terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Taça da Liga: Ver os reforços de inverno no berço

Nota prévia: 
Foi um espectáculo desagradável para qualquer Sportinguista o filme mudo que nos foi dado assistir e protagonizado por um treinador isolado na sua área de trabalho e um presidente a esforçar-se para dar uma imagem de normalidade, mas cujos sorrisos eram desmentidos pelas imagens. Como sócio e adepto a preocupação é maior que a vergonha de ver este espectáculo deprimente.

Qualquer pessoa com o mínimo de senso comum percebe a insustentabilidade da actual situação. Não tenho dúvidas, tal como ontem afirmei, que a melhor solução seria a da estabilidade no comando técnico, com a manutenção do treinador. Mas também não tenho dúvidas que a imagem de total ruptura entre técnico e presidente é uma não solução, é um problema. E os dirigentes, em particular o presidente, têm como principal missão criar soluções, tomando decisões e viver com as consequências. 

Ilusões de óptica
A derrota expressiva com que fomos brindados para a I Liga, e que provavelmente serviu de ignição aos actuais problemas, criou a ilusão de Vitória mais forte do que a realidade acabará por confirmar. De igual modo, deu a imagem de uma equipa, a nossa, menos empenhada na procura da vitória. Quanto a mim quer uma quer outra extrapolação foram indevidas. O Sporting teve um dia mau, em que tudo o que podia correr mal correu e, se tivesse que jogar mais dez vezes com o Vitória, provavelmente não voltaria a coleccionar resultado idêntico. Ontem, com uma equipa de segunda escolha, o Sporting vence e vence com justiça. Inferir-se que esta segunda equipa é melhor do que a primeira é absurdo. Já não o é tentar perceber se existem nestas segundas escolhas jogadores capazes de reforçar a equipa principal. É o que farei nos parágrafos seguintes.

Reforços ou opções?
Há uma diferença quando se fala em reforços ou em meras opções e creio que a compreensão dessa diferença é pacifica. Sucintamente, um reforço acrescenta valor, uma opção é uma alternativa ao que já existe, podendo oferecer características diferentes, mas sem significar uma melhoria evidente. Além destes dois géneros de jogadores, existem aqueles que representam o que geralmente se chama "custo afundado", jogadores sem valor para jogar no Sporting, cujo preço pago é maior do que se apurará à sua saída, feitas as contas das perdas e ganhos.

Reforços
Dos jogadores que jogaram ontem apenas um reúne as características de potencial reforço da equipa principal. Hoje já se pode dizer, sem receio de ser insultado, que, em condições normais, já seria titular. É melhor do que todos os outros que já o foram esta época e seria melhor dupla com Oliveira do que qualquer uma das outras opções. Falo de Tobias Figueiredo. Não o digo desde ontem, digo-o desde que o vi jogar a ele e a Mauricio e Sarr. Aliás, neste capítulo, é minha convicção que até Nuno Reis seria melhor do que os dois falados anteriormente. E já cá estava.

Opções
Boeck - Provavelmente já se imaginava, por esta altura, dono da nossa baliza. Só não o é porque Patrício ainda mora cá.

Esgaio - Jogador a precisar e a merecer outras oportunidades (o empréstimo, por exemplo) e novas exigências, numa liga superior à que joga agora. Um valor seguro, apesar da discrição.

Geraldes - Um bom jogo ontem, muito melhor do que fizera até agora. Contudo, não escamoteia a constatação de que é o quarto lateral direito e o terceiro defesa esquerdo, tornando muito questionável a sua contratação.

Gauld - Jogador com talento e que tem tudo a ganhar se continuar a aproveitar as oportunidades concedidas. Deve encarar este ano como tempo de transição. Mas ainda está atrás de João Mário e André Martins.

Rossel - Faz o lugar de forma quase sempre discreta e competente mas não é o William Carvalho.

Podence - Tal como Guald, tem o futuro do lado dele. No presente precisa de apurar o processo de decisão, isto é, decidir tão bem como consegue fazer, só que de forma mais constante. 

Wallyson - Valor seguro, tal como o futebol que já apresenta.

Nem opções nem reforços
Héldon - Um jogo interessante e um golo em que pareceu reclamar justiça. Percebo a emoção, até pelo facto de marcar um golo pelo seu clube, mas que não dissimula o essencial: deu nas vistas no Marítimo, podia ser importante no Vitória de ontem, mas está aquém das nossas necessidades. Mas pode ser útil em jogos que favoreciam as suas características, mas não mais do que isso.

Tanaka - Um jogador vulgar, que não jogaria em nenhum dos clubes que disputarão connosco os primeiros lugares do campeonato. Há vários melhores em equipas que ficarão abaixo de nós. Como será na ausência de Slimani?

Dramé e Sacko - Tenho que ver mais do que tenho tido oportunidade. O segundo parece ser provido de algum talento mas, tal como o primeiro, tem dificuldades em perceber o carácter colectivo do jogo. Normal quando se tem a idade deles. A rever.

Custo afundado
Sarr - Ter sido internacional pelo seu país de origem é um chamariz que no passado já nos saiu caro. Assim de repente lembro-me de Gladstone, Marian Had e tantos outros. Fica a ideia que era pretensão de quem o contratou tirar da cartola um Mangala barato que, entretanto, nos vai saindo bem caro. O que mais me impressiona no francês, além da total ausência de noção do que deve ser o posicionamento e leitura de jogo é o péssimo jogo de cabeça. Esta foi provavelmente a característica que levou à sua escolha, dado o seu porte físico, mas quem permite cabeceamentos a André André, que lhe dá pelas axilas, ou que nunca se sabe se a bola vai sair da sua cabeça para a frente, lado ou para a baliza, tem a folha feita.

Slavchev - Jogador Youtube e já é ser amigo.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Sobre a crise instalada: o que foi, como devia ter sido, o que virá a seguir

O que foi que aconteceu para o treinador passar da melhor escolha possível a "dispensado"?
Exporei abaixo algumas das razões que me parecem estar na raiz dos problemas entre Marco Silva e Bruno de Carvalho.


Erro de auto-avaliação
Não me parece que os problemas de Marco Silva com o BdC tenham começado aquando da tão famosa conferência de imprensa ou sequer no igualmente famoso desabafo no Facebook do presidente. O problema começa num erro de auto-avaliação quando o presidente e o seu braço direito, Inácio, decidiram serem eles os únicos responsáveis pelas contratações. Uma decisão legitima, mas cuja responsabilidade não deve deixar de ser assumida no contexto dos resultados até agora obtidos, especialmente quando alguns desses jogadores não justificam a preferência.

Erro na escolha do perfil do treinador
Quando uma direcção decide rescindir com um treinador ao fim de meio ano de trabalho, ao qual ofereceu um projecto de 4 anos,  está a confessar publicamente um erro na avaliação do perfil do treinador que desejou. Quando os defeitos apontados ao treinador não se resumem a questões de habilitação técnica e profissional, mas ao qual se apontam de falhas de carácter, o erro é ainda maior. Foi isso que nos vieram dizer, em jeito de serviço de catering ou de diagnóstico médico, dois consócios com relações privilegiadas com a direcção, Eduardo Barroso e José Eduardo. 

Quanto a mim o maior erro foi a escolha não ter recaído num treinador que funcionasse como uma mera extensão dos autores das contratações. O que o José Eduardo e demais moços de recados nos têm feito saber é que o presidente e o Inácio acham que não só são capazes de descobrir talentos, como têm ideias próprias sobre como, onde e quando os por a jogar. Cada convocatória de Marco Silva em que Slavchev, Gauld, Geraldes, Sacko e muitas vezes Tanaka ficavam na bancada era uma afronta a essas qualidades, facto que deve ter sido a ignição para o mal-estar que hoje se transformou no divórcio adiado que está à vista de todos. Falta saber quem deveria sair para entrarem os jogadores referidos. A pressão da classificação na Liga fez o resto.

O que aconteceu mesmo?
Com passar dos tempos tendemos a esquecer as circunstâncias em que os eventos ocorrem, com as suas causas a serem sepultadas sobre a poeira das opiniões, especulações e novas noticias. Mas tudo se resume ao momento em que o presidente impensadamente decide proferir uma declaração, nas vésperas de um jogo importante, deixando isolados e expostos treinador e grupo de trabalho.


