Muito se fala das futuras contratações do Sporting e não faltam nem diagnósticos das posições mais carenciadas nem propostas de craques. Deixo aqui as aquisições que considero imprescindíveis para o sucesso de Domingos e de todos nós. Um defesa, um médio e um atacante.
Ao enunciar como aquisições dou como claro que se tratam de valores que infelizmente nos têm faltado, alguns deles de há anos a esta parte. Mas, ao contrário de qualquer argentino, sueco ou brasileiro para os adquirir não precisamos de despender somas avultadas. Por outro lado, e infelizmente para nós, não estão à venda nem há dinheiro que os compre. Temos de ser nós, sportinguistas, como força colectiva, cada um executando o papel que lhe compete, que temos que saber erigir quase pedra por pedra cada uma destas aquisições.
Estabilidade
É a base do sucesso de qualquer projecto e, sendo uma aquisição imprescindível, tivemos já amostras bem recentes que continua a estar aqui o primeiro ponto de fragilidade do que queremos que seja o novo Sporting. No seu lugar está instalado há anos, em particular os últimos 2, o sobressalto e o estado de permanente alvoroço em que o clube vive.
A ausência de estabilidade tem sido essencialmente um problema de liderança, mas não só. Os maus resultados substituíram o ânimo optimista pelo derrotismo e isso sente-se também entre nós, seja nos blogues, seja nas conversas de rua e café, seja em Alvalade. É aqui que o problema é mais agudo, uma vez que o nervosismo escorre como uma substância viscosa até ao relvado, tolhendo os jogadores. Não será só pela incompetência técnico-táctica que obtivemos este ano dos piores resultados de sempre em Alvalade.
Quando me refiro à estabilidade não posso esquecer que nos últimos anos muito tem sido o corrupio de directores, treinadores e jogadores, obstando assim à criação de valor e saber. O Sporting parece por vezes um clube de “aprendizes de feiticeiros” em praticamente todas as áreas e isso sente-se e paga-se. Estabilidade emocional e de liderança seria uma aquisição indispensável, tão importante como ter uma defesa sólida.
Realismo
Tal como o meio-campo de uma equipa o realismo é o equilíbrio de um bom projecto. Face aos condicionalismos internos e os que nos rodeiam a próxima época devia ser encarada como uma época de transição. Vejamos porquê:
1- A conjuntura financeira, a que nos é exclusiva e a do resto do mundo, não nos é favorável. Nesse sentido mais do que uma revolução serão necessárias soluções de compromisso entre o possível e o desejável.
2- Da direcção à equipa técnica estamos a sair lentamente do ponto zero enquanto os nossos adversários mantêm os seus treinadores (pelo menos até ver…) e os corpos sociais. Aí o FCP parte para já à frente: tem dinheiro, tem identidade e uma auto-confiança reforçada.
3- Em nenhum momento o Sporting se pode esquecer que não controla nem tem poder nos meandros do futebol português e que isso é um sério handicap.
A primeira tarefa de Domingos será, do meu ponto de vista, devolver precisamente a identidade ao futebol do Sporting de forma a que os adeptos se revejam na equipa, coisa que não acontece há pelo menos 3 épocas. O titulo não é uma miragem mas não creio que faça sentido fazer um “all-in” na época que se avizinha. Se ganhar o titulo é de importância crucial, reconstruir as bases para criar o hábito de ganhar também o é.
Ambição
Não há vitórias sem ataque e é aqui que deve entrar a ambição, que é perfeitamente compaginável com o realismo. Sem ele a ambição não passa, na maioria das vezes, de delírios inconsequentes. Não deixa de ser verdade que, talvez por coincidência, o Sporting, das 3 últimas vezes que foi campeão foi-o com treinadores acabados de chegar. Por isso não há razões para não crer e não querer ganhar.
Olhando para os seus principais adversários o Sporting terá as suas chances e terá que estar preparado para se valer delas. A primeira poderia começar logo com a saída de Villas Boas do FCP, obrigando PdC a procurar novo treinador. Por outro lado há que considerar que, mesmo mantendo AVB, será muito difícil ao FCP voltar a realizar a época perfeita. Nessas condições falta ver como reagem os adeptos e até o treinador à adversidade. E confesso que gosto, neste arrumar dos cestos, da euforia com que se fala na CL pelos lados do Dragão. Foi assim que começou o ano passado a via-sacra de Jesus, que este ano não tem margem para errar. Esse ambiente em torno do nosso rival dos lados do Colombo é, sem sombra de dúvidas, um aliado precioso.
Mas, mais do que a preocupação excessiva com o valor dos outros, temos que nos valer do que temos. Domingos não fará milagres, muito menos sozinho, mas já provou que as diferenças dos orçamentos podem ser atenuadas com organização e ambição. Num campeonato sem túneis até podia ser já hoje campeão.
Podia falar também em esperança mas aí somos campeões há anos sem conta. E em Paciência acabamos de nos reforçar.