«Posso fazer no Sporting o que fiz no Benfica»
R: O Sporting tem condições, como o Benfica há 6 anos, para o fazer sonhar com troféus?
JJ – Creio que posso fazer as coisas bem no Sporting, como fiz no Benfica. Mas no Sporting será mais difícil, porque ao longo dos últimos anos este clube perdeu muito tempo para Benfica e FC Porto. Esse tempo tem de ser recuperado. Acredito que é possível encurtar o período de recuperação porque o Bruno de Carvalho tem uma paixão enorme. É um homem que acredita ser capaz de fazer e isso dá-me força para partilhar com ele esta ideia.
R: Consegue quantificar o atraso do Sporting em relação aos rivais?
JJ – O que é que o Sporting tem ganho ao longo destes últimos anos? E não é só o ganhar, é chegar lá, aos momentos de decisão. Podes não ganhar, como no Benfica não ganhei tudo. Mas perdi campeonatos a 10 segundos do fim, a uma jornada do fim. Isso é uma coisa. Outra é não contares para nada. A ideia que trago é a de recuperar o Sporting para os momentos de decisão.
R: Quando disse que a partir deste ano os candidatos eram 3 e não 2, isso foi propositado para romper com aquele que tinha sido o discurso de Jardim e Marco Silva?
JJ – Claro, foi para dizer: estou aqui para assumir o risco. Um treinador do Sporting não pode fugir à responsabilidade face à história do clube. O Sporting, ao longo dos anos, habituou os adeptos a ter uma palavra a dizer. O Sporting hoje é um grande clube pela força do seu passado, dos Cinco Violinos que ganharam 4 campeonatos seguidos até 1954, ano em que nasci. Não posso ser treinador do Sporting e dizer que se ficarmos em 3.º, em 4.º ou em 2.º está bom. Não está. Temos de pensar no 1.º lugar. Dizer que o Sporting vai ganhar? Isso não sei. Mas que vai disputá-lo até ao fim, isso vai. No Benfica, houve um ano em que fui campeão [2009/10] e fiquei 28 pontos à frente do Sporting. 28? Isso não existe... Não quero esse Sporting, quero o do passado, que orgulhe os adeptos, que os faça saber que pode não ser campeão, mas que vai disputar o título até ao fim. Isso vai.
«Acredito que em maio posso festejar o título»
R: Do que já viu neste arranque de campeonato, o Sporting está muito atrás de FC Porto e Benfica na luta pelo título?
JJ – Em termos de valor de jogadores, claro que a diferença não é muita. Agora, o FC Porto tem uma estrutura de 30 anos; o Benfica tem uma estrutura de 6 anos; o Sporting tem uma estrutura que só agora está a começar a ser preparada para estes desafios.... Portanto, estamos a organizar as coisas: primeiro, temos de ter uma equipa competitiva, que possa estar sempre a disputar os primeiros lugares; depois, juntamente com o presidente, temos de ter tempo para montarmos toda uma estratégia fora das quatro linhas para que possa existir uma estrutura organizativa da componente que é a equipa. As pessoas pensam que só é importante montar uma equipa para jogar dentro de campo... Mentira! Tens de arranjar outra equipa fora das quatro linhas.
R: Mas dentro desse cenário, imagina de forma convicta que em maio possa estar a festejar o título de campeão?
JJ – Acredito. Se não o fizesse, não tinha vindo para o Sporting. Acredito que o campeonato pode ter três candidatos. Aquilo que eu sei é que vamos andar sempre na disputa dos 3 primeiros lugares. O Sporting não pode chegar a janeiro (como no passado) e estar a 7/10 pontos dos primeiros lugares. O ano passado, quando joguei contra o Sporting, já estavam a 7 pontos. 7! Eu pensei: ‘Basta empatar e estes já foram.
R: Acha que o campeonato irá decidir-se nos jogos mais pequenos, ou no confronto entre os candidatos?
JJ – É igual. Nos jogos pequenos ou no confronto direto. Isto conta sempre 3 pontos.
R: Sim mas há jogos de ‘6’ pontos...
JJ – Certo. Esses jogos definem e isso aconteceu no ano passado.
R: Quando é que o Sporting entrará na velocidade de cruzeiro? Quando estará a um nível que considera aceitável para lutar pelo título?
JJ – Não é fácil dizer isso. Normalmente, as minhas equipas na 2.ª volta são mais fortes.
R: A ideia, então, é ‘sobreviver’ até ao Natal e atacar o título após esse período?
JJ – Exato, mas não só. Vou passar a ter o Ewerton e o William Carvalho nessa altura… Se agora já contam com o Sporting, se chegarmos ao Natal em cima dos nossos adversários então vão contar connosco até ao fim!
«Queremos final da Liga Europa»
R: O Sporting assume-se como um dos candidatos à Liga Europa?
JJ – Queremos chegar à final. Não tenho dúvida nenhuma disso. Na última final em que esteve uma equipa portuguesa, a audiência televisiva foi de 200 milhões de pessoas. Tu ires aos oitavos-de-final da Champions ou até aos ‘quartos’… esses jogos só são vistos em Portugal e no país do adversário. Financeiramente estar na Champions é importante, mas desportivamente é diferente.
R: Este ano a Liga Europa não está tão acessível…
JJ – Quando chegar aos quartos-de-final, já está ao nível da Champions. Vai ser mais difícil chegar à final do que quando o fiz no Benfica.
«CSKA? A culpa também foi nossa...»
R: Como é que explica que, com o CSKA, depois de uma 1.ª parte tão boa, a equipa tenha feito uma segunda metade tão fraca?
JJ – O falhanço no apuramento para a fase de grupos não pode ser apenas desculpado com os árbitros. A culpa também foi nossa... Defrontámos uma equipa que estava mais preparada do que o Sporting. Enquanto nós tínhamos 4 jogos, eles já tinham 9. O CSKA possuía uma intensidade de jogo muito alta e, na 2.ª parte, tivemos alguma dificuldade para os acompanhar. Estamos a trabalhar há 8 semanas. Não temos a mesma capacidade de conhecimento do que se estivesse há 8 meses. Não foi só o árbitro... Cometemos alguns erros posicionais, mas tenho a certeza que, com mais algum tempo de trabalho isso não aconteceria.
R: Quando começou a pensar no prolongamento, teve noção que ainda faltavam 20 minutos para terminar o jogo?
JJ – Nada disso. Eu começo a pensar no prolongamento aos 80’. Nessa altura estava 2-1!
R: Mas então porque é que não mexeu na equipa mais cedo?
JJ – Porque não havia necessidade! O Sporting sofre o 3-1 aos 85 minutos... Antes disso, estava a pensar: ‘Se meter um jogador já, de certeza que não vou ter tempo para lhe explicar a estratégia.’ Eu tinha duas substituições para fazer! Aguentei-as até ao fim do jogo, para montar uma estratégia para o prolongamento. Fui surpreendido.
R: Tinha o Aquilani em falência nessa altura...
JJ – Sim, o Aquilani, o Ruiz, o Adrien e até o João Mário. Sabia que só podia encaixar a minha ideia com tempo. Não podia explicar as coisas em 10 segundos.
R: Em Moscovo alterou o sistema pela primeira vez (de início), utilizando 3 médios no onze e não deixando nenhum no banco.
JJ – (Interrompendo) Também não tinha nenhum médio!
R: Tinha o André Martins...
JJ – Sim, mas o André [Martins] é mais um segundo avançado.
R: Mas se tivesse um suplente para refrescar o meio-campo, o desfecho tinha sido diferente?
