Tal como prometido em post anterior, aqui darei conta breve da impressão pessoal que as alterações de mercado produziram quer no Sporting quer nos outros dois grandes.
Sport Lisboa e Benfica
Perde um jogador crucial na estratégia do seu treinador, Matic, e um dos melhores do campeonato. Os primeiros indícios dão conta que a saída de um jogador tão importante não provocou a instabilidade que seria suposto observar. Aparentemente a antecipação da titularidade de Fejsa está a resultar ou pelo menos a não comprometer. É necessário observar o que se vai passar com os adversários mais exigentes, quer nos próximos embates connosco e com o FCP, quer nos compromissos europeus.
As saídas de Ola John e Mitrovic só contam para a contabilidade da SAD, uma vez que os jogadores não eram levados em conta por Jesus. No mesmo plano estão as vendas de André Gomes e Rodrigo, que fizeram do clube encarnado o clube que mais dinheiro arrecadou neste inverno. Aguarda-se pelo relatório e contas da SAD para se entender o que é liquido e o que é gasoso nestes milhões mas, até lá, não posso deixar de considerar um grande negócio.
Pretendo voltar a este tema (mercado, fundos, etc) debruçando-me em específico sobre o Sporting, mas o que aparentemente foi conseguido foi a tal chuva necessária no nabal ( as contas das SAD´s em geral e do SLB em particular merecem a comparação) e o sol no relvado.
Rodrigo é um dos melhores na sua posição, apesar de não impressionar muito. O que é facto é que raras vezes falha em frente à baliza e isso é um dom raro, ainda por cima num jogador tão jovem na posição. E 30 milhões, comparados com os 25 de Matic é um jackpot.
André Gomes é diferente. Trata-se de um negócio puramente especulativo, o jogador além de quase não jogar quando o faz não revela nada de extraordinário. Se o valor alcançado for o real tenho que tirar o meu chapéu a quem o fez.
O clube encarnado continua a ser, na minha óptica, o principal candidato ao título. Não só porque já vai na frente, mas tem o melhor plantel em qualidade e quantidade. A questão não é tanto se pode conquistar o campeonato, mas se não é suficientemente competente que o leve a perdê-lo.
Futebol Clube do Porto
As noticias da morte do dragão parecem-me manifestamente exageradas porque a distância pontual não é irremediável e vai ser reduzida pelo menos relativamente a um - podem ser os dois - dos adversários no próximo fim-de-semana. Mas se os pontos que os separam de cima não constituem razão para alarme, já a qualidade dos jogo e os casos que se avolumam o são. A tão propalada estabilidade e qualidade decisória parece ter ido atrás do anticiclone dos Açores, não parando de chover rumores e casos em seu redor e seio.
Fernando caiu do pedestal, deixando de ser uma referência para ser um proscrito. A renovação já confirmada por Pinto da Costa ainda não aconteceu. Seja qual for o resultado o FCP dificilmente sairá vencedor da contenda. Se for verdade, como se diz por aí, que está na disposição de igualar as propostas de City, Juve, etc, tal significará que a cabeça está ausente do processo de decisão. Se o jogador sair a custo zero a cúpula da SAD vê a aura de infalibilidade beliscada, registando uma perda muito importante quer nos cofres quer na competitividade.
Otamendi, um caso de falta de empatia ou compreensão entre jornalistas e adeptos, era provavelmente o melhor do seu sector. Sair por menos de metade da cláusula de rescisão inflaciona as dúvidas sobre o que realmente se passa na Torre das Antas. Bem vistas as coisas o jogador parece ter sido mais escorraçado do que vendido.
Pressão alta na tesouraria? Problemas de balneário? Com tanta turbulência no ar não será a entrada de Quaresma que constituirá o remédio milagroso para todos os males.
Como disse no inicio, esta não é uma análise exaustiva. Mas, também como foi dito no inicio do capitulo, é ainda cedo para passar a certidão de óbito. Sendo óbvio que os problemas de Paulo Fonseca com o modelo de jogo - mais até com a dinâmica - enfraquecem a moral da equipa e dos adeptos, é também evidente que um possível "regresso do além" constituiria o habitual tónico tão apreciado naquelas paragens.
As meias-finais com o SLB e o regresso das competições europeias tanto podem constituir uma reviravolta como o toque de finados. Na minha opinião, a haver queda, ela não será estrondosa, mas dentro do registo actual de permanente sobressalto e irregularidade.
Nós, o Sporting Clube de Portugal
Termos sido o clube que mais contratou no mercado de inverno é revelador de ambição. Ao contrário do que foi o discurso dos corpos sociais e em particular do presidente, sempre me pareceu que a intenção era de, pelo menos, ir à procura do terceiro lugar. A súbita e surpreendente descida pontual dos dois rivais melhor apetrechados torna o campeonato num sonho apetitoso e possível. Não creio que fosse pela busca do terceiro lugar que o Sporting se mexeu como mexeu no mercado.
Já aqui havia falado de Shikabala anteriormente pelo que vou tecer algumas considerações avulsas sobre a sua contratação. A sua qualidade parece ser consensual tal como infelizmente parece ser a sua disponibilidade para a por ao serviço das equipas. Quem o conhece bem - Manuel José - teceu-lhe os mais rasgados elogios há poucos dias no programa de televisão onde é comentador. E ajudou a desmistificar alguns rumores de que teria falhado na Grécia, para onde foi apenas com 18 anos e onde o treinador português o foi buscar. Shikabala terá tido sucesso e foi isso que despertou o interesse de Manuel José. A confusão com 2 contratos assinados, o castigo que se seguiu e o facto de o campeonato do Egipto estar parado há 2 anos impediram-no de alcançar melhor visibilidade.
Foi por isso surpreendente para muitos que Jardim tenha assumido que o egípcio só começará a entrar nas contas no espaço de 1 mês. E ainda assim numa perspectiva de grande optimismo, tendo em conta que o ritmo de competição não se compadece com grandes paragens. É, por isso, talvez uma contratação mais para o próximo ano e com direito a estágio no ano corrente.
Para o imediato estará mais apto Heldon, um cabo-verdiano que este ano desatou a marcar golos pelo Marítimo. Extremamente veloz, tem também um grande sentido de baliza, onde chega muitas vezes a partir do seu lugar em qualquer dos extremos do campo. Aos 25 anos tem a sua oportunidade e a sua contratação revela que Jardim procura algo mais que Capel, Carrillo e Wilson Eduardo não lhe estão a dar.
A incursão em África parece não ficar por aqui, uma vez que já se anuncia a vinda de Sami no próximo ano. Mais um extremo, o que pressupõe que haverá saídas a curto prazo no actual plantel. Esta preferência por África poderá levantar a breve trecho um novo problema: a exposição do plantel aos jogos das respectivas selecções na qualificação para o CAN 2015. Não só porque viajar naquele continente e de e para ele não é exactamente a mesma coisa que viajar noutros continentes, mas sobretudo pela possibilidade de o clube se ver privado no ano da competição de elementos que podem vir a assumir enorme preponderância no seu seio, tais como Slimani, Heldon e Shikabala. A ver com atenção.
Falta falar da melhor aquisição deste período: a estabilidade. Jardim vai poder continuar a contar com a totalidade do plantel, não a vendo amputada dos principais valores. Independentemente do que venha a acontecer no próximo dérby, o Sporting vai continuar a ser um dos protagonistas do campeonato. E se os outros 2 se distraírem nunca se sabe até onde poderemos chegar...