quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sporting, um clube a que nada nem ninguém serve

Este post nasceu durante o passado fim de semana, quando lia a noticia do convite efectuado por Godinho Lopes a Figo, com o objectivo de o tornar numa espécie de embaixador do clube na internacionalização e expansão das Academias e, por essa via, da marca Sporting. Duvido que se venha a concretizar, pois não me parece que tal actividade seja compatível com o cargo de dirigente do Inter de Milão com funções e objectivos semelhantes. Mas, para lá de Ronaldo, não vejo quem melhor do que Figo pudesse, nessa área em concreto, servir melhor os interesses do Sporting. 

Mas, se por um acaso qualquer, Figo encontrasse uma forma de retribuir o que o Sporting lhe deu, como é que isso seria aceite pelos adeptos, foi a pergunta que de imediato me ocorreu. Numa larga franja provavelmente mal. Também eu tenho presente ainda a forma como saiu do clube, preocupando-se apenas com os seus interesses, esquecendo-se do clube que o formou. E já não tinha gostado que tivéssemos tido que o ir resgatar ao outro lado da segunda circular, ainda nos seus primeiros anos de júnior, por um compromisso assumido de forma precipitada. 

Mas se esta fosse a forma de ex-jogador e clube se reencontrarem  e estabelecerem uma relação mais profícua, faria sentido opor-me, relevando apenas o que foi negativo em todo o processo e, sobretudo, impedindo o clube de progredir e retirar vantagens da associação com uma das suas melhores bandeiras de clube formador, considerado, ao seu tempo, o melhor jogador do Mundo? O Inter, onde Figo apareceu já no final da sua carreira e potencial,  não pareceu estar tão preocupado com as origens do jogador e não me parece que estejam menos preocupados do que nós com a sua identidade e com os valores do clube.

Veja-se o caso de Jefren, ontem completamente grelhado por causa de uma fotografia que me parece retirada de forma oportunista do contexto para causar o efeito que causou. Por norma insurgimo-nos quando os média nos tratam com falta de respeito, mas desligamos o sentido critico quando nos colocam  um prato como este pela frente, portando-nos como vulgares "vigilantes". Preferiu-se valorizar um episódio de contornos e até de ética muito duvidosos de quem deu a foto à estampa (com as máquinas actuais qualquer um pode ser apanhado a dormir, basta que baixe ou feche os olhos) e esqueceu-se o que devia ser relevado como um exemplo do que os jogadores estão dispostos a dar pelo clube: Pranjic, que jogou nove minutos com uma costela partida.

Não sei se os exemplos tomados sejam o melhores, mas julgo que esta temática representa um pouco o que é o Sporting actualmente: cheio de conflitos interiores, dissensões, com muito enfoque no "eles" e no "nós", de valorização de tudo o que é negativo. O "nós" somos os que ganhamos e é por causa "deles" que perdemos". "Nós" fomos os que nascemos num berço verde e branco e abençoados pelo divino espírito santo leonino, "eles" são os bastardos. Já nem o passado nos parece ser comum: "Nós", queremos o Sporting de volta, ganhamos uma Taça das Taças e enchemos a sala de troféus do Museu, "eles" perderam uma final da UEFA, "eles" estão a acabar com o clube.

Não é fácil ser Sportinguista por estes dias. A amargura causada pela falta de êxitos desportivos vai produzindo os seus efeitos na forma como olhamos o clube e a realidade envolvente não nos é favorável:

Se olhamos para o FCPorto vemos um clube que vive o melhor dos seus anos e que não voltarão a repetir-se. O SLB, que gasta muito mais do que nós e que nem por isso ganha mais, vive reconfortado com os êxitos do passado, pelo número dos seus adeptos, que lhe proporciona uma auto-estima que nem sempre a realidade justifica. E à perna temos o Braga, para quem, nesta fase da sua vida tudo é êxito. Há 4 anos íamos à Liga dos Campeões com pesar, porque era por causa do segundo lugar. Hoje eles desfrutam e são elogiados. Perderam uma final da UEFA e a cidade parou em festa. Um luxo que não nos podemos permitir ante uma derrota, e justificadamente, pois não somos o Braga, daí a depressão em 2005. Mas era necessário começar tudo de novo?

O mesmo podemos dizer dos jogadores. Quantos não prestavam e agora são convocados para a selecção nacional? Por isso desconfio sempre dos se lembram hoje que a formação é caminho. Provavelmente nunca levantaram um dedo para defender a permanência de Custódio ou Viana e são os que deixam cair Carriço, Pereirinha, André Martins e falam sempre dos que hão-de vir, mas nunca dos que estão. Ontem era catastrófico não renovar com Adrien, hoje ele não merece o lugar e o ordenado. Ou que afirmam que é preciso lutar com as mesma armas contra os bastidores do futebol mas ante o caso Cardinal e uma "real politik" muito softcore face às forças em jogo, se demarcam num ápice e invocam os valores do clube.

Hoje parece haver cada vez menos Sportinguistas mas proliferam os roquetistas, brunetes, lambuças, a corja, etc. etc.

Há dias "tropecei" num programa de TV onde falavam 2 Sportinguistas. Rogério Alves e Paulo Andrade. Enquanto ia reparando nas reacções negativas de alguns Sportinguistas nas redes sociais, comparava a forma elevada  como se referiam ao clube, por comparação com a forma tremendista e apocalíptica e que nos envergonha com que vemos semanalmente os comentadores habituais que "representam" o Sporting nas Tv´s.

O programa terminou com uma excelente proposta de Paulo Andrade, face ao momento do clube: a promoção de um encontro entre os actuais Corpos Sociais e os candidatos derrotados nas últimas eleições, numa tentativa de reduzir a confrontação permanente actual. Alguém acha isso possível, quando nem os últimos presidentes ainda vivos conseguimos sentar à mesma mesa?

Há neste post talvez algum excesso e a última coisa que pretendo é que ele seja entendido como uma lição, pois a esse nível, como tenho aqui dito muitas vezes, não tenho nenhuma a dar e muito a aprender com os que todos os dias se devotam por fazer do Sporting o clube grande que é. Mas parece-me urgente perceber com actual excesso de ruído e truculência entre Sportinguistas somos cada vez menos o clube que poderíamos ser.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O que eu espero de Vercauteren

Quando será que voltaremos a ver Vercauteren com razões para sorrir
O Sporting inicia hoje um novo ciclo com a chegada de Vercauteren ao cargo de treinador principal. Este é um processo que já conhecemos de cor e, para evitar os dissabores, desilusões e amarguras também velhas conhecidas,é necessário e útil perceber-se quais serão os objectivos possíveis de alcançar. 

Neste momento, tendo em conta que, do ponto de vista colectivo, a equipa do Sporting não existe, e que, estando tudo por fazer - e que, por isso, o técnico belga tem uma pré-época para realizar, (mas com o campeonato em pleno andamento)  - não me parece realista fazer-lhe mais do que 3 exigências: 

1- Introduzir uma ideia de jogo de uma equipa que tem de jogar para ganhar grande parte dos jogos, que são disputados com adversário de menor valia. Começar por reconstruir a equipa de trás para a frente, reequilibrando-a.

2- Recuperar para a equipa jogadores-chave de quem é legitimo esperar muito mais do que estão a dar, como Cedric, Boulharouz, Rojo, Insua, Schaars, Izmailov, Adrien, Jeffren, Elias, André Martins, Wolfswinkel, Capel e Carrillo. Mantendo o nível de Patrício, Pranjic, Rinaudo, recuperar Labyad e prosseguir na adaptação de Viola, Vercauteren será de certeza bem sucedido.

(Neste ponto é essencial ao treinador perceber o grau de compromisso individual que os jogadores mantêm com a o grupo e q com o clube que lhes paga. O Sporting precisa de muito empenho e convicção e quem estiver com a cabeça  noutro lugar mais vale que leve também o corpo).

3- Colocar como meta a chegada ao 4º lugar até ao final da 1º volta, mantendo "contacto visual"com o 3º posto. Isso significa recuperar 4 pontos ao Guimarães, actual detentor da posição. 

Alguns dirão que estes objectivos são pouco ambiciosos, a mim parecem-me realistas, tendo em conta o actual estado da equipa. Será que Vecauteren é capaz?

