segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

B SAD 1 - Sporting 2: é possível ser feliz no lamaçal nacional


Nota: todas as fotografias são da autoria da @Idzabela. É expressamente proibida a modificação e/ou reprodução destas fotografias sem autorização expressa da autora. (clique nas imagens para ampliar)

Com clarividência e humildade Rúben Amorim sintetizou na perfeição onde começaram as dificuldades do Sporting: na preparação e definição da estratégia para o jogo. Mérito total de Petit, que estudou bem a nossa equipa e, com outros argumentos individuais, teria provavelmente saído com um ou mesmo três pontos da gamela onde se disputou o jogo.


A estratégia do treinador adversário expôs muitas das nossas debilidades: dificuldade em defender a toda a largura por inferioridade numérica, beneficiando do condicionamento de Palhinha e da pouca agressividade e reacção na hora de defender de João Mário. Castigou o nosso lado esquerdo defensivo, onde Nuno Mendes foi muitas vezes batido, expondo a verdura de Gonçalo Inácio. Do outro lado Neto ia escondendo as dificuldades com muita entrega mas muito desacerto. Coates tentava apagar os fogos como podia e sabia. 

Um dos mérito de Petit foi criar a incerteza na forma como atacava: ora através de lançamentos longos, explorando as costas de  uma defesa onde a falta de rins e velocidade são uma evidência, ora através de combinações que deixavam os médios azuis nas costas de Palhinha e João Mário. Tal ia criando instabilidade e alarme na nossa defensiva. 

Dessa forma o B SAD rapidamente anulou a vantagem madrugadora obtida num lance de manual de TT, autor de uma primeira parte excepcional na entrega ao jogo e no acerto na execução. Foi ainda um TT eficaz  - e revelando uma sagacidade rara para um miúdo que ainda é júnior - que se responsabilizou pelo fecho do marcador sem ter decorrido a meia hora de jogo, construindo uma grande penalidade.

Antes e depois do golo vitorioso foi a altura de explicar em desenhos em forma de defesas a importância de um bom e experiente guarda-redes. Depois da falha que contribuiu para o malfadado empate de Famalicão, Adán devia ter tomado nota na sua agenda a necessidade de mostrar as razões da sua aquisição, em detrimento da continuação da aposta em Max. Foi assim que se tornou, a par de TT, no homem do jogo. Foi para isto que veio, pois claro. Que assim prossiga, amén.

A segunda parte não permitiu tantas veleidades ao ataque azul mas também demonstrou como fica curta a manta quando não conseguimos segurar a bola e dessa forma readquirir a tranquilidade suficiente para explorar e criar dificuldades aos adversários. Pote está sem pilhas e sem elas não há magia. A sua ausência de zonas de decisão e a falta de bola a que tem estado condenado, por sagacidade do adversário e por menor fulgor próprio, tem-no conduzido a um solstício de inverno: a sua participação no jogo tem sido cada vez mais breve e menos iluminada. 

Tabata, tal como a generalidade do nosso jogo pelas laterais, foi quase completamente engolido pelos defensores e centro-campistas azuis. Salvou-se a sua participação no golo inicial e pelos breves apontamentos técnicos.Terá sido provavelmente um dos que viu o seu jogo mais condicionado pelo lamaçal nacional.

Falar em lamaçal torna obrigatória uma genuflexão e duas avé-marias ao padre Rui Costa. Claramente um árbitro do sistema ou há muito que já só apitaria jogos de solteiros e casados bêbados. 

A primeira avé-maria de bradar aos céus vai para o critério disciplinar abstruso. As regras são para cumprir desde o minuto zero até ao final. De outra forma se eu for apanhado a conduzir ébrio logo à saída da mesa da consoada não posso alegar que estava só a começar. Bem, alegar posso, mas... 

A segunda avé-maria vai para o critério em voga há muito tempo e que já nos valeu a perda de dois pontos em Famalicão e sabe-se lá se outros dois com o FCP: na dúvida é contra o Sporting. Isto é: na dúvida não marcou fora-de-jogo, o que de facto é muito duvidoso e no choque a culpa é do Adán. Um lance que passa incólume no VAR (O que se pode aceitar, o árbitro é que tem que decidir) e explica bem ao que esta gente vem.  