JJ – Não tenho a certeza. Mas se tivesse um médio no banco, não esperaria tanto tempo para mexer. Aí a uns 20’ do fim tinha-o feito. Tive de jogar no limite. Não me interessava mudar o sistema. Quando sofremos o 2-1 só vi uma hipótese: deixar chegar o jogo até ao final dos 90’ e mudar a equipa. A minha ideia era transfigurar a equipa, recorrendo a uma estrutura com uma ideia ganhadora.
R: Montero e Slimani na frente e Mané a rasgar na esquerda...
JJ – Exatamente. Por isso é que não quis mexer logo na equipa. No prolongamento queria surpreender. Ou ganho ou perco. Não estava à espera das grandes penalidades. Mas no futebol... por muitos anos que andemos por cá, somos sempre surpreendidos.
«William pode ser um dos capitães»
R: Tirou a braçadeira de capitão ao Rui Patrício e entregou-a a Adrien. Como é que foi a reação do grupo?
JJ – Eu não tirei... Quando o Adrien não jogou, o Rui [Patrício] foi o capitão. Quando cheguei ao Sporting, o grupo de capitães estava estipulado. O Adrien, o Patrício, o Boeck e não me lembro quem era o outro. Não me regulo por essa situação. Eu é que defino quem são os capitães. Quando cheguei ao clube, achei que tinha de alterar.
R: Mas qual é, então, o grupo de capitães do Sporting?
JJ – Estão estes e, olhando para os que entraram e para os que já lá estavam, há outro elemento que também pode ser capitão e que, quando estiver a 100 por cento, irá assumir esse papel.
R: William Carvalho?
JJ – Pode ser uma hipótese. Tem a ver com aquilo que eu penso que deve ser um capitão de equipa. Não é só usar a braçadeira... Como não sou apologista do capitão ser um guarda-redes, porque não está muito envolvido nas decisões do jogo... É o Adrien e tenho de arranjar mais um elemento para ser mais um capitão ‘de campo’. Os guarda-redes vão continuar.
R: Então não quer revelar?
JJ – Não vou revelar porque o Ewerton também pode ser uma hipótese para assumir esse papel. Portanto, há um tempo para eu conhecer estes dois jogadores. Por agora, ainda não tenho na minha cabeça quem será.
«Presidente tem pedalada para mim»
R: Bruno de Carvalho tem uma relação de grande proximidade consigo. Como é lidar com ele?
JJ - Não faço nada no Sporting, dentro da minha área, que não seja em sintonia com o presidente. Falamos todos os dias. Ainda agora, antes de vir para esta entrevista, falei com ele. Tem uma grande paixão pelo clube e pelo futebol, tem pedalada para mim. Eu não tenho treino e ligo-lhe a pedir uma reunião para as 15 horas na SAD, por exemplo, mas pergunto-lhe se tem alguma coisa agendada. Ele responde logo: ‘O mais importante sou eu e você a tratar dos assuntos do Sporting. Se tiver reuniões agendo-as para mais tarde.’ Acompanha-me sempre, é um homem muito dinâmico. Ainda ontem (na 2.ª feira, último dia de mercado) estivemos os dois reunidos em Alvalade até à meia-noite.
R: Para segurar o Carrillo?
JJ – Ali [bate na mesa], hora a hora, para saber o que tínhamos de decidir. Se perdíamos o Carrillo ou não, e outros jogadores. Estamos sempre em sintonia, mais a equipa muito forte que ele tem. Creio que o grande segredo do crescimento que o Sporting tem conseguido nestes dois anos passa pela equipa que colocou a trabalhar com ele.
R: Pensava-se que o Sporting teria de vender alguém para ‘recuperar’ o dinheiro da Champions. Era fácil para Bruno de Carvalho tomar essa decisão de caráter financeiro, mas não o fez…
JJ – Era fácil e eu teria de perceber. No Benfica perdi jogadores no início e a meio do campeonato porque era preciso vender. Sempre percebi isso. No Sporting, ainda mais o irei entender, só que o presidente achou por bem não vender ainda.
R: Aceita bem a presença de BdC no banco de suplentes?
JJ – Ele estar no banco não me incomoda nada. Zero! Ele já percebeu a minha forma de trabalhar e eu também já o conheço. Sabemos quais as responsabilidades de cada um. Quando é matéria de presidente, ele é o chefe. Quando é matéria de treinador, sou eu quem decide e mais ninguém. Ele é muito parecido comigo… Palavra de honra, é muito parecido comigo. Vou dizer uma coisa, embora ao fim de dois meses não o possa fazer de forma tão taxativa: dos presidentes com quem trabalhei, ele… (pausa). Pelo menos nestes dois meses já vi que tem uma paixão louca pelo clube. Ele morre pelo Sporting, disso não tenho dúvidas.
R: Houve ou não atritos entre os dois, no final do jogo de Moscovo?
JJ – Nada, isso é contrainformação. Isso é a máquina do Benfica a trabalhar. Ao longo do ano eles vão mandar notícias para vários jornais a tentar arranjar confusão com o Sporting. Eu já lá estive, isso passava-se comigo lá.
R: E o Sporting está preparado para lidar com isso?
JJ – Nesta altura ainda não, mas tem de preparar-se.
«Gelson tem qualidade acima da média»
R: Ficou mais surpreendido ou mais desiludido com aquilo que encontrou no Sporting?
JJ – Quando cheguei notei uma diferença muito grande, mas é normal porque vinha de uma equipa com a qual trabalhava há 6 anos. Como costumava dizer, já jogávamos de olhos fechados porque sabíamos treinar de olhos fechados.
R: Diferenças a que nível? Estruturas? Infraestruturas? Equipa?
JJ – Infraestruturas não, porque as do Sporting são espetaculares. Agora, o que é a estrutura? É a forma como estruturas as pessoas em função das ideias do treinador. Achava que isso não existia no Sporting e, depois de lá entrar, tive a certeza. O Sporting tem lá pessoas que foram requisitadas para desempenhar uma ideia de estrutura porque possuíam grande qualidade. A matéria-prima estava lá, o conceito é que não. Ao longo destes anos o Sporting andou a perder tempo nessa matéria. Teve muitos treinadores mas… a diferença está aqui: eu não sou um treinador que teve uma oportunidade para treinar o Sporting e que antes nunca teve nada melhor. Ir para o Sporting não foi a minha grande oportunidade. Fui para o Sporting depois de conquistar noutro clube 10 títulos em 6 anos. E portanto, impus as minhas regras.
R: Chegar ao Sporting era o quê?
JJ – Era o clube que me queria muito e considerei que aquelas pessoas estavam a jogar tudo para me terem. Com grande paixão, com enorme desejo. Para mim foi bastante importante sentir que era desejado, que era o treinador que aquelas pessoas queriam, mesmo sabendo que no futuro podiam ter algumas dificuldades financeiras.
R: Na construção dessa estrutura, qual era, por exemplo, o papel reservado a Octávio Machado?
JJ – O Octávio é um elemento que já tinha tentado levar para o Benfica. Para além de ter sido jogador e treinador, é uma pessoa de princípios, abraça um projeto e não foge. Não está em cima do muro. Um problema dos dias de hoje é que muitas pessoas são politicamente corretas, estão em cima do muro, são indefinidas, têm medo de assumir responsabilidades, só olham para aquilo que lhes é favorável, e ele não é nada disso. Na minha estrutura tinha de ter pessoas fiéis às ideias que preconizo, como a minha equipa técnica e os jogadores. Depois, faltavam as outras pessoas. Nesse lote incluí o Octávio, o Vítor [Martinho] como team manager que já fazia parte da Academia e estava na equipa B, e outras pessoas com muita capacidade como o Vasco [Fernandes]. Conheci pessoas com muito valor. Um departamento clínico espetacular, vi que havia qualidade para montarmos essa estrutura, organizada por mim, com as pessoas que o Sporting tinha. E não foi preciso ir buscar muita gente fora.