Como devia ter sido?
Há duas perguntas que se tornam necessárias para avaliar a qualidade da decisão tomada ao proferir as referidas declarações e o respectivo impacto e consequências:

- Que treinadores - Jesus, Lopetegui,  Jardim, Vitor Pereira, por exemplo - aceitariam sem reacção declarações com a gravidade como as de BdC tiveram, sobretudo do impacto que as mesmas têm na sua qualidade de líderes de um grupo de trabalho? Marco Silva não ficou encostado à parede, perdendo se as contestasse e perdendo se, calado, as assentisse?

- Que dirigentes ganharam desta forma, expondo os seus profissionais? Não é nos maus momentos e nos de maior pressão que se deve fazer exactamente o oposto que BdC fez, protegendo e aligeirando essa mesma pressão? Não foi essa uma das melhores qualidades apontadas exactamente a BdC e uma das razões do sucesso na época transacta?

Dito isto julgo que se torna desnecessário estender mais a argumentação neste parágrafo.

O que virá a seguir?
O pior desta crise é precisamente a indefinição e uma dolorosa constatação: será difícil de debelar, sem evitar consequências gravosas para o clube. Que treinadores que de facto interessem ao Sporting quererão estar no lugar de Marco Silva? Que jogadores olham para o Sporting como uma boa aposta profissional, incluindo os que gostaríamos que continuassem connosco?

É difícil imaginar que a actual situação se mantenha por muito mais tempo. Cada dia que passa sem que a direcção, em particular o presidente, se mantenha calada ante os inqualificável ataques ao carácter do  treinador, sem se desmarcar de uma associação que a deveria envergonhar, não apenas cava o fosso de um possível desanuviamento e armistício, como sobretudo concorre para o insucesso do clube. 

Não se trata, como erradamente muitos querem fazer crer, de ter que escolher entre o presidente e o treinador. Antes sim de escolher o que é o melhor para o clube. E aqui não tenho dúvidas que o melhor seria que, mesmo sem declarações publicas, houvesse a humildade, mas sobretudo a grandeza, de perceber que o melhor para o clube era TODOS reconhecerem os seus erros e perceberem que TODOS perderão de outra forma. 

Bruno de Carvalho perderá se acabar por deixar cair o treinador de maduro, deixando claro que essa era a sua intenção inicial, só tendo recuado pela pressão exercida pelos adeptos. Onde fica então a convicção de estar a tomar a melhor decisão em prol dos interesses do clube? Ou era meramente uma questão pessoal?

Marco Silva perderá se sair agora, desta forma. Mas quem mais perderá será o Sporting, pois não creio nas virtudes de uma chicotada psicológica, desta forma , neste momento. Até porque as razões de uma campanha menos favorável na Liga não se esgotam no trabalho do treinador. Esta seria sempre uma época de transição, com o regresso, logo pelo melhor mas mais exigente caminho, das competições internacionais. E se a posição na Liga é a que é, a participação na Champions foi mais do que honrosa. Na Taça de Portugal eliminámos em casa um favorito. A Taça da Liga só não será melhor por causa de uma decisão mais do que questionável.

O balneário
É impossível que estes tristes episódios não tenham repercussões no balneário. Ao contrário do que se possa pensar, um balneário está quase sempre dividido pelas fracções que o compõem. O jogador profissional é tendencial e naturalmente egoísta: a sua carreira é curta, as boas oportunidades passam poucas vezes debaixo do nariz. A consciência colectiva, de grupo existe, mas apenas enquanto lhe é útil. As divisões também são naturais. Um treinador tem consigo os jogadores que jogam mais vezes e contra si os que ficam fora das suas escolhas por isso a possibilidade de o treinador sair é vista como uma oportunidade por uns e uma ameaça por outros. É esta a divisão permanente num balneário, mas, pelo que se vai vendo, o treinador merece a confiança da maioria.

O papel da comunicação social na crise
Diz-se de forma recorrente que o Sporting tem a generalidade da comunicação social contra si. Apesar de alguns casos pontuais o confirmarem, esta é uma queixa também muito comum entre os adeptos nossos rivais. Neste caso concreto, da actual crise, e da actuação geral da direcção e sobretudo do presidente, tem sido o Sporting o grande amigo dos meios de comunicação, ao fornecer diariamente alimento permanente para rotativas, gravadores e microfones. Alguns deles até descobrem comentadores nas filas de embarque dos aeroportos (RTP), deixando no ar um cheiro a frete e uma muito questionável gestão dos dinheiros públicos. Outros, como a Bola, continuam a fazer inquéritos de opinião sob a forma de noticias. Primeiro foi o despedimento de Marco Silva, agora é o Carlos Azenha.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O que se passou afinal com Marco Silva?

O que realmente se passou com Marco Silva?

Apesar das meias palavras creio que o presidente Bruno de Carvalho acabou por ser esclarecedor, ao mencionar os nomes de alguns dos seus actuais porta-vozes oficiosos, Eduardo Barroso e José Eduardo*, cujo discurso esteve perfeitamente alinhado com os restantes que, nas horas e nos locais certos, aparecem para "esclarecer" os Sportinguistas.

O que agora fica mais difícil é explicarem-nos como é agora bom que o treinador fique quando ao inicio da tarde defendiam que bom era mandar Marco Silva embora.

Ninguém se encarregará agora de esclarecer o que realmente se passou. Mas não é difícil de perceber que quem começou por colocar em causa o treinador e depois o deixou quase uma semana a grelhar, sob ataques ignóbeis ao seu carácter, já não conta com ele.

Acusações tão graves como de incompetência técnica ( não sabe defender, expõe a equipa ao contra-ataque) não está comprometido com o clube, não aposta na formação (esta é para rir!) são alguns dos motivos alinhavados no discurso oficioso. Gente muito bem informada, como os Eduardos, o Barroso e o José, que têm amigos que lhes telefonam.

No fundo isto não é mais do que um insulto à inteligência dos Sportinguistas, que o tempo se prestará a esclarecer. Um método detestável e revelador da natureza de quem o pratica. Um método já usado anteriormente, por exemplo com Manuel Fernandes, que só não resultou porque ainda vai havendo quem sabe quem ele é.

A minha leitura é simples: a noticia de "Abola" - até hoje o jornal não tinha falhado nenhuma noticia de última hora sobre o Sporting, estando sempre muito bem informado - ou foi um isco para tomar o pulso à opinião dos Sportinguistas, ou era verdade e a reacção generalizada nas redes sociais, em particular no Twitter e Facebook, fez virar o bico ao prego. 

Bruno de Carvalho teve uma boa ocasião para verificar duas coisas neste episódio: há um grupo de Sportinguistas que apoiarão tudo o que ele decida fazer, bem como o seu contrário. E uma parte muito importante que põe os interesses do Sporting acima de tudo.

Eu creio que esses interesses ficam muito melhor acautelados com a continuidade de Marco Silva. E estou muito à vontade para o dizer, porque não tenho deixado de o criticar sempre que me parece que tem falhado e reconhecendo que o Sporting poderia estar um pouco melhor. Mas também reconheço que não poderia ser muito diferente, porque o plantel que tem à disposição é demasiado curto em qualidade especialmente num ano de regresso à Champions. Ou, se preferirem, as culpas não começam e acabam no trabalho do treinador.

Sei que estamos no Natal mas não me peçam para acreditar no Pai Natal, isto é, que afinal tudo isto não foi nada, que não uma terrível maquinação,  a culpa é dos jornalistas, etc e dos Sportinguistas que não dão valor ao trabalho da direcção e do presidente.

*As declarações de José Eduardo, que além de sócio mantém também relações comerciais com o clube, são de uma gravidade extrema, que não podem deixar ninguém indiferente. Mais ainda depois do próprio presidente as ter mencionado como uma referência neste "frenesim", como o próprio afirmou.

Nota: este post foi editado já depois da sua publicação inicial.

Aí está a rica prenda de Natal para os Sportinguistas: Marco Silva fora!

Se for verdade a noticia acabada de difundir pelo jornal A Bola, no seu sitio online, Marco Silva já não é treinador do Sporting. Repito, a ser verdade, aí está uma rica prenda de Natal para os Sportinguistas. A brincar desabafava eu há pouco: esta deve ser a forma que o Bruno de Carvalho encontrou para se associar às comemorações dos dez anos do tsunami de 2004...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Para todos um Bom Natal

A todos os redactores e leitores deixo os votos de um Bom Natal. Mas não deixo passar a ocasião sem lembrar que o Natal e sobretudo o espírito que lhe é peculiar depende sempre da vontade de cada um. Como aliás muito bem lembrou Ary dos Santos:

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Pensamento de final de tarde: "passados alguns anos e poucos meses o essencial continua por mudar"

Poucas linhas para encerrar o assunto dos últimos dias, servindo estas para fazer uma constatação: passado um par de anos e alguns meses o essencial continua por mudar.