Nunca como hoje o Sporting precisa tanto de um treinador maduro, seguro de si e com boas ideias. Continuo a pensar que mais do que eleições o Sporting precisa de acertar na escolha do treinador e que sem o fazer corre o risco de ser um clube permanentemente à deriva, porque nunca conseguirá os resultados que precisa para se afirmar. 

Por ignorância (não me lembro de ver jogar o Genk ou Anderlecht) e por preconceito (a escola belga está longe de ser uma referência actual no universo dos treinadores) sou levado a desconfiar desta solução, e como eu a maior parte dos Sportinguistas. 

Nesse sentido há 2 exigências pessoais que, como adepto que deseja sempre o triunfo do seu clube e o sucesso dos nossos profissionais, me sinto obrigado (e que deixo à consideração dos adeptos):

1- Perceber a dificuldade da missão do treinador, face ao terrível momento, e com isso entender que precisa de tempo para implementar e consolidar as suas ideias mestras ou, se  quisermos, levar a cabo as 2 tarefas descritas nos 2 pontos descritos acima. 

2- Continuar a acreditar na qualidade do actual plantel. Quer nos jogadores recém-chegados, quer nos que transitam da época passada, há muito valor à espera de uma boa ideia de jogo que lhes proporcione a afirmação e o progresso que buscavam para as suas carreiras ao vir para o Sporting. 

Sem prejuízo de manter sempre bem alto o nível de exigência a todos os que vestem a camisola do Sporting, perceber que os jogadores são, a par dos adeptos, os mais afectados pelo actual momento. Não me parece justo não ter isso em linha de conta nas análises que se fazem, além de que o futuro próximo do Sporting passa muito também por aqui: sem possibilitar a afirmação dos seus profissionais o Sporting não perde apenas muito dinheiro, torna-se um clube de quem os profissionais desconfiam e, por isso, evitarão no futuro.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O melhor resultado possível

O empate de hoje com a Académica foi o melhor resultado possível. Essa foi a ideia que foi transparecendo à medida que o jogo ia decorrendo porque ia ficando cada vez mais evidente que, da forma como (não) íamos jogando, era praticamente impossível chegar ao golo. Claro, no futebol há sempre a sorte, mas essa tem andado arredia há muito e hoje por certo que ela própria se envergonharia de nos dar a mão hoje. O mesmo se aplica ao árbitro, mas essa história é tão velha e tem contornos muito semelhantes com a mais velha profissão do mundo.Vercauteren vai receber um grupo de jogadores mas não uma equipa e só o simples facto de o fazer já é digno da minha consideração.

Ficha de Jogo
Sporting, 0
Académica, 0

Jogo no Estádio José Alvalade, em Lisboa.

Assistência 25.056 espectadores


Sporting Rui Patrício; Arias (Gelson, 46’), Boulahrouz (Betinho, 70’), Rojo, Insúa; Rinaudo, Schaars, Adrien (Izmailov, 59’), Pranjik, Viola, Wolfswinkel. Treinador Oceano.



Académica Ricardo; Rodrigo Galo, Flávio, Júnior Lopes, Nivaldo; Keita, Makelele, Cleyton (Ogu, 90’+3’); Marinho, Afonso (Wilson Eduardo, 66’) e Salim Cissé. Treinador Pedro Emanuel.


Árbitro Bruno Esteves (Setúbal) Amarelos Flávio (16’), Galo (34’), Adrien (44’), Rinaudo (73’), Pranjik (79’), Viola (81’), Wolfswinkel (88’), Júnior Lopes (89’), Izmailov (90’).

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O que é "um presidente que perceba de futebol"?

Assisti com atenção à entrevista concedida por Godinho Lopes à RTPi. E, antes de ir directo ao assunto, devo dizer que estranhei a estratégia seguida: se o momento a recomendava, como meio para explicar as decisões tomadas, (que redundaram na saída de Carlos Freitas e Luís Duque e até para sentir o seu efeito no ânimo do presidente)  não deixou de ser um risco fazê-lo a uma televisão e não a um jornal. Isto porque, como é mais ou menos consensual, Godinho Lopes não conta com a oratória no seu rol de qualidades. 

O risco acabou por compensar, uma vez que GL se apresentou bem preparado e combativo, naquele que foi o seu melhor registo dentro do género desde a campanha eleitoral. E essa foi a principal virtude da peça, tendo em conta a postura da entrevistadora, que deve ter falado tanto quanto o entrevistado. Os espectadores não podem ter deixado de se sentir defraudados, pois não teriam sintonizado o canal para ouvir a Fátima Campos Ferreira.

Da substância do que foi dito fica a redefinição do modelo até agora seguido, com Godinho Lopes a assumir toda a responsabilidade do futebol. Sobram mais uns quantos pormenores que, por comparação com esta decisão, perdem importância.

A medida parece-me correcta e deve ter resultado de uma avaliação inevitável, feita pelo próprio, face ao que têm sido os resultados da equipa de futebol, e que estão na origem da actual crise. Godinho Lopes já percebeu que no futebol os maus resultados têm um culpado - ele - e as vitórias, se as houvesse, veriam os seus méritos divididos por uma infinidade de parcelas devidamente personalizadas. Ao chamar a si a responsabilidade da condução do futebol GL toma a opção correcta, viverá e morrerá com as decisões que lhe serão exclusivas ou pelas que dará a cara.

"Mas o que percebe GL de futebol?" foi a pergunta que surgiu imediatamente. Nada, foi a resposta da maioria. Ora isto no mínimo é um pouco sobranceiro: quem é que valida a autoridade na matéria do adepto comum que, presumo, divide com GL a mesmíssima qualidade de treinador de bancada?

Sempre tive as minhas dúvidas sobre esta tão propalada necessidade de um presidente do clube perceber de futebol. Se isso fosse assim tão óbvio não deveríamos estar à procura de um treinador para presidente, resolvendo o problema de uma assentada?

Obviamente que não. Um presidente é essencialmente um decisor. É do acerto das decisões que toma que se constrói ou esboroa a grandeza de um clube. As áreas de intervenção de um presidente são tão diversas que, se usássemos da mesma exigência relativamente aos conhecimentos do futebol, um presidente para o Sporting teria, no limite, de ser licenciado em Economia e Gestão, Markting e Publicidade, Educação Fisica, nas mais diversas engenharias, até à Agronomia, (para resolver os problemas da relva), etc, etc. Um absurdo, como é bom de ver.

É inevitável que, quando se fala de presidentes e em regimes presidencialistas, que o nome que saia à colação seja o de Pinto da Costa,  ou de LF Vieira, e até mesmo de António Salvador, do Braga, pelos êxitos recentes. Mas será que eles percebem assim tanto de futebol? E o que é perceber de futebol?

O caso de Pinto da Costa merece análise. Todo o seu percurso profissional, anterior à presidência do seu clube é algo cinzento, e se razões parece haver para qualquer menção, diz-se nos mentideros que seriam a da mediocridade como gestor de empresas. Tenho sempre alguma dificuldade em elogiar alguém como PdC, que não olhou a meios para atingir os fins que se propunha, mas é indiscutível que encontrou na presidência do seu clube a sua verdadeira vocação. 

A sua capacidade de decidir não se esgota apenas no futebol, quem conhecia o que era o FCP antes da sua chegada e o conhece hoje percebe-o bem. A forma como rentabilizou o projecto imobiliário, as opções tomadas relativamente à academia, o pavilhão, etc, testemunham decisões de qualidade, mesmo nunca esquecendo a sua ética e moral duvidosas, e que podem ser enquadradas numa concorrência desleal. Provavelmente PdC ganharia sempre muitas vezes, mas talvez não tantas como ganhou.

Não podemos pôr LFV no mesmo nível. À procura do seu quarto mandato teve o seu golpe de asa quando foi buscar Jesus, tendo conseguido interromper um ciclo de 5 anos sem ganhar. Os benfiquistas fazem hoje o seu próprio balanço, mas parece-me consensual que a sua gestão está longe de poder ser considerada um modelo, e não apenas no futebol. 

Mesmo Salvador, que conseguiu por Braga no mapa do futebol, não colecciona apenas êxitos. Hoje já ninguém se lembra, mas quem escolhe treinadores como Rogério Gonçalves, Jorge Costa, António Caldas (interinamente) ou Manuel Machado pode muito bem ver questionados os seus conhecimentos de futebol. E foi ele também que não quis renovar com Domingos.