R: Entrou o Manuel Fernandes…
JJ – Sim, está ligado ao scouting, onde faz a observação dos miúdos da formação e coordena toda uma prospeção que penso que o Sporting tem de desenvolver. O Sporting tem sido forte na formação, mas não na prospeção. Não vimos, ao longo destes últimos anos, o Sporting valorizar jogadores de prospeção e esse é o desafio, porque também foi isso que fez com que o Sporting nos últimos anos não ganhasse nada. O Sporting tem de juntar a qualidade na formação a uma boa prospeção. Um exemplo dentro daquilo que queremos fazer nesse campo: o Bruno Paulista. É um miúdo com 19 anos que tem de aliar a qualidade da formação com aquilo a que designo de jogadores de patamar VIP.
R: O Bruno Paulista tem qualidade para esse patamar VIP?
JJ – Tem. Não tenho dúvida que vai ser jogador de nível alto. Mas já? Não. Como o Gelson também vai ser um jogador desse nível.
R: Já conhecia o Gelson Martins?
JJ – Não. Surpreendeu-me totalmente. É um jogador com uma qualidade muito acima da média. Mas vai ser um jogador acima da média no imediato? Não. Irá sê-lo dentro de um a três anos.
R: No Sporting existe quase um culto pelos jovens da formação, o que ‘obriga’ um treinador a lançá-los se calhar cedo de mais…
JJ – Sim, mas quanto tens um Gelson podes fazer isso. Ele vai-te falhar algumas vezes, mas já está num patamar em que pode dar-te muitas coisas boas. Dos miúdos com quem trabalhei no Benfica e no Sporting, foi nele que mais talento senti. É jogador para patamares muito elevados.
R: Essa rede de scouting vai preocupar-se com o estrangeiro, ou centrar-se em Portugal?
JJ – O Manuel Fernandes está a trabalhar nisso com mais dois elementos, mas temos de melhorar. A estrutura é curta, é pequena. Esse departamento não pode estar resumido a dois scouters em Portugal. Tem de conhecer o mercado da Argentina, do Brasil, Uruguai, Chile, Colômbia, enfim, países onde ainda consegues ir buscar jogadores de nível, dentro do preço que podes pagar. Para isso tens de meter gente a trabalhar lá. Se não o fizeres és ultrapassado. Isto é o que penso que deve existir, agora não sei se vou ter tempo para fazer isto.
R: Um treinador não devia preocupar-se mais em treinar e deixar essa área para outras pessoas?
JJ – Por isso é que a partir daqui será o Manuel Fernandes a pessoa com autonomia para criar esta estrutura. Mas a orientação será minha.
«Se compras um Ferrari tens de ter dinheiro para a gasolina»
R: Já disse que o Naldo foi a opção depois do Douglas. Mas pode ser ele o patrão da defesa?
JJ – O Naldo tem coisas boas, como o Paulo Oliveira. São jogadores posicionalmente muito rápidos.
R: E ainda falta o Ewerton...
JJ – Sim. As nossas grandes aquisições no mercado vão ser o Ewerton e o William Carvalho.
R: William Carvalho é um jogador insubstituível no meio-campo?
JJ – Claro que sim. O William é um jogador que não deixa dúvidas a ninguém. É por isso que as melhores equipas da Europa o queriam.
R: O William vale 45 milhões?
JJ – O que ele vale é aquilo que quem o queira comprar esteja disposto a pagar. É um jogador que tem muito a aprender e muito para crescer. Não tenho dúvida alguma de que será um dos melhores médios-defensivos da Europa. Nem tenho dúvidas de que irá ficar pouco tempo no Sporting...
R: No futebol atual que Jesus tanto fala, o 6 não é agora o novo 10, um jogador que organiza o jogo?
JJ – Agora a organização do jogo parte desses dois jogadores. Antigamente só partia do 10. Parte pelo 6, que atua em zonas mais baixas, e parte pelo 10, em zonas mais subidas. Se só funcionar um, a equipa não resulta. Têm de funcionar os dois ao mesmo tempo.
R: Pegando nessa ideia, acha que Adrien desempenhou bem o papel de médio-defensivo?
JJ – Está a desempenhar muito bem. A primeira posição dele com o Paulo Bento foi a de médio-defensivo. Eu tentei que ele voltasse às origens. E a verdade é que o tem feito muito bem. Estou muito contente com o desempenho dele.
R: O que é que se passa com Montero? Não está a corresponder às expectativas? No jogo com o P. Ferreira, saiu ao intervalo...
JJ – É normal ele não corresponder. Vinha de um tempo sem competição e, nos jogos anteriores, não lhe tinha dado muito ritmo de competição. Naquele jogo achei que era o momento dele entrar, sabendo que o Fredy não ia corresponder ao valor que tem. Pensava que ele estivesse um pouco melhor. Mas vai ter mais oportunidades para mostrar a sua qualidade, porque percebi exatamente o porquê de não ter estado bem. Ele teve alguma culpa, mas o maior culpado fui eu. Um jogador quando não rende, a culpa nunca pode ser dele. O treinador é que o mete a jogar.
R: Teo tem muito futebol, mas ainda não compreende bem a equipa...
JJ – Sim, sim. A exigências táticas da posição dele no Sporting não são as mesmas do River Plate ou da seleção da Colômbia. Havia pouca responsabilidade tática sem bola. Jogam muito em função do que é a ideia deles. Comigo isso não acontece. Primeiro tem de perceber a ideia global da equipa.
R: Teo tem capacidade para chegar ao nível que Jesus imagina?
JJ – Não sei qual é o nível dele. Ainda estou a conhecê-lo. Até acho que o Teo é mais um primeiro avançado que um segundo avançado, mas como tenho o Slimani, terá de ser segundo avançado.
R: Slimani tem evoluído muito neste início de época...
JJ – Tem. Mas ainda vai evoluir mais. O Slimani tem muitas dificuldades em termos do que são as questões individuais técnicas. Estamos a trabalhar diariamente com ele – e com mais jogadores. Por isso é que os jogadores connosco... Não é muito simpático dizer isto: os jogadores comigo evoluem mais num ano do que em 10 anos com outros treinadores. Porquê? Pela forma como treinamos e pela forma como explicamos as coisas. Tudo isto fará com que o Slimani seja muito melhor em breve.
R: Slimani demonstra evolução naquilo que é o jogo de tabelas à entrada da área. Tem feito trabalho com ele nesse sentido?
JJ – Muitas horas de trabalho coletivo e individual para lhe fazer sentir o quão importante é essa ideia para a sua valorização individual. O Slimani era um jogador que só se sabia posicionar para finalizar. Nós fizemos-lhe sentir que no futebol atual isso é muito curto.
R: O Tanaka fica no plantel porque o Sporting não conseguiu contratar outro avançado?
JJ – O Tanaka é um bom número 9, um jogador de área. Tal como Slimani, tem crescido muito. Agora... tens Slimani, tens Tanaka, tens Teo, tens Montero... e depois se quiseres ainda tens Bryan Ruiz. Não é fácil, não é?
R: Também não é fácil no meio-campo, sector no qual há vários jogadores que lutam por um lugar no onze. Partindo do princípio que William terá lugar garantido no meio-campo, sobra uma vaga para três candidatos (Adrien, João Mário e Aquilani)...
JJ – A diferença está aí. Não se pode fazer uma ideia da equipa com base apenas nos 11 jogadores que jogam de início. Isso não existe na cabeça de um treinador. Eu não formo uma equipa a pensar nos 11 jogadores titulares. Depois nem tenho a certeza se, na prática, serão mesmo aqueles 11... Eu formo uma equipa a pensar nos 25 jogadores que tenho à disposição, como é que os posso distribuir no plantel em função da ideia de jogo. Mas posso dizer que um dos jogadores que falaram, posso pô-lo a jogar na esquerda, na direita, a 8, a 10 ou como segundo avançado.