É claro que fomos felizes mas não menos felizes que outros rivais que também com muita sorte à mistura e que com muito mais argumentos não se revelam mais merecedores do que nós do lugar de líder. 

domingo, 20 de dezembro de 2020

Sporting 1- Farense 0: Antes de ser Boa Esperança o cabo foi das Tormentas



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 O jogo com o Farense é apenas mais de um de muitos exemplos em que a Glória só vem depois de muita dedicação, esforço e a indispensável sorte. Esta, que tantas vezes nos tem perdido por falta de comparência ontem esteve presente num lance de penalty que caiu do céu, já com o pano a descer sobre o palco. É verdade que não foi merecida pelo lado da qualidade de jogo, mas sim apenas pelo esforço e pela perseverança.


Há muito mérito do Farense nas dificuldades sentidas. Pode-se dizer em seu desfavor que nunca quiseram muito mais do que o empate, mas é preciso ter em conta o seu trajecto no campeonato - muito difícil - agravado pelas dificuldades habituais de um recém-promovido. A isso deve-se somar a postura muito conservadora de Rúben Amorim, que nunca abdicou do controle total do jogo, apesar do tempo ficar cada vez mais escasso e o resultado permanecer imóvel em nosso desfavor.


A verdade é que a estratégia de Sérgio Vieira é bem capaz de ser uma espécie de mapa do tesouro para os adversários e um avisado guia de resolução de problemas para Rúben Amorim para o que nos espera. A receita parece ser simples: recuar as linhas para um bloco baixo, metendo assim areia entre as peças fulcrais da nossa engrenagem, impedindo a ligação entre si e, isolando-as, contribuindo para a sua baixa produção. Parar ou reduzir a produção do nosso sector mais forte e homogéneo - o meio-campo - é uma boa receita. Para o conseguir é preciso trabalhar muito e ser solidário - e isso o Farense conseguiu - e contar com a nossa menor inspiração e jogo sem grande risco, o que também aconteceu. 


Como sector mais recuado e os últimos com a missão de impedir as investidas à baliza de Adan, os defesas chegaram e sobraram para as encomendas. Com o posicionamento baixo do adversário não havia costas para explorar em lançamentos longos e fazer chegar a bola dentro do bloco quase nunca foi uma tarefa bem sucedida, por o adversário condicionar a recepção da bola de costas a João Mário, Pote e Nuno Santos. Os laterais não conseguiam dar profundidade por encontrarem sempre a passagem de nível fechada pelos extremos adversários.


Por isso não houve o ouro habitual dentro de Pote, João Mário não conseguiu ser maestro, Nuno Santos foi estóico, mas não teve quem o acompanhasse. As jogadas repetiam-se vezes sem conta, quase sempre com o mesmo resultado inglório. Pedia-se gente capaz de tirar da manga lances de magia que criassem desequilíbrios ou pressão suficiente para obrigar o adversário a recorrer à falta e, a partir de lances de bola parada, chegar ao golo. E assim foi, já quase no apito final.

Não vou discutir o lance do penalty. Ele divide as opiniões, uns porque não sabem mais, outros porque não lhes apetece ou não dá jeito concordar ou discordar do árbitro. Se o lance não tivesse o dramatismo de ter ocorrido naquele contexto - estivesse o jogo decidido para qualquer dos contendores - e quase não se falaria dele. Mais importante do que isso será perceber o que fará o CA de arbitragem a este seu elemento, por comparação com o sucedido, por exemplo, com Luis Godinho que, depois de espalhar a sua magia em Famalicão, ainda foi dar uma mãozinha ao SC Braga contra o Estoril.

E assim chegamos ao Natal em primeiro lugar. É verdade que não ganhamos nada, mas não é menos verdade que é bom não ter adversários a impedir-nos a vista para o horizonte tão desejado. Vamos ter que dobrar muitas vezes este cabo das tormentas para poder lembrarmo-nos dele como o da Boa Esperança.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Sporting 2 - Mafra 0 - Memorial do Jardim de Infância


Se Saramago fosse vivo e gostasse de futebol provavelmente já se teria sido tentado a escrever um memorial do nosso jardim-de-infância, tendo como personagens centrais esta miudagem cheia de personalidade que ontem foi chamada à titularidade para defrontar a equipa representativa da cidade cujo monumento está na base da sua obra-prima.

