sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Ele diverte-se, nós divertimo-nos e eles divertem-se.

Não sei, na verdade ninguém sabe, se a proposta de jogo de Marcel Keizer vai acabar traduzida em títulos. Mas já se pode afirmar com segurança que ela incorpora muito daquilo que a nós, adeptos, agrada: qualidade futebolística, futebol de ataque que assume claramente a vontade de ganhar, sem se esconder. Com isso os melhores jogadores voltaram a parecer bons e até a formação foi resgatada do limbo para onde foi atirada na era D.C. Depois de Jesus, bem entendido, porque os cristos fomos nós.

A base para o sucesso está lançada, mesmo carecendo de afinações e de provas mais complicadas, como serão as que se seguirão em breve, não apenas com os rivais directos mas com a próxima eliminatória  . Afinal estamos a falar de um treinador que ainda não deve ter tido tempo para pousar as malas e arranjar casa. Ter conseguido o que conseguiu até agora, com tão pouco tempo decorrido, diz muito da qualidade do seu trabalho.

A equipa do Sporting tem agora uma ideia de jogo, sob a qual os jogadores operam de forma colectiva, deixando a equipa deixe de estar tão dependente da inspiração e rasgo dos seus melhores. Mas são os melhores que fazem a diferença, passe a "la paliçada". Esses, como o são Nani, Bruno Fernandes, Bas Dost, são agora tão bons como o melhor que já sabíamos deles. E as expectativas para o regresso de Raphinha são por isso ainda maiores do que já eram, depois de o termos visto jogar, ainda que numa equipa frágil e incipiente.Quanto valerá o jovem brasileiro numa equipa personalizada, que sabe o que quer, que gere bem os tempos e que descobre sempre o caminho para o próximo passe até descobrir a baliza?

Nesse entretanto teve já o tempo para olhar para o que tinha à sua disposição no viveiro de Alcochete. E se é disso que os miúdos mais precisam - que alguém tenha de tempo de olhar para eles - ele teve também a coragem de lhes dar um outro tempo que é essencial: o tempo de jogo ao mais alto nível. Tempo de qualidade num momento certo, pela sua baixa complexidade: estava em jogo o prestigio mas já não a necessidade do resultado.

Para quem não percebe o "aperto" que se vive nestes momentos no intimo dos jogadores, é preciso estar atento às declarações dos miúdos:

Estava um bocado ansioso, mas é muito importante jogar aqui (Thierry Correia)
Terminamos com seis jogadores em campo oriundos da formação e desses vamos ter que nos habituar a ouvir os nomes de Miguel Luís, Pedro Marques, Bruno Paz e do já citado Thierry Correia e a quem talvez se venha a juntar em breve Daniel Bragança. Jovane Cabral e Mané são nomes já sabemos de cor.

A forma como Keizer descomplica chega a ser desconcertante para os atónitos jornalistas nas conferências de imprensa:

"Se marcarmos mais, não é problema. Para mim, o futebol é marcar golos. Prefiro ganhar por 3-2 do que por 1-0. Pode haver quem tenha uma opinião diferente"

"Sofrer não é um problema quando se marca muitos golos. Ganhar é a coisa mais importante. Se me perguntarem, prefiro ganhar 3-2 do que 1-0. Queremos atacar e fizemos isso hoje."
No fundo a receita até não é assim tão nova. Keizer devolveu a confiança e alegria aos jogadores devolvendo-lhes a bola. Com ela a andar de pé para pé a equipa sente-se confortável e joga com o espírito de quem se diverte. Ele diverte-se, nós divertimo-nos e eles divertem-se.

Muita pena pela entrada assassina que lesiona Montero, que estava a ter um regresso em cheio.

1 comentário:

  1. Já ouvi alguns " experientes artistas da praça", dizer que Keizer está a beneficiar duma conjuntura "extremamente favorável". Nunca souberam do que uma liderança de qualidade é capaz (unindo um grupo , agregando vontades, maximizando desempenhos) e continuam sem saber.
    Apesar da "distância temporal", Keizer faz-me lembrar algumas facetas de Malcom Allison, que não perdia uma oportunidade em elogiar os jogadores ( nem todos eram M. Fernandes, Oliveira, Jordão, Eurico), apenas pediu um guarda redes que lhe garantisse pontos ( Meszaros) e também dizia que haverá vitórias sempre que se marcar mais um golo que o adversário.
    E parece tão simples que até custa a acreditar.
    Se Keizer conseguir imitá-lo quanto aos objectivos...que bom que seria.
    SL

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