GODINHO LOPES – O Sporting tinha um conjunto de ambições com a contratação do treinador e com o investimento feito no reforço da equipa. As coisas comigo são claras. Todas as competições são importantes. Na análise que foi feita na altura, entendemos que o projeto previsto para o clube com Domingos Paciência não teria condições para continuar. Gosto do Domingos mas, na altura, entendi que era a melhor opção. E vão-me ouvir dizer isso do Domingos, do Sá Pinto e do Vercauteren. É bom para o Sporting mudar de treinadores? Não. É bom para a estabilidade dos jogadores? Não é. É bom para a imagem do clube? Também não. Se me perguntarem se eu me sinto mal por ter feito tantas mudanças de treinadores, admito que é verdade. Se me vai perguntar individualmente sobre algum deles, não vou responder.
GL – Isso não é verdade! Quando me candidatei em 2011 disse que seria o único candidato a não indicar o nome de um treinador. Não falei em Zico, como Pedro Baltazar, não falei em Van Basten, como Bruno de Carvalho, não falei em Rijkaard, como Dias Ferreira nem dei o nome que Abrantes Mendes apontou como possível treinador para o Sporting [Dunga]. Como agora não vou dizer em que posição está Van Basten no campeonato holandês, que Rijkaard ou Zico foram despedidos. Não vou entrar por ai.
GL – Considero que foi um erro ter contratado tantos treinadores. Isso não significa que eu não tomasse as mesmas decisões que tomei. Estamos a analisar do ponto de vista teórico e admito que seria mais fácil ter tido um único treinador durante estes dois anos. Mas devo recordar uma coisa: logo após as eleições recuperámos o 3.º lugar. Na época seguinte, chegámos às meias-finais da Liga Europa, ficámos em 4.º lugar (a 16 pontos da liderança) e alcançámos a final da Taça. Não foi bom mas não foi um desastre. Aliás, apesar da má prestação na primeira metade da época, ainda estamos a um número suficiente de pontos para alcançarmos o 3.º lugar.
GL – Tive duas ou três conversas com ele, nas quais fui mostrando a minha preocupação. Ele assistiu às vaias que me foram dirigidas no estádio. Disse-lhe que as coisas não estavam a correr bem. Devo dizer-lhe o seguinte: Vercauteren é um senhor, assim como Domingos e Sá Pinto. Franky Vercauteren é uma pessoa de quem gosto, também como treinador. Provavelmente, se tem começado a época, teria sucesso. Faria a pré-época e conheceria melhor os jogadores e o nosso futebol. Não tenho nenhuma mágoa em relação a qualquer treinador.
GL – Em relação a Domingos Paciência, suspendemos o pagamento. Ainda não fechámos o acordo com Franky Vercauteren, mas como é evidente vou resolver o assunto antes de sair. Assim, para além dele, estamos a pagar ao prof. Jesualdo Ferreira e fiz questão em pagar ao Ricardo Sá Pinto até final desta época para lhe dar tempo de encontrar uma saída para o futuro.
GL – Se estamos a falar de gestão, considero que a contratação de vários jogadores que têm condições para gerar mais-valias foi um correto ato de gestão. Se me disser como cimento da academia, então não tenho dúvidas que foi. Criou uma organização, desde a direção técnica à área estratégica, que revela estatuto e um conhecimento que o Sporting precisa.
GL – Sempre tive um diálogo muito frontal, direto e correto com Jesualdo Ferreira. Nunca mais me esquecerei dele, na medida em que aceitou este desafio num momento de enorme convulsão. Inclusive, nunca atirou a toalha ao chão, nunca atirou culpas para cima dos adeptos, tendo apenas chamado a atenção para a necessidade de a massa associativa ter uma atitude de apoio e não de crítica sistemática. Foi sempre um senhor e por isso sempre me senti à-vontade para lhe contar tudo o que se passava.
GL – Tenho procurado passar-lhe tranquilidade em relação ao futuro, até porque nunca o deixaremos cair e, na medida do possível, tentaremos sensibilizar as candidaturas no sentido de manterem uma estrutura técnica que preserve a estabilidade. Ele tem consciência de que esta instabilidade tem reflexos no grupo e tem sido uma peça-chave neste momento difícil.
GL – Não sei. É uma decisão dele. Jesualdo veio para servir o Sporting e demonstrou ser mais sportinguista do que muitos que se dizem que o são. O que Jesualdo não quis, como senhor que é, foi que o próximo presidente se sentisse manietado pela sua posição.