Quando olhei para a equipa inicial rapidamente me lembrei do sucedido o ano passado na precoce eliminação da Taça de Portugal. Então, Silas a acabar de chegar correu um risco em tudo semelhante ao de Rúben Amorim ontem, ao colocar em campo uma espécie de equipa B. As diferenças de então para hoje são abissais. Não é apenas o bom momento da equipa, até porque esse vem de um onze titular que ontem não estava lá. Vem da matéria prima: um treinador com ideias seguras, com o plantel na palma da mão e um naipe de miúdos cheio de talento e não menos personalidade. 

Não de depreenda que foi fácil, porque não foi. A primeira parte foi um excelente exemplo em como é difícil fazer jogar uma equipa junta pela primeira vez, quaisquer que sejam as indicações dadas no treino. A equipa de Mafra foi um excelente adversário para este teste, obviamente, porque sendo uma equipa muito bem orientada, o suficiente para criar dificuldades mas  não possui argumentos individuais para impor a sua autoridade. Assim, com paciência, nem sempre bem, nem sempre com eficácia, mas sempre sem tremer. O suficiente para atingir o objectivo proposto: a Final Four da Taça da Liga.

sábado, 12 de dezembro de 2020

Taça servida com personalidade e nota artística

Nota: todas as fotografias são da autoria da @Idzabela. É expressamente proibida a modificação e/ou reprodução destas fotografias sem autorização expressa da autora. (clique nas imagens para ampliar)

Pode-se dizer, com algum exagero, mas com alguma propriedade, que este jogo da eliminatória da Taça de Portugal começou a jogar-se no final do jogo de Famalicão. Ficava no ar se o trabalhinho encomendado (não é difícil de perceber por quem, basta ligar os pontos...) e muito bem executado por Godinho & Cia ia fazer chegar o Natal à sexta-feira, isto é ontem. 

Foi também pelo sucedido em Famalicão que se começou a desenhar mais uma reacção de amor incondicional ao nosso clube. Uma reacção natural e espontânea, sem qualquer outra pretensão que não fosse dizer aos jogadores e todo o staff que não caminham sozinhos nas quelhas obscuras e bolorentas do futebol português. Podem contar connosco!


Se este jogo era então um teste, uma espécie de exame de aptidão esta equipa saiu a poder exibir com orgulho um certificado de habilitações, tal foi a exibição de querer e personalidade, ante um adversário difícil que soube transformar em fácil. Mas, como diz o aforismo, o sucesso só vem à frente do trabalho no dicionário. No campo é preciso trabalhar, trabalhar muito, ser competente, para nos superiorizarmos aos adversários. E foi isso que nos foi dado a assistir durante os noventa minutos.

A forma como o Sporting se soube superiorizar ao Paços de Ferreira, vulgarizando-os, pode ter lançado a dúvida sobre a qualidade de uma das melhores equipas do campeonato até agora. O próximo jogo, para a Taça da Liga, ajudará a desmistificar a questão. Mas, a menos que o Paços de Ferreira tenha entrado numa curva descendente, esta é uma equipa muito bem orientada, com um treinador esclarecido e plantel equilibrado, capaz por isso de ombrear com o historial de algumas que a precederam no clube e deixaram a sua marca.

Dois factos a atestar a grande qualidade da exibição colectiva:

a validação por parte do treinador adversário, Pepa, de forma elogiosa sem quaisquer rodeios.

A dificuldade em eleger o melhor em campo. Porro, Palhinha, Tabata, Nuno Santos, Tiago Tomás?

De assinalar a serenidade e equilíbrio patente no jogo do Sporting desde o começo do encontro. A confirmação de personalidade que se esperava para responder às duvidas do jogo de Famalicão. Sem apressar o seu jogo, nomeadamente para sair a jogar, a equipa soube procurar a profundidade com a mesma calma com que conduzia o jogo por dentro. Calma essa que pode funcionar mal para o adepto impaciente, mas que parece resultar da segurança e conhecimento do processo preconizado por Rúben Amorim.

Algumas notas individuais:


Porro está em grande forma, juntando força e velocidade à subida de qualidade nas execuções. Falta-lhe melhorar os cruzamentos (quase sempre rasteiros) e, talvez o mais dificil, o jogo de cabeça.


Coates está um Sr. Capitão. Foi seu o lançamento que haveria de acabar no fundo da baliza e desbloquear o jogo. Dominador no jogo aéreo em qualquer área, falta-lhe afinar a pontaria.


