quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Daqui ainda não se vê o Jamor

Não me enganei quando, após o sorteio que definiu o Nacional como adversário nas meias-finais da Taça, disse que “daqui ainda não se via o Jamor.” E por isso ainda ontem deixei aqui vincado, tendo como destinatários principais os que pretendiam deslocar-se a Alvalade, que a eliminatória era a duas mãos e não me parecer que esta pudesse ficar resolvida ou bem encaminhada ontem.  (Quase que me enganava pois o Nacional, se mantivesse os 2 golos de diferença, tê-lo-ia conseguido). 

A previsão era fácil de fazer: havia visto o jogo do Nacional para a Liga e tenho visto todos os jogos do Sporting e é fácil de perceber que o nosso modelo de jogo encalhou e a equipa está em sofrimento para resolver os jogos. Não fora a superior qualidade individual dos nossos jogadores e não teríamos conseguido resolver ou minimizar os problemas que nos saem ao caminho.

É inútil Domingos reclamar contra os autocarros que os adversários colocam em campo. Cada um joga com as armas à sua disposição e, de forma mais ou menos evidente, era mais ou menos essa a estratégia que usava quando treinava a AAC, por exemplo. A Domingos cabe-lhe resolver os problemas que os adversários lhe colocam em campo, e a melhor forma de o fazer era antecipá-los, criando soluções alternativas de forma a tornar-nos menos previsíveis. E não é isso que tem acontecido. O nosso jogo é lido de cor pelos adversários, o que nos obriga a esforços redobrados.

Para as pretensões de uma equipa grande a bola chega poucas vezes e sempre com muito ruído e muito pouco redonda ao avançado. E pouco adianta que ele se chame Bojinov ou Wolfswinkel. Mas no caso do búlgaro as dificuldades aumentam, não tanto pelo seu valor, ou pelas suas características, como muitos apressadamente parecem concluir. Domingos “esqueceu-se” do búlgaro assim como de Rúbio e não é crível que, decorridos 6 meses do inicio da época e quase sem jogar possam entrar para resolver e precisamente quando o nosso jogo perdeu o fulgor. Esse problema já sentia Wolfswinkel e, mantendo-se o actual cenário não será Ribas a resolver.

Tal como muitos adeptos, não adianta a Domingos embirrar com alguns jogadores, como parece ter acontecido com André Santos. Por no seu lugar Renato Neto, que deixou evidente em ambos os jogos que precisa de tempo para poder fazer o lugar, é arriscar-se a perder ambos os jogadores. O problema não reside apenas neste ou naquele jogador, é um problema de organização colectiva. Excessivo isolamento do número 6, elevada distância entre os sectores, embarrilamento do jogo pelos flancos, falta de presença na zona central do  terreno (entre o semi-circulo do meio campo e a grande área)  são as causas da estagnação e depreciação dos valores individuais que no inicio do ano eram emergentes e promissores.

Não foi pois pelo jogo de ontem ou pelo seu resultado que não me apeteceu escrever a crónica do jogo. Foi antes pelo impacto que mais um jogo triste e desordenado pode ter no futuro imediato do Sporting. Futuro esse que não pode ser o vislumbre do passado ontem visto. Domingos conseguiu parir uma equipa, dar-lhe de mamar e pô-la a Cerelac. O que se lhe pede neste momento é que lhe faça crescer os dentes e pô-la rapidamente a morder e de forma letal. Ou arrisca-se a deitar a criança fora junto com a água do banho.

17 comentários:

  1. LdA, boa análise.

    É que me parece que a alteração necessária até e simples de fazer, deixar o 433 e voltar ao 4231 em que o 2 é qualquer combinação entre Schaars/Elias/André Santos/Renato Neto/Rinaudo e o 3 qualquer combinação de extremos com Matias ou André Martins no miolo.

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  2. E sobre o pintado do relvado? Que há para dizer?

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  3. Anónimo, há a dizer que é algo feito regularmente em campos de golfe, o relvado fica lindo para as câmaras e ganha-se uns tempos para resolver problemas.

    Felizmente os golfistas não andam normalmente a rebolar pelo chão.

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  4. Ontem os jornaleiros do Público voltaram a ficar à porta de Alvalade.

    Parabéns à direcção! Há que ter mão de ferro com esses vermes.