Explico:

Encerra-se a décima quarta jornada de um campeonato já várias vezes inclinado para os interesses do líder e campeão em titulo, como há muitos anos não se via. O natural era que mais um jogo ganho sabe-se lá bem como se tornasse no tema do momento e as primeiras páginas o espelhassem.E que houvesse pelo menos eco de alguma indignação.

Quem o devia fazer? Todos, especialmente os que concorrem com o SLB. 

Quem o fez? Apenas o FCP, com a tradicional ironia de Pinto da Costa, aproveitando habilmente ou, se preferirem, de forma curta e grossa, a presença da comunicação social num evento do seu clube.

E o Sporting? O Sporting mais uma vez entretinha-se a roer as próprias unhas até ao cotovelo. Pior, é o próprio Sporting, a consumir-se em mais um processo autofágico, que expõe as suas próprias misérias, desviando a atenção das vergonhas alheias.

Quantas vezes já vimos isto nas décadas passadas? Por muita que seja a propaganda, o essencial continua por mudar. É na qualidade das decisões dos seus dirigentes que os Sportinguistas devem primeiro procurar as explicações para o que o clube é hoje. 

Infelizmente hoje, tal como no passado, há sempre uma desculpa, um bode expiatório: os jornais, o Mendes, o a Olivedesportos, os fundos, a arbitragem, os croquetes, o Duque, o Godinho era pior (como se o Sporting tivesse começado em 2011). 

Tudo menos a preocupação com os factos: onde, quando, quem e como é  que tudo isto começou?

A seguir o spin que virá é que "nada do que está a acontecer é por acaso", "o Bruno vê muito longe" e o Marco Silva, esse traidor lampião, já tem contrato apalavrado com o Vieira. 

Ah, mas o Marco Silva está acima de todas as criticas? 

Obviamente que não e não faltam razões para o fazer. Mas no momento, na forma e nos locais apropriados e ponderados todos os factores, incluindo a qualidade do plantel  que lhe foi colocada à disposição, face aos compromissos assumidos.

Back to black ou é só poeira (radioactiva)

No que à comunicação diz respeito o Sporting parece ter entrado numa fase de "cada cavadela, cada minhoca". Agora recorre-se novamente a essa figura de estilo "pintodacosteana", o blackout, tentando alijar as culpas próprias a terceiros, quando tem sido o próprio Sporting, em particular o seu presidente, a fornecer munições de elevado calibre que, ao fim e ao cabo, têm representado tiros nos próprios pés. 

Contudo o silêncio auto-imposto, apesar da aproximação aos piores exemplos da história recente do futebol português, se for respeitado, tem pelo menos o mérito de parar a hemorragia, a agitação. Quem sabe as rabanadas e os licores não introduzam agora a calma e o discernimento que tem faltado.

Como dizia ontem, como sócio e adepto do clube, acho este espectáculo deprimente. O discurso de Bruno de Carvalho foi-o, em particular a parte em que coloca publicamente em causa o trabalho do treinador sem que, ficamos a saber depois, o tenha feita em privado sequer. Alguns pormenores do discurso assemelham-se a letras pequeninas numa futura carta de despedimento. 

Não há no Sporting, dentro dos que lhes são mais próximos, quem o chame à terra, ou é tudo parecido com aqueles cãezinhos de trazer atrás nos automóveis, sempre a abanar a cabeça?

Compreendo o incómodo de Marco Silva e, como se costuma dizer, quem não se sente não é filho de boa gente. Mas não posso deixar de questionar o facto de ter feito exactamente o mesmo que o que tanto justificadamente lhe doeu: dizer em público o que lhe competia dizer na cara do presidente mas no recato de um gabinete. 

A ambos o ego inflamado roubou o discernimento, esquecendo-se que por trás deles está um nome e uma bandeira muito maior do que eles. Esquecem-se que cá fora há milhares de pessoas que sofrem  se agitam sempre que o nome do Sporting está em causa, não menos nem mais do que se tratasse de um assunto de família. 

De nada serve virem contarem-nos histórias da carochinha, dizendo que "é só poeira". Pois talvez seja, mas ao que se vai vendo, é radioactiva e deixará sequelas. Despedir um treinador com 4 anos de contrato ao fim de cinco meses é o maior atestado de incompetência que uma direcção pode passar a si mesma.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Viagem à Madeira: quando o resultado é tudo e as novelas seguem dentro de momentos

Não faltam elogios hoje à postura dos jogadores do Sporting no encontro da Madeira, ante o Nacional. Elogios que seriam exactamente o oposto, e provavelmente com a mesma origem, caso o resultado não se tivesse saldado por uma vitória. O que se está a validar hoje é o resultado, não a exibição ou a entrega dos jogadores.

Do ponto de vista da exibição ela esteve longe de ser vistosa e isso tem várias explicações: a primeira, a mais importante, o adversário que defrontamos e as suas peculiaridades. Os jogos com o Nacional sempre foram difíceis, basta olhar para o histórico dos resultados, em especial os que coincidem com o comando técnico de Manuel Machado. Essas dificuldades começaram a ficar bem patentes no inicio do encontro. Com os madeirenses a solicitarem Suk de forma directa e Matias e Rondon à procura da segunda bola, a importância da nossa superioridade técnica, em particular do meio-campo, ficava anulada, pelo menos parcialmente. Quando tínhamos a posse de bola não conseguíamos assentar o jogo, mercê quer da imprecisão no passe quer da pressão do adversário, que se concentrava sobre os nossos elementos capazes de construir.

A segunda explicação está no momento particularmente instável que se vive, por força dos resultados e da consequente classificação. A perspectiva que se colocava, em caso da vitória não se concretizar, era tudo menos animadora. O discurso recente do presidente, deixando em causa as decisões do treinador e o empenho dos jogadores, representando ameaças veladas sobretudo à continuidade do responsável técnico, dificilmente não pode ser considerado como amplificador da instabilidade que os resultados e classificação adversos representam inevitavelmente num clube com as nossas ambições. A explicação para tanto passe e recepções falhados também tem de ser encontrada aí. O estado miserável do relvado não será menos importante, embora este fosse o mesmo para ambas as equipas, mas o estilo de jogo do Nacional era obviamente o menos penalizado.

Do ponto de vista da entrega ou a tão famigerada atitude, não me parece que ela sirva de explicação para os resultados menos conseguidos. Nem ontem nem sequer no jogo com o Moreirense, por exemplo, ou o empate, que ocorreu nos últimos momentos do jogo, nunca ocorreria. Mas a este nível há pelo menos um jogador a precisar de rever alguns conceitos sobre a missão de um centro campista: João Mário. Entrou por azar de André Martins e o seu jogo foi a explicação prática para a cura de banco que Marco Silva lhe ofereceu. A forma como se desliga do jogo quando perde a bola é aflitiva e a falta de intensidade na hora de a recuperar é idêntica. João Mário tem grandes condições para ser um dos melhores médios nacionais da sua geração se conseguir corrigir este defeito que, no lugar que ocupa, é a diferença entre um bom jogador e um jogador vulgar. Há poucos treinadores - haverá mesmo algum? - que esteja disposto a dar muitas oportunidades a um jogador tão descomprometido.

No polo oposto colocaria Slimani. Entrega total, faltando-lhe a classe dos grandes matadores para ser grande. Muito desse "defeito" advém-lhe de um mau jogo com os pés, sobretudo ao nível do controlo da bola e passe. Pormenor que me parece poder ser senão eliminado pelo menos atenuado, se bem treinado. Se o conseguisse jogos como o de ontem teriam significado pelo menos mais um ou até mesmo dois golos e não dois falhanços comprometedores para ele e sobretudo para a equipa.

Referência individual também Paulo Oliveira, que jogou por dois. É um bom jogador, mas não tão bom como alguns elogios estratosféricos fazem crer. Beneficia da comparação com os colegas que tem tido ao lado, ficando muito por isso mais destacado. Nos defeitos que lhe detecto - a velocidade e a bola nos pés - podem ser um atenuado outro melhorado. A velocidade é uma característica inata. Não a tendo Paulo Oliveira é obrigado a jogar com mais atenção, em antecipação. A bola nos pés, tal como Slimani, pode trabalhá-la melhor. Como a qualquer outro central, para começar a construir jogo, tem de contar com a disponibilidade e inteligência dos que jogam à sua frente e ao lado, médios e laterais particularmente.

