Don Quixote de Carvalho, o cavaleiro das tristes figuras
Bruno de Carvalho calado era um poeta. O que vem conseguindo fazer no pouco tempo que está no Sporting falaria por ele. Mesmo que a métrica não fosse perfeita, as estrofes acabariam por rimar. Para haver poesia tem que haver mais do que meras rimas, mas tem que se
começar por algum lado e, como todos bem sabemos, havia (e continua a
haver) muitos lados para recomeçar no Sporting.
Cedo se foi percebendo que ser assertivo, oportuno, discreto ou sóbrio não estavam na sua natureza. Aos poucos, e à medida que o apoio que foi granjeando ia crescendo, muito dele sem grande escrutínio, foi-se revelando exactamente o oposto. Aos poucos, e perdendo bastas vezes a compostura, foi revelando um carácter belicoso e sem noção do excesso e do que representa, confundindo o ser mordaz com ser brejeiro, incisivo com enfadonho e vigoroso com inoportuno.
É nessas figuras que se oferece a tudo o que é câmaras, flashes e rotativas de jornais, ou sentado permanentemente à frente de uma sessão do Facebook no seu inominável perfil de "Presidente do Sporting". Ora quem muito fala pouco acerta e o muito que por ali vai "produzindo" é frequentemente motivo de chacota para os nossos adversários e de vergonha para um clube centenário e respectivos sócios e adeptos.
A sua postura assemelha-se cada vez mais à de um "loose cannon". É capaz de disparar em qualquer altura e direcção, mas cada vez se
percebe menos quer a utilidade quer a precisão de tanto disparo. A excepção vem da sua legião de rocinantes amestrados, cujas rédeas vai puxando. Não são particularmente exigentes com a palha que se lhes serve, estando sempre prontos a aduzir mais uns disparos. Os pobres sanchos pança que o vão confrontando com a verdade são deixados pelo caminho.
rocinantes |
Esta semana é fértil em exemplos infelizes:
- O seu post contra o Miguel Guedes (quem é o Miguel Guedes) recebeu resposta inteligente e elegante que mais se assemelhou a uma ridícula pega de cernelha, com várias voltas ao redondel.
- Achincalha Carrillo pela sua opção de não jogar, "quando podia ser campeão no Leicester", quando ainda há pouco tempo ele mesmo gozava com o palmarés do clube e o que tinha dito sobe a possibilidade de transferência lança muitas duvidas que ela pudesse ter tido lugar.
- É publicamente desmentido relativamente à possibilidade da existência de um tribunal arbitral, cuja realização apresentou com ares de magnanimidade na pretérita A.G.
- A sua atenção e especialização em "assuntos SLB" é confrangedora para um Sportinguista.
- A enxurrada de processos são, na generalidade, fugas para a frente. Neste particular, os motivos invocados para propalada intenção de processar Rui Gomes da Silva e Jaime Antunes, são uma sentença contra as suas próprias declarações sobre a situação económica do SLB e para o processo intentado por estes por causa do caso dos vouchers.
- A teoria das almofadas colide com realidade.
- A teoria das almofadas colide com realidade.
- Pior mesmo, a última (?) reflexão deixada, que mais não é que uma misturadora onde depositou assuntos tão dispares como interesses comerciais, económicos e políticos, ultrapassando definitivamente uma fronteira que está vedada a quem deveria representar o Sporting e ficando no limiar do desrespeito dos artigos iniciais dos estatutos do clube.
No que noticias sobre o Sporting diz respeito, esta está a ser uma semana horrível, o que só pode surpreender quem aterrou hoje pela primeira vez no futebol português. Ao contrário do que muitos parecem pretender, não há nada de novo no fogo cerrado com que o Sporting é visado na comunicação social em momento de decisão. Há é dois factos marcantes, um novo e outro que, não sendo, vinha sendo raro.
Começo pelo facto raro e que se prende com o facto de o Sporting estar a disputar o campeonato até ao fim. Que melhor trunfo poderia ter uma liderança para exibir perante os seus adversários, funcionando de forma auto-explicativa para a barragem de noticias pretensamente desestabilizadoras? Que melhor motivo de mobilização dos adeptos em torno da sua liderança e da equipa que vai jogar no Dragão poderia ser agitado?
Ao invés, qual general no seu labiríntico cubículo, é confrangedor olhar para um líder que não o sabe ser e insiste em regurgitar sempre as mesmas suspeições, agitando os mesmos fantasmas, repisando as mesmas injúrias, promovendo a protagonistas figuras secundárias à sua custa e do nome do Sporting.
O facto realmente novo é serem muitas as frentes de batalha. O Sporting, como resultado directo da acção dos últimos anos da verborreia do seu presidente, encontra-se completamente flanqueado por adversários e muitos inimigos. O Sporting, visto outrora como "simpático", aquiescente e muitas vezes "dócil" é agora olhado com antipatia por muitos e tido como inimigo de estimação pelas muitas onças do mato do futebol que o presidente andou cutucar. Não gosto de nenhuma das versões, podemos e devemos ser muito, muito melhores. Esperar que todos aqueles que andamos a provocar retribuíssem agora com bonomia e ainda por cima protestar, não é ingenuidade, é mesmo candura bacoca.
Não sei qual vai ser o resultado final deste campeonato, mas continuo a acalentar a esperança de voltarmos a ser campeões nacionais. Não o conseguindo, restará uma profunda tristeza cuja dimensão só não será maior porque, desde o dérby para cá, houve tempo para ir lidando com ela. Mas haverá também um enorme orgulho no notável trabalho feito, partindo em desvantagem, e a esperança fundada que este seja a semente de futuras conquistas.
Vergonha apenas da boçalidade, da sobranceria e empáfia dedicada aos adversários quando liderávamos e que serviram de cimento às pedras do castelo adversário, quando tudo indicava que a sua ruína era iminente. Eles foram o maná que os adversários guardaram para se alimentar. Se não ganharmos serão o meu único embaraço porque o Sporting foi bom e competente dentro de campo.
Muitos perguntarão porque escrevo desta forma sobre o Sporting. É simples. Não é sobre o Sporting, mas sobre a imagem que Bruno de Carvalho projecta do Sporting. E, ou deixo de gostar do clube ou sublimo as diferenças que nos separam com o que escrevo. A primeira hipótese é demasiado penalizadora para mim.