Perder Viana sem perder o norte
A saída de Hugo Viana apanhou quase todos de surpresa e essa é a primeira grande ilação a tirar deste episodio: a informação que é relevante para o negócio da SAD circula hoje no Sporting num âmbito muito restrito. Estamos a falar de um processo longo, com diversas etapas que ocorreram longe dos holofotes mediáticos.
Essa fuga à exposição e o longo período em que o processo decorreu é também uma boa noticia: o Sporting teve tempo para se preparar e adaptar a uma mudança critica como vai ser a perda de um dos vértices da pirâmide que trouxe o Sporting das profundezas da irrelevância e do insucesso ao momento de afirmação que atravessa.
Seguramente que as alterações operadas na liderança do futebol profissional foram pensadas e tratadas entre todos os vectores e actores de forma a que o impacto da perda de Viana fosse o menor possível e provavelmente aproveitou-se a ocasião para apurar a organização interna. Visto de fora parece ter havido uma preocupação numa transição de pastas ponderada e realizada sem precipitação de ir a correr atrás do prejuízo.
É isso que parece querer dizer o regresso de Bernardo Palmeiro, que já havia estado no Sporting, precisamente no ano do primeiro titulo de Amorim, e de Flávio Costa a coordenador do scouting do Sporting. Trata-se de profissionais experimentados e com curriculum e não, como por vezes sucedia, de meros conhecidos, curiosos e “Yes-Men”.
Faz pouco sentido pensar que todas estas operações foram realizadass à revelia de Rúben Amorim, rumores que se foram ouvindo aqui e ali. Isso equivaleria à ideia de que Frederico Varandas ofereceria um cesto de fruta com serpentes ao treinador em quem confiou e uniu o seu próprio destino quando “sacou do MBWay” e o foi buscar a Braga. Em boa hora o fez, como bem sabemos.
Pode-se questionar também o tempo de transição, considerado por alguns como excessivo. Ora o que um acordo tripartido desta natureza parece revelar (Sporting-Viana-City) é que não houve qualquer beliscão na confiança que Frederico Varandas deposita no profissionalismo, ética e deontologia de Viana, ou então a porta de saída estaria muito mais próxima que o já acordado final de época.
Seja como for este é um momento que arrasta consigo alguma instabilidade. Internamente o epifenómeno da partida de Viana pode ser explicado no recato e as suas eventuais consequências prevenidas ou minimizadas. Já do ponto de vista mediático representa um verdadeiro maná para a imprensa. Para os adeptos do Sporting será, como sempre, o que quiserem que seja. Haverá os que diagnosticam a ruína e o fim, e esses poderão até ser os mesmos que perguntavam “afinal o que é que o Viana faz?”, como os que pensarão que a saída do director desportivo equivale a um episódio com a relevância equivalente a uma mudança na ementa de verão para o outono num restaurante bem organizado.
Obviamente que a realidade irá fazer a prova do algodão e demonstrar o quão bem organizado e pensado foi este momento, uma vez que ele justamente põe à prova a capacidade de gestão de um momento que representa o fim de um ciclo virtuoso na vida do Sporting e tão ansiado por todos nós. O ciclo que agora se inicia, e que este momento pode representar apenas o primeiro momento, será de afirmação do retorno no Sporting à liderança tripartida do futebol nacional, à estagnação ou ao regresso paulatino às vitórias episódicas e espaçadas no tempo.
Uma última palavra, porque é inteiramente devida e merecida por Hugo Viana. Poucos nos serviram tão bem e com tanta descrição. Este seu regresso ao Sporting, agora em funções organizativas, representará no futuro um exemplo e todo um guião para o que vierem a seguir. Aquele lugar nunca será fácil de exercer, mas será seguramente menos árduo do que o que Hugo Viana encontrou e teve que enfrentar. Neste salto de gigante no seu percurso profissional toda a sorte que merece.
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