Carrillo é a última referência individual. Jogo intenso, menos preguiçoso do que era seu costume num passado recente na hora de defender, muito inteligente quando foi preciso segurar a bola longe da nossa baliza, permitindo à equipa respirar e fazendo o adversário perder a paciência. Vale sempre a pena esperar o melhor de quem tem muita qualidade e Carrillo tem-na e muita. 

Não é costume as palavras do treinador fugirem dos habituais chavões e lugares comuns para adquirem a importância e a atenção que tiveram as de Marco Silva na conferência de imprensa. Para os que minimizaram o impacto das palavras e sobretudo o seu desacerto ficou ontem a devida demonstração prática. 

Como sócio do clube lamento profundamente este espectáculo deprimente, em que o treinador se vê forçado a enviar recados para cima e sobretudo ensinar o "B"+"A"="BA" do relacionamento entre indivíduos, quando afirmou: "como treinador prefiro criticar ou elogiar cara a cara". Já todos percebemos que, se não houver quem medeie este problema a história vai acabar mal. Depois digam que a culpa é dos jornalistas.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Proponho um minuto de silêncio (Porque não me interessa o campeonato dos comunicados)

Sempre defendi que o Sporting deveria ter uma comunicação muito mais interventiva e pro-activa do que aquela que, em algumas ocasiões, se limitava a ser passiva, reactiva e em tantas outras simplesmente ausente. Essa postura ignorava as melhores práticas da comunicação recomendada para uma entidade como o Sporting, concorrendo em prejuízo do clube.

Ora a actual prática, de constante bombardear de comunicados, vai no mesmo sentido. E pior do que a frequência é a falta de sentido de alguns deles, vivendo-se em permanente cacafonia e agitação que, ao invés de produzir algum efeito benéfico, só provoca ruído, instabilidade e prejudicam a imagem do clube. Não menos importante é constatar que a rajada de comunicados nem sempre cuida de informar sócios e adeptos como deveria. Repare-se no que aconteceu recentemente com as noticias da possível extinção da equipa B, que se soube através dos jornais e que não mereceu uma linha a desmentir.

Dois exemplos recentes de comunicações desnecessárias, que ainda por cima têm por base decisões lesivas dos interesses do clube:

O comunicado sobre a Supertaça de Andebol
A Supertaça de Andebol disputa-se amanhã no pavilhão de Águas Santas, Maia, e tem como adversário o FCP.  O Sporting alega em comunicado falta de condições de segurança e protesta contra o critério que tem por base a atribuição de um local tão próximo de um dos contendores. Como se sabe, o concelho da Maia é limítrofe do Porto, confundindo-se em muitos casos onde termina um e começa o outro.

O Sporting teria mais razão na contestação deste critério, não fosse dar-se o facto de estarmos a falar precisamente do mesmo recinto onde conquistou o direito a estar presente na final de amanhã, quando bateu o ABC de Braga no passado dia 13 de Abril. À altura, lembre-se, não se conheceu qualquer protesto. Pior parece-me ainda que  se tenham disponibilizado os bilhetes aos adeptos dias antes mas agora, no referido comunicado, se tenha adiantado já que não haverá qualquer representante do clube. Como se defende os interesses do clube desta forma, deixando ao abandono equipa e adeptos, é que caberá agora demonstrar.

A comunicação do Presidente
Bruno de Carvalho proferiu hoje uma extensa declaração que no essencial, dá conta da realização de uma AG no próximo ano para legitimação do mandato da actual direcção. A necessidade desta comunicação auto-extingue-se logo na sua primeira linha quando se reconhece a legitimidade dos eleitos. Se ela é reconhecida e ninguém a contesta para quê a AG?

Como diria o outro, o que Bruno de Carvalho quer sei eu!... Dito de outra forma, se Bruno de Carvalho soubesse que o seu lugar estaria em causa, duvido que o seu próximo acto fosse por o seu lugar à disposição. 

O que Bruno de Carvalho persegue é a unanimidade em torno dos seus actos e confunde a critica necessária e legitima em torno dos actos da sua gestão com afrontas à legitimidade, remetendo todo e qualquer desacordo para o "aumento exponencial dos inimigos internos." Este é talvez o ponto mais lamentável de uma declaração quase toda ela proferida em tom semelhante. Igualmente lamentável é o carácter difuso de acusações sem destinatário explicito, abrindo o caminho à especulação. Um exercício muito interessante consistiria em saber como foi recebido este comunicado pelos profissionais que trabalham no clube.

Num momento particularmente difícil, embora não crítico, do nosso futebol, a mola real do clube, preferiria da actual direcção mais sinais de estabilidade e serenidade que promoção do ruído e agitação. Pessoalmente não quero nem ver cair esta direcção nem eleições, mas sim que quem foi eleito honre os seus compromissos e o mandato que recebeu dos sócios há bem pouco tempo.

Sobre os quatro pilares que Bruno de Carvalho diz assentar a sua acção:

Necessidade de criar uma cultura de exigência
"Colocar o clube acima de tudo e de todos" Ninguém pode deixar de concordar com esta afirmação. Porém na prática, a actuação do presidente, está muito longe de se circunscrever nela. Desde logo a permanente confusão do Sporting com o seu presidente e respectivos interesses. E houvesse "cultura de exigência" e "luta contra a inércia e incompetência" e muito do que se passa no futebol profissional e na formação não estaria a ocorrer, por exemplo. É que os "inimigos internos" não jogam, não contratam, não tomam decisões.

Criar estruturas profissionais:
Basicamente ameaçam-se novos despedimentos. 

É preciso lutar por valores
Não me lembro do autor, mas lembro-me da citação: "Estratégia é onde decides lutar". Bruno de Carvalho contesta a ideia de auto-isolamento com as recepções em organismos internacionais e a recente organização em Alvalade do I Congresso Internacional "O Futuro do Futebol". A organização é meritória mas não ilude o essencial: as alterações que o Sporting persegue têm que ocorrer aqui em Portugal, os resultados práticos destes simpósios são em geral quase nulos. O auto-elogio implícito quando se afirma, sem qualquer prova,  que o evento "teve uma repercussão internacional relevante, considerado um dos mais importantes feitos no Mundo a nível de clubes" é mais do que questionável.

Para terminar os reforços de inverno não são muitos dos que foram enunciados. Mas concordo com o essencial: no actual momento é muito duvidoso que quem viu em Sarr, Slavchev, Sacko, Rabia, Geraldes reforços para um Sporting na Liga dos Campeões, possa encontrar muito melhor para nos fazer superar os atrasos e compromissos que ainda restam.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Taça de Portugal: futebol termal dá acesso aos quartos

Vizela é uma terra conhecida pela qualidade das suas águas termais para tratamento de algumas doenças, entre as quais o reumatismo. Foi pois em tom reumático e cheio de artroses que nos apresentamos em campo. Nem o facto de o jogo se ter disputado em Moreira de Cónegos, uns quilómetros ao lado, afastou a ideia de que a equipa parecia disposta a inaugurar um novo conceito de futebol: o futebol termal.

Valha pelo menos o facto de termos passado à fase seguinte da competição. Dizer isto, quando o jogo foi disputado com um adversário da antiga terceira divisão, mesmo que abnegado, diz tudo sobre o jogo infeliz de ontem.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Equipa B: entre as promessas eleitorais e a intenção de extinguir, o que mudou?


Não sei o crédito que merecem as notícias que desde ontem anunciam a intenção da administração do clube em extinguir a equipa B, se não se derem cumprimento a algumas alterações que aquela, alegadamente, pretende introduzir nos regulamentos. Mas a noticia é tudo menos uma surpresa, porque não aparece do nada. 

Nada acontece por acaso e havia já alguns indícios que algo poderá estar para mudar. O mais forte de todos, que pode ter passado despercebido, foi o artigo do ex-PMAG Eduardo Barroso na sua crónica de "A Bola", onde advogava que as equipas B, nos actuais moldes, eram mais uma fonte de problemas do que soluções. Sabendo da sua proximidade com a actual administração não podia deixar de lhe dar relevo. É por isso que a notícia não é assim tão estranha como poderia parecer à primeira.

Ora antes de ir ao que Sporting alegadamente pretende – acabar com a equipa B se não lhe forem concedidas as alterações pretendidas - é interessante recuar ao que foi prometido aos Sportinguistas em tempo de candidatura, aquando das últimas eleições. Recordo, como nota importante, que ao tempo vigoravam já os actuais regulamentos.