R: João Mário...
JJ – Exatamente.
R: Continua a sentir a falta de um jogador que seja o seu prolongamento no campo, como era Luisão no Benfica?
JJ – Não era só o Luisão. Tinha o Maxi Pereira, o Gaitán... Foram muitos anos para conquistar isso. Estou há 8 semanas no Sporting. Daqui a 1 ou 2 anos, vou ter no Sporting jogadores a serem o meu prolongamento dentro do campo.
R: Carlos Mané tem sido uma aposta a espaços...
JJ – É um miúdo, como o Gelson Martins. Tem muito valor. Há jogos, como este contra a Académica [3-1], em que eu acho que será importante que o Carlos Mané entre de início. Mas há outros jogos em que eu acho que, tanto ele como o Gelson, são elementos fundamentais para serem lançados do banco e mexerem com o jogo.
R: Os jogadores conseguem perceber essa ideia?
JJ – Não! Eu tenho a ideia, mas eles muitas vezes não a entendem.
R: Eles acham sempre que devem ser titulares…
JJ – Sim. Por norma, sim.
R: O Bruno Paulista está para o Sporting como esteve o Matic no Benfica, a aprender 6 meses?
JJ – Nada disso! O Matic esteve 1 ano a aprender!
R: O Bruno Paulista não é para contar nesta temporada?
JJ – É um jogador para o futuro do Sporting. É um miúdo de 19 anos, que veio da 2.ª divisão do Brasil, do Bahia. Começou a despontar e foi chamado à seleção do Brasil. Estava a começar a dar nas vistas, mas nós já o conhecíamos e, ainda antes de ir à seleção, já estava contratado pelo Sporting. Caso contrário, tínhamos perdido o jogador.
R: Como tem sido a adaptação do Bryan Ruiz?
JJ – Quando cheguei ao Sporting achei que era um jogador interessante. Tem sido aquilo que eu esperava dele. Taticamente mais evoluído do que pensava. Tem de ter mais dinâmica de jogo para fazer aquilo que quero.
R: Não é pouco veloz para jogar como extremo?
JJ – O Nico Gaitán também não é rápido… Mas ele pode fazer aquilo que o Nico posicionalmente fazia comigo no Benfica.
R: Pelo facto de ter praticamente o plantel que pediu, sente maior responsabilidade em ter de lutar pelo título até ao fim?
JJ – Não… Isso não interessa para nada. Vou dar esta imagem [risos]. Se compras um Ferrari, tens de ter dinheiro para a gasolina! Se me contrataram, têm de ter dinheiro para a gasolina. Não é?
R: E tem gasolina no depósito?
JJ – Tenho o que preciso para chegar ao fim da corrida.
"Carrillo? Não é uma decisão fácil"
R: Se o Carrillo não renovar e Bruno de Carvalho entender que, assim, ele não deve jogar. Aceita a decisão e tira o jogador da equipa?
JJ – Isso é uma situação mais complicada e o presidente também o vai perceber. Temos de ter, os dois, os mesmos interesses. Não é uma decisão fácil nem para ele nem para mim, mas temos de defender os interesses do Sporting. Se essa questão se colocar, e para já não se colocou, na altura teremos de ver o que é melhor. Trata-se de uma decisão política e desportiva, entre mim e ele.
«Nunca apanhei um grupo que aprendesse tão bem»
R: Como foi começar o trabalho de pré-época com ‘meio’ plantel, dada a ausência de muitos jogadores que estiveram ao serviço de várias seleções, e ter de perceber, rapidamente, se aqueles que tinham sido cedidos reuniam condições para ficar no Sporting?
JJ – A pré-época até foi melhor do que pensava que podia ser. Aliás, nunca pensei ter a equipa do Sporting, nesta altura, a um nível tão bom. Estava com um certo receio em relação ao arranque da época competitiva, porque começava logo por disputar um título (a Supertaça), tinha o apuramento para a Liga dos Campeões e, pelo meio, o campeonato. O nosso grande objetivo sempre foi o campeonato, não a Champions, como é óbvio. Pensei: ‘Como é que vou gerir isto se chego ao Sporting como treinador novo e tenho logo estes desafios?’ Uma final, o apuramento para Champions e não perder pontos para os rivais nestas primeiras jornadas. Como é que ia trabalhar isto tudo em apenas 8 semanas, com muitos jogadores a chegarem mais tarde e outros bem mais tarde? Tenho de dar os parabéns aos jogadores, aliás já lhes agradeci por aquilo que conseguimos. Ao longo da minha carreira nunca apanhei um grupo que aprendesse tão bem e em poucas semanas aquilo que eu pretendia. Foi muito pelo trabalho fantástico dos jogadores do Sporting que conseguimos equilibrar todas estas situações. Só não conseguimos passar à fase de grupos da Champions. Mas ganhámos um título, a Supertaça.
R: Nesse período da pré-temporada chegou a pairar a ideia que jogadores como Labyad, Capel ou Viola podiam ter um papel importante no novo Sporting. Mas cedo se percebeu que não contavam. Com foi esse processo?
JJ – Quis recorrer a todos os ativos do Sporting, porque não queria tomar decisões sem eles trabalharem primeiro comigo. Havia alguma expectativa, principalmente em relação ao Labyad e ao Capel, mas depois de começar a trabalhar achei por bem tomar outras decisões. Tomei-as com base em factos, por terem trabalhado comigo. Como o Sporting tinha muitos jogadores emprestados, na primeira semana trabalhei apenas com o objetivo de os conhecer.
R: Nenhum lhe encheu as medidas?
JJ – Houve alguns que me encheram as medidas, como o Rúben Semedo, que trabalhou comigo até ao último dia e depois foi emprestado ao V. Setúbal. Conheci melhor um miúdo que não era muito falado em termos de formação, o Palhinha. Chamei-o depois de um treino que vi. Penso que ganhei conhecimento de muitos jogadores que me surpreenderam, como houve outros que pensava que iam entusiasmar-me e não corresponderam ao que esperava.
R: Falemos dos novos jogadores. Foram todos escolhidos por si?
JJ – O Bryan Ruiz não tem nada a ver comigo. Quando cheguei o Sporting já estava a negociá-lo. Depois dele, todos os jogadores foram escolhidos por mim.
R: Pode explicar o que se passou com Michael Ciani?
JJ – O Ciani foi uma decisão minha. Não era uma prioridade, nem era uma primeira ou segunda escolha, mas as minhas prioridades começaram a falhar. A primeira opção foi sempre o Douglas. Depois foi o Naldo. Mas chegou uma altura em que tinha de ir para a África do Sul e não podia levar apenas dois centrais. Tinha a ideia de contratar um central, mas a lesão do Ewerton fez-me pensar em ter mais um. Aliás, também pensava contratar apenas um médio e com a lesão do William decidi avançar para dois. Como é público, quem eu pretendia era o Danilo, que foi para o FC Porto. No plano inicial tinha a ideia de contratar 5 jogadores e com essas lesões vi que era curto e passei para 7. Mas tudo isto foi feito em sintonia com o presidente.
R: O presidente deu-lhe tudo o que pediu?
JJ – Dentro daquilo que financeiramente era possível, deu. Mas quando financeiramente não foi possível, como o Douglas, não deu.
R: Perder Douglas, Danilo e Wolfswinkel deixou-o preocupado naquele momento?
JJ – O Douglas e o Danilo sim. O Wolfswinkel não, porque não se tratava de uma prioridade. Era mais um negócio de oportunidade, se financeiramente fosse bom para o Sporting. Caso contrário não o queria, porque para a frente o Teo Gutiérrez teve sempre prioridade.
R: E o Mitroglou?