Concluindo, Godinho Lopes não precisa de "perceber de futebol". Precisa sim de montar uma estrutura profissional, multidisciplinar, capaz de lhe fornecer toda a informação que necessita para tomar boas decisões. Porque, no fim do dia, são elas que pontuarão o que resta do seu mandato.

Para concluir, acrescentaria apenas que essa estrutura multidisciplinar, na medida do possível, e dentro das normas de uma gestão transparente, deveria ser o mais resguardada possível, mesmo que com isso os seus elementos ficassem fora do conhecimento público. Isto porque, nesta fase da vida do Sporting, continua-se a preferir discutir mais nomes do que competências, e sempre numa lógica subordinada às compatibilidades e incompatibilidades de ordem pessoal. E, como bem sabemos, o termo "balcanização" no Sporting tem contornos únicos e refinados.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Crise em Barda

É impossível ganhar quando se sofrem golos da forma como se sofreu hoje, na linha do que já havia acontecido em Moreira de Cónegos. O segundo golo, de um jogador de nome Barda é um momento non-sense numa equipa da primeira liga nacional, para uma equipa do Sporting é inqualificável. 

A equipa é, neste momento uma ruína de si mesma e se sobram muitas dúvidas sobre a qualidade de alguns jogadores,  (lembram-se do que dizia de Boularouz e os comentários que aqui deixaram alguns de vós? )é bom lembrar que há outros que já demonstraram ser capazes de muito mais. E para isso não é preciso recuar muito tempo. 

Com tanto trabalho pela frente, quase tenho pena de Vercauteren: a missão que tem pela frente é espinhosa, o momento psicológico da equipa e dos adeptos são o pior possível. Nunca o Sporting precisou tanto de um treinador. Ou de um santo milagreiro...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Vercauteren, mais um nome para a revolução


Começam a ser conhecidos os nomes propostos por Godinho Lopes para a recomposição da SAD, após o abandono de Luís Duque e Carlos Freitas. O presidente assume a responsabilidade directa do futebol, Paulo Farinha Alves assume o cargo de Director do Futebol Profissional, Silva Costa é dado como provável e a qualquer momento surgirá a confirmação de Vercauteren como o novo treinador da equipa principal até ao final da época.

Não tarda que os nomes propostos sejam sujeitos a um intenso escrutínio e não terminará o dia sem que muitos deles estejam já no cadafalso das opiniões. Seria assim caso o treinador fosse Mourinho ou até Guardiola, para falar dos que constituiriam a unanimidade na generalidade dos clubes excepto, claro está, no Sporting. Se essa é uma característica cada vez mais reconhecida por todos nós como já fazendo parte da nossa identidade, não se pode dissociar o facto de estas decisões estarem a ser tomadas por um presidente cuja capacidade de liderança e de assertividade estão completamente postas em causa.

A pergunta que mais ocorrerá aos Sportinguistas no momento é “o que percebe esta gente de futebol?” Em particular, claro está, sobre aquele que será o director profissional, Paulo Farinha Alves. Além de ser advogado sabe-se que também que integra o órgão de disciplina da AF Lisboa, mas ambas as qualificações dirão pouco das suas habilitações para dirigir homens e tomar decisões. 

Por outro lado não podemos deixar de nos confrontar com a saída de Luis Duque e Carlos Freitas, nitidamente por, pela ausência de resultados, verem postas as suas decisões em causa. Goste-se ou não são dois nomes incontornáveis nos títulos mais importantes alcançados nos últimos anos e, aquando da sua nomeação,a muitos pareceram decisões correctas. Como elogiadas foram então as medidas tomadas na construção do plantel do ano passado e, em larga medida a deste ano, descontando a questão do ponta-de-lança. O mesmo se dirá da escolha do treinador Domingos. Tanto assim é que ainda hoje há quem seja capaz de defender o seu regresso.

A virtude das decisões devem ser apreciadas no momento em que são tomadas porque ser profeta do passado é fácil mas não tem nenhum mérito ou merece credibilidade. Não seria pois mais importante tentar perceber porque se tomaram boas decisões e se falhou, ao invés de partir para a incorporação de novos protagonistas?

Voltando aos novos protagonistas, a pergunta que eu faço vai um bocado mais longe: 

Quem é que, no universo do Sporting, estaria hoje melhor habilitado para as funções? 

Ou um pouco mais longe ainda: quem é que se disporia a abandonar uma profissão para abraçar um projecto  (cuja existência faz todo sentido questionar, à luz do que tem sucedido) em nítida falência? 

Cada um responderá como quiser, para já eu prefiro acreditar que quem dá um passo em frente o faz pelas mesmas razões que qualquer um de nós se disponibilizaria: por amor ao clube e por vontade de poder ser útil e contribuir. E, porque não, retribuir também a honra inestimável de ser Sportinguista de todos os momentos.

O que foi dito acima remete-nos para uma realidade muitas vezes ignorada na hora analisar o porquê de tantos erros que redundam em fracassos. O Sporting é uma referência mundial na formação e jogadores, mas é exactamente o inverso no que à formação de dirigentes e gestores desportivos diz respeito. Tem preferido a ruptura ao primeiro fracasso, o recomeçar do zero após o primeiro revés, deitando fora de uma penada o trigo e o joio. Já me havia referido aqui anteriormente a este aspecto na semana passada, no post "Sporting, um clube em permanente reconstrução".

Há alguma instituição que se tenha constituído como referência seguindo este modelo? Não creio e, a menos que consigamos alterar radicalmente esta forma de proceder, passaremos o resto do tempo seguindo o actual 'on-the-job training' e, salvo uma conjunção muito favorável das estrelas, obtendo os mesmos resultados. Isto seja quem for o presidente ou direcção.

De notar que já assim se havia procedido aquando do abandono de Paulo Bento. Nessa altura não saiu apenas a equipa técnica, saiu Ribeiro Telles e Pedro Barbosa, que havia substituído Carlos Freitas há pouco tempo na direcção desportiva. Tudo acabaria por redundar na demissão de Bettencourt. No Sporting o processo mais comum não é debater os problemas, procurando soluções. Este é normalmente substituído pela procura dos culpados, afastando-os, como se os erros lhes fossem exclusivos e partissem com eles. Infelizmente não é assim tão fácil.

Vercauteren é o homem que se segue. Não conheço o suficiente do seu trabalho - para lá de saber que foi campeão no Anderlecht (normal) e no Genk (muito mais difícil) - para me pronunciar sobre o acerto da escolha. Foi um grande jogador, lembro-me bem. Compreendo que depois de tanta desilusão e dispêndio de recursos com treinadores como Domingos e Sá Pinto não se ofereça mais do que um contrato até final do ano. Mas temo que, mais uma vez, quando o treinador perceber melhor toda as especificidades do clube e do futebol português já não esteja cá... Boa sorte Vercauteren!

P.S.- Não é apenas na formação que nos tornamos uma referência. O Sporting continua a ser um clube onde tudo se sabe. Quando os comunicados chegam à CMVM já tudo se sabe já tudo foi amplamente debatido e escalpelizado. Já "toda a gente" sabia que Luis Duque ia sair, não se sabia era quando e como. Há dias alguém me perguntou se Paulo Alves era opção para o Sporting. Hoje sei que era, mas não para teinador. Era Paulo Farinha Alves.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Freitas e Duque já eram

Godinho Lopes sucumbiu aos pedidos de sangue e acaba de demitir de uma só penada Carlos Freitas e Luis Duque. Um erro que pagará caro porque é o nome dele que se segue na lista uma vez que, com este desfecho, é natural que a legitimidade do cargo que ocupa seja colocada em causa. É que Luis Duque foi uma das suas bandeiras eleitorais e formava com Carlos Freitas os pilares da SAD. 

Apesar de já se adivinhar convenhamos que não é um espectáculo bonito de se ver.

E depois do adeus (à Taça)?

Estive ontem em Moreira de Cónegos e não fiquei surpreendido com o resultado. Nem com a exibição. Surpresa seria se, face ao que a equipa vinha produzindo, fizéssemos uma exibição de encher os olhos. 

Agora importa pouco falar sobre a justeza do resultado, o facto, incontestável e doloroso, é que estamos apeados da Taça de Portugal na primeira eliminatória e ante um adversário perfeitamente ao nosso alcance.  Naturalmente são muitos hoje os diagnósticos, que vão da qualidade do plantel até às responsabilidades da SAD.

