Convém esclarecer desde já que me tenho em boa consideração. Não me considero mal apessoado de corpo ou de espírito. Mas no que toca ao meu clube sinto-me um pacóvio. Tudo o que diz respeito ao meu clube interessa-me sobremaneira, emociono-me com as vitórias, quando vou a Alvalade entro de boca aberta e custa-me a vir embora, deprimem-me as derrotas, etc, etc. Por vezes é o próprio clube que me trata como pacóvio: na actual campanha de angariação de sócios demoraram cerca de meio ano a enviarem-me o cartão, apesar de ter sido dos poucos a aderir. Há uns anos atrás, muitos, nunca me chegaram a responder à proposta devidamente preenchida que enviei. Pode estar aqui uma das explicações porque o Sporting é um clube diferente: selecciona meticulosamente os seus associados e não gosta de pacóvios como eu.
Mas o tema é as entrevistas de FSF, o nosso presidente. Convém esclarecer que FSF não me encanta mas também não me provoca qualquer rejeição. Acho que é presidente do meu clube porque, ao contrário da inexistente mas barulhenta oposição, tem uma ideia para o clube. O problema é que os sócios ainda não perceberam muito bem qual é e ele também não ajuda. Seja por causa dos "zigs" ou dos "zags". Para mal do clube quem se lhe opõe a única mensagem que deixa passar é que é contra porque não, e não porque tem algo de diferente e concretizável para o clube. Nas aludidas entrevistas saúdo a assumpção de responsabilidades e espanta-me a falta de tacto que é fazer comparações com o slb.
O afastamento dos sportinguistas acaba por ser o tema mais saliente e que já é assunto de discussão há algum tempo. O reconhecimento por parte de FSF da existência de uma crise de militância é uma prova de lucidez, a contrabalançar com a sua incapacidade de ajuizar a qualidade do futebol praticado. É útil se for encarado como um ponto de partida para alterar os procedimentos que a ele conduziram. E alguns são conhecidos de todos. Por exemplo:
(i) Esta SAD afastou-se dos adeptos, prescindiu de comunicar com eles. MRT, Barbosa e até o presidente falam pouco e com pouco apelo emocional. Não duvido do seu sportinguismo, porque senão não estariam onde estão. Mas o discurso tecnocrático sobrepôs-se ao discurso da paixão pelo clube. Se não o sabem ou não o querem fazer entreguem a tarefa aos que nós identificamos como os elos mais fortes com as nossas emoções, como são as antigas glórias do clube. À míngua de vitórias no presente, unam-nos em torno de uma memória das vitórias passadas. Lembrem-se dos núcleos quando a equipa joga fora. E que dizer dos preços?
(ii) O enfoque dado à resolução do passivo é correcto, mas esqueceram-se que os adeptos não querem ser tratados pelo seu clube como o faz o Teixeira dos Santos ou o Belmiro de Azevedo: nós não somos nem contribuintes nem clientes, somos sportinguistas. Não foi pelos campeonatos que o Sporting ganhava que me tornei sportinguista, como não é condição que os ganhe agora para atrair mais gente aos estádios, mesmo concordando que ajudaria. É preciso é recuperar a identidade, perceber o que se perdeu e como.
(iii) Por outro lado este argumento de afastamento da SAD tem servido de álibi a muitos sportinguistas para irem mais vezes ao cinema, ou ao circo, como afinal preconiza Paulo Bento a quem quer ver espectáculos. Se compreendo com dificuldade que não se vá a Alvalade nem que seja para assobiar, não consigo perceber que se deixe de pagar as cotas por causa de não se gostar dos acima citados. São desculpas de mau pagador.
(iv) Há muito que não há um lote de jogadores com quem os sportinguistas se identifiquem. Alguém se lembra de algum jogador afirmar que gosta do clube e gostaria de fazer aqui a sua carreira? Estamos é habituados às facadinhas no matrimónio e daí ao divórcio é um ai.
(v) A “luta ideológica” que nasceu na campanha para as eleições que legitimaram esta direcção não esmoreceu e produziu os seus efeitos. Não é comum que sejam os protagonistas das facções vencedoras a fazer a paz com os vencidos. A não ser que a união se desse em torno de vitórias, mas estas não têm sido convincentes. O facto vermos os glaciares derreterem mais depressa que o passivo também não ajuda. Veremos como ficará no final do mandato.
2 notas finais:
1 – PauloBento não se pode queixar de falta de solidariedade. Fica evidente nas palavras de FSF que há PB a mais e pouca SAD, tendo em conta o que se tem ganho e a falta de qualidade do jogo. É mau para PB e sobretudo para o clube.
2- FSF diz que de nada vale desenterrar cadáveres, referindo-se, suponho eu, ao movimento que tem lutado por uma auditoria às contas do clube. Felizmente os responsáveis pelas gestões anteriores estão bem vivos, pelo que não se justifica o uso da palavra cadáver. A não ser que FSF se refira à pouca transparência senão das contas, que estão auditadas, pelo menos de alguns procedimentos cujo odor não precisa da confirmação dos famosos cães ingleses para indiciar a existência de algo em adiantado estado de decomposição. Como até pode não ser nada, não fica bem a FSF, por ser parte interessada, inviabilizar o procedimento pretendido por alguns sócios. Mesmo que eu pense que eles, além de bons sportinguistas que são com certeza, gostam menos do FSF que do PC…