Quatro jogos passados desde o inicio do campeonato, o Sporting colecciona 3 empates e uma vitória. São quatro jogos suficientes para avaliar uma equipa e prever o seu futuro no campeonato?
Começando pelo fim, prever o futuro em geral é uma actividade reservada aos cartomantes, com os resultados que todos conhecemos. Mas, quatro jogos, três dos quais com equipas que se estimam vir a lutar pela permanência ou ficar na segunda metade da tabela, e um com um candidato ao titulo, são suficientes para perceber pelo menos algumas tendências.
A falta de eficácia como explicação
Até agora o Sporting marcou em todos os jogos, porém isso não lhe trouxe grande felicidade. A constatação da semana, face ao que foi o jogo com o Belenenses, é que o Sporting pecou por falta de eficácia. Todos apontam mais ou menos o mesmo problema, mas ninguém define exactamente o que isto significa. A que "medida de eficácia" estará obrigado o Sporting? 1 golo por quantas oportunidades por jogo? Qual é a métrica de um candidato ao titulo?
Como parece mais ou menos óbvio não há respostas taxativas para estas questões, o carácter aleatório do futebol assim o determina. Uma equipa pode ganhar um jogo apenas com uma oportunidade de golo e no jogo seguinte pode precisar de dez oportunidades para concretizar. O que faz a diferença entre as boas equipas e as restantes é que as primeiras ganham mais pontos, independentemente do número de oportunidades que precisam para concretizar.
Explicar a perda de pontos apenas por um dos lados da questão é não perceber o futebol no seu todo. A eficácia, seja lá o que isso for, é tão importante a atacar como a defender. As grandes equipas prevalecem sobre as demais nos diversos momentos do jogo e não apenas num deles, e a perda de pontos do Sporting explica-se por aí. Não por acaso, a única vitória até ao momento alcançada, foi o único jogo em que não sofremos golos.
Os problemas
Há quem ache que o problema é Marco Silva. Há quem ache que é a falta de sorte, de garra, a defesa, o Sarr, a dupla de centrais, o André Martins, ou até ainda deve haver que o problema é Carrilo. Sim, esse mesmo que, por acaso, está praticamente em tudo o que é golo nestas quatro jornadas.
Os maiores problemas vou buscá-los antes da época começar:
1- A boa campanha do ano passado teve como resultado a sobre-avaliação do plantel e até alguns dos seus elementos tidos como mais importantes. Apesar de termos ficado à frente do FCP, por exemplo, não tínhamos melhor plantel, "apenas" trabalhamos melhor.
A minha opinião sobre alguns deles:
-
William Carvalho não é tão bom como se especulava o ano passado nem tão
mau como alguns agora pretendem. Muito melhor do que Rosell, ainda
assim.
-
Slimani não é melhor nem pior hoje. O final do ano passado e o bom
mundial deram a ideia de que seria imprescindível como protagonista mas,
para uma equipa que precisa de um goleador para ser campeã, nesse
papel, é uma fonte de... enganos. Não digo hoje, influenciado pelo
último jogo, digo-o desde o final da época passada, continuando a pensar
que se perdeu uma boa oportunidade quando não se lhe fez a vontade de o
deixar sair. Slimani é o "último toque na bola", de preferência de cabeça. Não se pode pensar de
outra forma de alguém que tem tão má relação com a bola nos pés e não
percebe a importância de uma assistência para um colega, ou de uma
tabela.
-
Montero criou a imagem de estar fora de forma e de falta de confiança.
No entanto, quando faço um roll-back dos jogos feitos e das
oportunidades falhadas neste tempo que leva de "seca extrema", não me
recordo de ser tão perdulário como Slimani foi, por exemplo, frente a
Artur na Luz. Duvido que no lugar de Slimani, no jogo com o Belenenses,
nas oportunidades que teve nos pés, na primeira parte, não tivesse pelo
menos uma vez procurado servir um colega melhor posicionado (Carrillo no primeiro lance, Carrillo e Adrien no segundo). Já nem
sequer especulo sobre a possibilidade de rematar melhor na totalidade
das 3 oportunidades que teve nos pés.
-
Jefferson, pelo menos o mais certinho que conhecemos, ficou algures na época passada.
As abébias no seu corredor já vêm do ano passado e ameaçam tornar-se um
clássico. Passaria mais despercebido num sector globalmente mais capaz.
-
De Maurício já falei vezes sem conta, mantenho o essencial: a formar
dupla com Sarr é "andar mesmo a pedi-las". O francês a cada jogo vai
confirmando a primeira impressão: péssimo posicionamento, pouca aptidão e
compreensão do jogo, a que associa dificuldades de concentração
comprometedoras. Esteve em todos os lances de perigo da nossa baliza. No lance do golo do Belenenses o seu comportamento foi
mais de um excursionista a pensar onde por a toalha e lancheira do que
um defesa central. O golo acabou por ser um penalty de cabeça para Patrício.