JJ – O Mitroglou nunca esteve muito dentro da minha ideia de ponta-de-lança para o Sporting. Nunca foi um jogador que me entusiasmasse. Por isso, nunca fiz nada para que o presidente o contratasse.
«Baliza das claques será a grande»
R: No ano passado, andou quase a 2.ª volta a jogar em casa, devido ao apoio que recebeu dos adeptos. O Sporting é um clube com menos apoiantes. Acha que em número suficiente para ter esse suporte?
JJ – No jogos com o Tondela e com a Académica senti-me em casa. O segredo do Sporting neste início de época foi o percebermos todos que há uma ideia de grupo. Faltou a nossa passagem à Champions, mas até hoje, enquanto treinador, não podia exigir mais.
R: No final da Liga consegue perceber o número de pontos conquistados graças aos adeptos?
JJ – Claro que sim! Os jogadores sentem isso. Se formos jogar fora e tivermos o estádio com 90 por cento de adeptos nossos, a equipa sente-se mais confiante. Essa é a diferença dos três grandes para os outros clubes. Por isso é que um Sp. Braga ou um V. Guimarães dificilmente podem ser campeões. Só são fortes quando jogam em casa.
R: O Sporting empatou 5 jogos em casa em 2014/15 e este ano já perdeu pontos. Os jogadores têm algum ‘problema’ em jogar em casa?
JJ – Ainda não há jogos para analisarmos o retorno desse fator.
R: Mas jogar em casa tem de ser sempre uma vantagem...
JJ – O Sporting tem uma massa adepta impressionante, as claques atrás da baliza são muito fortes. Quando estivermos a atacar para aquela baliza, temos de estar sempre a fazer golos.
R: Será a sua ‘baliza grande’...?
JJ – Será o meu 12.º jogador e a minha ‘baliza grande’!
«Havia qualidade no Sporting»
R: O Benfica está mais forte ou mais fraco do que na época passada?
JJ – O Benfica perdeu o Maxi e o Lima. Não falta mais ninguém...
R: O Salvio está de fora por lesão…
JJ – Certo. O Salvio também. No ano em que fui bicampeão perdi 7 titulares. Por ter perdido três jogadores está mais fraco? Nada disso. Entraram jogadores como o Jiménez e o Mitroglou, jogadores com passado e história na Europa. Quem é que entrou mais?
R: O Nélson Semedo e o Victor Andrade são novidades...
JJ – Não, não. Isso são miúdos que já estavam no Benfica...
R: O Taarabt e o Carcela também.
JJ – Dois jogadores com prestígio, que já jogaram em bons clubes. Internacionais. O FC Porto foi a equipa que meteu mais jogadores.
R: Também perdeu mais...
JJ – Perdeu metade da equipa titular, mas comprou bons jogadores. Uma coisa é perderes meia equipa e não entrarem jogadores. Eu perdi meia equipa e não entrou quase ninguém. Tive de recorrer ao Pizzi e ao Jardel. E depois chegou o Jonas, o Samaris e o Júlio César.
R: O Sporting introduziu 4 titulares novos no onze, o mesmo número que Jesus meteu ao chegar à Luz...
JJ – Saviola, Javi García, César Peixoto e Ramires. Certo. Foi isso mesmo.
R: São as alterações suficientes para melhorar a equipa?
JJ – Sim. Tem a ver com a minha ideia de trabalho, mas já havia qualidade no Sporting. Achei sempre isso. Depois de estar a trabalhar com os jogadores, confirmei-o. Mas uma coisa é teres qualidade, outra é teres uma cultura de exigência para o objetivo de teres de ser campeão. Os jogadores do Sporting nunca foram trabalhados nesse sentido.
R: No jogo da Supertaça, essa cultura de exigência de vitórias já se fez sentir no balneário?
JJ – Foi a primeira final que tiveram comigo. Ficaram a saber o que era chegar a finais com o Marco Silva, na Taça de Portugal e agora comigo na Supertaça. De resto, andavam há vários anos a jogar para nada. Tem sido o registo do Sporting.
R: Na hora das decisões, o hábito de disputar títulos faz muita diferença...
JJ – Foi isso que tentei passar aos jogadores do Sporting. Que eles estavam no caminho certo pois, em pouco mais de dois meses, estiveram em duas finais. Só os grandes jogadores e as grandes equipas vão a finais. É sinónimo de registo de grande qualidade.
«FC Porto? Por que não?»
R: Dos 5 classificados no último campeonato, só lhe falta treinar o FC Porto. Isso ainda pode ser possível?
JJ – Por que não? Neste momento estou de pedra e cal no Sporting, completamente envolvido no projeto desportivo. Mas já disse várias vezes que não sou treinador de uma equipa. Sou treinador da equipa na qual estou a trabalhar. Ano a ano, trabalho com a mesma paixão de sempre. Depois, a partir daqui, sou treinador de futebol e posso treinar qualquer equipa do Mundo. Onde eu achar que me querem.
«Os 1.º e 2.º lugares não estão certos»
R: As políticas desportivas de FC Porto e Benfica alteraram-se por ter ido para o Sporting?
JJ – Disso não tenho dúvidas. O orçamento do Benfica era para baixar 15 milhões; estavam para sair vários jogadores, não interessa dizer quais. A partir do momento em que fui para o Sporting, o Benfica alterou a política financeira. E o FC Porto também! Não era só o Benfica que me queria longe! Antes, os 1.º e 2.º lugares estavam mais ou menos garantidos para estes clubes. Agora já não estão.
R: A chegada de Casillas ou Aquilani podem abrir as portas da nossa Liga a mais jogadores de nível mundial?
JJ – A liga portuguesa está em 5.º no ranking europeu. Isto é um sinal de valor dos nossos dirigentes. Dos clubes e treinadores. Melhoraram a qualidade do nosso campeonato. Isso fez com que jogadores de alto nível começassem a perceber que Portugal tem equipas de top, nomeadamente o FC Porto, o Benfica e, espero que agora, o Sporting.
«Nunca será um fundo ou empresário a dizer o que tenho de fazer»
R: Ficou surpreendido com o investimento do FC Porto?
JJ – Não sei se foi investimento... direto. Os dirigentes devem perceber a importância das parcerias, sem terem que colidir com os interesses de quem manda no clube.
R: Mas não gostava de ter 20 milhões para gastar num jogador como Imbula?
JJ – Claro! Mas gosto daquilo que Bruno de Carvalho faz: quem quiser investir tem de perceber que quem decide é o presidente e quem faz a gestão técnica e tática da equipa sou eu. Nunca será um fundo, ou um empresário que vai dizer aquilo que eu tenho de fazer. Zero! Nem tem hipótese de abrir o bico, tão pouco!
«Totalmente a favor do vídeo-árbitro»
R: O Sporting tem atacado fortemente as arbitragens . Disse no final do jogo em Coimbra que não acreditava em perseguições. Esta questão da arbitragem prevê-se muito quente este ano?
JJ – A arbitragem vai ser quente para todas as equipas. É importante tentarmos arranjar uma forma para o futebol não estar tão vulnerável à decisão humana.
R: É então a favor da utilização do vídeo-árbitro?
JJ – Completamente.
R: Em termos práticos, como é que entende o funcionamento desta nova tecnologia?
JJ – Não terá de ser usado em todas as decisões do jogo. Agora, naquelas com mais polémica, como um golo bem ou mal anulado; um lance dentro da área; a marcação de um penálti; simulações... Aliás, sou favorável à utilização dos árbitros de baliza, isto apesar de eles, até este momento, ainda não terem provado a sua utilidade. É preciso encontrar meios audiovisuais para a arbitragem melhorar. A evolução é isto mesmo. Eu, enquanto treinador, também utilizo meios audiovisuais que me ajudam no trabalho. Mas atenção, isto nunca vai deixar de ser decidido pelo humano!