 (Um parêntesis para uma pequena ressalva: no programa de candidatura de Bruno de Carvalho há uma distinção entre o conceito de "Formação" e "Equipa B" que, na minha óptica, está errada. Vejo a "Equipa B" como a última etapa da formação de jovens jogadores e creio que essa diferença de percepção é capaz de ser uma das razões que poderá estar a arrastar o Sporting para uma tomada de decisão como a anunciada. )

Na introdução ao programa de candidatura pode-se ler (as que me parecem mais importantes):

"A Formação e a Equipa B manter-se-ão como apostas fundamentais para o nosso presente e futuro." (página 17)

17. A equipa B é uma aposta para manter. (página 19)

E quais são agora as pretensões do Sporting? Segundo as notícias de hoje o Sporting pretende:

- Reduzir o âmbito da idade sobre a qual assentam a formação dos planteis de sub-23 para sub-21, podendo inscrever até cinco elementos de idade superior.

- Que se mantenham as actuais condições das Academias para sede dos jogos das equipas B.

- A possibilidade de acordos com clubes satélites desde que não inscritos na mesma associação.

As minhas questões, partindo do principio que a noticia do Record, que diz ter tido acesso a uma carta enviada pelo Sporting à Liga, são verdadeiras:

- O Sporting insiste num modelo de relações externas assente na confrontação, prescindindo do valor da negociação. Já não é apenas uma questão de estilo, é estratégia. Os resultados obtidos terão que ser, no momento oportuno, devidamente contabilizados. Isso é o que realmente deve contar, sendo pouco importante a adesão ou a rejeição desta metodologia. Eu não gosto e duvido que se alcancem resultados práticos.

- A imposição de cláusulas de forma unilateral como condição sine qua non para participação nos campeonatos vai ser alargada a outros escalões e modalidades e levada até às últimas consequências?

- Qual é a importância real das cláusulas em causa, ao ponto da actual administração por em causa compromissos assumidos com os Sportinguistas, que estão na sua base programática e que levaram à sua eleição? 

- Qual é a importância real das cláusulas em causa para prescindir da importância estratégica que uma equipa B tem e que a actual administração reconheceu aquando da elaboração do documento ao afirmar no supra-referido documento:

"(…) Ao contrário do que tem sido prática recente, o recurso a jovens criados na formação do Sporting deverá ser uma realidade, à semelhança daquilo que sempre foi tradicional no clube. É incompreensível que um Clube que possui uma das melhores escolas de futebol do Mundo, não aproveite convenientemente em termos desportivos, e por consequência no aspecto financeiro, o enorme investimento anualmente realizado na sua Academia. É bom ter em conta que a FIFA e a UEFA vão a breve prazo alterar as regras do jogo, no que à gestão económica e financeira dos clubes diz respeito, e quem estiver mais bem preparado e já levar uma prática de rigor e de respeito pelos orçamentos, estará em vantagem."

"A existência de uma equipa B é de enorme importância para o desenvolvimento sustentado e servirá de ponte entre o futebol júnior e o futebol sénior. Deverá ser absolutamente proibido aumentar o passivo da SAD por via da compra de passes de jogadores, investindo recursos que não estejam disponíveis."

- Levando a efeito a extinção da equipa B, que alternativa tem o Sporting para fazer crescer de forma sustentada os jogadores que terminarão o período formativo –que não a sua formação - com dezanove anos, conhecendo-se, como se conhecem, as dificuldades actuais de colocação de jogadores emprestados, onde até o SCBraga nos consegue suplantar no número de jogadores naquelas condições a jogar na I Liga?

- Não é apenas a actuação, ou alegadas intenções, da administração que me deixam perplexidade. Logo, em Vizela, o Sporting disputará uma eliminatória da Taça de Portugal e no lote de convocados não aparece nenhum jogador do actual plantel da equipa B. Marco Silva, ao invés de premiar os jogadores que aí têm actuado, mesmo com o pouco brilho que se vem constatando, prefere dar primazia a jogadores que, cada vez que foram chamados, nunca o justificaram. Falo de jogadores como Rabia, Sarr, Héldon, Slavchev quando, por exemplo, os centrais actuais da equipa, Wallyson, Gauld, Iuri, estiveram, no último jogo, num plano mais próximo do que pode ser tido como o seu valor. 

Que mensagem se transmite aos jogadores da equipa B? 

Onde fica o mérito como critério na hora escolher?

And last, but not the least:

Falar em jogadores como Rabia, Sarr, Héldon e Slavchev (e tantos outros que chegaram entretanto) quando, ao ler-se documento de candidatura da actual administração, se encontram enunciados como os que deixo abaixo, é caso para perguntar se os seus autores são os mesmos ou o que é que os fez mudar tão radicalmente de princípios num tão curto espaço de tempo:

- (…) Quanto menor for o número de jogadores a entrar de novo no plantel, maior será a facilidade de manter rotinas e entendimentos, que consumiram tempo e esforço a conseguir e que são verdadeiramente importantes numa equipa.

(…) Com a reactivação da equipa B, o plantel deverá ser menos numeroso – 20 jogadores. Cinco ou seis jogadores, numa escolha cirúrgica, experientes (ter em atenção que no futebol a experiência não está diretamente relacionada com a idade) e capazes de acrescentar valor ao plantel existente, serão suficientes para a construção de uma equipa que possa lutar pelos objetivos de curto, médio e longo prazo do Clube. 

Jogadores estrangeiros não adaptados ao futebol português apenas se forem mais-valias claras. As contratações de jogadores estrangeiros, não adaptados ao futebol português, estará sempre dependente de serem considerados, pelo treinador principal e pela equipa Diretiva, como uma real valia para o reforço da equipa, apoiados em base nos relatórios emitidos pelos departamentos de Scouting e Sociológico.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Também tu, Marco? Ou muita ambição para poucas garras e dentes

Surpreendido com as dificuldades do Sporting frente ao modesto Moreirense? Eu não. Surpreendido fiquei, isso sim, com o alinhamento de Marco Silva e sobretudo o posicionamento dos nossos jogadores. 

Se Marco Silva viu, ou alguém por ele, os jogos do Moreirense com o FCP e SLB, talvez tenha estado atento apenas ao resultado final e ignorou que ambos os jogos se decidiram já perto do seu final, o que revela pelo menos dificuldades. Dificuldades que foram muitas porque, se é verdade que a equipa de Moreira de Cónegos é modesta, é também muito honrada a sua proposta de futebol. Uma equipa muito bem organizada, com um treinador que tem um discurso tão correcto como a sua prática.

Ao contrário de alguns dos seus congéneres em equipas de iguais pretensões e meios, o Moreirense não se apresentou em Alvalade a jogar em bloco baixo, de apenas duas linhas atrás da bola. Soube ocupar muito bem os espaços, procurando e conseguindo na maior parte das vezes, ter superioridade numérica onde tinha que disputar a bola. Ignorando o momento em que a bola estava nos centrais, concentrando os esforços quando saia destes para o meio-campo. Com isso logrou isolar William e Adrien, que raras vezes conseguiam ligar o jogo com Mané, Montero e Slimani, que só esporadicamente, mas sem grande consistência, davam o seu contributo. Carrillo era o que revelava maior disponibilidade para participar na transição e organização ofensivas mas esteve desastrado na finalização. Sem nenhum jogo interior e com grande parte das alas comprometidas, o nosso jogo vivia das transições rápidas, mas zero em eficácia.

A forma como o nosso treinador subestimou o adversário no escalonamento da equipa acabou por ser fatal. Tal como aqui já havia dito anteriormente, jogar com Montero e Slimani pode ser bonito no papel e resultar com algumas equipas, mas com outras melhor organizadas e com um treinador perspicaz é mais difícil. Montero para render o que vale tem de ter bola nos pés. Slimani para fazer o que dele se espera tem ter oportunidades. Nenhum deles o conseguiu e eram dois homens a menos na luta pela posse de bola e condicionamento do jogo do adversário. 

Marco Silva assistiu a tudo isto sem fazer nenhuma alteração, sobrevalorizando provavelmente o facto de termos podido marcar ainda antes do Moreirense. Podia ter baixado Montero, obrigando-o a uma maior participação no jogo, baralhando a boa vigilância que Filipe Melo lhe fazia, e oferecendo mais linhas de passe. Pedido a Mané que jogasse mais por dentro, de forma a equilibrar os números a meio-campo. Devia ter mexido logo ao intervalo, reforçando a equipa com um jogador como João Mário ou mesmo André Martins, que oferecem mais reacção à perda e mais posse de bola. 

