quarta-feira, 2 de maio de 2018

Tio Patinhas de Alvalade analisa o artigo de Bruno de Carvalho sobre as contas do Sporting

Olá a todos.
Tio Patinhas is back!!

Depois de algum tempo ausente, volto à escrita, depois do Presidente do Sporting ter publicado um artigo no DN, onde falava sobre o estado das finanças do Sporting e da recente polémica sobre as obrigações. Mas foi ainda mais longe e revelou alguns dados novos sobre a reestruturação financeira que, aparentemente, teve uma renegociação com os Bancos.

Mas vamos por partes.

Em primeiro lugar, abordar a polémica do empréstimo obrigacionista. Existe muita informação e desinformação sobre este assunto. Ainda ontem, lemos uma notícia do CM em que nos dizia que o prorrogar das obrigações, por um período de 6 meses, originou um custo de quase 1 Milhão de Euros. O que é verdade, mas este custo não é adicional. Se a emissão “velha” tivesse sido substituída por uma nova, este valor seria pago à mesma, pois as obrigações vencem juros e o Sporting não tem liquidez para simplesmente reembolsar as obrigações, sem fazer o “revolving” da emissão.

Várias pessoas questionaram a minha opinião sobre o prorrogar e principalmente sobre a nova autorização para pedir um novo empréstimo obrigacionista num valor que poderá ir até 60 Milhões de Euros. Não tendo qualquer informação sobre o que motiva esta autorização, tenho a convicção que, no contexto atual da banca, que o Sporting dificilmente teria autorização para aumentar a sua dívida num valor de mais 30 Milhões de Euros. A Banca quer reduzir a exposição aos Clubes de Futebol  e paulatinamente, o Sporting tem conseguido reduzir algum do seu passivo bancário. Por outro lado, todos sabemos que os investidores particulares representam uma fatia pequena dos subscritores das obrigações, pelo que são normalmente os Bancos, através dos seus fundos, que tomam a percentagem de leão dos mesmos. 

Com estes dados, leva-me a concluir que deveremos estar a observar uma substituição de dívida ou do valor necessário para recomprar as VMOCs, segundo informação prestada ontem, por Bruno de Carvalho. Aguardemos pelas contas do primeiro semestre de 2018/2019 para verificar como fica o passivo bancário do Sporting e se se confirma ou não a substituição de outras formas de endividamento bancário (factoring, empréstimos, contas caucionadas, descobertos, etc).

Antes de falar das VMOCs, é importante falarmos de uma questão:

Depois da entrada da oficial da Troika, os Bancos foram obrigados a rever as suas práticas e mais do que isso, a reconhecer como imparidades e por conseguinte, assumir as perdas, de uma série de dívidas que os seus devedores tinham. E durante estes últimos cinco anos, quase todos os Bancos Nacionais assumiram milhões e milhões de prejuízos. E entre os quais, muitas das dívidas de todos os Clubes de Futebol, principalmente daquelas que estavam “calcinadas”. E para agravar isso, tivemos a queda do Banco BES, um dos 2 bancos com exposição ao Sporting. E resta saber se as nossas dívidas, incluindo as VMOCs (a parte do BES), ficaram no Banco Bom ou Mau (Novo Banco ou BES). Mas independentemente disso e de acordo com as informações que tenho, os valores das VMOCs foram já reconhecidos como perda total no Balanço dos Bancos e o prejuízo já reconhecido nas diversas contas do BES e Millennium BCP.

Penso ser à luz destes dados que posso compreender as novas informações que saíram ontem. Que ao invés de exercemos a opção de compra de 44 Milhões por um preço de 1,2 X Preço de mercado (cotação), que as mesmas teriam um preço de 0,3 Euros por VMOC. A este preço, o Sporting fica obrigado a comprar a totalidade das VMOCs a um preço de 40,5 Milhões de Euros. O que lhe daria cerca de 88% do capital da SAD.

E porque será que os Bancos acordaram esta redução de preço?…

Penso ser explicado pela razão de que vale mais um pássaro na mão do que dois a voar. Ora vejamos. As VMOCs já devem estar valorizadas a 0, nas suas contas. Os prejuízos já foram assumidos. Recebendo 40,5 Milhões de Euros pelas mesmas, significa que irão reconhecer um ganho nesse montante, com a reversão das imparidades. Ganho esse que irá mostrar uma melhoria nas suas contas de resultados.

E porque é que isto acontece?