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  5. Quando falas em falta de presença na zona central do terreno estás a contar a história do jogo de ontem. Então na primeira parte chegava a ser arrepiante...não havia ninguém no meio em condições de receber a bola, progredir, tabelar. Eram bolas atrás de bolas despejadas para os flancos de qualquer maneira à espera que alguém fizesse um milagre. E os jogadores do Nacional a povoar bem os flancos, sabendo perfeitamente como ia ser a próxima jogada. Na segunda parte já se jogou mais no campo todo, mas mesmo assim muito menos do que se podia e devia.

    O mais estranho é que a nossa fase menos boa começou com a saída do Rinaudo da equipa. Coincidencia? Não me parece. Alias, cada vez me parece mais que o André Santos deveria ter sido a alternativa numero 1 ao argentino. Não foi e começou um eclipse mental que hoje o coloca fora das opções para ser o que poderia ter sido.

    Quanto a Bojinov, pelo amor da santa...Se calhar é embirração minha, mas para lá das questões de falta de rotinas, há um problema de base com este jogador. Não corre, não pressiona os defesas, não pressiona o GR, joga com os olhos, não se ve qualquer esforço da sua parte. Não é uma questão de falhar ou não, de se encaixar ou não, é mesmo uma questão de falta de empenho e de enorme falta de profissionalismo e de respeito pela camisola que veste! Por mim, pode ir embora já hoje, porque não acrescenta nada!

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  6. De qualquer modo, continuo a achar que vamos estar no Jamor. É assim tarefa tão herculea ganhar na Choupana? Se for, então esta equipa não é Sporting! Vamos com certeza estar no Jamor!

    Mas o que vimos ontem é muito preocupante. Muito mesmo...

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  7. Mais uma nota, referes a AAC de Domingos, o forte das equipas de Domingos, seja ela a AAC, o Leiria ou o Braga nunca foram os autocarros (sendo sempre boas equipas a "fechar") mas sim as rápidas transições ofensivas. Mesmo no Sporting isto aconteceu.

    As equipas de Domingos nunca foram fortes em posse de bola (como são as de Paulo Bento) mas sim no transporte rápido da bola explorando espaços dos adversários.

    Como se fazem transições rápidas quando o adversário não sai da toca? Pois, não sei... talvez aumentando a posse ou recorrendo ao futebol directo.

    No futebol directo há ainda outro pormenor, sendo uma arma que falha, em média 70% das vezes, é importante a equipa aproveitar a bola estar próxima da área do adversário para fazer a recuperação/pressão imediata numa zona avançada do terreno, esta foi uma das lacunas ontem a pressão foi mal feita ou ausente e permitimos vários contra-ataques como resposta ao nosso futebol directo.

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  8. LMGM,

    "Como se fazem transições rápidas quando o adversário não sai da toca? Pois, não sei... talvez aumentando a posse ou recorrendo ao futebol directo."

    Convida-se o adversário a sair com a bola e pressiona-se forte e feio assim que chegam ao circulo do meio-campo, assim eles tiveram tempo para abrir a equipa e nós ganhamos espaço.

    Ao contrário, se tens uma equipa que raramente faz transição e joga com muita posse, é uma boa ideia começar a pressionar logo na defesa deles de forma a evitar que a posse deles comece a ser construída com facilidade.

    O problema do SCP é que não pressiona adequadamente e quando consegue recuperar a bola não tem jogadores suficientes e bem distribuidos pelo campo para construir.

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  9. "O problema do SCP é que não pressiona adequadamente e quando consegue recuperar a bola não tem jogadores suficientes e bem distribuidos pelo campo para construir."

    Correcto e afirmativo.

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  10. Muito boa análise.
    Domingos tem que encontrar um plano B.
    Porque todos os adversários já sabem como controlar o SCP, fecham os flancos e obrigam os centrais do Sporting a iniciarem os ataques, estes por sua vez sem linhas de passam acabam por fazer passes com pouca probabilidade de sucesso, ou acabam mesmo por perder a bola como aconteceu ontem com o Polga e acontece muitas vezes com o João Pereira.
    Agora está nas mãos de Domingos encontrar soluções, não vale a pena culpar os jogadores porque eles estão numa teia sem saida.
    Também não percebi porque o Sporting abandonou a pressão alta, porque quer o Schars e o Elias a fazem muito bem. Será pelo facto de já não terem Rinaudo a proteger as costas?
    Se o Domingos não encontrar um antidoto vêm aí muitas dores de cabeça para todos...

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  11. jmbb,

    A ausência do Rinaudo parece-me 1 falsa questão, os problemas enquanto ele jogou ja existiam só nãoo eram tão evidente por causa da categoria do argentino. Com a sua saída as coisas passaram a estar mais evidentes.

