De Bruma até Ronaldo, passando por Ilori, Adrien, Jesualdo, Labyad, 30 mil à borla e os 100 mil sócios
Deixo algumas reflexões que o jogo de ontem me suscitou, começando pelo futebol, com algumas individualizações:
Bruma: Acabou por ser o homem do jogo, Não é o mesmo que dizer que foi o melhor em campo mas, por ter estado ligado aos 3 golos dificilmente desmerece o titulo. É um jogador em foco pelo que se diz das suas qualidades e pela sua situação contratual. Tem qualidades suficientes para fazer uma boa carreira profissional mas está nitidamente inflaccionado face ao seu valor actual.
Para isso muito tem contribuído o seu empresário, ao colocá-lo no centro das noticias de forma quase diária. Essa postura prejudica o jogador, o que acaba também por prejudicar o próprio empresário, soubesse ele percebê-lo. Não tenho dúvidas que todos ganhariam mais dinheiro - Sporting, jogador, empresário - se Bruma continuasse a sua aprendizagem e evolução no Sporting, até porque os próximos anos - por força do que as circunstâncias impõem - serão particularmente favoráveis para tal.
Bruma tem ainda muito para aprender. Não o digo pelo erro que cometeu mas pelo que Bruma faz em campo. A velocidade é a sua melhor arma e é por ela que tem dado nas vistas. Essa é fácil de contrariar, e maior parte das equipas da Liga especializaram-se a fazê-lo. Faltam-lhe outras qualidades, algumas das quais deveriam ser inatas. A falta delas pode ser remediada com a formação, que não terminou com a ascensão a sénior. Saiba Bruma ter a humildade de o perceber para continuar a progredir.
Illori- Sempre me interroguei porque razão diversos treinadores - Domingos, Sá Pinto, Vercauteren(?) e sobretudo Jesualdo) - lhe deram a primazia das apostas em face de outras opções que me pareciam mais seguras. O miúdo tem sabido responder em campo às minhas dúvidas. É talvez o jogador que mais cresceu, de acordo com o que parecia ser o seu potencial relativo. E não apenas do ponto de vista técnico, mas sobretudo do ponto de vista mental e de concentração no jogo. E conseguiu-o de forma discreta, com pés de veludo. E esta apreciação tem muito pouco a ver com o corte vistoso que efectuou pois, como muito bem assinalou quem percebe mais disto do que eu, o lance nasce de uma falha dele, ao ir de forma descoordenada com Rojo ao lance, quando devia ter ficado em contenção. Foi o melhor em campo, porque foi o que esteve em melhor plano em todo o tempo do jogo.
Adrien - Está em péssima forma física e eventualmente emocional. Se todos os jogadores perderam com a época em curso, talvez tenha sido ele o que mais perdeu, por força do que foram as expectativas criadas pela belíssima época realizada em Coimbra, quer pela rábula da renovação do contrato. Não sei a quem favorecem as noticias plantadas nas comunicação social, dando conta da "rota de colisão" com o clube, pelo facto de ser dos mais bem pagos e ser dos que mais tem decepcionado. Mas sei que o jogador tem valor para fazer muito mais e melhor e que, vendido agora, será inevitavelmente muito abaixo do que pode valer. Ajudará pouco fazer cair todo o odioso da questão sobre o jogador. Ajudará pouco o Sporting, bem entendido, porque o jogador continuará a sua carreira noutro lugar.
Labyad - É um bom exemplo do que é a diferença entre ter uma boa formação - que é a que geralmente o Sporting aos seus meninos - e ter uma formação qualquer. Não é por falta de qualidade individual que Labyad não mostra mais do que uns tímidos arranques e uns remates, quase sempre mal direcionados. É por falta de compreensão da dimensão colectiva do jogo, e isso aprende-se na escola. É essa falha que não lhe permite perceber que rematar não é a única coisa a fazer nos últimos 25 metros do campo, assistir os colegas melhor posicionados também o é. Talvez por isso que Labyad não percebe que recuar para oferecer uma linha de passe é por vezes mais importante do que correr para o meio dos defesas, mas onde o portador da bola não o consegue ver. Não sei se ainda irá a tempo, mas não lhe faria mal aproveitar o estágio no banco para ver o que faz André Martins.
Jesualdo - Infelizmente parece neste momento apenas com um pé em Alvalade, que é o que lhe fará ficar até ao final de época. Assim o depreendo quando disse o que disse, da forma que o disse, na conferência de imprensa, em particular sobre Bruma. Ou foi um "lapsus linguae" ou foi um recado, e só manda recados quem não tem possibilidade de dialogar olhos nos olhos. Se assim for é uma pena. Jesualdo tem mais de futebol no lóbulo frontal que toda as cabeças da SAD juntas. E o mesmo era válido para a SAD anterior. Não será um homem fácil ou conveniente, mas talvez por isso mesmo pudesse ser um homem importante para o presidente e sobretudo para o clube.
30 mil em Alvalade / 100 mil sócios / Ronaldo sócio 100 mil - Pouca gente para futebol à borla e a boas horas. O que inevitavelmente nos obriga a repensar das estratégias, de tão complexa que é a situação que envolve o clube e o País em geral.
O número de presentes remete-nos para o número mais ou menos semelhante de sócios pagantes. Obviamente que o Sporting não se pode/deve fechar à conquista de novos associados, mas ficará um buraco por preencher se não conseguir recuperar os que entretanto deixaram de pagar quotas. Ao contrário dos nossos rivais não queremos ser apenas os maiores, queremos ser os melhores.
Por isso mais do que campanhas para os que estão talvez seja bom perceber porque se ausentaram os que em tempos já demonstraram vontade de pertencer. Não faltarão razões para o afastamento, a ausência de sucesso não é um chamariz, e será talvez a explicação para o grosso dos números. Mais importante seria apurar quais, de entre estes, são os que gostariam de estar e não podem. Em concreto os desempregados, uma realidade crescente no País e que veio para ficar. Além da suspensão do pagamento de quotas, a entrada grátis aos agregados familiares nestas circunstâncias ajudariam a minorar o sofrimento, cumprindo com nobreza uma função social, cuidando também dos seus.
Se o Sporting se lembrar deles neste momento de particular fragilidade eles reforçarão as razões para não se esquecer do clube. Em particular os mais novos, investindo assim também no futuro. Neste âmbito - terá que ficar para outra ocasião uma reflexão mais profunda - está também a possibilidade de o Sporting usar a sua fundação, em conjunto com a sua disseminação pelo tecido empresarial nacional, como forma de dinamizar sinergias para ajudar os sócios apanhados no turbilhão da crise.
Excelente a (re)captação de Ronaldo para o seio do Sporting. Essa é a nota mais importante. Para outra altura ficará a discussão sobre o muito que há a fazer na Academia relativamente a esta matéria. Com uma certeza à priori: o ser sócio do Sporting deverá ser sempre um acto voluntário e nunca uma obrigação.