Porque naturalmente, se o Sporting só precisava de comprar os 44 Milhões de VMOCs até um valor máximo de 44 Milhões de Euros para manter a maioria, nunca iria comprar as restantes, mantendo-as cristalizadas no Balanço dos Bancos (e volto a referir que, já estão valorizadas a 0 nos mesmos). Assim e perante esse cenários, os Bancos preferem limpar as VMOCs do seu Balanço de uma vez por todas.

No caso destes pressupostos se concretizarem (e volto a referir de que não disponho de nenhuma informação privilegiada, limitando-me a formular as minhas opiniões com base nos dados que são públicos), existirá um haircut de 70% da dívida (constituindo assim um perdão), assumida sob a forma de VMOCs. O que será sempre uma boa notícia e partindo do pressuposto que estamos e iremos continuar a cumprir com os acordos estabelecidos com a banca. A Banca tem cada vez mais instruções para reduzir a sua exposição a Clubes de Futebol e temos de ir arranjando formas alternativas de financiamento e principalmente, aproveitar as milionárias transferências para diminuir as nossas responsabilidades com a mesma.

No meio do extenso artigo, uma confirmação: os 18 Milhões de Euros, do tal investidor que não poderiam divulgar o nome, nunca entraram nos cofres da SAD. Ao contrário do afirmado (e por mim, pessoalmente, no Multidesportivo) em Assembleia Geral do Clube, pelo Presidente Bruno de Carvalho e penso que por Carlos Vieira, Vice-Presidente, em diversas entrevistas. Nos mapas de fluxos de caixa, nunca tinha percebido onde poderia estar reflectida essa entrada, nem nas contas de Balanço. Agora, surge a confirmação. Só não era preciso era ter informado deste assunto de uma determinada entrada de fundos que nunca correspondeu à realidade. 

Em último lugar, confesso que não apreciei a “desavença” entre os maiores accionistas da SAD ser discutida em plena praça pública. Não sendo a Holdimo uma “santinha”, também é necessário recordar que esta aceitou a conversão de uma dívida em capital, permitindo a este acionista ter uma participação de quase 30% no capital da SAD do Sporting. Será vantajoso estarmos a “pisar” no segundo maior acionista e assumir que queremos provocar-lhe uma diluição de capital? Ou será que os actuais accionistas (que não o Sporting) poderiam comprar algumas das VMOCs ao preço estabelecido pelo Sporting?

Aguardemos pelos próximos capítulos, mas estou curioso para saber o que irá sair deliberado na próxima AG da SAD do Sporting.

Até lá que é hora de despedir de todos os sportinguistas que nos seguem, aqui no Blog A Norte de Alvalade

Saudações leoninas,

O Vosso Tio Patinhas de Alvalade

6 comentários:

  1. Excelente artigo. A chave para conseguir um grande negócio, é conseguir que ambas as partes saiam a ganhar. A leviandade com que girou pela praça pública, incluindo em artigos de "jornais de negócios" que o Sporting conseguiu um perdão de 95ME é aterradora. 1 euro era o tecto/preço máximo, 1.2x o valor da quotação, poderia ser praticamente zero. E o Sporting só precisava de comprar as VMOCS A; as VMOCS B podiam ficar a vegetar. A banca livra-se desse risco, ganha um valor concreto bem maior que o zero teórico (1.2 x X), e troca uma inconsquente ad eternum participação no clube por Euros. E o Sporting avança para uma recompra a um preço bem interessante que lhe permite recuperar todas as VMOCs e ficar com 88% de participação. Excelente a todos os níveis, benéfico para ambas as partes.

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    1. Benéfico para todas as partes? Bem, os bancos perdem 135M de euros e desse montante talvez recuperem 40M. Benéfico para quem?

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    2. Os bancos recuperam 40M em vez de zero, o Sporting recupera mais 37% da SAD de 51% que era obrigatória para 88%. Inicialmente gastaria 44M mas que podiam ser muito menos conforme a cotação da acção, e agora gasta os mesmos 40M para ficar com 88& da SAD, que mais tarde poderá lucrar a vender a um parceiro sem perder a maioria. Para os 51% basta gastar 17,5

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    3. O amigo não leu o artigo, pois não?

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  2. "todos sabemos que os investidores particulares representam uma fatia pequena dos subscritores das obrigações, pelo que são normalmente os Bancos, através dos seus fundos, que tomam a percentagem de leão dos mesmos."

    Será verdade, quando sabemos que há mais de 4000 subscritores dos 30M e só 2 com 500.000 euros ou mais?

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  3. Só uma perguntinha:
    No cenário anterior a esta negociação, a Holdimo iria ficar reduzida aos mesmos (ou menos) 9% certo?

    Sendo assim não compreendo a necessidade do tal pedido de AG da parte deles...

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