É o mercado, estúpido!
Parece-me que passou despercebida a notícia da renegociação do contrato televisivo que liga o Sporting à Olivedesportos, ou pelo menos não lhe foi dada a devida importância que ele tem no contexto do financiamento da actividade mais representativa do nosso clube. Falamos afinal de vender o nosso produto mais valioso e que, ao contrário dos jogadores, não representa uma ameaça ao nosso valor competitivo.
(É já inútil perceber porque vendemos as imagens dos nossos jogos a um intermediário, que, dos lucros que retira, faz dos usurários parecer bons samaritanos. Enquanto a Olivedesportos vinga o futebol português mirra. Neste momento, a empresa dos manos Oliveiras despende cerca de 50 milhões de euros, quando se pensa que os resumos e publicidade estática valham o dobro ou o triplo. Beneficiam da negociação individual, ao contrário do que se faz nos países onde esta receita é melhor rentabilizada em favor dos clubes. Perceber tudo isto seria desvendar segredos que ajudariam a perceber porque o futebol nacional é hoje o que é.)
Voltando ao início, estranho o momento escolhido para a renegociação, que só pode ser ditado pela necessidade. É que se estamos a vender o nosso melhor produto, quando a sua qualidade tem deixado muito a desejar há vários anos para cá, ao ponto de ter deixado de interessar a muitos Sportinguistas, como esperar ser bem remunerado? Não é pois por acaso que o nosso contrato é terceiro no seu valor entre os 3 grandes, e a sua assinatura, por parte dos nossos representantes, significa a confissão pública da sua visão particular do valor do nosso clube ou da sua incapacidade de conseguir melhor na hora de negociar. Mais, à assinatura deste novo contrato deve corresponder a respectiva antecipação de receita, o que é eticamente questionável e de legalidade duvidosa, tendo em conta o mandato da actual direcção.
Não se pode estranhar também que o SLB se sirva das audiências para tirar proveitos. Fazem o que lhes compete, assim fizessem os nossos dirigentes. Se bem que, em termos estratégicos, é de vistas curtas pensar que o “orgulhosamente sós” pode ser proveitoso a médio / longo prazo. Todos teríamos a ganhar com um futebol mais saudável, quer financeira quer desportivamente e tudo a perder com clubes a falir em cascata ou sem capacidade competitiva. A menos que se pretenda ganhar sozinho, o que compreende vindo de onde vem. A matriz de um Sportinguista é bem diversa, quanto melhor estiveram os adversários mais agradável são as nossas vitórias. Digo isto porque os encarnados são hoje os maiores opositores a uma negociação conjunta dos direitos televisivos, aproveitando o vento que lhes sopra nas velas.
Nenhum de nós deve estranhar ser confrontado com estes factos que nos causam desgosto profundo. Não são mais que o resultado de anos consecutivos de actos de gestão ruinosa, que só não tem piores consequências pela grandeza do Sporting como instituição. A imagem que o Sporting reflecte para o exterior é de um clube em esforço para manter o seu estatuto e isso paga-se caro na hora de vender, mas na hora de comprar cobram-nos pela medida grande.
Não é por não gostar do Sporting que aqui várias vezes tenho colocado a debate as movimentações do clube no sentido de se reforçar para a época 2010/11. Bem antes pelo contrário. O Sporting é acima de tudo um projecto desportivo e é com equipas sólidas e vencedoras que esse projecto vingará e sem elas continuará a definhar. Mas construir uma equipa não pode significar hipotecar o futuro. Não é apenas por não se poderem rentabilizar numa futura venda que a aquisição de vários jogadores em fim de carreira é um erro. Quando hoje se sabe que a criação de um fundo de jogadores é uma das ferramentas de financiamento, que a venda de Di Maria rendeu aos investidores 5 milhões de euros, apetece-me perguntar que jogadores temos nós para atrair o mercado, para lá dos que saíram da formação. Pois, o mercado pode ser cruel mas não é estúpido, estúpido…