R: Será sempre uma questão de interpretação...
JJ – Exato. Mas, se calhar, há é mais possibilidades de reduzir a margem de erro. Mas haverá enganos na mesma! O árbitro pode ver de uma maneira e as outras pessoas verem de outra.
R: Acha que ainda será possível vermos a utilização do vídeo-árbitro com Jorge Jesus a treinar?
JJ – Já o temos na linha de baliza.A regra que eu punha como prioritária era a dos lances dentro da área. Mas a visualização das imagens tem de ser sempre pedida pela árbitro e nunca pelo treinador. Senão estávamos feitos! O árbitro tem de pensar: ‘Vou rever o lance para tomar uma decisão acertada.
R: Mas haverá sempre árbitros que preferirão não ter uma ‘2.ª opinião’ sobre os lances...
JJ – Quem não tiver capacidade para assumir a pressão e a responsabilidade não pode andar aqui. Jogador, árbitros e presidentes...!
R: O que disse ao 4.º árbitro no jogo com a Académica?
JJ – Posso revelar porque já está na comunicação social. Disse ‘isto é uma vergonha’!. Foi só isso. Mais nada. ‘Isto é uma vergonha.’ E quando ele começa ‘ó Bruno, ó Bruno’ [imita], percebi logo... ‘Já fui...!’. E pronto. Acho que o 4.º árbitro não esteve bem. Foi uma conversa entre mim e ele. Não o tratei mal. Só fez aquilo porque não tem muita experiência. Podia ter guardado aquela conversa. Não era preciso todo aquele ‘show-off’.
R: Já disse que não acreditava que os erros aconteciam de forma consciente, mas... não acha que é ‘azar’ a mais?
JJ – Na Liga acho que foi casual. O lance do Paços, os lances da Académica... foram decisões dos auxiliares. Aquilo que eu acho errado numa equipa de arbitragem é que o chefe decide pouco. Está a dar autonomia para que os auxiliares tomem as decisões. Isso é a mesma coisa que eu, enquanto treinador, achar que o meu adjunto me pode dizer quem joga. Deixo de ser o líder, a referência. Eu é que decido! Ponto final. Quando tenho dúvidas pergunto, mas nunca o contrário. A minha ideia é que prevalece. Com os árbitros, tem de ser igual. Os chefes de equipa vão muito atrás das decisões dos auxiliares. Tira-lhes categoria. Se calhar é mais fácil para fugir à responsabilidade.
R: Como é que o Jorge Jesus treinador pode tentar contornar este tipo de erros?
JJ – Não pode. Andamos a defender a profissionalização da arbitragem. Sou da opinião de que os árbitros devem ter tempo para trabalharem em equipa, definirem automatismos e aumentarem a sintonia. Mas não podem fugir às responsabilidades. Era a mesma coisa que um jogador me dissesse num jogo: ‘Míster, tire aqui o Manel e meta o Joaquim!" O que é isto? Nada. Zero.
R: Mas na Liga dos Campeões as coisas já não são assim...
JJ – O Sporting teve agora dois momentos quase consecutivos em que é prejudicado: primeiro no jogo do Schalke 04 – que é patrocinado pela Gazprom – e agora com os russos do CSKA.
R: Esta polémica do Sporting ser prejudicado na Europa não terá a ver, direta ou indiretamente, com os problemas mantidos com a Doyen e alguns empresários?
JJ – A política desportiva da Champions pode ter tido importância. Teve muito a ver com as decisões tomadas. O principal patrocinador da Liga dos Campeões é russo. Entre ter o Sporting ou o CSKA... Doyen? Esses não contam para o totobola! Quem patrocina a Champions é a Gazprom. Politicamente pode ter... Pode ter influência nas decisões.
R: Induzir a decisão para que o Sporting fique de fora e o CSKA vá à fase de grupos?
JJ – Nem sequer é induzir porque a ser assim, eventualmente, ao ires para os jogos já sabes o que tens de fazer...
«O regresso à Luz? Adeptos ficam sempre zangados»
Um dos momentos mais aguardados do ano é o regresso de Jorge Jesus ao Estádio da Luz. Já pensou nisso?
JJ – Tenho tido um ‘problema’ como treinador: quando saio das equipas, os adeptos ficam sempre zangados comigo. Saí do Belenenses para o Braga, e os adeptos do Belém questionaram a minha mudança; saí do Braga para o Benfica e os adeptos do Braga não me perdoaram; saí do Benfica para o Sporting e os adeptos do Benfica não me perdoaram. Tenho tido este karma em cima de mim.
R: Como é que acha que se vai sentir quando regressar ao Estádio da Luz?
JJ – Estou habituado a isso. Há um jogo de 90 minutos que quero ganhar. Mais nada. Há a atmosfera que envolve o jogo e há a tua capacidade de segurança, de saberes o que estás a fazer. Isso tem de ser separado. Sou treinador. No Belenenses, no Braga, no Benfica ou no Sporting. Sou treinador. Com intérpretes diferentes, mas tenho de ter a mesma lógica e a mesma confiança.
«Nunca vão conseguir pôr os adeptos do Benfica contra mim»
R: Ganhou um lugar na história do Benfica, como o treinador mais titulado. Pensa que isso ainda é, hoje, valorizado pelos adeptos?
JJ: Fui o treinador que recuperou o Benfica em menos tempo, que mais títulos ganhou e que mais alegrias deu aos adeptos. Mas estou muito agradecido ao Benfica, porque se não tivesse passado por lá não teria crescido como treinador da forma que cresci. Agora, nunca vão conseguir pôr os adeptos do Benfica contra mim. Podem conseguir influenciar numa coisa ou noutra, mas a maioria dos adeptos vai sempre lembrar-se de mim pelo que ali fiz em 6 anos.
«Se o Benfica me perdeu foi porque quis»
R: Não renovou pelo Benfica por não se sentir desejado ou houve qualquer outra razão?
JJ: Não me senti desejado. Quando trabalhas num clube durante 6 anos e estás à espera dos últimos dias para te convidarem a renovar, porque há uma política desportiva diferente… Eu aceito isso e não me custa nada entender que fosse para mudar a página, é normal. Tive de ir à minha vida, mas dentro da ideia de que seria eu a escolher o meu futuro e não aceitar que fossem outras pessoas a impor-mo. Ao longo da minha vida como treinador sempre pensei pela minha cabeça, nunca pela dos meus agentes nem pelas de quem me rodeia.
R: Pela forma como quase não festejou o título, no Marquês, já deixou entender que nem tudo estava bem...
JJ – Se calhar não festejei assim tanto porque já não era novidade para mim, era o terceiro ano, nada mais que isso. Naquele dia, se calhar as coisas não foram organizadas da melhor forma. Sentia-me feliz, claro, talvez não estivesse tão eufórico. Penso que a festa deveria ter sido mais espontânea, mais direcionada para os jogadores e feita em maior proximidade com os adeptos. Achei que estes estavam muito afastados. Pensei que aquela não era a melhor maneira de festejar o título, só isso. Compreendo que as coisas têm de ser organizadas, mas não sentimos, eu e os jogadores, que aquilo fosse festa de proximidade com os adeptos. Por isso estava um tanto frio.
R: Na passadeira, esperou pelo presidente por alguma razão?
JJ – Uma das coisas que considerei incorreta foi a chamada individual dos jogadores. Aquilo era uma festa de todos, não a apresentação da equipa. Devíamos entrar todos unidos e o presidente no meio de nós. Já que fomos chamados um a um, achei que, pelo menos, deveria entrar ao lado do presidente.
R: Com Vieira, a festejar o título, pensava que dali por uns dias teria o contrato renovado?
