Sporting, um clube a que nada nem ninguém serve
Este post nasceu durante o passado fim de semana, quando lia a noticia do convite efectuado por Godinho Lopes a Figo, com o objectivo de o tornar numa espécie de embaixador do clube na internacionalização e expansão das Academias e, por essa via, da marca Sporting. Duvido que se venha a concretizar, pois não me parece que tal actividade seja compatível com o cargo de dirigente do Inter de Milão com funções e objectivos semelhantes. Mas, para lá de Ronaldo, não vejo quem melhor do que Figo pudesse, nessa área em concreto, servir melhor os interesses do Sporting.
Mas, se por um acaso qualquer, Figo encontrasse uma forma de retribuir o que o Sporting lhe deu, como é que isso seria aceite pelos adeptos, foi a pergunta que de imediato me ocorreu. Numa larga franja provavelmente mal. Também eu tenho presente ainda a forma como saiu do clube, preocupando-se apenas com os seus interesses, esquecendo-se do clube que o formou. E já não tinha gostado que tivéssemos tido que o ir resgatar ao outro lado da segunda circular, ainda nos seus primeiros anos de júnior, por um compromisso assumido de forma precipitada.
Mas se esta fosse a forma de ex-jogador e clube se reencontrarem e estabelecerem uma relação mais profícua, faria sentido opor-me, relevando apenas o que foi negativo em todo o processo e, sobretudo, impedindo o clube de progredir e retirar vantagens da associação com uma das suas melhores bandeiras de clube formador, considerado, ao seu tempo, o melhor jogador do Mundo? O Inter, onde Figo apareceu já no final da sua carreira e potencial, não pareceu estar tão preocupado com as origens do jogador e não me parece que estejam menos preocupados do que nós com a sua identidade e com os valores do clube.
Veja-se o caso de Jefren, ontem completamente grelhado por causa de uma
fotografia que me parece retirada de forma oportunista do contexto para
causar o efeito que causou. Por norma insurgimo-nos quando os média nos
tratam com falta de respeito, mas desligamos o sentido critico quando
nos colocam um prato como este pela frente, portando-nos como
vulgares "vigilantes". Preferiu-se valorizar um episódio de contornos e até de ética muito duvidosos de quem deu a foto à estampa
(com as máquinas actuais qualquer um pode ser apanhado a dormir, basta
que baixe ou feche os olhos) e esqueceu-se o que devia ser relevado como um exemplo do que os jogadores estão dispostos a dar pelo clube: Pranjic, que jogou nove minutos com uma costela partida.
Não sei se os exemplos tomados sejam o melhores, mas julgo que esta temática representa um pouco o que é o Sporting actualmente: cheio de conflitos interiores, dissensões, com muito enfoque no "eles" e no "nós", de valorização de tudo o que é negativo. O "nós" somos os que ganhamos e é por causa "deles" que perdemos". "Nós" fomos os que nascemos num berço verde e branco e abençoados pelo divino espírito santo leonino, "eles" são os bastardos. Já nem o passado nos parece ser comum: "Nós", queremos o Sporting de volta, ganhamos uma Taça das Taças e enchemos a sala de troféus do Museu, "eles" perderam uma final da UEFA, "eles" estão a acabar com o clube.
Não é fácil ser Sportinguista por estes dias. A amargura causada pela falta de êxitos desportivos vai produzindo os seus efeitos na forma como olhamos o clube e a realidade envolvente não nos é favorável:
Se olhamos para o FCPorto vemos um clube que vive o melhor dos seus anos e que não voltarão a repetir-se. O SLB, que gasta muito mais do que nós e que nem por isso ganha mais, vive reconfortado com os êxitos do passado, pelo número dos seus adeptos, que lhe proporciona uma auto-estima que nem sempre a realidade justifica. E à perna temos o Braga, para quem, nesta fase da sua vida tudo é êxito. Há 4 anos íamos à Liga dos Campeões com pesar, porque era por causa do segundo lugar. Hoje eles desfrutam e são elogiados. Perderam uma final da UEFA e a cidade parou em festa. Um luxo que não nos podemos permitir ante uma derrota, e justificadamente, pois não somos o Braga, daí a depressão em 2005. Mas era necessário começar tudo de novo?
O mesmo podemos dizer dos jogadores. Quantos não prestavam e agora são convocados para a selecção nacional? Por isso desconfio sempre dos se lembram hoje que a formação é caminho. Provavelmente nunca levantaram um dedo para defender a permanência de Custódio ou Viana e são os que deixam cair Carriço, Pereirinha, André Martins e falam sempre dos que hão-de vir, mas nunca dos que estão. Ontem era catastrófico não renovar com Adrien, hoje ele não merece o lugar e o ordenado. Ou que afirmam que é preciso lutar com as mesma armas contra os bastidores do futebol mas ante o caso Cardinal e uma "real politik" muito softcore face às forças em jogo, se demarcam num ápice e invocam os valores do clube.
Hoje parece haver cada vez menos Sportinguistas mas proliferam os roquetistas, brunetes, lambuças, a corja, etc. etc.
Hoje parece haver cada vez menos Sportinguistas mas proliferam os roquetistas, brunetes, lambuças, a corja, etc. etc.
Há dias "tropecei" num programa de TV onde falavam 2 Sportinguistas. Rogério Alves e Paulo Andrade. Enquanto ia reparando nas reacções negativas de alguns Sportinguistas nas redes sociais, comparava a forma elevada como se referiam ao clube, por comparação com a forma tremendista e apocalíptica e que nos envergonha com que vemos semanalmente os comentadores habituais que "representam" o Sporting nas Tv´s.
O programa terminou com uma excelente proposta de Paulo Andrade, face ao momento do clube: a promoção de um encontro entre os actuais Corpos Sociais e os candidatos derrotados nas últimas eleições, numa tentativa de reduzir a confrontação permanente actual. Alguém acha isso possível, quando nem os últimos presidentes ainda vivos conseguimos sentar à mesma mesa?
Há neste post talvez algum excesso e a última coisa que pretendo é que ele seja entendido como uma lição, pois a esse nível, como tenho aqui dito muitas vezes, não tenho nenhuma a dar e muito a aprender com os que todos os dias se devotam por fazer do Sporting o clube grande que é. Mas parece-me urgente perceber com actual excesso de ruído e truculência entre Sportinguistas somos cada vez menos o clube que poderíamos ser.