É "engraçado" constatar como a verdade incomoda e como ela pode ser apresentada ou entendida como se de uma novidade se tratasse. Ou até como "violenta" ou "incendiária". Se houvesse mais gente com a coragem de dizer o que Frederico Varandas diz com esta clareza - e, é verdade, com esta crueza - o trajecto e sobretudo o curriculum de Pinto Costa no desporto (e não apenas no futebol...) não teria sido objecto da exemplar operação da branqueamento e limpeza de quem tem sido alvo. As declarações do presidente do Sporting surgem como resposta às provocações reiteradas do presidente portista, claramente intencionais no seu propósito de explorar a divisão no seio dos adeptos sportinguistas.Quem é verdadeiramente o incendiário?
O discurso de Frederico Varandas na íntegra:
No Sporting, antes de fazermos a pergunta do que queremos ganhar, temos que nos perguntar o que queremos ser. Essa é a nossa prioridade e a nossa filosofia nestes 115 anos. A base do Sporting são os valores.
O caminho da vitória no Sporting é sempre um caminho difícil, duro, mas sempre assente na integridade, na rectidão, na honra e não procuramos atalhos assentes em condutas ilícitas. Os títulos serão sempre o resultado do trabalho e da aplicação desses valores.
E mesmo quando, no passado recente, o Sporting ameaçou desviar-se desses valores, o próprio Sporting resolveu a situação sem precisar de ninguém ou da justiça. Os Sócios do Sporting mobilizaram-se e fizeram-se ouvir. Mais do que o presidente ser o fulano A ou B, ele tem é de seguir o código de valores do ADN do Sporting. Os nossos valores são a nossa força motriz. E não é por acaso que cada vez há mais jovens a seguirem o Sporting. Mais jovens e mais famílias no Estádio José Alvalade. Mais do que tudo, as pessoas seguem valores. Mais valiosos do que os 23 títulos no futebol, do que os 42 títulos europeus, do que os milhares de títulos nas nossas modalidades, são os nossos valores, a nossa integridade e o nosso carácter.
Terminada a época de futebol há duas notas extremamente relevantes que quero destacar.
A primeira é como é motivador, hoje, os nossos Sócios e adeptos já só ficarem realmente realizados com título de campeão. Como é motivador constatar que os Sócios e adeptos já não ficam realmente realizados por termos ficado no segundo lugar, termos feito exactamente os mesmos 85 pontos que na época anterior, termos vencido duas taças e termos atingido os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Ninguém ficou 100% realizado, mas também é real o sentimento de orgulho de todos os Sportinguistas nos seus jogadores, no seu treinador e sobretudo no trajecto e crescimento do seu Clube.
Se é verdade que há um ano fomos campeões também é verdade que, apesar de hoje sermos vice-campeões, temos hoje um Clube mais bem preparado do que há um ano. Temos um Clube mais forte, mais estável, mais sustentável e batemos vários recordes de receitas, tais como do merchandising, da bilhética e de quotização. Temos também o maior número de Sócios com quotas em dia da história do Sporting – dados estes que demonstram a vitalidade da militância e envolvimento dos Sócios no seu Sporting. Concluindo, o Sporting continua a seguir o seu caminho, a crescer enquanto Clube de uma forma sustentável e sem hipotecar o seu futuro por qualquer vitória de curto prazo.
Há quatro anos era unânime que o Sporting estava a uma grande distância dos seus dois rivais e que não era tido sequer como um sério candidato. Hoje, é igualmente unânime que o Sporting passou a ser um natural, sério e óbvio candidato a qualquer título em Portugal. Em quatro anos recuperámos muitos anos de atraso para os nossos rivais do ponto de vista organizacional, financeiro e competitivo. E no curto/médio prazo cá estaremos para ver quais os clubes portugueses mais bem preparados para continuarem a ser competitivos.Todos os Sportinguistas estão de parabéns e os Sócios são parte fundamental desse sucesso.
A segunda nota que quero referir é que não me lembro de ver o nosso rival FC Porto vencer um campeonato e o Sporting e o seu presidente serem o alvo da sua comunicação e o centro da sua atenção. Não só não é motivo de preocupação como é reconfortante, motivador e encorajador. É a confirmação que estamos no rumo certo. É a confirmação que o Sporting já não é visto como o terceiro grande. Como o terceiro e o simpático grande. E como é maravilhoso ouvir o sr. Pinto da Costa com saudades e a elogiar o Sporting do passado recente.
Há gente que por muito que ganhe continuará sempre a ser muito pequena e, sobretudo, muito pobre. Não existe maior pobreza que a pobreza do carácter, da integridade e de valores. São e serão sempre gente muito pobre ao contrário da grandíssima e honrosa instituição que representam.
Instituição essa que jamais será chamada em Alvalade, pelo nosso speaker, por outro nome que não seja FC Porto.
Instituição essa que jamais terá os seus jogadores agredidos por elementos da organização do Sporting.
Instituição essa que jamais verá em Alvalade o seu presidente a ser-lhe roubado o telemóvel cobardemente.
Instituição essa que terá sempre os seus órgãos sociais e colaboradores recebidos em segurança e de uma forma institucionalmente correcta e digna.