GL – Claro que sim. Acho que ele deveria reassumir a sua função de manager no final da temporada, de forma a que possa colar a formação ao nível do futebol profissional.
GL – Posso dizer-lhe que gosto do Jorge Jesus. É um excelente treinador que já demonstrou excelentes capacidades por todos os clubes por onde passou. Vibra com o jogo, sabe de futebol e sabe mexer nas equipas. Além disso, já assumiu que é sportinguista e sócio, a exemplo do seu pai. Nunca afrontou o Sporting nas suas declarações e, portanto, acho que tem todo o direito a ser um dia treinador do Sporting.
GL – Sim, é verdade que cheguei a ponderar essa possibilidade, obviamente para a próxima época. Depois do prof,Jesualdo ter sido contratado, seria uma decisão a tomar com ele. Acho que seria um excelente treinador para o Sporting no futuro.
R – Podia ter vendido Insúa no defeso por um valor superior àquele que foi pago pelo At. Madrid. Arrepende-se de não ter aceite?
GL – Quer falar de números?
R – Esse é o objetivo...
GL – Então vamos falar de números. A proposta que nos chegou no defeso era de 6 milhões. O passe do Insúa tinha “custado”, apenas, um acordo com o Liverpool relativo à sua futura venda. A verdade é que, meses depois, eu vendo o jogador por muito mais do que aquilo que poderia ter vendido no defeso. Mantendo a percentagem do Liverpool, consegui transferir o Insúa por um valor equivalente a 10,5 milhões de euros. Acha pior vender por 10,5 do que por 6?
R – Depende sempre do ponto de vista financeiro…
GL – O Sporting entendeu, em sintonia com Jesualdo, encontrar um jogador para aquela posição. Se necessário, tínhamos ainda mais alternativas [Rojo]. Descemos os custos com o plantel pois Joãozinho é um jogador menos “pesado” em termos salariais que Insúa. Para além disso, conseguimos um encaixe significativo face ao investimento que o Sporting fez na compra do passe de Insúa.
R – Recebeu alguma proposta concreta por Rui Patrício?
GL – Recebemos propostas por vários jogadores. Por isso é que eu sei qual o real valor do plantel. Com a chegada do professor Jesualdo, criámos uma lista de ativos que poderiam ser negociados e outros que são intransferíveis. Rui Patrício era, na nossa opinião, intocável. A cláusula de rescisão é de 40 milhões de euros...
R – Houve algum jogador que tivesse gostado de contratar e que não tenha conseguido?
GL – Sim. Em janeiro, quando fizemos a análise ao plantel, escolhemos os elementos dos quais não podíamos prescindir e os miúdos da B que poderiam ter um papel importante. Naturalmente, foi identificada a necessidade de contratarmos um ponta-de-lança. Quando dirigimos a nossa primeira procura, havia sempre duas hipóteses: ou o Ricky saia ou não. E não foi só o Dínamo Kiev a mostrar interesse. O Norwich, por exemplo, também apresentou uma proposta..
R – Mas então qual era o jogador que gostava de ter contratado?
GL – Identificámos, preferencialmente, jogadores europeus (ou que tivessem atuado na Europa) e que marcassem golos. Não faria sentido estarmos a escolher um avançado que não tivesse estas características. Identificámos 3 avançados, quer na liga holandesa quer na belga. Vão à lista dos melhores marcadores e vejam quem é que poderá ser…
R – Mas o Liedson tinha estas três características...
GL – Isso não é bem verdade. Em primeiro lugar, não vou dizer, como disse o Liedson quando voltou a Portugal, que afinal sempre tinha desejado vestir a camisola do FC Porto. Gosto do Liedson porque prestou um bom serviço ao clube mas também não vou invocar como razão o facto de ele ter metido em tribunal o Sporting para tentar sacar dinheiro ao clube através do seguro...
R – Está encerrado esse processo?
GL – Ainda corre em tribunal. Em resumo, estas podiam ser duas razões fortes para não contratar o Liedson. Mas não é por aí. Tem a ver com as três características que referi anteriormente. O Liedson não estava a marcar golos, não estava a jogar num campeonato europeu e mudou recentemente de clubes. Decidimos que havia melhores soluções. Niculae, por exemplo, pareceu-nos uma opção mais forte e nem é pelo facto de a massa associativa ter um carinho especial por ele. Foi pelo facto de ter marcado 19 golos na época passada e ter apontado, em 2012/13, 12 golos. Niculae tem casa e carro em Portugal e não tinha nada contra o Sporting.