As dúvidas sobre a qualidade do plantel são naturais quando se acumulam resultados negativos ainda por cima com adversários do calibre do Moreirense ou Rio Ave. Mas, por muitas que sejam essas dúvidas, e por mais legítimas que possam ser, não me parece que o problema esteja aí. Neste momento quase nenhum dos jogadores do plantel joga a mais de 30% (valor meramente abstrato, sem rigor) do que é capaz e isso faz parecer que qualquer jogador adversário teria lugar no Sporting. Este equívoco já nos foi fatal no passado, quer na hora de dispensar quer na hora de contratar.

Serei dos poucos que, pelo menos até ontem, cria que o nosso principal problema tem origem em questões técnicas, relativas à concepção do modelo de jogo e muito provavelmente no treino e respectiva operacionalização. Problemas que se arrastam desde o inicio de época, que redundaram na saída de Sá Pinto e não era crível que Oceano os resolvesse em duas semanas. Depois do jogo de ontem visto in loco, parece-me claro que a questão psicológica é um factor a ser também trabalhado. É nítida, e também compreensível, a falta de confiança dos jogadores na hora de decidir, e que os leva a valer muito menos do que podem.

E seria inevitável não ver posto em causa o trabalho da SAD. Não foi por acaso que a frase mais ouvida ontem na bancadas fosse "tiveram 15 dias para contratar um treinador e nada". Isto dentro das que são publicáveis, obviamente. Sobre isso pronunciei-me no post anterior a que se seguiu um silêncio voluntário. Hoje ainda mais sentido me parece apontar a indecisão da substituição do treinador como erro grave e  aos mais variados níveis.

É sobretudo um erro estratégico que desde o inicio desprezou todas as variantes possíveis, entre as quais se deveria incluir o que sucederia após o jogo de ontem. Não há nenhuma garantia de que um novo treinador garantiria outro resultado mas pelo menos os Sportinguistas teriam ficado com a ideia de que se tinha feito algo. 

A sensação que foi apreendida pela maioria - que é a conta - é que a SAD e o presidente não tinham uma ideia para o dia seguinte à tomada de decisão de despedir Sá Pinto  e por isso o controlo do que vai suceder a seguir pode já estar fora seu alcance. À imagem de desnorte fica associada a de orfandade da equipa num momento particularmente sensível. Ontem, quando o autocarro da equipa abandonou o estádio, não se avistam responsáveis da SAD, já a caminho de Lisboa há algum tempo. Não surpreende por isso que já decorra há alguns dias recolha de assinaturas para convocação e uma AG com vista à convocação de eleições. Veremos o que vai acontecer mas ao escolher o presente caminho não duvido que GL alienou não só muitos indecisos como também muitos apoios.

Devo ser dos poucos que não vejo nas eleições como a solução para os problemas que afectam neste momento, e de há anos para cá, o nosso futebol e que se repercutem em cascata, ou circulo vicioso se preferirem, por todo o clube. E porquê?

Não é de agora, é já de há muitos anos, que não emerge no Sporting uma liderança forte e carismática, o que contribui para uma pulverização de grupos, de ideias mais ou menos dispersas, ao som do momento e muito em função dos resultados. Não há quem personifique no Sporting um discurso inspirador e uma figura aglutinadora. Se da SAD estamos conversados o que dizer da figura patética de um PMAG, simultâneamente paineleiro, colunista e sei lá que mais, anunciar que "vai apertar o Godinho", proclamar publicamente a iminente extinção do clube e que convoca um Conselho Leonino onde nem sequer estará presente? Esta é um pouco a imagem do Sporting actual: muita gente disposta a falar e poucos com vontade de contribuir para um momento melhor.

Julgo que o ambiente vivido nas anteriores eleições nos devia ter ensinado algo. É muito provável que assistamos à mesma profusão de candidaturas e no final, com resultados mais ou menos próximos, se construa a mesma suspeição e, no final de contas, estejamos mais ou menos no mesmo ponto onde estamos hoje. Mas, como sempre, serão os sócios a tomar as decisões. E é cada vez maior o número dos que acham que está na altura de baralhar de dar de novo.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Quando o treinador é um Oceano de problemas

Não é fácil perceber que objectivos procurou atingir a SAD quando despediu Sá Pinto de forma tão apressada, para depois deixar a equipa principal a cargo de um interino, a ganhar contornos de definitivo a cada dia que passa. Se com isso pretendia dar a impressão de estar como o tolo no meio da ponte, que é a pior das imagens que um decisor pode projectar, o objectivo está plenamente alcançado.

Voltando um pouco atrás, continuo sem perceber a pressa de despedir Sá Pinto, e o jogo no Dragão serviu apenas para confirmar o que aqui fui antecipando: uma chicotada psicológica, naquelas circunstâncias, era mais provável de funcionar ao contrário do pretendido. A forma melancólica como a equipa esteve em campo confirmam-no. Não vou especular que com Sá Pinto o resultado podia ser outro, até porque pareceu que FCP tinha o resultado seguro à prova de qualquer risco. Mas correr apressadamente com Sá Pinto, como se ele tivesse uma doença contagiosa, para depois deixar no seu lugar Oceano, é uma estratégia (?) que está para lá da minha compreensão, e julgo que nisso devo ser acompanhado da maior parte dos Sportinguistas.

A questão da estratégia é fulcral nesta matéria. Ela pode ser a melhor mas, não sendo perceptíveis os objectivos que se perseguem, esse começa por ser logo como o primeiro factor a concorrer para a sua falha. Há rumores que dão a entender que o Sporting já terá feito a sua escolha, mas o treinador pretendido não está livre no momento, só podendo abraçar novo compromisso no inicio da próxima época. Mas há também muitos outros rumores, que vão desde a dissensões no núcleo duro (Godinho Lopes, Luís Duque, Carlos Freitas) às noticias de recusas mais ou menos humilhantes, mesmo que nem se tenham feito convites sequer.  E os rumores provocam desgaste, ansiedade e ruído que em nada ajudam neste momento muito particular.

Desses rumores não me surpreenderia que o do abandono de Carlos Freitas fosse verdade. Vem de um profissional e qualquer profissional sabe que a dúvida é pior dos caminhos na solução de uma crise. E sabe por isso as consequências que ela tem num grupo de trabalho, que ainda por cima leva a segunda época a ser castigado pelos resultados. O que pensam os jogadores quando recebem ordens de um treinador que não sabem se estará lá no dia seguinte?

Ao contrário dos muitos diagnósticos feitos pelos comentadores sempre à mão, parece-me que o Sporting tem começado a falhar pelos treinadores. Nisto dos comentários o Sporting não é um covil de leões, parece mais um ninho de josés eduardos de ocasião, cujo pensamento estratégico se resume nesta tirada: "o Sporting não tem um projecto, devia investir na formação" para, antes que o ponteiro dos segundos desse uma volta completa ao relógio, dizer que este ano "devia ter comprado mais 3 ou 4 jogadores". E claro, que Duque e Freitas se deviam demitir, como se de cada vez que despede um treinador fosse bom para uma organização não só perder o treinador mas toda a estrutura que o sustenta e recomeçar do zero.

Quando hoje atira com o sucesso de Domingos no Braga, por comparação com o fracasso em Alvalade, já ninguém se lembra que Salvador o deixou de mão estendida quando ele se ofereceu para renovar no meio da sua última época, num momento em que o Braga caia na classificação e já se sabia que Jardim, que saíra de forma precipitada de Aveiro, se sentaria na sua cadeira na época seguinte. Foi neste cenário, que está longe de corresponder a um modelo de apoio ao treinador, que Domingos renasceu e levou a equipa a uma final que havia de perder. Foi o apoio recebido ou foi o acerto das suas decisões que o levaram a Dublin? A final foi êxito para o SCBraga mas o mesmo desfecho não teria passado de mais uma tragédia no Sporting, mais ainda se acontecesse com o mesmo adversário.

Há dias Jeffren trazia à liça um elemento que não tem sido abordado quando se fala na crise do Sporting: a questão psicológica. Muito apropriada diga-se, num jogador talentoso que tarda em confirmar com constância o que muito promete. Dizia ele que a equipa bloqueava em campo. Esse é um sintoma que identificaria no trajecto de Domingos e de Sá Pinto. O primeiro terá experimentado aquilo que todos sabemos: a camisola do Sporting é muito mais pesada que a do Braga. A Sá Pinto terá faltado, além da sorte - tudo o que podia correr mal, correu - o discernimento, o que se percebe: queria ganhar tanto como qualquer um de nós, acrescido do facto de se querer afirmar como profissional. 

