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Uma vitória muito saborosa, num terreno habitualmente muito difícil, foi o saldo da viagem há Madeira. Ao contrário do que o resultado algo dilatado para um jogo fora possa querer indicar não conseguido com facilidade, tendo em muitos momentos parecido muito difícil segurar. Com isto não coloco em causa a justiça da vitória, o Sporting foi a única equipa que, pelo que fez em campo, a justificou. Mas as dificuldades sentidas em alguns momentos, em especial na 2ª parte, contribuíram para a incerteza no desfecho. Resultaram sobretudo de uma postura um pouco atípica, tendo em conta o que Jardim já demonstrou ser a sua preferência relativamente ao controlo do jogo e dos adversários.
Para melhor exemplificar o que pretendo dizer com o parágrafo acima, olhe-se para o que se fez no jogo anterior com o FCP, uma equipa infinitamente superior ao Marítimo. Se, nesse jogo, o Sporting permitisse as mesmas veleidades que ontem permitiu, dificilmente teria conseguido registar o resultado então alcançado. E o mesmo se poderá desde já dizer, em jeito de antecipação, sobre a próxima viagem Nacional à Madeira...
O jogo não podia começar melhor. Pressionante, por via das linhas mais subidas - beneficiando da acção de um Mané endiabrado, jogando muito bem no espaço existente entre linhas, com incursões muito rectilíneas e bola controlada - o Sporting deixava o Marítimo em aflição a cada ataque. O penalty, que iria corresponder à inauguração do marcador, deve-se-lhe a uma dessas jogadas. Porém, um erro colectivo, permitindo uma transição rapidíssima em superioridade numérica, depressa anulou a vantagem conseguida. Tal resultou de uma perda de bola, da incompreensível saída à queima de Jefferson, quando se lhe pedia contenção, e da falta de acompanhamento de Mané ao homem que lhe competia seguir. O golo foi uma espécie de penalty corrido, muito difícil de contrariar para Patrício. Excepção feita a este lance a primeira parte decorreria sem grandes sobressaltos para nós e sempre mais difícil para os da casa.
O mesmo não ocorreria na segunda metade. Pedro Martins jogou as cartas que tinha e apostou no que melhor sabe fazer: para a frente e em força, futebol directo. Beneficiou e em muito com a permissão de Slimani aos centrais para iniciar o jogo, no que foi acompanhado pela generalidade da equipa. Chegava a ser confrangedor ver o sector recuado tão tosco como o do Maritimo ter o à vontade para se tornar preponderante. Foi a fase masoquista do nosso jogo, que teve pelo menos o mérito de demonstrar que sabemos sofrer e esperar pela melhor oportunidade. Para bem do nosso coração, esperemos que o façam poucas vezes. De preferência mais nenhuma.
Uma palavra para Jardim, que mais tarde ou mais cedo se transformará num post a ele dedicado em exclusivo. O seu mérito nesta campanha é indiscutível. Mas é indiscutível também que os pontos alcançados, em particular os dos últimos meses, têm sido conseguidos contra o que parece por vezes o mais óbvio, natural ou mais sensato. O jogo de ontem é um bom exemplo. Era tudo menos um jogo para Slimani. O argelino, a quem devemos muitos golos que significaram pontos, tem na cabeça a sua principal arma. No meio das torres/centrais do Marítimo, ainda por cima com má relação com a bola nos pés, pedia-se bola no chão, leia-se Montero. Além disso deu tudo o tempo do mundo a Martins para mexer como quis, enquanto a equipa ia abanando, apesar de não cair. Porém o que conta para a história é a vitória e os três pontos e é isso que contará para a validação das suas opções: o resultado.
Segue-se uma breve apreciação de cariz individual, apreciação que esbate o principal mérito desta equipa: a sua força colectiva.
Patricio - Foi mais o fumo que o fogo o que se passou na sua frente. Sempre que chamado a trabalho esteve bem. O golo sofrido é, como dito acima, um penalty corrido, marcado poucos metros atrás do ponto das penalidades ditas normais.
Cédric - Sem grandes falhas a defender, isto sem poder contar com grande ajuda de Heldon, esteve desastrado a centrar. Com um jogador como Slimani na frente este aspecto conta muito para a apreciação geral do seu trabalho.
