sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Nascido para marcar ao Benfica e outras história do dérby

"Caréga Maria!"
Os nossos adversários devem ter um nome na cabeça quando se fala de dérby: Óscar "Tacuara" Cardozo. Espero que no domingo à noite, pelas 22 horas ainda sem lembrem com mais acuidade. Do nosso lado talvez alguns adeptos evoquem a memória de Liedson e dos seus duelos com Luisão. Diga-se, em abono da verdade, que a lembrança se justifica, pelo número de golos conseguidos por ambos os jogadores.

Esse número não passa contudo de um diminutivo comparado com os golos alcançados por Fernando Peyroteo contra o SLB. Peyroteo é ainda hoje o fantasma que assombra as balizas do nosso eterno rival. Um total de 64 golos marcados em 55 jogos (média de 1,2 por jogo). Aliás os números de Peyroteo são impressionantes e é uma profunda injustiça que o tempo os vá sepultando sem que se perceba a importância deste jogador não apenas para o Sporting mas também para o futebol nacional. É ainda hoje o jogador com a melhor média de golos marcados pela selecção nacional - 0,7 pelos 14 golos marcados em 20 jogos, num tempo em que não havia tantos jogos internacionais -, o jogador com mais golos marcados ao FCP - 33 em 32 em 32 jogos, média de 1,2/jogo. Aos 197 jogos efectuados para o campeonato nacional correspondem 331 golos marcados, uma assombrosa média de 1,6 golos por jogo, número ímpar em qualquer jogador e campeonato de futebol do mundo. Os 393 jogos oficiais renderam-lhe 635 golos, média de 1,61 golos. Números muito superiores aos de Eusébio que agora querem imortalizar no Panteão Nacional.

Pode-se dizer que Peyroteo nasceu para marcar golos ao SLB. No seu primeiro jogo, um jogo integrado num torneio de preparação, marcaria 2 golos, num dérby ganho por 5-3 pelo Sporting. A sério, anos depois, seria sempre decisivo nos 12 anos que jogou de leão ao peito, como por exemplo no tal campeonato do pirolito aqui ontem referido, sendo ele o autor dos 4 golos que ditaram não só o vencedor do encontro (4-1) como o campeão desse ano. A sua única expulsão da carreira seria precisamente num dérby, quando decidiu não se ficar perante um insulto de um defesa vermelho. Caréga Maria era a expressão usada por Szabo, o seu treinador, para vitoriar os seus golos.

Curiosidades avulsas
Este já mais de um século de rivalidade produziu um número sem fim de histórias que dariam também um sem número de posts. Vou deixar apenas duas, que reportam momentos que aguçaram o sentimento que ainda hoje existe entre os adeptos de ambos os clubes. 

O campeonato do melão que foi para o dragão
Foi talvez dos campeonatos mais renhidos de que me lembro, uma vez que a respectiva disputa se prolongou até ao seu final. O Sporting, que seria terceiro, ficaria apenas a 3 pontos do vencedor, o FCP, que chegaria ao comando precisamente após termos derrotado o SLB em pleno estádio da Luz, na penúltima jornada do campeonato. Ocorreu na época de 1985/86, o treinador do Sporting era Manuel José e os golos seriam marcados por Morato e Manuel Fernandes, enquanto Maniche apontaria o golo da triste consoloção. A festa estava preparada na Luz mas acabaria em funeral. Saliente-se a postura do Sporting, na altura presidido por João Rocha, que então vivia o ponto mais alto da guerra aberta com o FCP, como testemunham a presença em campo de Gabriel, Romeu, Sousa e Jaime Pacheco. O Sporting fez o que lhe competia, ganhando o jogo. Há muitos benfiquista que ainda hoje não devem ter superado este dia e certamente que todos nós o compreendemos...


Campeonato literalmente oferecido na última jornada, a 4 minutos do fim
É até hoje o único campeonato perdido na derradeira jornada. Estávamos na época de 1954/55 e o SLB já não ganhava um campeonato há cinco anos. O Sporting deslocava-se ao campo das Salésias, casa do Belenenses, então líder da classificação. O Sporting empataria ainda na primeira parte, com um golo de penalty que os azuis consideraram como um erro do árbitro a favorecer o... SLB. Na Luz os encarnados roíam as unhas até ao sabugo porque, apesar de estarem a vencer folgadamente o Atlético, precisavam que os azuis perdessem pontos. Tal viria a suceder quando, a quatro minutos do fim, Martins voltava a repor o empate, desta vez a 2 golos. Dizem os jornais da época que muitos adeptos encarnados passaram pela sede do Sporting para agradecer o título, chegando inclusive a depositar quantias em dinheiro na Taça Mealheiro, local destinado à angariação de verbas para a construção do Estádio José Alvalade. Quem diria?

5 comentários:

  1. Para quem, como eu, começou a ver futebol nos inicios de 90 ha muito sofrimento e muitas alegrias associadas ao derby. Lembro-me de ter o jornal O Seculo, com a capa da despedida do peyroteo. Há jogos que nos ficam (aquele 5 3 em casa de remontada - até o djalo marcou e o tiui bisou na final, contra lisandros luchos bosingwa etc etc; o 1 3 na luz, tb de virada com o liedson a fazer o que quis).

    Passados os anos de incompetencia absoluta do scp acho que temos codições para tornar a visita a alvalade o pior dos jogos quer para fcp quer para slb.
    faltam 2 dias...
    Vamos a estagio!

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  2. Ao jogo das Salésias asssitiu o meu pai que me contou essa aventura agridoce anos mais tarde. Nessa altura ainda não tinha nascido. O João Martins era natural da minha terra, Sines, conheci-o no final da vida quando regressou de França onde esteve emigrado muitos anos. Era uma excelente pessoa e foi um grande jogador que sucedeu aos cinco violinos. Ao jogo de 85/86 assisti e lembro-me bem do melão dos benfiquistas e dos golos do Mourato e do Manuel Fernandes. Uma boa equipa do Sporting com um grande treinador. Bons tempos.

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  3. Também estive lá. Que dia inesquecível. Estava com uma amiga benfiquista. Fiz a minha festa, respeitando os perdedores e ninguém me chateou. Como os tempos mudaram....

    O campeonato do melão...é uma excelente definição :))

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  4. O conselho que Szabo deu a Peyroteo quando do primeiro derby em que o grande avançado participou continua válido para cada leão que rondar a grande área benfiquista: “Sinhor Fernando, não perturbar com jogo. Não ter importância nenhum jogar mal. Gajos ir dizer para si coisas feias. Não engolir a isca. Fazer dê conta ter algodon nos ouvidos. Não esquecer principal papel dê avançado-centro: caréga Maria”.

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  5. Histórias deliciosas do derby!

    E uma justíssima homenagem a Peytoteo.

    Motivos mais que suficientes para abrir o apetite para o jogo de amanhã! Oxalá seja um gde espectáculo, que ganhe o melhor e que o melhor seja o SCP. Casa cheia está garantida. falta o resto Vamos a eles, cambada!

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