R – Niculae e Paulo Henrique são dois fiascos para o Sporting, em termos negociais?
GL – O resultado perante a opinião pública será sempre esse: procuramos e não contratamos. Aquilo que interessa perceber é como é que as coisas evoluíram. Até dia 20 de janeiro, tínhamos o Ricky vendido ao Dínamo Kiev e o empréstimo assegurado do Milevskiy e do Ruben. O plantel estava fechado. Com o anúncio da AG, tivemos de recorrer a outras soluções. Paulo Henrique estava fechado mas coincidiram dois fatores: mudança de treinador e saída do diretor-desportivo do Trabzonspor, que se tinha comprometido connosco. Até falei com a Traffic [empresa detentora do passe de Henrique] mas de nada adiantou.
R – E quanto a Niculae?
GL – Niculae seria hoje jogador do Sporting se não saíssemos. Não iríamos avançar para a contratação de um jogador sem fazer uma consulta à FIFA (coisa que fizemos). Quando ele vem para Portugal, já sabíamos que a federação romena entendia que o jogo da Supertaça era referente à época anterior. A FIFA respondeu que, nesses termos, estariam de acordo em deixá-lo jogar. No entanto, o parágrafo final dizia: “Esta resposta não vincula a FIFA.” Se esta direção continuasse e não houvesse esta cena, o que é que faríamos? Havia três soluções: o jogador era contratado, inscrito, mas não jogaria enquanto não tivéssemos as certezas quanto à regularização da sua situação. Já tínhamos feito diligências para obtermos uma resposta perentória por parte da FIFA.
R – E se a FIFA não aceitasse?
GL – Segunda hipótese: se a FIFA hesitasse, não iríamos colocar o Niculae a jogar, pois não correríamos o risco de perder pontos. Como gostamos do jogador, iríamos emprestá-lo a um clube onde a época fosse de janeiro a dezembro, esse clube pagaria, na totalidade, o salário e ele voltaria em julho.
R – Mas isso não iria revolver o problema imediato do Sporting…
GL – É correto. Mas o problema Niculae estaria resolvido. Terceira hipótese: se as anteriores possibilidades caíssem por terra, iríamos devolver o jogador ao Vaslui. Com a convulsão atual, o presidente do clube romeno quis determinados pagamentos e nós optámos por abortar o negócio.
R – O que cria alguma confusão é o facto de o Sporting ter identificado o problema tão cedo e ter demorado tanto tempo para atacar os alvos…
GL – Isso não é verdade! Tínhamos o acordo feito a 20 de janeiro e estávamos satisfeitos com a solução. Iríamos receber um valor considerável pela transferência do Ricky e ainda ganhávamos duas boas alternativas. Estive reunido com Laros (empresário do jogador), Ralf (advogado do Dínamo Kiev) e com um elemento da Gestifute, chamado Cristiano. O negócio estava praticamente fechado e só não foi para a frente por causa das convulsões. Sendo pragmático, o valor que estava a pedir pelo Ricky era superior. Estava a fazer um braço-de-ferro para receber mais. A oferta começou em 8+5 [milhões de euros] e eu pedi 16+2. Estava a tratar do Sporting e não do meu bolso. As negociações já estavam em 10+3 e eu já tinha passado para 13+3. Posteriormente, não queríamos contratar um jogador qualquer…
R – Vossen (Genk) foi hipótese?
GL – Poderia ser… Mas o jogador contactado na Bélgica foi outro. Falamos com jogadores concretos e isto não é “conversa mole”!
R – E quanto a Kléber?
GL – Esse caso foi diferente. Chegamos a negociar o Kléber por empréstimo mas os responsáveis do BMG quiseram negociar o jogador a título definitivo. Posso até dizer que tivemos a compra consumada.
R – Qual foi o valor da compra?
GL – Chegámos a adquirir 10 por cento do passe por 600 mil euros. O negócio estava fechado, o jogador ia a caminho do aeroporto mas a conferência de imprensa de Daniel Sampaio aconteceu em simultâneo e, quase de imediato, o BMG alterou as regras do jogo. Deixaram de ter interesse em ser parceiros do Sporting, queriam vender 20 e não 10 por cento do passe e ainda pediram o meu aval pessoal.