Jefferson - Muito distante do nível que exibiu antes de se ter lesionado. Acumula falhas defensivas com pouco acerto nas participações ofensivas. Porém ontem acabou por se redimir da falha inicial, sendo decisivo para o resultado e tranquilidade finais.
Maurício - Jogo muito sofrido e nem sempre com grande acerto, especialmente no jogo aéreo e na vigilância a Derlei, aspecto onde vinha evidenciando algum à vontade.
Rojo - Segundo jogo de folha limpa, sem falhas que se lhe possam imputar e que ainda teve tempo para ir apagando uns fogos de ambos os lados.
William - Menos participativo do que habitual, mas mais decisivo do que anteriormente. O paradoxo explica-se pelo jogo adversário, e pela sua preferência pelo futebol directo, evitando quase sempre a sua zona de influência, onde esteve como sempre. Mas marcou um golo crucial, num momento em que o jogo estava tudo menos decidido.
Adrien - Talvez seja o jogador que mais sofre com a entrada de Mané. Pede-se-lhe ainda mais contenção, recuperação de bola, o que talvez seja pedir muito para se exigir aquilo que lhe parece faltar: ser mais influente nas decisões que toma com a bola nos pés, em particular na incorporação nas acções atacantes. E é isso que talvez o esteja a separar da convocatória de Paulo Bento.
Mané - Já disse quase tudo acima. É indiscutível que acrescenta imprevisibilidade ao nosso jogo, que Martins não consegue e de quem nem é sensato esperar. O reverso da medalha são os metros de disponibilidade para os adversários no nosso meio-campo, porque não ocupa os espaços necessários quando chamado a defender. Tem tudo para crescer e tornar-se ainda mais importante.
Heldon - Fraquinho, muito fraquinho. Não defende, não assiste, sendo cada vez mais notória a sua obsessão egoísta por marcar um golo, em prejuízo das necessidades e melhores possibilidades do colectivo. Se, como todos desejamos, a Champions League for uma realidade, mais notória será a sua falta de qualidade para uma equipa com as exigências e ambições do Sporting.
Capel - Perdeu fulgor e aparentemente também ânimo. É um jogador acima de tudo de ânimos, o ocaso a que foi sujeito não parece ter-lhe caído bem.
Slimani - Também já muito foi dito acima. Marcou mais um golo, mais uma vez mal anulado, mas já na presença de Montero e tirando partido da sua assistência. Saliente-se o esforço e entrega totais, mas não era um jogo para ele.
Carillo - Por força dos concertos de assobio a que frequentemente é sujeito, é compreensível que Jardim lhe destine o banco nos jogos em casa. Nos jogos fora já dificilmente o entendo. Não que a sua inconsistência não me irrite como uma úlcera duodenal aguda ma, mesmo quando tal acontece, sobra a esperança de um qualquer momento de magia. Ser suplente de Heldon é um crime lesa futebol.
Montero - Fez uma assistência que não contou. Ele próprio tem contado pouco, bem menos do que pode contar.
Vítor -Entrou mais tarde do que talvez fosse recomendado. Para contrariar o jogo directo do Marítimo era necessário roubar a bola e mantê-la no nosso poder. Ele e Montero teriam sido fundamentais para atalhar o sofrimento desnecessário.
Arbitragem - Um bom exemplo do que é a má vontade de um árbitro para com uma equipa. Critério(?) desastroso nos amarelos e mais um golo limpo anulado. Se marcou fora-de-jogo fez mal, porque o assistente não levantou a bandeirola. Como não foi falta não se percebe o que viu. E se em vez do quarto golo fosse o golo do desempate naquela altura? Num jogo sem outros casos senão aqueles que ele próprio criou.
Uma última nota para a vitória. Num campo difícil, onde nos últimos tempos, coleccionamos muitos desaires. O facto de os nossos rivais ali terem soçobrado diz bem da dificuldade da tarefa e da importância do resultado. Mas, ao contrário do que já vi por aí propagandeado, não serve de consolo para coisa nenhuma. Talvez o fosse para outros sportings, mas não para o Sporting Clube de Portugal. Ganhar ao Marítimo deve ser considerado tão normal como é anormal não estarmos nas competições europeias.