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. LdA:

    De acordo com a tua análise. Acho que os males aqui identificados já se notam à bastante tempo, talvez desde o inicio da época. Rinaudo, com aquela fúria toda e o desconhecimento das características de alguns jogadores (capel, Carrillo) e a forma de jogar (flanquada) do SCP ajudou a ultrapasar diversos obstáculos. Neste momento tal efeito surpresa... sumiu-se.

    LMGM:

    4231.
    Perfeitamente de acordo. Schaars e Elias. Dois alas (Izma ou Jefren, Capel ou Carrillo), Mat14s a 10 e um Wolfie letal e em forma.

    Resolviamos, pensou eu de que, a questão da falta de presença no miolo. Previsivelmente, com a qualidade destes dois 'pivots' tb se aproximaria mais a equipa, aumentando a ligação entre sectores. Mas isto sou eu, e eu sou um mero treinador (rasca) de bancada. Mas gostava de ver o Domingos tentar...

    SL!

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  14. Julgo que o problema está na concretização ou na falta dela.

    Em Coimbra foi o que se viu , contra o Porto, não havendo muitas oportunidades, as que houve não foram concretizadas e ontem o lance que o Bojinov desperdiça ( um deles ) podia ter dado outro rumo ao jogo.

    Também é verdade que o nosso futebol não tem sido vistoso, mas temos que concretizar as oportunidades de que dispomos para esconder alguns defeitos tácticos.

    Isto para dizer que eventualmente outro ponta de lança poderá resolver o problema, não sei é se será o Sebas.

    SL

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  15. Paulo Reixa,

    Discordo completamente de ti, porque essa é a forma mais dificil de resolver o problema.

    Prefiro atacar o problema, arranjando forma de criar mais oportunidades de golo (ou poucas oportunidades de golo, mas em posições de mais facil concretização que não exijam grande tecnica de finalização). É mais facil do que estar à procura dum "Jardel".

    Virgilio e LMGM,

    4231 totalmente de acordo. Resta saber se o joelho do Izmailov está virado para aí.

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  16. O LMGM fala numa coisa importante.Nna nossa melhor fase da época, vimos a equipa a pressionar alto e a não deixar os adversarios saír a jogar de trás.

    Na nossa pior fase da época vimos o oposto. Foram os adversarios a fazerem-nos provar esse remédio.

    Neste jogo com o Nacional, voltámos a ver aquilo que se passou na pior fase da época. Nunca pressionámos o adversario, que saíu sempre confortavelmente a jogar (uma das minhas embirrações com o Bojinov passa por aí) e, pelo contrário, foi impressionante a maneira como o Nacional nos pressionou bem alto nalgumas alturas do jogo. Inclusivamente quando já estava a jogar com 10. Quando eles fazem isso sem ter medo das bolas metidas para os espaços vazios que têm de destapar, alguma coisa vai bem mal no nosso jogo...

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  17. Concordando com toda a análise efectuada, julgo que neste momento o Sporting sofre de 2 ou 3 problemas graves:

    - A recuperação dos jogadores lesionados e sua inserção na equipa a titulares leva à perda de fio de jogo, capacidade de pressão, etc.

    Isso foi evidente na quarta-feira com Jefren e Matias associados à inclusão de Renato Neto.
    Ao intervalo e antes deste já 2 jogadores estavam fora de campo, sendo da parte de Domingos o óbvio reconhecimento do erro cometido, erro esse que francamente não esperava que fosse possível ser cometido tal a importânica do jogo.

    - A embirração com Capel é algo que não entendo. A sua falta de sentido colectivo é compensada pela sua capacidade de explosão e isso leva-o a ser quase sempre das melhores unidades em campo.
    Foi ele o principal responsável por carregar a equipa para a frente na quarta-feira, foi ele que fez despertar o público e é nele que muitas vezes vemos a esperança para se resolver o que está difícil.

    Domingos parece não acreditar em Capel nos últimos jogos...
    Este jogo foi muito importante para termos de volta o melhor Capel desta época, um jogador que empolga e faz a equipa acreditar.

    - Rinaudo
    Continuamos a não ter substituto à altura a meu ver.
    As suas características estão perfeitamente adaptadas ao estilo de jogo que Domingos quer e qualquer outro jogador não consegue fazer a sua posição como se tem tentado...
    Quem sofre com a sua ausência é a defesa e sobretudo os centrais que não têm geralmente apoio, ficando demasiados expostos ao erro.
    Só vamos ter a solução para este problema com o regresso do internacional argentino e aí certamente que o futebol vai melhorar para os níveis que já foram atingidos esta época.

    SL
    José

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