As conversas de Godinho com Duque e Freitas
R – Porque perdeu a confiança em Luís Duque e Carlos Freitas?
GL – Quero deixar claro que nunca chamei Luís Duque e Carlos Freitas de incompetentes. Considero que tiveram sucesso no Sporting e espero que voltem a ter sucesso neste clube. Entendi, porém, que a organização do futebol profissional poderia ser diferente e, para que eu pudesse conhecer melhor a realidade do futebol, tinha de aproximar-me mais da equipa. Nesse sentido, não devia ter ninguém entre mim e quem toma as decisões técnicas.
R – Então, mas isso não é perder a confiança?
GL – Não. Luís Duque e Carlos Freitas são dois bons profissionais e que sabem o que é ganhar no Sporting. O que entendi é que o presidente de um clube de futebol deveria estar mais próximo dos acontecimentos. Logo, devia “queimar” alguns lugares que existiam entre o presidente e o treinador. Foi o que fiz.
R – Não poderia ter “queimado” apenas um lugar, mantendo, por exemplo, Carlos Freitas?
GL – Não, porque Carlos Freitas é uma pessoa solidária e, com a saída de Luís Duque, nem colocou a hipótese de ficar no Sporting.
R – Apesar disso, tem falado com Carlos Freitas…
GL – Tenho falado as vezes que são necessárias, tanto com Carlos Freitas como também com Luís Duque. Sempre o fizemos de forma cordial e correta. São pessoas de quem eu quero ser amigo quando sair do Sporting. Objetivamente, as conversas que tive com eles estiveram relacionadas com situações que importava esclarecer, nomeadamente de alguns acordos que supostamente eles teriam feito com certas pessoas e que o Sporting, como clube cumpridor, faria sempre questão de honrar.
«Matías foi o único que 'maltratei' numa conversa»
R – A venda de Matías Fernández pode ser considerada um erro desportivo?
GL – A venda do Matías Fernández à Fiorentina tem o seguinte enquadramento: em primeiro lugar, a vontade do próprio jogador. Posso dizer que Matías foi o único jogador que eu “maltratei” numa conversa. Não chamei nomes nem o insultei, mas é um jogador do qual eu gosto e fiz tudo para que ele ficasse. Inclusive dizer-lhe que não lhe pagaria os prémios. Até ao fim, fiz um braço-de-ferro e o jogador acabou até por ficar indisposto comigo. Segunda questão: com a sua insistência na saída, tínhamos de perceber quanto tempo é que faltava para terminar o contrato e a sua idade. O Sporting teria de renovar para ele ficar e quanto é que teríamos de pagar no futuro pelos salários de um jogador de grande qualidade mas com pouca regularidade. Se o Matías Fernández queria sair, imaginem quanto teria de pagar para o convencer a ficar...
«Nunca me viram fugir de nada»
R – O Sporting está à beira do abismo?
GL – O Sporting está a tempo de evitar seja o que for. O mandato não foi o desastre que as pessoas dizem. Pegar na questão dos treinadores e dos resultados do futebol e transformar isso num cenário trágico é profundamente errado. Estávamos dispostos a ir até ao final da época para deixarmos as contas em dia, garantindo ainda um passivo de valor inferior aquele que encontrámos. As coisas estão muito claras: quem tiver 25 milhões e seguir o caminho que traçámos, terá resultados operacionais positivos na próxima época; quem pretender mais do que isso, terá de investir 45 milhões.
R – Mas a dança de treinadores teve um impacto negativo na sua imagem…
GL – Aquilo que teve mais impacto foi a vontade de protagonismo de alguns sportinguistas. Andando pelo país, nunca vi ódio nem mal-estar.
R – Nunca sofreu qualquer ameaça, além daquele episódio no Algarve?
GL – Não, nada disso. Vim para o Sporting sabendo o que me esperava. Não vou falar de faixas, nem de garrafas ou ovos, que são fruto de algumas pessoas que não representam os 3 milhões de sportinguistas. Se me perguntar se gostei de ouvir 20 mil pessoas no estádio cantar o meu nome de forma negativa, é claro que não gostei. Mas não me viram recuar nem fugir, até porque eu, como adepto, também não gostei dos resultados. Continuei a trabalhar e a procurar transmitir que tudo o que foi feito em volta do Sporting é muito maior do que os resultados negativos do futebol.