A verdade é que, depois de estar a perder, as suas opções ficaram muito mais limitadas e, face o que pouco se produzia, dependentes da sorte. Infelizmente creio que Marco Silva não percebeu mesmo o que se estava a passar. Só assim se percebe que se tenha referido, no final do jogo, à percentagem de passes falhados, por exemplo. É que é muito difícil fazer melhor quando os colegas estão longe e se tem mais do que um adversário por perto. 

Uma palavra também para o golo sofrido. Nasce do terceiro canto curto - naquele momento o Moreirense tinha mais cantos do que nós, o que testemunha que não vinha apenas para empatar a zero - em que, dessa forma, se procurava desposicionar a nossa defesa, o que foi amplamente conseguido. Demasiado fácil de fazer para uma equipa tão modesta frente a uma equipa com as nossas ambições. Já agora, e nós, quando demonstramos alguma competência também a aproveitar as bolas paradas?

É bem provável que se procurem agora explicações nas já tão habituais "falta de garra", "amor à camisola", "falta de respeito pelos sócios e clube" etc, etc. Porém, para mim, os pontos perdidos ontem começaram a ficar pelo caminho nas opções do treinador, que não soube criar as condições para os seus jogadores exprimirem a qualidade que os diferenciava dos adversários. Mérito também para Miguel Leal, treinador do Moreirense que soube adequar o posicionamento dos seus jogadores às necessidades da equipa, potenciando ao máximo o valor que tem à sua disposição. No final o recuo acabou por ser inevitável, quer pelo esforço despendido, quer pela satisfação pelo resultado. Com outros jogadores à sua disposição como seria?

Marco Silva ficou-nos a dever os dois pontos de ontem. Que são um pouco mais do que isso, se contabilizarmos que não aproveitamos os pontos oferecidos pelo Guimarães e FCP, e pouco lucramos com os três pontos perdidos pelo Belenenses. Mais preocupante foi darmos lenha para aquecer a moral do SCBraga, que andou a tropeçar no inicio da actual Liga. 

É verdade que o treinador, mesmo não o fazendo abertamente, pode-se queixar da quantidade com qualidade que tem à sua disposição. Fá-lo na prática quando prescinde de jogadores que chegaram, em contra-ciclo com o discurso de ambição e de pole-position na candidatura do inicio de época, para acumular peso do lado da mediocridade (Sarr, Slavchev, Rabia, Cissé, Geraldes, Héldon) e fazendo o que pode com a  vulgaridade (Tanaka, Mauricio), Mas ainda anda às apalpadelas para encontrar o modelo ideal para as necessidades de uma equipa como a nossa. Ontem perdeu em toda a linha com Miguel Leal, um estreante nestas andanças. 

Continuo a entender que foi uma boa decisão contratá-lo e que seria uma má decisão despedi-lo agora. Não estava à espera nem entendo ser exigível o campeonato a Marco Silva ou a qualquer outro no seu lugar. Mas ganhar apenas a um dos actuais melhores dez classificados (Marítimo, não jogamos ainda com o Braga e Rio Ave) é muito pouco. Perder o campeonato em casa é decepcionante, estar em quinto lugar a  tendo perdido já dez pontos para o comandante, é difícil de sustentar.

Para finalizar,  a minha perplexidade: porque se interrompe o ciclo de afirmação de Cedric para dar lugar a Miguel Lopes?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Rescaldo da Liga dos Campeões e agora a Liga Europa: nem os maiores nem coitadinhos

©AFP/Getty Images
Na sequência do final da fase de grupos da Liga dos campeões fica um pequeno rescaldo, em tom de notas avulsas, e com um pequeno avanço sobre o que nos pode esperar na Liga Europa.

Nem os maiores nem coitadinhos, a diferença esteve em pormenores
Esperar que o resultado de um jogo de futebol, ou de uma sequência de jogos de apuramento, represente com fidelidade a justiça do jogo jogado é não perceber uma das características mais importantes do jogo: a aleatoriedade. Por vezes é-se melhor e não se ganha, podendo mesmo perder-se, outras não se é suficientemente bom para justificar a vitória acabada de alcançar. Contudo, é a aleatoriedade que torna os resultados imprevisíveis, e é por isso o futebol tem a enorme legião de adeptos espalhada por todo o mundo. O problema é que só nos lembramos disto quando os resultados não nos são favoráveis. 

Serve a introdução para avaliar a nossa prestação no apuramento, uma vez que foram várias as referências feitas a uma certa injustiça no nosso afastamento para a Liga Europa. Neste âmbito, as declarações mais equilibradas pareceram-me as de Adrien:

"Pelo que mostrámos contra todos os adversários merecíamos a passagem. Em alguns momentos não conseguimos pontos por culpa própria. Em outros momentos isso não esteve nas nossas mãos. Mas merecíamos"

Comecemos pelo incontestável, o  mérito do Chelsea como vencedor do grupo. Os números falam por si: termina o apuramento invicto, com 17 golos marcados e apenas 3 golos concedidos. O único facto anormal, mas de carácter decisivo, terá sido o empate em casa no jogo inaugural como Schalke 04. No entanto é bom lembrar a precocidade do jogo no contexto da actual época. A equipa alemã acabaria por coleccionar maus resultados, tendo mesmo mudado de treinador. Se há dúvidas que "não é a mesma", basta olhar para a goleada sofrida na recepção ao Chelsea. Decisivo terá sido também o facto de termos sido a única equipa do grupo que não conseguiu pontuar com a equipa de Mourinho.

Analisando os nossos números com os do Schalke 04 constata-se um maior desequilíbrio dos alemães, que terminaram com um número de golos sofridos (14) superior aos marcados, por comparação com o nosso empate (12 sofridos, 12 marcados). Números muito elevados para quem quer figurar entre os melhores da Europa: das equipas que se classificaram para a fase seguinte só Basileia, Arsenal e City se aproximam, mas ainda a alguma distância, de números tão elevados de golos concedidos (8). Talvez esteja aqui, na consistência defensiva, a explicação para o não apuramento. Aí e nos pormenores, alguns deles aludidos acima. 

O equilíbrio pontual entre nós e os alemães terá sido o facto dominante, sendo que aqui ganha maior relevo o erro do árbitro russo no jogo da Alemanha. Dizer isto não é esquecer erros próprios, como muito bem reconhece Adrien, acima. Não gosto do discurso de que somos os maiores (o que me parece muito lampiónico) quando ganhamos e explicar as derrotas com factores externos e teorias da conspiração ( o que me parece muito pintodacosteano).

Severidade excessiva para com Esgaio
Apontar o erro de Esgaio como factor determinante para o resultado de Stanford Bridge, como já vi fazer, parece-me excessivo. Até porque, revisto o lance, parece que Filipe Luís soube cavar muito bem a falta. Mas, mais importante, parece-me ser assinalar 2 pontos nesta matéria:

- O Chelsea deste ano é mesmo de outro campeonato. Com um pouco de sorte e menos acerto de Patrício, poderia ter conseguido um resultado em Alvalade semelhante ao obtido em casa do Schalke 04, tantas foram as oportunidades de 1x1 conseguidas. Constatando tamanha diferença, fica mais difícil de concluir que o apuramento ficou perdido neste último jogo. 

- Acho muito difícil, mesmo escolhendo entre os melhores dos melhores, encontrar um lateral-direito que salte directamente directamente dos relvados da II liga para um dos melhores e mais difíceis palcos do futebol mundial e seja capaz de desempenho igual ao de Esgaio. O problema é pois mais complexo que um mero desempenho individual em circunstâncias difíceis. Talvez fosse bom ter presente que o que lhe foi oferecido até agora não lhe permitiu ser melhor. Isto sem esquecer que para o seu lugar foi até contratado Geraldes que agora lhe é suplente.


Qual o verdadeiro preço de um jogador?
Pelo que foi dito acima perceber-se-á que não considero adequado individualizar os erros como justificação para o insucesso colectivo. Mas muitos se lembrarão por muito tempo do erro de Maribor, já depois de esgotados os noventa minutos porque foram assim que voaram dois pontos. Mas quando se contabilizarem os preços dos dois jogadores envolvidos, os custos deste e de outros erros, não entrarão nas contas. Nem isso nem o tempo e as oportunidades que lhes foram concedidos e se negaram a outros e o que isso obstou à sua evolução e valorização. Por isso quando se diz que um jogador "até é barato" é porque estes custos nunca entram na contabilidade.