JJ – Não. À medida que o campeonato se aproximava do fim fui sentindo que a política do Benfica não passava por mim. Tenho muitos anos de futebol e na altura convivia há 6 anos com aquela instituição, logo, senti que não iria continuar. Não houve nesse processo nada de anormal. O Benfica tomou a sua decisão e eu tive de aceitá-la. A partir do momento em que percebi que não era uma peça preponderante para o futuro do Benfica, aceitei-o com normalidade. Da mesma forma que aceitei como normal o facto de o presidente me convidar para ir para o Benfica, porque acreditou em mim – e estou-lhe agradecido por isso -, também considerei que no momento em que ele quisesse romper com a ideia desportiva em vigor, teria todo o direito de o fazer.
R: Mas o presidente do Benfica disse numa entrevista a Record que foi o Jorge quem não quis continuar no Benfica…
JJ – Bom, isso já não é normal, porque depois da estrutura do Benfica tomar uma decisão, eu tenho o direito de escolher o clube onde quero trabalhar. Não posso escolher o clube que as pessoas ligadas ao Benfica gostavam.
R: Já falou com Luís Filipe Vieira depois de assinar pelo Sporting?
JJ – Não houve aproximação ao que era a nossa relação. Foram 6 anos a partilhar alegrias e tristezas. Depois surgiram questões no meio da minha ida para o Sporting que me afastaram do presidente do Benfica. Estou agradecido ao Benfica, mas penso que também ajudei a que o clube fizesse a recuperação que fez nestes 6 anos.
R: Essas questões são o processo que o Benfica lhe moveu e o salário que não lhe pagou? Não falou sobre isso com Luís Filipe Vieira?
JJ – Falei, falei. Nada disto tinha justificação para acontecer. Nunca percebi essa estratégia. Mas creio que não merecia ser envolvido nisto. Não fui eu quem tomou a decisão de não continuar no Benfica.
R: Entende o alcance daquilo a que chama estratégia?
JJ – Não entendo. Se é para tentar desestabilizar-me, os factos do início da época demonstram que isso não tirou rendimento ao Sporting. Na Liga vamos à frente do Benfica e no primeiro troféu disputado, a Supertaça, foi o Sporting que saiu vencedor, derrotando o campeão, o Benfica.
R: Isto não será a consequência de o Benfica ter perdido o Jesus para o Sporting?
JJ – Mas se eles me perderam foi porque o quiseram. Eles é que mudaram a política desportiva. Não tenho de os censurar. Acharam que era o caminho certo para o Benfica, tudo bem. E eu achei que o meu caminho seria outro. Não podia era ser o caminho que eles queriam. O presidente do Benfica tem toda a autonomia e legitimidade para decidir a política desportiva do clube, mas não pode querer controlar a minha vida. Para ele, o que era importante era eu não ficar em Portugal, mas eu sabia que não permanecendo no Benfica continuaria a trabalhar por cá.
R: O Benfica argumenta que antes da Liga terminar já teria sido sondado por alguém ligado ao Sporting...
JJ – Não, não. Isso não é verdade, mas mesmo que tivesse acontecido, o que é que o Benfica tinha a ver com isso? Vivemos num país democrático, onde o trabalhador tem o direito e a autonomia para decidir sobre o local onde pretende exercer a profissão. O 25 de Abril já aconteceu em 1974. Sou livre para tomar as minhas decisões. O presidente do Benfica conhece-me como ninguém, sabe que só penso pela minha cabeça. Mas ele achou que era capaz de controlar o meu futuro e enganou-se. Naquele momento nunca me passou pela cabeça ser treinador do Sporting. No entanto, existiram uma série de coisas que me levaram a pensar que seria capaz de ficar a trabalhar em Portugal, mas não no Sporting.
R: No FC Porto?
JJ – (Sem resposta)
R: A partir do momento em que aceitou encontrar-se com Bruno de Carvalho, ficar na Luz deixou de ser hipótese?
JJ – Claro. A partir do momento em que tive uma reunião com o presidente do Benfica e fiquei a saber que a política desportiva não passava pela minha continuidade, porque o clube queria fechar o ciclo, fui ver da minha vida. Ele achou e bem, repito, que era o momento de fechar o ciclo. Percebi isso perfeitamente. Mas também percebi que não iria permitir que fossem eles a condicionar o meu caminho.
R: Alguma vez pensou ser possível receber, no final da época, um convite do Sporting?
JJ – Nunca. Esperava mais rapidamente sair do Benfica para outro clube.
R: Para o FC Porto?
JJ – (Sem resposta).
R: Chegou a existir algum convite?
JJ – Não vou falar disso. É uma questão que não interessa partilhar. Mas a partir do momento em que surgiu a possibilidade Sporting, para a qual nem estava preparado porque não pensava ser possível, achei que devia aceitar, até porque devido a razões familiares o meu interesse era o de ficar em Portugal, perto do meu pai.
R: Tinha a viagem de férias marcada para uma 5.ª feira (4 de junho) e teve de adiá-la para sábado. Pensava que tudo seria tratado rapidamente, depois da reunião com Vieira (1 de junho)?
JJ – Sim, nem fui eu que marquei as férias, foi um amigo, o Vítor. Ele marcou-as e aconteceu o que aconteceu. Para mim foi tudo muito surpreendente. Não estava preparado para não ficar no Benfica, nem para receber, passados uns dias, um telefonema de um dirigente do Sporting a perguntar-me se Bruno de Carvalho podia falar comigo. Houve muita especulação em torno da minha passagem do Benfica para o Sporting. Disseram-se muitas mentiras. Nunca esteve nada preparado. Com o Sporting, aconteceu tudo entre 3.ª feira e a 5.ª feira.
R – O Benfica diz que teve conhecimento do interesse do Sporting antes da reunião com Vieira…
JJ – Tudo mentira! As pessoas inteligentes que andam no futebol também percebem as coisas: se estamos no final do campeonato, com o Benfica campeão antes da última jornada, e o Jesus ainda não renovou contrato, se calhar há aqui uma possibilidade de montar-se uma estratégia em relação à possibilidade de o contratar. Provavelmente foi isso que o Sporting pensou e fez. Acabou por surgir-me a hipótese de ficar em Portugal, tal como surgiram muitas outras possibilidades, através do meu agente, para ir para o estrangeiro. Quando percebi que a hipótese de continuar cá era real nem pensei duas vezes.
R: Nem as ofertas mais atrativas o fizeram pensar?
JJ – Nada. E olhem que abdiquei de muito dinheiro. Uma coisa é trabalhares em Portugal e pagares, como pago, 60 por cento de contribuições, outra coisa é a carga fiscal, muito menor, nos países para os quais recebi convites: Turquia, Itália e Rússia, não contando com Qatar e China porque para mim esses nem eram hipótese. Eram propostas, em média, para ganhar três vezes mais em termos líquidos devido à diferença do valor dos impostos. Tirando este meu último contrato no Benfica, nunca fui habituado a ganhar muito dinheiro ao longo da carreira. A minha satisfação, a minha paixão, está no treino, na obtenção dos objetivos desportivos. Foi sempre em função disso que geri a carreira. No Benfica fiz um bom contrato depois de ser campeão no primeiro ano. Mas para vir treinar o Benfica tive de pagar 400 mil euros ao Sp. Braga, ganhando 500 mil no primeiro contrato com o Benfica. Ganhei 100 mil euros em salários, mas tinha um bom prémio no caso de ser campeão. Foi aí que arrisquei.
R: É depois disso que faz o primeiro contrato milionário?
JJ – No final da época avisei o Benfica que havia um clube em Portugal disponível a pagar-me muito mais. Tive a honestidade de lhes explicar o que se estava a passar e o que é que aconteceu? Nos anos seguintes passei a ser acusado de ter feito chantagem. A partir daquela altura disse: ‘Na próxima vez em que algum clube estiver interessado em mim vocês não vão saber qual é, para não voltarem a acusar-me de ser chantagista.’ E assim fiz. Ao longo destes anos nunca contei ao Benfica quais os clubes que falaram comigo, que estiveram interessados em mim. Por acaso, não foi esse o caso com o Sporting, com quem falei apenas depois de perceber que não ficaria no Benfica.
