Braga: rescaldo de uma vitória sofrida e feliz
Excelente o resultado que alcançamos em Braga. Um resultado conseguido nos últimos momentos de um jogo muito difícil, quando a possibilidade de um novo empate já se começava a desenhar. Uma vitória feliz, conseguida com uma percentagem superior de trabalho e transpiração do que qualidade e inspiração. Oxalá conseguíssemos que todos os jogos que acabassem assim. Sabemos que não vai ser possível, pode até haver jogos em que joguemos melhor e não sejamos tão felizes.
Merecer a sorte
Há que saber merecer a sorte e, nesse sentido pode-se dizer que, sem jogar bem, ao não desistir até aos momentos finais, a equipa mereceu-a.
E que sorte foi essa?
Foi não apenas sorte mas também classe. Classe e intuição de Montero, no lance em que "expulsa" Santos e em que, a tal sorte, o outro central bracarense se lesiona. É importante do ponto de vista psicológico, pelo menos num primeiro momento, mas não, quanto a mim, o momento do jogo, apesar do seu carácter decisivo.
Momento do jogo
Bem
o sei, é pouco sensato eleger um momento do jogo. O resultado final é o
somatório de uma sucessão de momentos. Mas ainda assim arrisco em
eleger a bomba de Cédric, a sensivelmente 5 minutos do fim do jogo,
quando o empate parecia uma inevitabilidade.
E
porque é que, a cada segundo em que se caminhava para o final, parecia
cada vez mais difícil marcar um golo, apesar das inúmeras tentativas?
Porque, apesar do domínio e das inúmeras tentativas, estas acabavam
sempre, quase sempre, em jogadas mal definidas, com particular enfoque
para Carrillo.
Não saber o que fazer com ou sem bola
Repetiu-se o que já havíamos visto com o Rio Ave. A vantagem fez-nos mal. Talvez seja isto que Jardim refira como necessidade de crescer. Quando Montero, em mais um lance que define a sua classe como goleador, se antecipa ao seu policia Custódio, e ainda numa fase inicial do jogo, pensei com os meus botões que tínhamos uma elevada percentagem do jogo já ganha. Imaginava o Sporting confortável cá atrás, não necessariamente de linhas muito recuadas, a esperar o Braga e sair em rápidas transições à procura da baliza de Eduardo. Ao invés, o que assistimos foi uma deficiente ocupação dos espaços, cheia de hesitações nas coberturas, nas marcações e na contenção às movimentações do Braga.
Foi claro, pelas movimentações iniciais, que o Braga não acusou o golo, revelador de maturidade competitiva que tem em Alan e Custódio os melhores exemplos. Jesualdo pediu a Éder que se movimentasse no espaço entre os laterais e o central e ao ala para vir para dentro. E deve ter pedido para o fazerem especialmente sobre a nossa ala direita. Os nossos alas ajudavam pouco ou nada e os centrais hesitavam sobre o que fazer: esperar ou sair para cima. O nosso desconforto no jogo era evidente e ajudava pouco as consecutivas perdas de bola nas tentativas para sair para o ataque.
O golo sofrido é demasiado mau para ser verdade. Alan recebe a bola numa zona interior, Adrien e William, ligeiramente descaidos sobre a direita, oferecem-lhe uma avenida, Salomão não compensa e Rojo hesita entre ficar e sair, acabando por ficar demasiado distante para se opor ao remate. Mal Patricio, mas foi apenas o último a falhar. O facto de a primeira parte terminar com uma percentagem de posse de bola favorável ao Braga diz tudo sobre como o nosso jogo estava ser pouco conseguido, apesar dos bracarenses terem terminado com menos um jogador.
Opções de Jardim
Chamam particular atenção os regresso de Rojo, a sentar Dier, e sobretudo o regresso de Salomão, a sentar Wilson Eduardo. Esta, quanto a mim, mal sucedida. Salomão não tem ritmo e, em termos qualitativos, não é superior a Wilson. Passou grande parte do jogo fora dele e limitou-se a correr de forma paralela à linha, o que é normalmente inofensivo. Talvez pretendesse surpreender Jesualdo, quando Vítor parecia ser a opção. Porém, olhando para as opções do treinador, é notório que ele tem de fazer milagres face às limitações do plantel e, olhando para a nossa classificação e para os adversários com que já jogamos, pode-se dizer que os tem feito.
Análise individual breve
Patrício -Mal batido no lance do golo, lembrando o passado em que as saídas aos cruzamentos e as bolas de meia-distância eram a sua perdição.
Cédric - foi dos que mais sofreu com as opções de Jesualdo acima descritas, mas o miúdo tem raça e já demonstrou que pode quebrar mas não vai torcer. Grande carácter que teria grande responsabilidade 3 pontos alcançados.
Rojo e Maurício
Não são o "estado da arte" mas não têm comprometido.
Jefferson
Preocupou-me o primeiro jogo que lhe vi de verde e branco, pelas debilidades então reveladas a defender. Não será tanto por aí e a atacar é por vezes quase um extremo, com a particularidade de os centrar bolas redondas e tensas, como os avançados precisam e gostam.
William Carvalho
Mais um bom jogo para se perceber que não se justificam para já os anseios de uma rápida ascensão à titularidade da selecção ou as comparações com nomes consagrados. É muito bom a sair de zonas de pressão, revelando segurança e até a temeridade de um veterano, precisa de subir muitos degraus para exibir a solidez defensiva que precisa um 6. Tem de saber usar melhor o corpo, mais reactivo e menos contemplativo.
André Martins
Muito importante para a qualidade e quantidade da nossa posse parece sofrer agora com o melhor conhecimento dos adversários. Saiu quando me parecia estar a melhorar.
Adrien
É nitido que está uns furos abaixo do que já o vimos fazer este ano. Quando saiu exibia uma percentagem de passe na casa dos 66%, muito inferior portanto ao que precisamos e ao que é capaz, como também já demonstrou. Passam muito por aí as dificuldades do nosso jogo com o Braga e Rio Ave.
Carrilo
Esta é a terceira época que inicia connosco, o que leva muita gente a julgá-lo como um veterano, quando ainda tem apenas 22 anos acabados de completar. Erra muito, as suas "paragens cerebrais" irritam mais ainda, mas é o jogador que mais perigo cria, embora continue a finalizar e a decidir mal.
Salomão
Já disse quase tudo o que penso sobre ele e nas suas acções. Espero pouco dele, oxalá me surpreenda.
Montero
A anos luz de quase todos os outros. Não apenas pelos golos que marcou, mas pela forma inteligente como se movimenta e percebe o jogo, adequando as suas decisões aos momentos. Um achado!
Wilson Eduardo
Num bom momento e porque está pré-convocado para a selecção nacional não merecia o banco.
Slimani
Vê-lo jogar só aumenta a preocupação por qualquer impedimento de Montero, de quem parece ser a antítese. As bolas ficam quadradas e cheias de aresta ao sair dos pés. A rever.
Vitor
Parece que já cá estava há muito. Para contar com ele nos próximos tempos. Percebe o jogo, o que deve fazer em posse ou à procura da bola. Sabe quando é necessário jogar no pé ou no espaço, e que lugares ocupar. Uma mais-valia.