Liga Europa: se vais embandeirar em arco certifica-te que vai mesmo haver festa
Se não compreendo quem ache que "até é bom irmos para a Liga Europa" menos compreendo ainda os que acham que somos candidatos à conquista do troféu. Antes de nós há clubes que têm contraídas mais obrigações, tais como os que agora ombreiam connosco como cabeças-de-série, tais como Zenith, Olympiakos, Nápoles, Nápoles, Fiorentina, Everton, Dínamo de Kiev. Isto sem pensar que na próxima eliminatória nos pode sair ao caminho Liverpool, Ajax, Roma, Wolfsburgo, o que acresce o risco de nem aquecermos o lugar na competição. É bom, por isso, lembrar que até à final há um longo caminho a percorrer e que, numa prova a eliminar, basta um dia mau para comprometer as aspirações.

Pensar que somos candidatos é também não perceber o que nos aconteceu agora na fase de apuramento. Se a experiência dos jogadores era então contabilizado em desfavor, ela não poderá ser menos agora, só porque se fizeram seis jogos ao mais alto nível. E é bom lembrar que o nosso jogo precisa de se equilibrar quer no modelo, sobretudo na organização e transição defensivas, quer mesmo do ponto de vista da qualidade do valor individual disponível.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Liga dos Campeões: Ir a Londres escrever o epitáfio

Demorou muito pouco o tempo em que conseguimos manter-nos donos do nosso próprio destino, pelo que, quando logo aos dezoito minutos, ficamos a perder por dois golos de diferença, passamos a jogar mais em Maribor do que Londres. O jogo acaba por ser um epitáfio justo da nossa participação nesta fase de grupos, e que também marca as restantes participações da época: qualidade e desequilíbrio. 

Explico: o Sporting demonstrou em Londres que o seu jogo tem qualidade para criar oportunidades e marcar golos, mas é demasiado inconsistente e inseguro para poder depender da sua capacidade defensiva para conseguir resultados. A este nível, e ainda por cima contra uma equipa com o poderio que tem o Chelsea, a realizar uma grande época, isso é ainda mais claro e acabou por ser fatal. Desequilíbrio também nas opções também à disposição de Marco Silva. Se é natural que Nani não tenha substituto à altura, Cédric, por exemplo, deveria ter.

Tudo acaba por ficar condicionado com uma infantilidade (leia-se ingenuidade) de Esgaio. O lance foi fatal para as nossas aspirações e também para o jogador, que acabou por jogar nitidamente diminuído psicologicamente, quer a defender quer mesmo quando se abriam hipóteses, mesmo que ténues, de atacar. O Chelsea estava a jogar confortavelmente com as suas linhas recuadas mas o desinteresse era só aparente. Sempre que conquistava a posse de bola, jogava simples, procurando quase sempre a grande capacidade de Fabregas de criar jogo e definir com qualidade. As movimentações de Schürle, partindo da linha para as costas do fantasma de William - onde andas tu? - eram golpes constantes a impor sofrimento e a anunciar que um golo na nossa baliza podia sempre acontecer.

Ora, mesmo sendo consentido, o Sporting ia dando indicações que sabia o que fazer à bola. Faltou Nani, o que assumiu também um carácter decisivo para o nosso jogo. Mas se o nosso dezassete esteve ausente Stanford Bridge pôde ficar a conhecer Nanillo. Perdão, Carrillo, que fez de Nani e de Carrillo. Talvez fosse suficiente se o adversário fosse o Boavista, como no passado fim-de-semana, ou até talvez um pouco mais forte, mas não com equipas da igualha do Chelsea. Capel era completamente inofensivo do outro lado e João Mário não conseguia passar os dois muros, perdão, médios de contenção, Mikel e Matic, tornando Slimani numa ilha.

O segundo tempo não deferiu muito do primeiro, apesar do golo de Jonathan ter dado algum fôlego à esperança, mas a resposta não demoraria. Um pouco à semelhança do golo de Matic em Alvalade, o Chelsea atrairia a defesa de uma bola parada ao primeiro poste para a fazer cair no outro extremo, sem que a defesa reagisse como devia. Pareceu fácil, o que se justifica pela qualidade da execução e pelo facto de não termos aprendido nada no primeiro jogo.

E assim saímos para a Liga Europa. Um apuramento natural e esperado quando se conheceu a composição do grupo mas que agora, face ao ocorrido no apuramento, acaba por saber a pouco. Dois lances patéticos - o golo já nos descontos em Maribor retirou-nos dois pontos, o inominável penalty na Alemanha outro - acabariam por nos afastar de um apuramento que seria inteiramente merecido. Mais importante que chorar sobre o leite derramado é reconhecer uma participação valorosa do Sporting a marcar o regresso à mais importante competição de clubes do mundo. Assim saibamos aproveitar a experiência para crescer e voltar mais fortes. E termino desejando que esta presença se torne um hábito e não uma aventura esporádica. 

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

"Gostava que o Sporting passasse..." ou a Liga Europa (des)consoladora

"Gostava que o Sporting passasse", quem o diz é Mourinho, ao que acrescenta com a ironia que se lhe reconhece, que tal se verificasse com o Sporting a registar o mesmo número de pontos que actualmente detém, sete. Simplificando, que o Chelsea ganhe e o Sporting passe. Como é óbvio, só posso concordar com a parte final - a passagem do Sporting - já que, como qualquer um, perder nem a feijões, e com o essencial, a passagem à fase seguinte. O Sporting precisa de estar nos grandes palcos, como o é a Liga dos Campeões e tê-la assim tão ao alcance de apenas noventa minutos faz-me olhar para a Liga Europa como um prémio de desconsolação.

sábado, 6 de dezembro de 2014

O bailado de La Culebra entre peças de xadrez

O jogo com o Boavista pode-se resumir em 2 momentos: o antes e o após Carrillo. No primeiro momento o domínio não estava a ser traduzido em perigo, eficácia ou profundidade. No segundo foi um recital, o bailado de La Culebra entre as peças (atónitas) de xadrez. Com um Carrillo assim o nosso futebol ganha boa vista. Muito boa vista!

O resto? São pormenores que não merecem compartilhar as mesmas linhas que os elogios ao homem do jogo. Excepto, claro está, a impressionante presença a Verde e Branco.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O que é preocupante quando (não) se vê jogar a equipa B

Ontem a equipa B do Sporting acumulou mais um resultado negativo, com a agravante de tal ter sucedido em casa. Sou de opinião que não se devem fazer grandes extrapolações na sequência de um qualquer resultado, seja ele de cariz negativo ou mesmo positivo. O jogo de ontem assim o recomenda, uma vez que alguns acontecimentos específicos ocorridos durante a partida condicionaram o seu desfecho, como foram a expulsão de Fokobo numa fase precoce do jogo e um penalty desperdiçado, que poderia ter conferido o empate.

Mas há uma inevitabilidade a considerar após o jogo de ontem: por força dos maus resultados consecutivos, a equipa gravita agora próximo da perigosa zona de despromoção, que habitualmente exerce uma pressão psicológica acrescida sobre as equipas, jogadores e treinadores. Os 20 pontos do actual 17º lugar  conferem-nos apenas 3 pontos de distância dos 17 do 22º lugar que confere a descida ao inferno da II B , de onde se sai apenas garantindo o primeiro lugar da série respectiva. Os próximos jogos terão algum carácter definidor, uma das características deste campeonato é a grande volatilidade da tabela classificativa, é tão fácil subir ou descer, em função dos resultados. Mas daria imenso jeito, leia-se tranquilidade, que o próximo jogo fosse ganho. É uma curta deslocação, ao campo do Oriental, que tem apenas menos um ponto que nós.

Se a posição em caímos é, como se vê, preocupante, mais ainda parece-me que é o que não se consegue perceber em campo. O mais natural é que se esteja a recolher os frutos da má planificação da época, marcada pelas constantes alterações na composição da equipa técnica, onde se assinala a inovação de destituir o treinador quando a época ia começar, isto quando eram já conhecidas movimentações nesse sentido, como se depreende da admissão pública de Litos de que havia rejeitado um convite para o lugar. 

Passados quase 2 meses da chegada de um novo treinador, e quando não se percebem quaisquer automatismos no comportamento da equipa nem que modelo de jogo se procura, é caso para perguntar se Deus, (o João) existe e se existe o que tem andado a fazer.  Neste momento acumulamos mais derrotas que vitórias, mais golos sofridos que marcados, não marcamos golos há 6 jogos consecutivos (ontem quase não construímos oportunidades). Isto sim -  a falta de qualidade do nosso jogo - me parece mais preocupante que uma episódica descida na classificação. Sem qualidade, a obtenção de resultados eleva ainda mais o carácter aleatório do jogo a que a equipa fica entregue.

