A Taça da Liga tinha um preço e estamos a pagá-lo
Há males que vêm por bem? Se este ditado fosse feito por Sportinguistas seria provavelmente ao contrário. Acabamos de conquistar a Taça da Liga para mergulharmos numa daquelas depressões cavadas de cortar os pulsos. Ou, se preferirem, de roer as unhas até ao... cotovelo. Tudo porque empatamos o jogo com o Setúbal, um dos candidatos à descida no campeonato ainda em curso.
Convenhamos que a exibição medonha é mesmo causadora de depressão. Entrada em tom de passeio, futebol aos repelões, toada que se manteve durante todo o jogo. Dos princípios de jogo que nos deram alguma esperança inicialmente com a chegada de Keizer não se vê uma réstia. Dizer que as equipas se ajustaram e refizeram da surpresa inicial é redutor.
Há várias razões para justificar este abandono, que vão desde o pouco tempo e excesso de lesões para consolidar o modelo e assim dar-lhe segurança. Mas, da mesma forma que houve dedo de Keizer há agora falta dele. E, apesar da fleuma que lhe é característica, nota-se no semblante aquele ar de astronauta perdido na imensidão do espaço, sem saber se deve descer, subir ou ir para a direita ou esquerda. E é esse o comportamento da equipa em campo nestes últimos jogos.
Façamos um ponto de ordem aqui: eu nunca tive grandes veleidades relativamente à época em curso até Keizer chegar. Depois disso não desminto ter chegado a sonhar. E com razão, pelo futebol apresentado. Agora estou naquele ponto em que ela(e) nos leva para o quarto e em vez de preliminares estamos a falar dos cortinados e tapetes...
Analogias à parte, o que mais me preocupa nesta equipa é a ausência de correcção dos erros. E quem não aprende com os erros arrisca-se a cometê-los de novo. E foi isso que aconteceu ontem. Não foi apenas a entrada "à turista" que nos condenou a ver a baía de Cádis ao Petrovic desde o estuário do Sado. Por jogadas semelhantes passamos os palpos de aranha em Guimarães e só a grande exibição de Renan impediu um enxovalho maior. E ela vem sendo executada indiscriminadamente por vários outros: bola na referência atacante, que, não tendo marcação próxima, como devia, explora a bel-prazer o muito espaço disponível para quebrar os rins aos defesas e criar perigo. Só não vimos isto com o FCP porque então Marega tinha-se divertido à grande.
Mas a gestão do plantel também merece senão reparos pelo menos muitos pontos de interrogação. Muito em particular o desaparecimento de Miguel Luís, que dava critério no passe e qualidade a defender, pela forma inteligente que lia o jogo e ocupava os espaços. Tal como já havia deixado a ausência de Phillype em Tondela. E o que dizer da presença aparentemente tão obrigatória como inútil de Diaby? Mas estamos a falar de um treinador que aterrou há dois meses em Portugal, pegou numa equipa moribunda e descrente. A dois pontos do primeiro lugar e em segundo na tabela? Sim, mas porque os nossos adversários perdiam pontos inesperadamente, algo que deixou de acontecer.
É verdade que ontem fomos completamente gamados de forma tão descarada como nos havíamos habituado a ver nos idos de 80 e 90 do século passado. Há coisas que não mudam ou tardam muito a mudar. Por isso mesmo, se queremos ser mais felizes no futuro, não basta sermos mais organizados do que temos sido, temos que incorporar os "Malheiros & Cia"como obstáculos permanentes a ultrapassar. E nunca, nunca dar nenhuma vitória como óbvia ou adquirida.
Estamos a pagar o preço da conquista da Taça da Liga. No cansaço acumulado, na falta de tempo para treinar. Mas também pelo que foi dito por Frederico Varandas, quer em relação à arbitragem quer aos rivais. A desfaçatez com que o Malheiro chega ao jogo em Setúbal e inclina o campo é o preço que temos que pagar pela afronta. Frederico Varandas tem agora que saber desatar o nó górdio a que ficou preso pelas suas declarações em Braga. Sem receios, porque o que disse então estava certo tal como desmascarar a forma habilidosa de errar sempre para o mesmo lado de Malheiro também o é. Calar é consentir e isso é muito pior.
Estamos a pagar o preço da conquista da Taça da Liga. No cansaço acumulado, na falta de tempo para treinar. Mas também pelo que foi dito por Frederico Varandas, quer em relação à arbitragem quer aos rivais. A desfaçatez com que o Malheiro chega ao jogo em Setúbal e inclina o campo é o preço que temos que pagar pela afronta. Frederico Varandas tem agora que saber desatar o nó górdio a que ficou preso pelas suas declarações em Braga. Sem receios, porque o que disse então estava certo tal como desmascarar a forma habilidosa de errar sempre para o mesmo lado de Malheiro também o é. Calar é consentir e isso é muito pior.