«Circunstâncias não são favoráveis
aos resultados da equipa»
R – Ainda acredita que o Sporting pode chegar ao 3.º lugar?
GL – Sem a perturbação existente desde dezembro, acredito que seria perfeitamente possível alcançarmos um lugar no pódio. Apesar da turbulência, aproximámo-nos dos lugares europeus. Faltam disputar 39 pontos, o que significa que, matematicamente, é possível chegarmos ao 3.º lugar. Considero que para o professor Jesualdo, que chegou em dezembro para juntar o cacos e, a meio de janeiro, volta a estar tudo partido, não pode ser uma tarefa fácil. A equipa antes do último jogo estava consciente da importância de ganhar ao Rio Ave. Também considero que não é normal haver três autogolos nos últimos dois jogos. Considero errado estar a hipotecar esta época pelas razões eleitorais. Por isso falei em maio, porque permitiria terminar a época e resolver as questões diretivas de outra forma. Estas circunstâncias não são favoráveis aos resultados da equipa. Não estou à procura de uma desculpa para não ganhar os jogos daqui até ao final da época.
«Cada um deve meter-se no seu lugar»
R – Elias, por exemplo, referiu numa entrevista recente que o Sporting não teve paciência com Domingos…
GL – Como ele é nosso ativo, eu não posso dizer que o Sporting não teve paciência para o Elias… Entendem? Cada um deve meter-se no seu lugar e saber aquilo que tem de dizer.
«Não sou guiado pelo ruído exterior»
R – Foi um erro renovar o contrato de Sá Pinto depois de o Sporting perder a final da Taça de Portugal?
GL – Não sou guiado pelo ruído exterior. Fiquei tão triste com o resultado como ficou Sá Pinto, os jogadores e os adeptos. Porque tenho valores e sou desportista, não saí da tribuna sem que os jogadores da Académica recebessem o troféu. Imaginem o meu sofrimento ao ficar na tribuna e não ter a oportunidade de levantar a taça e felicitar os jogadores do Sporting.
R – E ainda assim não hesitou em renovar...
GL - Entendi que Sá Pinto, que nos levou às meias-finais da Liga Europa, não merecia ser despedido pelo facto de ter tido um inêxito na final da Taça. Por isso, e até contrariando aquilo que era expectável, reforcei-lhe os poderes. Devo dizer que, até por esta decisão, gostaria de sair só em maio, pois assim poderia ser julgado pelos resultados globais da época.
«Só Viola pediu para sair»
R – Confirma que houve jogadores que pediram para sair em janeiro?
GL – Não, houve apenas um que expressou vontade de regressar ao seu país para jogar mais vezes.
R – Foi o Viola?
GL – Sim, mas ao ser opção válida para Jesualdo Ferreira, ficou. Naturalmente, o próprio jogador ficou satisfeito com a decisão.
R – A maioria dos passes dos jogadores estão associados a fundos. É uma boa solução de negócio?
GL – Primeiro: tem de haver critério na forma como são feitas as negociações. O Sporting conseguiu parceiros de fundos na casa dos 40 milhões. Segundo: condições de pagamento. Temos jogadores pelos quais ainda não pagámos nada. Se forem jogadores bem comprados e vendidos antes do Sporting fazer o primeiro pagamento, significa que o clube, sem ter investido nada, utilizou o jogador e tirará partido do valor económico associado.
R – Mas o plantel tem desvalorizado bastante esta época, certo?
GL – O facto de os jogadores estarem na montra europeia valoriza sempre mais. O Sporting tem jogadores internacionais, portanto existe sempre a montra da seleção.
R – Quem não esquece neste momento de despedida?
GL – Agradeço à minha equipa, que se manteve unida até final e não se deixou aliciar por pedidos de demissão para provocar a quebra de quórum. Agradeço a todos os colaboradores que aguentaram firme em defesa da imagem do clube, apesar das dificuldades. Agradeço aos atletas e estou grato a Jesualdo pela forma como encarou este desafio, assim como aos Leões de Portugal e aos grupos Stromp e Cinquentenários. E não posso ficar indiferente ao carinho que recebi nos núcleos e à massa associativa em geral, à qual deixo a mensagem de que procurei fazer o meu melhor na defesa dos interesses do clube, dedicando-me a tempo inteiro e nunca me servindo do Sporting.