É muito difícil escrever a seguir a um resultado como o de ontem, na Madeira. Antes de o começar a fazer perguntava-me a mim mesmo, num exercício que procuro fazer sempre que escrevo, "e se tivéssemos trazido os 3 pontos, como podia ter acontecido, escreveria a mesma coisa?". Provavelmente não, embora pela forma como decorreu o jogo, subsistiriam razões para o fazer.
Como olhar para o resultado
Quando se deixa fugir uma vitória a 3 minutos do fim, seja qual for a prestação da equipa durante os 87 minutos anteriores, é inevitável o sentimento de frustração. Olhando para o jogo em abstracto, e levando em linha de conta o histórico recente com o Marítimo de Pedro Martins (perdemos 6 pontos o ano passado!), e as dificuldades que poderá também fazer sentir aos nosso rivais, o empate seria tudo menos um resultado inesperado, por mais difícil que seja "engoli-lo". Mas é impossível não olhar este jogo carregado pelo passivo acumulado de maus resultados no campeonato, onde continuamos sem vencer, acrescido do facto de perdermos 2 pontos ao bater do gongo.
Como olhar para a exibição
De duas formas distintas, pois foram assim as 2 partes do jogo. O Marítimo não foi surpreendente, mas foi eficaz na forma como condicionou a construção do jogo na primeira parte. Com uma clara linha de 4 em frente aos nossos defensores e Elias mais Gélson que, para este momento do jogo, não conta muito. Com isso isolou Adrien e Izmailov, e só não fez o mesmo com Carrilo porque o peruano é o jogador em melhor forma e com confiança para arriscar no um para um. Mas, no computo geral, pouco soube o colectivo aproveitar.
A segunda parte foi melhor porque Sá Pinto fez Adrien descer para se encontrar ao meio com Elias, unindo um pouco mais as pontas soltas do primeiro tempo. Infelizmente não foi tão feliz nas substituições, onde deu uma no cravo - André Martins - e outra na ferradura - Capel. Não tanto por este ter falhado infantilmente um golo feito, mas por não ter trazido a segurança de posse de bola que necessitávamos e por ser muito mais inconsequente nas suas acções do que Carrilo. A entrada de Carriço era necessária, no momento, face à colocação dos 2 avançados encostados aos centrais por Pedro Martins. Carriço acabaria por poder ter desfeito o empate, na última oportunidade de golo do jogo.
Como olhar o futuro próximo
Há dias perguntava aqui se, após o fecho do mercado e a paragem do campeonato, estaríamos mais fortes ou menos fracos? Talvez nem uma coisa nem outra. É óbvio que tem havido uma grande infelicidade em alguns resultados (ontem e com o Rio Ave), mas também me parecem que os problemas detectados desde o inicio da época permanecem por resolver.
Decorrido todo este tempo, e agora que entramos num período em que, com jogos de 3 em três dias, praticamente não se treina, é de esperar mudanças substanciais? É muito pouco provável que tal venha a acontecer, a menos que, uma série de vitórias venha dar alento e permitir gerar um acréscimo de confiança capaz de superar os problemas. Mas aqui já estamos no campo do wishful thinking. Para ganhar um campeonato é preciso muito mais do que isso.
As maiores dificuldades continuarão a ser sentidas nos jogos nacionais. Creio que, com maior ou menor dificuldade, "isto" vai chegar para esta fase da Liga Europa.
O que está a correr mal?
Não são apenas os resultados, são também as exibições. Ontem, no computo geral, com um adversário mais difícil que os anteriores, a equipa pareceu ter subido um pouco de nível, mas continuam a subsistir os problemas na construção do jogo e na manobra ofensiva. Deixo de fora, para uma segunda observação, as transições defensivas do jogo de ontem, tendo em conta que o Marítimo é especialista a causar dificuldades neste tipo de acções. Mas são evidentes alguns problemas cruciais:
1- A falta de dinâmica na movimentação dos jogadores, com poucos apoios para progredir. Na primeira parte não conseguimos praticamente uma única jogada com principio, meio e fim.
2- Uma estranha propensão para centrar, e por vezes rematar, de qualquer forma e de qualquer lugar. O voluntarismo pode servir o Marítimo, mas não serve ao Sporting.
3- A tendência da equipa ficar partida em 5 de um lado, (defesas e dois médios) e 4 do outro.
As atenções estão concentradas em Sá Pinto. O mesmo treinador que, o ano passado, em circunstâncias difíceis, percebeu muito bem o que poderia e onde deveria mexer. Mas que este ano ainda está longe de demonstrar a mesma clarividência perante um desafio maior mas também com mais e melhores condições: mais tempo, ajustamentos do plantel segundo as suas ideias. Nada está perdido mas o cenário é cada vez menos prometedor. Se dúvidas houvesse basta olhar para o plantel de ponta a ponta e, à excepção de Carrillo, todos estão a milhas do melhor do seu potencial.