Do ponto de vista da qualidade individual dos jogadores que compõem o plantel, julgo ser consensual afirmar que ela existe e obriga a fazer muito mais, mesmo que aquela não seja a de dos 2 anos anteriores. No entanto há jogadores nitidamente estagnados (Esgaio, Reis, Tobias, Wallyson, Esgaio, Podence) e outros que até parecem ter regredido (Fokobo). Há ainda aqueles que desapareceram completamente e de quem se esperava muito (Iuri e Chaby), pelo menos mais do que se arrastarem entre o banco e a bancada. Ryan Gauld está longe de justificar o maior investimento do ano e não parece ser por falta de qualidade técnica. Outros infelizmente vão ocupando lugares que não justificam de todo (Cissé, Enoh, Dramé, Sacko). Isto sem esquecer os jogadores que foram contratados para a A se arrastam na terra de ninguém, como Sacko, Geraldes, Slavchev e Rábia, mas vão ocupando aqui e ali lugares de outros sem também o justificar.

É também mais ou menos consensual que alguns dos jogadores acima aludidos estejam a precisar de novos desafios, que a II Liga dificilmente representam. Mas, olhando à lista de jogadores emprestados e aos campeonatos onde aterraram é pelo menos legitimo uma conclusão e uma dúvida.

A primeira, a conclusão, é que o Sporting não conseguiu colocar jogadores nem na Liga portuguesa nem em ligas, clubes ou treinadores de referência. O que torna duvidosos os resultados que se venham a alcançar. Betinho deu o lugar a Cissé para ir jogar para o Brentford de Inglaterra, quando as características do jogador e daquele campeonato britânico recomendavam o contrário. Rúbio, na Noruega,  Semedo no Réus, Viola no Karbukskor, Zezinho no Chipre, parecem estar a cumprir uma pena de exílio. Excepção para Labyad, no Vitesse da Holanda. Aqui talvez fosse bom questionar se a politica de não alianças e auto-exclusão a que o Sporting se votou não está a contribuir para o expatriamento forçado de jogadores, com aparentes mais desvantagens que benefícios para aqueles e para o clubes.

Isto enquanto se escutam algumas dúvidas relativamente à postura profissional de alguns atletas também. Independentemente do que possa haver aí de verdade, é bom lembrar também que alguns destes jogadores vincularam-se recentemente ao clube por períodos longos (com contratos baratos e elevadas cláusulas de rescisão) sob a promessa de um novo ciclo de apostas na prata da casa e, alguns deles, vêm os seus lugares ocupados por jogadores a ganhar mais sem o justificar. Na prática não jogam, logo não evoluem, e também não ganham dinheiro. Nestas circunstâncias é fácil recriminar, mais difícil é aguentar uma situação que, a manter-se, lhes é notoriamente prejudicial.

A pergunta que se coloca é a de sempre: com que jogadores se poderá contar na próxima época para a formação do plantel? Não é para isso que serve a equipa B?

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Vamos ao que menos interessa: as contas.

Como não podia deixar de ser, aproveito a divulgação das contas trimestrais para falar um pouco das contas da SAD do Sporting. O titulo é algo provocatório, só um louco ou alguém a caminho de o ser pode achar que as contas são o que menos interessa. No entanto ele não deixa de dar conta do espírito mais comum entre os adeptos: queremos que as contas estejam boas mas a nossa preocupação é se a bola entra ou não. Ou até mais do que isso, queremos é títulos, como muito bem dizia o nosso ex-PMAG, Eduardo Barroso há dias. 

Contudo sem boas contas os títulos são uma miragem e o Sporting, mesmo apresentando os resultados de um excelente exercício trimestral, tem ainda um longo caminho a percorrer para se reequilibrar e poder assumir-se lado a lado com os seus rivais em disponibilidade financeira. Os relatórios trimestrais têm um valor relativo, servindo sobretudo de indicador ou revelador de uma tendência. O agora em apreço, por versar o período de transferências e de inicio de época pode, por isso, ter algum valor acrescido sobre os outros 3 relatórios congéneres, mesmo considerando que algumas das verbas inscritas são parciais. 

As boas noticias
Por comparação com o período homólogo do ano passado, os resultados operacionais e líquidos são extremamente positivos, com um saldo liquido de 25,2 milhões e 24,6 milhões respectivamente que, também respectivamente, representam variações positivas de 207% a 242% por cento. Estes valores percentuais astronómicos devem ainda mais realce pelo facto de a comparação ser feita com um exercício homólogo positivo. Para este resultado muito contribuíram as verbas resultantes das mais valias com a venda de jogadores (Rojo, Rinaudo e Dier) e das receitas resultantes da entrada directa na fase de grupos da Liga dos Campeões.

O primeiro item, a alienação de passes, é um ponto que merece destaque. No campeonato das transferências o Sporting obtém um 2º lugar, com resultados positivos de 19,7 milhões, suplantado apenas pelo SLB com 21,2 milhões, tendo o FCP ficado pelos 17 milhões. A importância de o Sporting estar lado a lado com os seus rivais na obtenção deste tipo receitas é absolutamente crucial para poder, num futuro próximo, iguala-los no investimento na sua equipa de futebol, bem como no financiamento de toda a actividade da SAD. 

Noticias nem boas nem más
Tem sido muito salientado o facto de o Sporting gastar apenas 1/4 dos seus rivais com despesas de pessoal. Aqui tenho que dar razão ao Eduardo Barroso, não quero ficar à frente dos rivais no campeonato das contas, mas sim no do futebol. Este facto, o de gastar pouco, só será verdadeiramente relevante se a ele se juntar um ciclo de vitórias, o que me parece um caminho muito difícil de percorrer. Não é impossível e atendendo de onde o clube vem e onde estão colocados há muito os rivais, é necessário tempo para a consolidação de uma estratégia. A minha dúvida, já aqui várias vezes expressa, relativamente à actual, é profunda. Resta-me dar o tempo necessário e aguardar pelos resultados. Um clube grande tem este problema: não vamos para a praça central da parvónia celebrar segundos lugares ou qualificações para a Liga dos Campeões.

Os valores do passivo (262,7 milhões, menos 1%) e dos capitais próprios negativos (uma importante diminuição de 21%, para 93,4 milhões) não são más nem boas noticias se atendermos a que os seus valores são de há muito conhecidos de todos. Obviamente que um passivo tão elevado consome enormes recursos para assegurar o cumprimento do respectivo serviço de divida, sendo este, quanto a mim, o grande problema que a SAD ainda tem que enfrentar por um longo período. Já os valores dos capitais próprios sofrerão em breve uma importante alteração, com a entrada em vigor do plano de reestruturação financeira. 

Noticias preocupantes
O conflito com o fundo Doyen Sports pode significar uma importante reviravolta nestes resultados. Se a decisão nos for desfavorável, esperar que aquela entidade se ficará pelo simples ressarcir aritmético dos valores em disputa só pode ser ingénuo. Resta aguardar que a decisão tenha sido objecto de aturado estudo, reflexão e assessoria jurídica antes de ter sido tomada, porque as suas consequências seriam obviamente graves.

Da observação apressada do referido R&C saliento igualmente dois pontos que me parecem pelo menos preocupantes:

1- A diminuição das receitas resultante de patrocínios e publicidade: dos 1.568 milhões do ano passado, sem competições europeias e sem Champions League, obtivemos apenas este ano 1.536 milhões. Só para se perceber o caminho que agora percorrer os nossos rivais, o SLB obteve, nesta rubrica, no mesmo período, 4,8 milhões de euros, que representa um acréscimo de 10,2%. Não consegui verificar os números do FCP em tempo útil de os incluir aqui. Como é óbvio, este é apenas um aspecto, entre muitos outros, das contas dos clubes mas que, a par de outros, indiciam pelo menos que não se justificam para já os gritos de hossana relativamente às nossas contas. Há um longo caminho ainda a percorrer.

2- Igualmente num ano de regresso de competições europeias e logo pela sua porta maior, o acréscimo de apenas 14% nas receitas de bilhética (de 1.941 milhões em 2013 para 2.384 milhões agora) reforça a necessidade de uma reflexão alargada sobre a actual realidade do universo leonino.

Nota: este texto será igualmente publicado no site Bola na Rede, no âmbito de uma parceria com este blogue. Pode também seguir o site no Facebook.

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