- Até me custa dizer isto, uma vez que sempre aqui defendi a qualidade de Adrien
quando se diziam enormidades a seu respeito. Mas se ele tem sido
importante em matéria de recuperação de bolas, continua a faltar-lhe
definição nos últimos momentos. É isso que lhe está a faltar para ser um
"jogador de um grande" e indiscutível na selecção.
2- A falta de reforços, cuja excepção é Nani. Ter o melhor jogador ou um dos melhores jogadores do campeonato não resolve o problema porque o fosso para alguns deles é tão grande que anula, como em muitas jogadas se viu no último jogo, parte da sua inegável qualidade. O problema de o futebol ser um jogo colectivo. O que se pediu a Marco Silva foi que fizesse um bolo melhor do que conseguido por Jardim com praticamente com os mesmos ovos. A farinha e o fermento ainda estão a medrar na equipa B, no banco ou na bancada. O problema foi terem-lhe pedido o bolo para já...
As culpas de Marco Silva
O trabalho do treinador dificilmente escapa ao crivo dos adeptos, especialmente quando os resultados não são os desejados. Quando se ganham há sempre muita gente a aparecer na fotografia.
Sem prejuízo de constatar que há muito a melhorar em quase todos os aspectos do nosso jogo e que essa perspectiva está longe de estar esgotada, não deixo de alinhar pela opinião dos que acham que hoje se joga melhor do que no final da temporada passada. E quando se joga melhor não se pode perder a esperança de melhores resultados. Razões que justificam que não se coloque em causa o seu trabalho e muito menos a sua continuidade.
Se há uma culpa do treinador que me parece clara foi não ter uma intervenção mais directa na formação do plantel. Não me parece que haja algum jogador indicado por ele. Um maior trabalho de cooperação e entendimento entre ele e a SAD - afinal tem um contrato longo - poderia ser mais vantajoso para todas as partes.
Na apreciação ao jogo de sábado não deixo contudo de dizer que esperava outra(s) coisa(s) de Marco Silva:
Em particular no jogo de sábado, a presença de Montero no onze inicial era uma delas, pelas razões acima aludidas. Não percebi a saída tão precoce de Carrillo - poupar um jogador para um jogo que há-de vir não faz sentido quando o jogo presente não está ganho - ou a saída de Martins quando Adrien não fazia um passe de jeito. Capel para centrar para a molhada aos 60m, quando se percebia a desinspiração total de Slimani, também não me pareceu fazer tanto sentido. Tal como abdicar de Mauricio, deixando a Sarr a incumbência de comandar a defesa...Marco Silva pôs mais coração do que cabeça e organização o que, de certa forma, contrariou a impressão que tinha dele.
Na apreciação geral estranho, até pelo que se conhecia do seu trabalho
anterior no Estoril, que Marco Silva arrisque o que está a arriscar na
composição da defesa. As opções não são muitas, estão longe de serem incontestáveis, mas existem. O Lateral Esquerdo
dizia há dias que esta defesa era um desastre à espera de acontecer.
Oxalá ele não chegue, mas os pequenos despistes já nos estão a fazer
mossas que pode ser comprometedoras.
Conclusões
1- O Sporting, pela qualidade do seu plantel, só é candidato ao título se os outros dois falharem, o que é bem diferente de se assumir simplesmente como candidato ao titulo de forma pura e simples. Isto não é semântica, é constatar o óbvio. Por exemplo, com Jackson e um defesa central a sério esta perspectiva mudava de figura. Mas eles não estão e por isso um discurso realista face às circunstâncias tenderia a aliviar a equipa.
2- O facto de ter perdido pontos em jogos com equipas pequenas até me parece injusto, tendo em conta o que se passou nesses jogos, mas é bem a marca do futebol português. Não há nada de novo aqui, as equipas jogam com todas as armas ao seu alcance, nós desempenhamos os mesmo papel quando temos que enfrentar adversários com argumentos superiores aos nossos. Estar preparado para isto é estar preparado para ser campeão.
3- O meu maior temor nos jogos que se seguem estão na componente anímica. As alterações introduzidas por Marco Silva no jogo de sábado potenciaram um padrão de ansiedade sobre a organização e o método, pelo que as queixas do treinador no final do jogo até fazem pouco sentido. Uma sequência negativa potencia a descrença que, uma vez instalada, é difícil de contrariar.
4- O "melhor resultado", até por força do histórico recente, foi alcançado com a equipa mais forte que defrontamos até ao momento. O que revela que os jogos onde disporemos de maior espaço para jogar serão, em teoria, os que estaremos mais capazes de discutir resultados aparentemente improváveis. Um bom resultado frente a um adversário forte pode ser o catalisador que está a faltar na fórmula de Marco Silva.