R: Alguma vez se interrogou sobre a proveniência do dinheiro do Sporting para lhe pagar o salário? As pessoas interrogam-se porque recebe bem mais que os anteriores treinadores…
JJ – Onde e como a entidade patronal vai arranjar dinheiro para me pagar não me preocupa. Mas não me preocupa no Sporting, como não me preocupou no Belenenses, no Sp. Braga ou no Benfica. Isso pode causar estranheza em relação aos meus anteriores colegas, embora não faça ideia qual o salário deles. É uma política desportiva à qual não tenho de me opor. E se um presidente considerar que é mais importante ter um treinador como o Jorge Jesus e para isso contar com menos dois jogadores? Em termos de orçamento vai dar tudo ao mesmo. Antes de assinar, falei apenas duas vezes com o presidente Bruno de Carvalho. E quando fui para a primeira conversa pensei: ‘Estas pessoas devem querer-me mesmo muito porque sabem aquilo que ganho.’ O meu salário era do conhecimento público. Percebi logo que a vontade dele era tão grande que nem discuti números. Zero.
R: Aceitou logo a proposta?
JJ – Disse a Bruno de Carvalho: ‘Você sabe aquilo que eu ganho por isso faça-me a proposta. Se estiver de acordo com ela assino já.’ Ele fez-me a proposta e eu disse-lhe: ‘Aceito.’ Não lhe pedi rigorosamente nada, zero!
R: Será possível, nos próximos anos, algum treinador estar à frente de um clube grande durante 6 temporadas?
JJ – Não. Não acredito que qualquer outro treinador consiga estar 6 anos num grande clube português. Nem eu sei se conseguirei repetir isso no Sporting. Foram 6 anos fantásticos, com algumas tristezas, sim, mas sabíamos que o caminho certo era aquele, até chegar o momento em que acharam que o ciclo estava terminado.
«Já sabia que o Maxi não ficava no Benfica»
R: Surpreendeu-o o facto de o Maxi Pereira ir para o FC Porto?
JJ – Não. O Maxi estava como eu. Eu já sabia que o Maxi não ia ficar no Benfica, da mesma forma que eu não ia ficar no clube. Se falta um mês ou dois para terminar a época e se ninguém te diz para continuares, então é porque a política desportiva não passava por aí. O Maxi também percebeu isso.
«Rui Vitória fez o que eu queria na Supertaça»
R: A Supertaça era um jogo que o preocupava muito?
JJ – Sim, porque sabia que estava muita coisa em causa. Não era apenas um Benfica-Sporting. Era também um Benfica-Jesus mas, principalmente, estava um título em disputa e era importante ganhá-lo para que uns pudessem acreditar e outros deixassem de acreditar.
R: Foi nesse sentido que utilizou a conferência de imprensa para ‘mexer’ com a cabeça do treinador do Benfica, dizendo que a equipa fazia tudo como no seu tempo?
JJ – Um pouco. Não tenho nada contra o Rui Vitória. Nada. Zero. Poderia ser ele ou outro treinador qualquer. Agora, aquilo que vi no início da pré-época do Benfica eram as minhas ideias, como a estratégia na bola parada. Vejam como era a estratégia dele em Guimarães: marcação homem a homem. No Benfica, não. E aquilo manteve-se tudo igual ao que eu fazia. Foi inteligente da parte dele? Foi, sem dúvida. Se estivesse no lugar dele fazia o mesmo. Mas, claro, tentei que aquilo que disse mexesse um pouco com ele e com o Benfica. Tentei trabalhar isso durante a semana e acho que deu resultado.
R: Porque o Rui Vitória apresentou uma equipa diferente?
JJ – Sim, levou aquilo para o lado que eu queria, que era um Benfica mais da cabeça dele e menos da minha. Foi por aí que partiu a vantagem do Sporting, claramente.
R: O treinador do Benfica, curiosamente, não voltou a repetir aquele onze…
JJ – Isso não sei, porque a partir dali já não me interessei mais.
R: Qual a sensação de entrar em campo para defrontar a ex-equipa?
JJ – A sensação foi mais no final do jogo. Tive respeito pelos jogadores do Benfica e nem fui ao pódio receber a medalha. Ninguém reparou nisso. Nem quis ir ao pódio e só fiquei a ver os jogadores irem receber as medalhas por respeito. Aos do Benfica e aos do Sporting. No final daquilo tudo entregaram-me a medalha. Eu tinha uma grande responsabilidade durante os 90 minutos: defender os interesses do Sporting, acontecesse o que acontecesse, e se o Sporting vencesse, como se verificou, respeitar os jogadores do Benfica.
R: Mas as coisas iam ficando quentes no final, devido à palmada em Jonas…
JJ – Aconteceu esse episódio devido ao sentimento que tenho por todos os jogadores do Benfica e pelo Jonas. Quando ele passou disparado a correr, bati-lhe e perguntei: ‘Para onde é que tu vais?’ Mas com o movimento dele e do meu braço, aconteceu uma pancada tão forte que ele achou aquilo fora do normal. Depois apareceu ali um infiltrado, um treinador adjunto do Benfica, o Hugo Oliveira, que complicou a questão, acabando por ser ele o grande responsável de toda aquela confusão. Nem quero falar mais sobre isso porque eu e o Jonas íamos conversar, enfim… O Jonas sabe o tempo que passámos juntos, tudo o que conversámos, e sabe que sou amigo dele.
R: Sentiu-se mal por isso ter acontecido?
JJ – Não. Sabia que os jogadores do Benfica iam estar assim. Porquê? Porque os eduquei dessa forma. Eduquei-os no sentido em que tudo o que é adversário é inimigo desportivo.
R: Nessa semana, em vez de falar-se da conquista da Supertaça falou-se sobretudo de supostos SMS que teria trocado com jogadores do Benfica, do ordenado que não lhe foi pago e do processo que o Benfica lhe moveu…
JJ – É a contrainformação do Benfica a funcionar. Inventou-se um clima de conflito entre o treinador do Sporting e os adeptos do Benfica. Interessa neste momento dividir os adeptos em relação ao Jorge Jesus. Interessa é colocar os adeptos a partilhar essa crispação com o ex-treinador. Se me perguntam: gostava de ter saído do Benfica sem estes problemas? Claro. Por que é que o Benfica não me paga o último mês de vencimento?
R: Pensa que algum dia o irá receber?
JJ – Penso, não, tenho a certeza que o vou receber. E vou receber com juros! Pode é demorar tempo. E o Benfica tomou esta atitude porquê? Para dizer aos adeptos: o Jorge Jesus vai pôr o Benfica em tribunal.
R: E o Jorge Jesus fez a vontade ao Benfica?
JJ – Claro, já entrei com a ação em tribunal. Isto faz parte de uma estratégia do Benfica e montada por quem? João Gabriel e Paulo Gonçalves.
R: E os SMS?
JJ – É outra invenção. Já mandei mostrar os SMS se eles existirem. Mas ninguém os mostra. Porquê? Porque não existem! Há SMS do fim da época, da surpresa dos jogadores do Benfica por eu ter saído para o Sporting , deles para mim e de mim para eles numa de amizade, isso há. Mas esse contacto acabou. Hoje os jogadores do Benfica têm medo de falar comigo. Toda esta confusão… acho que não merecia. Foi uma decisão política. Mais cedo ou mais tarde tudo se vai saber. Ninguém consegue esconder a verdade. Podem escondê-la durante um mês, dois ou três. Mas não a escondem para sempre.