamos a falar de Schmeichel, exemplo muito comum quando se fala de mobilização de adeptos. Falamos de um jogador numa encruzilhada da sua carreira sem outro brilho que ser apontado como uma promessa, sendo por hora difícil adivinhar o caminho que trilhará no futuro. Dizem por aí que é necessário para vender gameboxes. Alguém já fez a trivial relação de custo/ beneficio que nos pode “valer esta operação? Quanto custará Drenthe, qual será o seu rendimento em condições ideais e quantas gameboxes venderá? Eu sei que não sou uma autoridade na matéria, deixo então isso para os “gestores de topo”.

7 comentários:

  1. Saudações Leoninas!

    Subscrevo tudo o que escreve sobre Drenthe e acrescento mais: Diogo Salomão!

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  2. "Subscrevo tudo o que escreve sobre Drenthe e acrescento mais: Diogo Salomão!"

    Vi os primeiros minutos (45 da segunda parte contra o Nice) do SCP, versão 2010/11. E o que mais gostei foi ver um puto pela banda esquerda com a nossa camisola vestida e o n.º 33 nas costas...

    Quanto às modalidades:

    Nunca mais esqueço a intervenção do Eng.º Gilberto Borges numa sala do CNEMA lotada de leões que adoram o SCP e as suas modalides. QQuando acabou a sua intervenção a sala explodiu numa longa e merecida ovação! Um grande homem e exemplo para todos nós.

    SL

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  3. Virgilio:
    Esse momento foi lembrado ontem pelo Juvenal. És capaz de apontar alguma das consequências práticas que se retiraram desse momento?

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  4. Lda, sou:

    Os nossos 'doutores' ignoraram (mais uma vez) a vontade da larga maioria dos sócios e adeptos. A prática diz-nos que o Hóquei em Patins e todo o inexcedível trabalho realizado nestes anos foi desaproveitado. Quer-me parecer que já trocávamos os 'doutores' pelos (engenheiros...

    Até pq parece que em Portugal o futebol cada vez mais tem pontos de contacto com a agricultura, mais especificamente a fruticultura… ;)


    Abraço.

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  5. LDA,
    Não só foi um prazer ter-te reencontrado, como o facto de termos respirado Sporting e o seu ecletismo durante quase 3 horas que passaram a correr.

    Virgílio,
    O Engº Gilberto Borges foi das pessoas que mais gostei de conhecer no Mundo Sporting, e posso dizer-te que conheci centenas delas ao longo do percurso. Não só é um grande LEÃO como um grande HOMEM!
    Infelizmente as consequências daquilo que foi deliberado lá naquela sala onde estivemos no CNEMA deverão estar arquivadas na gaveta dos fundos.
    Abraço

    PS - Bruno Martins e Carlos Miguel foi um prazer ter estado convosco! Continuem essa "luta". O Sporting somos nós e vocês como jovens têm tudo para defendê-lo aí nesse bastião do FCP!

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  6. Excelente post do qual destaco:

    "Conclui-se que a esperança de que um futuro melhor é possível desde que haja razão devidamente temperada com a imprescindível paixão. A necessária adequação de modelos racionais de gestão não pode ser feita sem paixão e devoção leonina."

    "Mais difícil foi fazer do Sporting, partindo do zero, um dos maiores entre os maiores. Haja paixão na relação com o clube e haja realismo e razão nas decisões."

    Parabéns a todos os que não desistem da causa Sporting!

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  7. Agora recorrentemente penso que as modalidades são o lugar onde se está mais perto do ideal original dos fundadores, e, igualmente, é onde a ligação entre praticantes e adeptos se dá de forma mais forte. Conhecer a realidade das modalidades é fundamental para que, como diz o LdA, nos possamos ver o espelho e saber o que queremos - e o projecto autónomo do hóquei demonstra tudo isto que acabei de dizer.

    Um abraço a todos, e um especial ao Juvenal, ao Hugo e ao LdA, juntamente com o Júlio Santos, Gilberto Borges e os seus três atletas, por terem prescindido de uma tarde de sol para vir discutir a realidade do Sporting.

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