Com 5 pontos perdidos em 4 jornadas, jogando com clubes sem grandes pretensões, os Sportinguistas interrogam-se já sobre as razões que estão na base deste momento de insucesso, que, estranhamente, é visto no
site do clube como de êxito. Há quem ache que tudo se resolveria com
o tal pinheiro, há quem entenda já, até nos que decidiram dar o benefício da dúvida, que não restam dúvidas que o treinador podia e devia fazer melhor.
Desde o princípio que a “solução Paulo Sérgio” nunca me agradou, pelo que os resultados não me surpreendem, apenas me entristecem. A hipótese do pinheiro parece-me uma visão redutora dos problemas, a menos que estivéssemos a falar de um goleador nato. Nesse prisma, não se percebe então os que tanto o reclamam agora, também entenderam útil gastar-se no farelo o que devia ser para comprar farinha. Isto é, valeu a pena desbaratar tantos recursos para não resolver um problema essencial e
ficarmos mais ou menos na mesma?
Numa semana marcada pela discussão financeira, esquecemo-nos que os principais erros do Sporting têm acontecido na gestão desportiva, errando os diagnósticos e, consequentemente, as soluções. A cúpula dirigente decidiu encetar uma revolução sem ter dinheiro para a levar a cabo, ficando, mais uma vez a meio de coisa nenhuma. O Sporting acumula erros e prejuízos com a elegância e circunspecção de um elefante, em pleno lago do Campo Grande, a saltar de nenúfar em nenúfar.
Paulo Sérgio é tão réu como vítima e por isso talvez tenha mudado de discurso do início de época para o momento actual. De facto,
não é nenhum drama perder mais do que um ponto por jornada, se compararmos esse facto com a vida dos mineiros chilenos a 700m de profundidade ou com os moçambicanos que, nas ruas de Maputo reclamam por justiça social e uma côdea de pão. Do ponto de vista dos Sportinguistas, que vivem o clube com paixão e não enfrentam situações tão dramáticas ou equivalentes, não sei se não é mesmo um drama ver o primeiro classificado a tantos pontos de distância e a jogar bem.
Sempre achei que o Sporting precisa definitivamente de abandonar o período experimentalista que abraçou, com entrega da responsabilidade técnica a treinadores sem curriculum – Peseiro ou Paulo Bento – ou sem um percurso auspicioso como o actual técnico. (Por acaso até poderíamos ter sido felizes nos dois primeiros exemplos e até pode ser que o sejamos agora. Mas só mesmo por uma série de acasos.) O argumento do dinheiro para justificar a impossibilidade de contratar um outro tipo de treinador é falacioso, se atendermos ao que o Sporting deixou ficar na conta corrente do Vitória de Guimarães, cerca de 600 mil euros! E não creio que a preferência por portugueses, pelo menos por estes portugueses, em detrimento de estrangeiros, tenha a ver com o melhor conhecimento do futebol português. A história prova que esse não é um factor determinante.
Creio que os dirigentes do Sporting preferem ter Paulos Sérgios ou Bentos, deslumbrados pela oportunidade de ouro que lhes caiu do céu, a exigir no início de época um x número de jogadores. Para, quando ela começar e, sem as necessidades satisfeitas, declararem, complacentes, que foi o que se pôde arranjar. Isto, a alguém, nacional ou estrangeiro, capaz de levar as suas exigências às últimas consequências, inclusive bater com a porta. Ou obriga-los a reconhecer, perante os Sportinguistas, que não somos assim tão candidatos porque a parte que lhes cumpria ficou por fazer.
Dir-me-ão que Paulo Sérgio foi, como lhe competia, solidário com que lhe deu a mão. Mas a solidariedade devia ser recíproca e JEB e Costinha deveriam assumir publicamente que o treinador não teve o que queria, e, em consequência, fica desobrigado a grandes exigências. Da mesma forma que um cozinheiro não pode prometer fazer o melhor cozido à portuguesa, num concurso de restaurantes, se não há dinheiro para chispe e tronchudas.
Quando se tornou público que Paulo Sérgio seria o nosso treinador esta época,
apressei-me a vaticinar que seria na formação da equipa que Paulo Sérgio começaria a demonstrar ao que vinha. Ao aceitar tudo o se que lhe pôs à frente, o treinador fragilizou a sua posição. Alguém imagina Mourinho a aceitar, como Pelligrini aceitou, o que Valdano e Florentino lhe despejaram no balneário? Ou porque Jesus rapidamente remeteu Rui Costa ao seu gabinete? Ou quem é o director desportivo do FCP?
Se Paulo Sérgio estivesse atento, perceberia que foi por estas razões que o seu homónimo Bento acabou por perecer em Alvalade. O discurso auto-indulgente tem apenas servido para perpetuar o establishment e, na hora de assumir responsabilidades, estão lá os Bentos e os Carvalhais ou os adeptos menos resignados para carregar as culpas.