Godinho Lopes disse no passado fim-de-semana que não queria que o Sporting se transformasse num cemitério de treinadores. Mas, a prosseguir por este caminho, é bem capaz de estar a cavar a sepultura do seu atribulado mandato. No futebol o futuro é hoje, o amanhã pode nunca chegar. Faz por isso pouco sentido pensar num treinador para amanhã quando o dia de hoje é um oceano de dúvidas e problemas por resolver.

domingo, 14 de outubro de 2012

O regresso do râguebi e do basquetebol - Ecletismo sempre


Por coincidência no dia de ontem deu-se simultaneamente o regresso oficial do basquetebol e do râguebi ao Sporting, respectivamente 17 e 48 anos depois da suspensão das modalidades no Clube.

Embora o Sporting "viva" do futebol e para o futebol, ninguém pode ignorar a sua brilhante história nas modalidades ditas amadoras, e o seu lugar como primeira potência nacional do que ao ecletismo diz respeito.

Ultimamente essa diferença para os nossos principais rivais, tem vindo a ser reduzida, quer graças ao muito dinheiro empregue, quer, justiça seja feita, também a algum trabalho na formação e na prospecção de jovens talentos. Temos de acelerar de novo para repormos a diferença.

Brilhantemente o regresso deu-se com duas claras vitorias: 22-7 no râguebi e 73-37 no basquetebol. Saúde-se e felicite-se.

Mas não podemos nós, Sportinguistas, pensar que regressam mais duas modalidades e vão "arrasar". Os êxitos só se conseguem com muito trabalho, trabalho de base e trabalho consistente fazendo uma retaguarda forte para dar um bom apoio.

Temos de ser conscientes.  Há muitos clubes que nunca suspenderam as modalidades, que mesmo treinando râguebi em alcatrão não pararam, e logicamente têm uma estrutura muito mais consistente.

Felicidades para as gentes do râguebi e do basquetebol leonino, fazendo votos para que, sendo eles "organismos autónomos" sejam rapidamente cooptados, e integrados de corpo e alma dentro do Clube.

O que escrevi atrás relativamente à relação entre trabalho e êxitos, aplica-se perfeitamente ao resultado de ontem do hóquei em patins. Criticar negativamente, como já vi, quem tem feito um trabalho extraordinário, de tal modo extraordinário que antecipou em dois ou três anos o primeiro grande objectivo, só pode vir de pessoas que não têm a noção do que é trabalhar em desporto.

O hóquei do Sporting, sempre com apoios muito reduzidos do Clube (para não dizer sem apoios, ou em alguns casos, com "desapoios") vem fazendo um trabalho extraordinário. Vai ter de lutar com clubes já instalados, alguns com muito dinheiro para prometerem, e depois não pagarem, com casa própria  mas irá reagir a resultados menos bons, e os seus jogadores deixarão sempre o máximo do seu esforço na pista. Uma palavra de solidariedade e apoio para as gentes do hóquei do Sporting, personalizada na pessoa de Gilberto Dias Borges, o seu líder.

Não imaginam os Sportinguistas as dificuldades diárias que quem trabalha para estas modalidades tem. Só com muito esforço, muito Sportinguismo, muitos "sapos" engolidos, conseguem apresentar obra.

Portanto, Sportinguistas, temos de ser pacientes para com as modalidades renascidas, percebermos que estão a trabalhar no duro, e que os triunfos não aparecem com um estalar de dedos, mas vão aparecer, especialmente, como é o caso, se o trabalho continuar a ser bem executado.

Uma palavra final para o Presidente Godinho Lopes. Pode ter falhado muito em muitos aspectos da gestão do Clube, na gestão do futebol também, mas quando as modalidades autónomas, em casos extremos, lhe têm "batido à porta", tem respondido sempre presente e resolvido muitas dificuldades.

*Artigo de autoria de 8 (Carlos Sousa)  

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Sporting, um clube em permanente reconstrução

Nota prévia: um adepto decide fazer desaguar na blogosfera um artigo cujo conteúdo é validado por grande parte dos comentadores, sem qualquer contraditório. A indignação é grande, a lógica é profundamente maniqueísta (os insultos e as agressão são bons ou maus consoante quem é o agressor e o agredido) ao ponto de se prometer deixar de pagar quotas, rasgar cartões e ameaças piores. No entanto o único facto irrefutável estava no final: o autor acusa os leões de Lisboa de serem cornudos (seja lá o que isso significa), o que não mereceu qualquer reparo ou indignação. Isto diz muito da qualidade das discussões actuais na blogosfera. Qualquer argumento serve desde que sirva os objectivos pretendidos. Adiante.

Mudar, mudar, sempre mudar
Se há alguma coisa em que o Sporting se especializou ao longo dos últimos anos foi em mudar. Desde a saída de João Rocha, em 1986, o Sporting já vai no nono presidente. Isto dá uma média inferior em 3 anos por presidente, e quando estamos a falar de presidentes temos que considerar a generalidade dos corpos sociais.

Mudar de treinador
Acontece que no futebol se tem mudado até muito mais que na gestão do clube: 31 treinadores em 30 anos, descontando os que ocuparam interinamente a posição. Não há Sportinguista que não sinta com dor a ausência de triunfos mas, olhando para estes números, parece-me que seria difícil fazer muito melhor. 

A escolha do treinador é o momento mais importante no sucesso desportivo de um clube e, mesmo as que parecem ser as melhores escolhas, não são qualquer garantia de sucesso, tantos são os imponderáveis associados. Podemos fazer boas escolhas e ainda assim não obter bons resultados. Pior, podemos escolher bem, ser bons e haver quem seja melhor e, no futebol português, ser melhor não é garantia de nada.

Domingos não foi uma má escolha. Era o melhor treinador português disponível, com resultados que superaram os objectivos em todos os clubes onde passou. Falhou rotundamente, perdeu o pé (como ficou evidente em algumas conferências de imprensa) e a confiança do balneário.

Sá Pinto foi bom quando entrou, falhou quando teve tempo para fazer a diferença mas, ao contrário do seu antecessor, não perdeu o balneário. Não fiquei convencido da inevitabilidade do seu abandono, caso tivesse sido mais respaldado. Cedo na época se percebeu que algo estava a correr mal, disse-o aqui, mas teria mesmo que ter acabado assim?

Atendendo ao desnorte comum a ambos nos piores momentos, é importante perceber se a estrutura que os devia suportar não falhou também. É fácil de perceber que muito era esperado deles, atendendo a que ambos foram a cara da campanha anual de gameboxes. O que aconteceu depois foi apenas da responsabilidade dos treinadores?

Mudar a direcção
A conversa das eleições é recorrente sempre que os resultados não aparecem. Neste mandato em particular, pelas razões que sabemos. Como sócio sujeito-me à vontade da maioria, mesmo quando as decisões são contrárias ao meu sentido de voto, como tem acontecido muitas vezes nos últimos anos. Por isso talvez esta conversa seja prematura, pelo  menos até haver convocatória para o efeito. Mas não sou dos que veêm aí uma solução porque:

- Falta saber se a actual direcção cairia. A avaliar pelo sentido de voto das AG´s parece-me dificil. E, se tal acontecesse e fosse reeleita, tudo não passaria de uma enorme perda de tempo e sobretudo de energia.

- No que tem sido pior na actual gestão, a falta de resultados desportivos, não há ninguém que possa garantir melhores resultados, embora também seja verdade que é difícil obter pior. Nesta altura é também bom lembrar quais eram os candidatos a treinadores apontados pelas outras listas (Van Basten, Zico, Rijkaard), e o qual tem sido o seu percurso.

- Mas há um motivo essencial: evitar os alibis. Se esta direcção cair antes do final do seu mandato, além de se interromperem alguns projectos  importantes em curso - financiamento da SAD, Sporting TV, p.ex.- cuja conclusão se espera para breve, abre-se o caminho para a instalação da maior instituição lusitana: a desculpa. Quem sai sentir-se-à desresponsabilizado porque não acabou o que se propôs e quem entra poderá sempre alegar a herança que encontrou. 

- Acrescentaria apenas que, não fazendo o meu balanço definitivo, e exceptuando o que disse sobre os resultados desportivos, uma má gestão da comunicação, sobretudo interna, dou nota positiva a esta direcção. Isto atendendo ao que foi o ponto de partida, o ambiente muito particular em que foi eleita e ao que eu esperava que poderia vir a fazer.