Instituição essa que jamais verá em Alvalade jornalistas agredidos, ameaçados ou coagidos por colocarem questões no exercício da sua profissão.
Pois eles não sabem, nem nunca saberão, o que é de facto ser grande. E jamais o Sporting será pobre ou pequeno.
E, sobre o sr. Pinto da Costa, sou obrigado, a discordar veementemente com o sr. Secretário de Estado do Desporto que recentemente tomou posse. O sr. Pinto da Costa não é, nem nunca poderá ser, uma referência do desporto nacional. E eu vou explicar porquê convidando o sr. Secretário de Estado a ouvir apenas uma escuta, uma entre muitas que estão disponíveis para qualquer pessoa na internet, do processo 'Apito Dourado'. Destaco esta de 24/01/2004 (horas antes de um FC Porto vs. Estrela da Amadora), onde, de viva voz, o presidente do FC Porto, sr. Pinto da Costa, por intermédio do empresário de jogadores António Araújo, oferece os serviços sexuais de três prostitutas à equipa de arbitragem liderada pelo árbitro Jacinto Paixão, a quem Pinto da Costa, nessa escuta, chama carinhosamente por 'JP'. É verdade que estas escutas não foram autorizadas pela justiça portuguesa para uso de prova - esse é um problema para a justiça responder – e o sr. Pinto da Costa foi absolvido do processo. Mas se é verdade que essas escutas não puderam ser usadas como prova, também é verdade que essas escutas são reais e aconteceram mesmo
Aqui, sr. Secretário de Estado, neste caso, não é preciso a justiça portuguesa dizer o quer que seja para sabermos que o sr. Pinto da Costa é um corruptor activo e alguém que deveria estar banido do dirigismo desportivo há décadas. Difícil é explicar a qualquer cidadão como é que uma pessoa apanhada a dizer isto não é condenada. Ao sr. Pinto da Costa, por mais que lhe custe e por mais tentativas que faça para tentar apagar as suas acções, será sempre recordado como um corruptor ativo. E eu aqui estarei para lhe recordar até ao último dia da sua presidência que é um corruptor ativo e uma vergonha para o desporto português, ao mesmo tempo que aguardarei com expectativa o desfecho do processo 'Cartão Azul'.
Um país que reconhece o sr. Pinto da Costa como uma referência é um país sem valores. E um país sem valores é um país sem futuro. Portugal não pode, nem nunca poderá ser esse país.
Mas não é justo referir apenas o sr. Secretário de Estado. Nestas últimas semanas, tive a oportunidade de ler inúmeros comunicados e textos de personalidades da nossa praça a felicitarem os 40 anos da presidência do sr. Pinto da Costa e a enumerarem as qualidades, as conquistas e os feitos. Fiquei surpreendido porque que na lista dos feitos não vi nada sobre as vergonhosas escutas do 'Apito Dourado', não vi nada sobre o facto de este ter fugido para a Galiza horas antes da Polícia Judiciária ir buscá-lo a sua casa, de ter pagado a familiares seus milhões de euros da FC Porto SAD e dos inúmeros casos de coação e intimidação a jornalistas como a recente agressão, vista por todo o mundo, a um jornalista da TVI por um elemento da comitiva do presidente. Se é para referir os feitos dos 40 anos de presidência, então, por favor que o façam com rigor e coragem.
Por fim, e agora dirijo-me novamente ao sr. Secretário de Estado do Desporto, mas também ao sr. Ministro da Administração Interna. No dia 8 de Maio, o país assistiu a um bárbaro assassinato, em plena via pública e aos olhos de todas as pessoas que ali estavam. Ocorreu às portas do Estádio do Dragão aquando das celebrações do título. É seguramente dos episódios mais brutais de violência que há memória em Portugal. O que aconteceu foi muito, mas muito mais grave que o ataque de Alcochete, apesar de ter tido apenas um centésimo de cobertura mediática. Foi um episódio chocante que mereceu o seguinte comunicado do FC Porto:
"A morte de um adepto, durante as celebrações da conquista do título nacional de futebol, não pode deixar de ser lamentada independentemente das circunstâncias que venham a ser apuradas. À família da vítima, o FC Porto endereça sentidos pêsames."
E pergunto: só a mim é que este comunicado faz confusão?
"A morte"? - Não. Não foi apenas "a morte". Foi um bárbaro assassinato.
"Não pode deixar de ser lamentada" – Lamentada, claro que sim, mas o termo que devia estar bem vincado era 'condenada'.
Este é um comunicado pobre, cobarde e condicionado.
Apelo ao sr. Ministro da Administração Interna para ser implacável na luta contra este crime organizado que se acha impune à justiça e à lei portuguesa. Muitos dizem que isto é um problema da sociedade e não do futebol. Não é verdade, meus senhores. Claro que é da sociedade, mas a origem deste problema está intimamente ligado ao futebol e aos clubes que permitem o seu financiamento ilegal, alimentando este crime organizado. Estes episódios são tão chocantes como embaraçosos para o nosso país.
Podem contar com o Sporting Clube de Portugal nesta luta e em todas que venham a acontecer para que o desporto português seja mais limpo, transparente, saudável e digno.
Viva o Sporting Clube de Portugal!