Estás satisfeito com o tamanho do teu contrato?
"O tamanho importa?" é uma discussão muito frequente sobre as mais diversas matérias e cedo se percebeu que, no que ao valor dos contratos televisivos dos três grandes diz respeito, ela seria recorrente. Agora que é já conhecido também o valor (515 milhões de euros) e o operador (NOS) há razões para perguntar:
Numa leitura ainda que superficial parece-me que o Sporting trabalhou muito bem a comunicação do contrato, procurando que o bolo final fosse um valor significativo e que se equiparasse aos dos seus rivais. Será esse o valor a presidir à maior parte das discussões, há no entanto que perceber o que dá o Sporting em troca, e que é um negócio diferente dos seus congéneres em alguns aspectos:
- O Sporting vende por 446 milhões as transmissões e a publicidade do estádio por um período de 10 anos, os direitos da Sporting TV por 12, 5 anos e camisola para publicidade também por 12,5 anos e meio. Acrescenta ao negócio o valor de 69 milhões que são respeitantes à renegociação do contrato ainda em vigor, acrescidos da publicidade no estádio e até ao momento em que o novo contrato passa a vigorar (2018).
- Por 457, 5 milhões o FCPorto vendeu as transmissões dos seus jogos por 10 anos, o Porto Canal por 12,5 anos e terá patrocinador nas camisolas por 7,5 anos. Isto é, por um valor superior aos nossos 446 milhões, vendeu menos por menos tempo.
- O SLBenfica tem um contrato diferente, uma vez que a sua extensão não está ainda definida (pode durar até 10 anos) o que obviamente interferirá no valor a receber. Acresce que a alienação dos direitos no canal comportam também a transmissão da Liga Inglesa e Italiana, cujo valor, sobretudo da primeira, é considerável.
Uma dúvida que pode assaltar quem lê o comunicado do Sporting poderá ser o porquê da negociação com a PPTV, já detentora dos direitos de transmissão. Isto é, porque paga mais pelos direitos de
transmissão que já detinha até 2018? Porque certamente os 69 milhões
referem-se à publicidade no estádio que não estava contemplado no contrato anterior e que agora foram incluídos no mesmo pacote.
Numa leitura fina destes números, e não a feita de forma depreciativa e muitas vezes parcial do contrato do nosso novo patrocinador com o SLB, é muito provável que a conclusão se aproxime da ideia de que as operadoras se estão a aproveitar-se do estado de necessidade dos clubes, continuando estes, para resolver os problemas, a antecipar receitas, condicionando o futuro das gerações vindouras. Como se costuma dizer os casamentos mais duradouros são os que juntam os interesses dos nubentes e não tanto os que ocorrem por paixão.
Para sustentar o que é dito no parágrafo acima deixo à consideração o seguinte valor: pelos valores pagos no contrato anterior pela Olivedesportos (108 milhões/5 épocas dá o valor de 21,6 milhões/época) o Sporting conseguiria cerca de metade do valor do actual contrato e cedendo apenas o valor das transmissões televisivas: 259.200 €. Sobrariam 255,800 € que o Sporting cobraria por ceder as suas camisolas por 12,5 anos, a publicidade no estádio por 10 anos e ainda, embora menos significativo, o direitos da SportingTV. Talvez não seja assim tanto...
Quando a esmola é muito grande o pobre (neste caso os pobres, isto é, os
clubes e em particular os seus adeptos) deve desconfiar. Ou, se
preferirmos, deveriam interrogar-se se não lhe estão a oferecer um chouriço
para ficar com o porco. Nunca saberemos se não se poderia ter ido mais longe se a negociação tivesse sido centralizada, como acontece nas ligas de referência.
Respondendo à pergunta acima, devo dizer que estes valores superaram as minhas expectativas pessoais e seguramente
as de muita gente. É bom não esquecer a depreciação do valor da marca
por força do trajecto dos últimos anos. Visto do actual ponto de observação, sem conseguir antecipar as mudanças que entretanto poderão ocorrer, e face às circunstâncias, parece-me que os interesses do clube foram defendidos. Oxalá pudéssemos dizer sempre isto.