Mas as direcções dependem de 2 factores muito importantes: os resultados desportivos, que não controla. Mas sobretudo da sua própria acção, a qual depende de si, no essencial. É a conjugação dos dois que ditará a apreciação dos Sportinguistas e a longevidade dos actuais corpos sociais.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O Sporting (não) é isto

Corre desde ontem, por quase toda a blogosfera leonina, um texto com origem no Fórum Sporting que terá sido publicado por alguém que terá estado nos tristes acontecimentos ocorridos no Porto, que se estenderam do Solar do Norte, passando pelo hotel onde estagiou a equipa, até ao estádio do dragão, onde se disputou o jogo.

Sobre o que se passou no Solar do Norte dei aqui a minha opinião ontem. 

A situação em que o Sporting vive hoje é motivo de sofrimento, indignação e até de revolta. Esse sentimento não é exclusivo de ninguém, todos o sentimos. O argumento, muitas vezes usado, dos sacrifícios feitos em prol do clube, também não colhe, só os faz quem quer. 

Os Sportinguistas não podem ficar refém dos que têm mais força, falam mais alto ou têm maior predominância para poderem opinar, reunir e confraternizar. E isso depende de todos, dos que querem manifestar o seu descontentamento e da forma como o escolhem fazer, dos que todos os dias radicalizam cada vez mais o discurso, fomentando a violência, até aos que, de forma conivente ou fugindo às suas responsabilidades, fazem de conta que não se passa nada.

Sou um confesso apreciador do papel das claques - para mim é o melhor sitio para ver um jogo do Sporting. O que se passa entre claques não me cabe a mim julgar, porque desconheço o meio com a profundidade necessária para o fazer, há muitos dados que me escapam. A única coisa que posso dizer relativamente ao assunto é que não me revejo em qualquer acto de violência, muito menos entre Sportinguistas, venham eles de onde vierem.

Mas, e não é de agora, há em tudo isto algo está profundamente errado quando, seja em Alvalade, seja nas deslocações que fazemos pelo país fora, além de termos que nos preocupar com as recepções dos adversários, ainda temos que andar a fugir uns do outros. Todos nós, mas acima de tudo o Sporting, merecemos muito mais do que isto.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Dias mau para o Sportinguismo

São dias mau para o Sportinguismo.

Perder no Porto já quase se tornou um hábito, tão comum como ser espoliado pela arbitragem. O que torna tudo ainda mais incompreensível é que até em jogos como o de ontem, em que fomos particularmente inofensivos, não tenha faltado mais uma vez o pé na cabeça a tentar tudo para que à derrota fosse associada uma humilhação. Um anti-sportinguismo primário, visceral que me enoja.

Mau para o Sportinguismo é também ver acumular exibições no dragão jogando a medo, exactamente da mesma forma que jogava o FCP sempre que atravessava a ponte da Arrábida, nos anos da grande depressão azul, que foram nem mais nem menos que as primeiras 8/9 décadas da sua existência.

Reagiu o Sporting pela boca de Luís Duque e também pelos jogadores que, ainda em campo, se olhavam incrédulos para o que se passava. Mas, no que aos dirigentes diz respeito, é chorar após o leite estar há muito derramado. Talvez por estarem demasiado ocupados em fazer uma das chicotadas psicológicas mais ridículas que conheço - insisto: o que se pretende com uma mudança de treinadora 48 horas de um jogo? A forma cabisbaixa como a equipa se apresentou confirmou os meus maiores temores -esqueceram-se de contestar a nomeação do superdragão Jorge Sousa, fundador do núcleo de Lordelo daquela claque. 

Mas pior. O presidente do Sporting, seja ele qual for, não pode elogiar a "competência" de Pinto da Costa, esquecendo-se do que foram os últimos 30 anos do futebol português, sem com isso não estar a divorciar-se dos sócios que representa. Não se pode continuar a sentar ao seu lado quando, por muito menos, se escusou a fazê-lo no camarote presidencial da Luz.

Para terminar este tema fica a contabilidade dos clássicos Antas/Dragão (30anos): G.P. FCP - 15 / G.P. contra FCP - 3 / Expulsões FCP - 10 / Expulsões SLB e SCP - 37. É preciso dizer mais alguma coisa?

Mas o dia de ontem foi muito pior para o Sportinguismo do que apenas uma derrota, mais uma, no dragão. Como foi tornado público ontem, o presidente do Sporting foi vaiado e insultado aquando da recepção no Solar do Norte por uma facção do Directivo XXI, insultos que se estenderam ao hotel onde a equipa estagiava. Só quem tem um enorme vácuo entre os dois pavilhões auriculares pode aplaudir estes métodos para exprimir a indignação, justa diga-se, pelos resultados negativos acumulados.

Este é um sintoma muito claro de que a ausência de vitórias está a contribuir para a degeneração do Sportinguismo pelo qual me apaixonei. E essa forma de estar era diferente, ou pelo menos assim a percepcionava, dos demais na vitória e na derrota. E esses sinais são cada vez mais evidentes na autofagia que alastra, pouco falta para estarmos a comer o cotovelo.

O episódio é ainda mais lamentável porque o associa o nome de um bastião de Sportinguismo na mui nobre e Invicta cidade do Porto e do Norte do País, que muitas vezes são ambos confundidos com os métodos soezes e linguagem torpe de Pinto da Costa. Mais lamentável ainda porque nos faz parecer iguais e porque passa por cima do esforço que muitos fizeram e continuam a fazer para manter o Solar do Norte como ponto de encontro de muitos Sportinguistas. Ao Carlos, ao Bruno, ao Diogo, Gabriel, Tiago, Hugo, Nuno e ao Sr. Leite (espero não me ter esquecido de ninguém, das pessoas que conheço melhor) o meu abraço solidário.

Nota importante: Corre o rumor, cada vez mais insistente, de que Scolari será o próximo treinador do Sporting. Espero que não passe disso mesmo mas, como se costuma dizer, não há fumo sem fogo. A ser verdade isto significaria mais uma fuga para a frente, muito longe de contribuir para resolver o(s) problema(s) do  nosso futebol, além de mais um passo para gastar uma fortuna que não temos. Tal obrigar-me-à a repensar o meu relacionamento com o clube. Serei sempre Sportinguista, mas há momentos em que, por auto-preservação, somos obrigados repensar a forma de melhor nos relacionarmos com os que não são caros.

domingo, 7 de outubro de 2012

Sem surpresa

Oceano não foi feliz na estreia (Foto: site abola)

Sem surpresa, continuam a faltar metros, velocidade e consistência a este Sporting. E falta não ofertar golos ao seu adversário, em lances inacreditáveis como o que sofreu neste clássico logo aos dez minutos de jogo.

E, sem surpresa, continua a faltar decência no futebol português. Hoje, mais uma vez, vi lances dentro de uma grande área, cujas decisões só podiam ser marcadas contra o Sporting… e, no Dragão, somam-se duas vontades consolidadas e muito presentes há longas décadas deste podre futebol luso. Estes penalties representam bem o paradigma do que tem sido a arbitragem no que diz respeito a proteger / ajudar uns e atacar / prejudicar outros. Uma sem vergonhice pegada.

Para além do critério técnico, sempre favorável à equipa da casa, o Super Dragão do apito utilizou um critério disciplinar ‘apertado’, nas palavras de alguns experts, quando o epíteto mais justo seria o de ridículo. Foi, também sem surpresa, que a fava do segundo amarelo, seguido da consequente expulsão, tinha que calhar a um jogador leonino…

Enquanto isso, nós cá continuaremos na nossa luta fratricida. De vez em quando temos uns ‘abre-olhos’, como a arbitragem de hoje, e despertamos dessa luta interna entorpecedora. E as armas, que tínhamos apontadas uns contra os outros, voltam-se esbaforidas, mas a disparar tiros de pólvora seca para fora… Sem qualquer surpresa também e, como sempre, apenas por breves instantes, porque o próximo capítulo da autofagia leonina seguirá já dentro de momentos.

Para a transição, homens de barba rija

O Sporting que entrará hoje em campo para disputar os 3 pontos terá pela frente mais do que um adversário. Além do FCP, que fez uma bela exibição ante os milionários do PSG, o Sporting terá, como muitas vezes nos últimos anos, de lutar também contra si mesmo para lograr vencer ou pontuar. Vencer um momento traumático, com o acumular de maus resultados, acrescidos da saída do treinador que, ao que se conta, chegou a fazer correr lágrimas no balneário.

Será essa a melhor cartada de Oceano: o apelo emocional. Sem qualquer tempo para alterações substanciais, ganhará importância crucial saber invocar o brio profissional dos jogadores, lembrando a honra de vestir a camisola centenária, e a importância de representar a esperança de milhares de adeptos que não se rendem nem nos piores momentos.

Nesse sentido parece-me que a melhor estratégia a adoptar será chamar a campo os jogadores mais experientes, capazes por isso de melhor lidar com as muitas dificuldades que o jogo trará. Uma equipa claramente conservadora, capaz de ter a bola nos pés sem se precipitar,e também de sofrer quando for necessário lutar para a conquistar. Por isso jogaria com

                                                                     Patricio
                       Cedric,                         Boulharouz,                    Rojo,             Insua                  
                                                                     Rinaudo
                                    Elias,                                                      Schaars, 
                                                  Izmailov                                                        Pranjic
                                                                Wolfswinkel
Dúvidas apenas se não deveria trocar Rinaudo por Gélson ganhando com isso maior apoio para os centrais, mesmo perdendo algum dinamismo. A Izmailov caberia o papel de dar apoio mais próximo a Wolfwswinkel, que juntamente com Pranjic, teriam que pressionar a saída de jogo dos portistas o mais subido possível no terreno. E recomendaria a maior atenção quando sair a jogar desde trás, a avaliar pelo que vi o FCP fazer esta semana, teremos muita gente a pressionar logo à saída da área.

sábado, 6 de outubro de 2012

Os tais 10 treinadores que o Sporting queimou

O Jornal de Noticias coloca hoje na sua capa a titulo: "Sporting queimou nove treinadores em 10 anos". 

Fui mais longe e elaborei a lista dos treinadores que passaram pelo Sporting, desde o titulo que marcou o fim do grande jejum, até aos dias de hoje, não incluindo os técnicos que ocuparam o lugar de forma interina.

Sá Pinto
Domingos Paciência
Paulo Sérgio
José Couceiro
Paulo Bento
Carlos Carvalhal
José Peseiro   
Fernando Santos
Laszlo Bölöni
Augusto Inácio
Manuel Fernandes
Giuseppe Materazzi

A quantos deles o Sporting proporcionou a oportunidade, provavelmente irrepetivel, de treinar um clube grande?

Quantos deles tiveram sucesso antes e depois da passagem pelo clube?

Quantos deles teriam chances de treinar um dos nossos rivais, por exemplo?

Olhando para o percurso de todos, quer no que fizeram antes quer posteriormente, fico com muitas dúvidas quem é que saiu mais chamuscado, se grande parte dos treinadores enunciados, se o Sporting.

Tendo em conta a importância do cargo na estrutura de um departamento de futebol, talvez esteja na forma como se escolhem os treinadores muitas das razões do insucesso acumulado.

Para reflectir fica também o facto de, neste período, o Sporting ter tido comprometidos 2 treinadores como Mourinho e AVB, sem que estes nunca chegassem a orientar um treino que fosse.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sá Pinto sai - 1 decisão incompreensível

É-me muito difícil de perceber o que se pretende com a substituição de um treinador a 48 horas da realização de um jogo de futebol. Fosse qual fosse o jogo, mesmo que até a feijões. Mais ainda sendo um jogo como o de domingo, onde se jogam sempre muito mais do que os 3 pontos. 

Quem toma decisões destas deixa-me muito pouco tranquilo, sabendo que serão os mesmos a quem caberá a tarefa de escolher o próximo treinador. Uma decisão incompreensível, reveladora de que não é apenas a Sá Pinto que faltava a clarividência.

Nota: Já depois de publicado o post tomei conhecimento das declarações de Godinho Lopes, revelando que Oceano assume o comando técnico apenas no jogo no estádio do dragão. Ora isto ainda reforça mais a ideia expressa anteriormente: o desnorte é total.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sobre a saída de Sá Pinto

A noticia já corre nos canais de televisão e são muito prováveis que venham a ser confirmadas entre hoje e amanhã. A ser verdade não deixa de constituir uma meia surpresa para mim e o timing parece-me errado.

Não porque não ache que a situação de Sá Pinto seja actualmente sustentável mas porque, pela imagem que tenho dele, não o estou a ver a furtar-se à responsabilidade de encarar o jogo no dragão e deixar que um outro pobre coitado se sente no topo do vulcão. 

Menos avisado me parece que tal decisão venha da direcção da SAD. Mesmo um treinador de transição que fosse não merecia ter que passar por tal situação porque, como é óbvio não há nenhum treinador que quisesse vir até lá para o Sporting, para lá dum louco ou arrivista. E, parecendo-me como me parece, que os jogadores ainda estão com o treinador, essa seria a forma de tornar ainda mais difícil do que já é a deslocação ao dragão no domingo.

Video em tom pornográfico

É desde logo pornográfica a forma como o Sporting vem sendo castigado, jogo após jogo, pelo próprio futebol. Atravessando um momento dificil, nada pode ser pior para uma equipa que sofrer  um golo na primeira oportunidade que o adversário cria. Ou na segunda. Mas, ainda pior, é dar trunfos aos adversários como também aconteceu hoje (Boulharouz) e já tinha acontecido no jogo anterior nesta mesma competição.

Com isto não quero furtar-me à análise do trabalho do treinador, mas essa venho fazendo ao longo da época e nada mais tenho a acrescentar. E independendentemente do que venham a ser as decisões da SAD relativamente ao treinador, só posso concluir que, enquanto durar esta maré negra, vai ser muito dificil de dar a volta. É por isso que no domingo, lá estarei no estádio do dragão. É nestas alturas que o Sporting mais precisa, para festejar nunca falta gente.

Ficha de Jogo:

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A solidão de Sá Pinto


Palavras que o vento leva (e traz...)

Sá Pinto tem aparecido sozinho nas conferências de imprensa o que deu azo, e justificadamente, sobre a solidez da sua relação com os dirigentes, em particular com Luís Duque, com quem lida de forma mais próxima e até com Godinho Lopes.

Pude constatar que, no mesmo período, Mourinho vivia também um período complicado e também não vi Florentino Perez aparecer ao lado do treinador, o que me levou a estabelecer um paralelo com o sucedido no Sporting. Como devem os dirigentes comportarem-se perante situações de crise?

A resposta é "lapalissiana", cada caso é um caso. Por exemplo, Mourinho é um eucalipto de raízes bem fundadas, um "one man show" que, ao invés de alguém a seu lado, gere como ninguém as mais variadas situações em que um treinador tropeça ao longo da carreira. É também um treinador com muitos anos de estrada, muito diferente do que sucede com Sá Pinto.

Soube-se ontem que Sá Pinto, Luís Duque e Carlos Freitas jantaram juntos num restaurante em Lisboa. Nem o mais ingénuo dos mortais acredita que o acaso de se encontrarem jornalistas para o testemunhar foi um mero acaso. Assim presume-se que esta foi a resposta encontrada pelos responsáveis para atalhar os rumores cada vez mais crescentes de que Sá Pinto estaria transformado num general abandonado pelas cúpulas, entregue a si próprio.

Actos simbólicos como este valem o que valem. No futebol em particular, o seu prazo de validade extingue-se com o próprio acto. Antes este que nenhum, se com isso se conseguir devolver alguma tranquilidade ao grupo de trabalho que, não vivendo numa torre de marfim, vai lidando, cada um a seu modo, com as ondas de choque de ver o seu líder fragilizado.

Do meu ponto de vista, mais do que as refeições propaladas nos jornais um treinador deve ser respaldado nas conferências de imprensa que antecedem e sucedem aos piores momentos e de preferência não fora do meio natural: Alvalade ou Alcochete. Uma imagem dessas, presenciada por adeptos e sobretudo pelo grupo de trabalho, vale por mil jantares ou por comunicados com mais ou menos retórica.

Actualmente, nos clubes de topo do futebol português, só Pinto da Costa se pode dar ao luxo de poder ver naufragar um treinador sem que o seu esbracejar não o salpique ou, no extremo, o leve com ele. Talvez possamos incluir o Braga, face aos últimos resultados. No caso de uma direcção do Sporting, e desta em particular, o falhanço de um treinador dificilmente lhe permite escapar entre os grossos pingos da borrasca que se instalaria. Daí que qualquer manobra de distanciamento em relação ao treinador está condenada ao fracasso, as suas sortes estão umbilicalmente associadas. E, no caso concreto de um treinador a dar os primeiros passos, a falta de amparo tende a ser mais um factor de perturbação, a juntar ao acumular de maus resultados.

O general no seu labirinto

Só Sá Pinto poderá confirmar ou desmentir a falta de apoio de que se tem falado. Mas, como é bom de ver, admiti-lo é um cenário de pré-ruptura anunciada ou já consumada, havendo, caso suceda, pouco ou nada então a fazer.

Mas, sem poder confirmar ou desmentir as falhas da direcção no apoio ao treinador, e confirmando a ligação umbilical acima descrita, é por ora evidente que Sá Pinto também tem faltado a esta direcção, ao clube que confiou nele e, porque não dizê-lo, a ele mesmo como profissional que necessita de resultados para consolidar a sua carreira.

Como dizia ontem aqui um leitor não é possível olhar para a carreira do Braga sem concluir que, não apenas este ano, tem faltado um treinador que saiba potenciar e reverter num colectivo as qualidades individuais que possuímos hoje no plantel. De forma quase trágica mesmo os que acertaram no clube da cidade nortenha, Domingos, falham em Alvalade. A questão é que para o Braga até o terceiro lugar é bom, para o Sporting é um mal menor.

O que vi em Alvalade no passado sábado deixa-me preocupado e espero ver desmentido já amanhã, seja qual for o resultado. Tal como havia previsto após o jogo com o Gil Vicente, naquelas condições dificilmente voltaríamos a ganhar um jogo, não esperava é que tal se confirmaria tão cedo. Ao insistir num 4x2x4 o Sporting perde a tal segurança de posse que tanto Sá Pinto parecia perseguir e que, sendo um bom principio, não se percebe que possa agora ser abandonado. Dessa forma perde também muita da capacidade de reacção à perda de bola e, sem ela, podemos sofrer golos mas não os marcaremos de certeza.

O problema, no inicio de época, estava na anemia atacante. Agora somou-se a fragilidade defensiva, e a equipa assemelha-se a um sem-abrigo que não sabe se há-de puxar a manta para cima, para tapar a cabeça ao frio, ou para baixo, para tapar os pés gelados. Isto é um problema que compete ao treinador resolver e até ao momento, parece muito longe de o conseguir parecendo agora, nos actos, menos convicto da solução a adoptar. Mas quem tem nas suas fileiras Elias, Schaars, Rinaudo, Adrien, André Martins, Pranjic e Izmailov não devia, não podia, estar sujeito a tanta fragilidade.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O Lobo e os cordeirinhos

Certamente que se lembram, não foi ainda assim há tanto tempo, do "problema" que era a falta de golos do Wolfswinkel, mal a época tinha começado. Muitos mééééés de muitos cordeirinhos foram então ouvidos. Pois agora que ele está a marcar, e ainda com a equipa muito longe de produzir um futebol de cariz ofensivo que o beneficie, já ninguém se lembra de olhar para o que ele faz. Claro, vai fazendo o que lhe compete, dirão. Pois vai e é assim que vai demonstrando a sua qualidade, sobretudo para os que a puseram em causa. E o melhor, estou em crer, estará ainda para vir. A médio prazo, com a idade, se tivermos a sorte e a oportunidade de o ver crescer e, no imediato, se a equipa conseguir melhorar. 
Foto Bancada de Leão
Por isso talvez se justifique pouco estar sempre a olhar para trás - Liedson, Jardel, Acosta, Manuel Fernandes, Jordão, Yazalde já não podem fazer nada por nós, é agora a hora de fazermos nós por eles, honrando a sua memória - e esperar o muito que o futuro nos reserva. Tivéssemos nós a sorte de todos os avançados em que gastamos rios de dinheiro tivessem marcado 25 golos na época de estreia, 14 dos quais num campeonato onde estivemos muito longe de ter estado bem.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A Assembleia Geral e a queda de Sá Pinto

 Assembleia Geral
Tal como havia previsto na passada sexta-feira a AG foi uma fonte de desilusão para os que esperavam e desejavam que se repetissem as cenas indecorosas das registadas no nosso vizinho do outro lado da segunda circular. E talvez não fossem poucos os que desejariam em especial que as contas fossem reprovadas para que à crise de resultados se somasse uma crise institucional. 

Por isso as estações de televisão mobilizaram meios claramente desproporcionados face ao que estava em causa onde a preocupação de informar foi nitidamente negligenciada.  2 exemplos, se preciso fosse, o demonstram claramente: num dos directos um repórter declarava que o pavilhão atrás dele - referindo-se ao multiusos -se iria passar a chamar "João Rocha" e noutro canal informava-se que o relatório e contas havia sido aprovado por unanimidade!!! Ignorância e falta de respeito pelo Sporting e pelos espectadores que lhes pagam, mesmo que indirectamente, os vencimentos. Esta é a confirmação, se ainda preciso fosse, que a dever de informar há muito foi substituído pela vontade quase exclusiva de vender sensacionalismo a granel.

E como interpretar os resultados da votação dos sócios na AG, em particular a aprovação de contas? Não creio que, mesmo os que votaram favoravelmente, tivessem gostado dos resultados apresentados. Talvez tenham preferido fazê-lo a fomentar um cenário de crise da qual se sabe como se entra mas cuja saída contém demasiados cenários de resultados imprevisíveis. 

Os que agora lançam as mais diversas acusações sobre os sócios que aprovaram as contas deveriam percebê-lo, sobretudo os que querem ser vistos como alternativa à actual gestão. Chamar parvos aos outros é a forma mais fácil de se desresponsabilizarem e se demitirem de uma avaliação inevitável: perante o cenário actual do clube - acumulação de maus resultados desportivos e maus resultados económico-financeiros - a mensagem continua a não passar. Pretender que a culpa é apenas dos outros, ou que a verdade lhes pertence é uma arrogância e um erro que se paga caro.

A queda de Sá Pinto
Desde o final da Taça de Portugal que os resultados (não) conseguidos por Sá Pinto têm desbaratado o seu crédito junto dos adeptos. O seu grande mérito, e quando pegou numa equipa esfrangalhada, sem rumo e completamente descrente no seu treinador de então, foi a clarividência de perceber que, mais do que uma revolução, a equipa precisava de melhorar a sua auto-estima e confiança. Quase todos percebemos que aquele Sporting mais recuado e expectante era insuficiente para os desafios de um novo campeonato com ambições, mas servia quase na perfeição para apanhar os cacos de uma época decepcionante prestes a findar. 

É precisamente a mesma clarividência que agora lhe parece faltar. Infelizmente, como em quase tudo na vida, o futebol não valida as boas intenções, apenas os resultados. E esses são os que se sabem. Confesso que, como quase todos, fiquei preocupado com o vi com o Estoril. E também com a conferência de Sá Pinto, quando diz que aquele não é o seu Sporting. Concordo com ele quando recrimina a falta de intensidade dos jogadores, mas o problema não se esgota aí. A forma como Estoril - sim, o Estoril... - conseguiu estar confortável no jogo na maior parte do tempo, a forma desorganizada como lhes tentamos responder, quase sempre desequilibrados, deviam-no fazer pensar no que nasceu primeiro, o ovo ou a galinha. Isto é, o problema começa na falta de intensidade e vontade ou são as suas opções tácticas que não permitem melhor desempenho?

Como é evidente não há treinador que resista muito tempo à falta de resultados, mais ainda quando estes se acumulam com fracas exibições, muito aquém do que o grupo à disposição permite sonhar. Começa até a registar-se o inverso, há jogadores muito abaixo do que podem dar. E insistir em Xandão (se foi buscar o Betinho, não lhe faltará também coragem para ir buscar o Pedro Mendes, já que Nuno Reis está fora de hipótese), ou deixar Carrillo em campo num dia em que nada lhe saía bem também pouco ajuda.

O mais importante nesta altura é perceber se ele é capaz de inverter o actual curso. A primeira condição é perceber se os jogadores continuam a acreditar no seu líder, o que, neste momento, me parece assegurado. E, como é evidente, poder contar jogadores como Elias, Schaars, Boulharouz e Pranjic, pela sua qualidade e experiência serão também um importante auxilio para o treinador. Mas continuo a pensar que Sá Pinto depende sobretudo de... si mesmo para se voltar a por de pé.

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