Palhinha está imperial, varre tudo à sua volta, não deixa crescer nada à sua volta. Como prémio merecido ainda marcou um golo que acaba com qualquer veleidade pacense.


Nuno Santos contribuiu para mais uma assistência de forma tão subtil como cheia de categoria. Jogo competente, apesar de discrição habitual.


Tabata tem pinta de craque, pela condução excepcional como conduz e pela habilidade que demonstra no um para um. Ainda por cima faz golos como aquele que nos foi dado ver, um verdadeiro primor. Tem tudo para ser um joker para o treinador.


TT é dos jogadores mais surpreendentes deste plantel. Com idade para andar ainda pela academia, apareceu ontem em grande nível e finalizando com enorme categoria, justificando assim a aposta do treinador.


Neto é um outro capitão em campo. Trabalhador incansável oculta assim as limitações individuais e menor apetência para jogar neste sistema.


Nuno Mendes está claramente a viver um período de eclipse, depois de exibições de grande fulgor e maturidade. Certamente que a lesão sofrida recentemente pode estar a condicionar o regresso ao patamar que nos habituou.


Sporar está sem confiança, tarda em encontrar o seu caminho.  O problema é que o banco não é o lugar  mais indicado para ganhar confiança e esse parece ser o lugar para onde TT o parece querer enviar.

Não gostando de falar sobre o tema tenho que dizer o seguinte do árbitro João Pinheiro: exibição serena, sem grandes complicações, que o jogo não as teve. Mas nos pormenores deixou a sua marca de incompetência e mediocridade. Um árbitro que, como quase todos, é um dos homens de mão do sistema, tais como os colegas do jogo anterior, Manuel Mota, Rui Costa, Tiago Martins, Nuno Almeida e outros sucessores naturais dos seus predecessores dos anos 80 e anos 90.

domingo, 6 de dezembro de 2020

Famalicão 2 - Sporting 2: Já dizia Camões: erros nossos, má fortuna e a roubalheira do costume


Devíamos estar a celebrar hoje um vitória épica, daquelas para guardar na memória e contar aos netos. Daquelas que se põe no álbum da família a ilustrar o exemplo de um  familiar (leia-se uma equipa) cuja raça a impede de sucumbir aos seus próprios erros e aos azares que só quem não joga não tem. Ao invés disso estamos há horas entre o torpor e raiva de quem foi espoliado mais uma vez. Mais uma vez a manobra habitual, sempre que demonstramos que devem contar connosco: "há que lhes cortar as pernas antes que possam entrar na corrida. O resto do trabalho eles mesmos encarregam-se de fazer em forma de haraquiri."

Sem dúvida que ontem cometemos erros e que esses erros penalizaram-nos sempre. Erros dos quais soubemos sempre procurar a redenção, numa manifestação notável de entrega e compromisso. Não pode então haver compreensão para os erros da arbitragem, missão reconhecidamente complexa e difícil? Não, obviamente que não, quando os principais erros foram sempre contra a mesma equipa. Erros na marcação de faltas, critério disciplinar dual e conivência na utilização de jogo e linguagem com níveis de agressividade fora o âmbito que as leis permitem, sem a devida punição. Quanto ao golo anulado, tinha que ser. Trata-se de um árbitro cuja melhor qualidade que se lhe pode reconhecer é a coerência do critério: na dúvida é contra o Sporting.

Como adepto do Sporting partilho da ideia de muitos de nós de que tudo o que sucedeu antes e depois do jogo resultou não de mera encenação, azelhice mas de um trabalhinho bem urdido, competente. Começou ainda na inicio da semana com a pressão de um dos responsáveis da comunicação azul-e-branco, continuou na nomeação da equipa de arbitragem de campo e VAR e culminou na originalidade doentia, a tresandar a conluio, de um comunicado do Conselho de Arbitragem feito certamente de pijama e depois de pancadinhas nas costas do inepto Luis Godinho. Já nem pudor têm em exibir a sua falta de pudor. O árbitro sente-se autorizado e intocável, premiado até, pelo luxo da exibição do jogo com o FCPorto na reicidência da nomeação em apenas 8 jornadas. O CA sente-se intocável também, apesar do desfilar despida de credibilidade pela conivência com a ditadura da mediocridade. 

Após todos estes anos a vermo-nos arredados por erros nossos, má fortuna e a roubalheira do costume o sentimento de impotência, frustração e desorientação instala-se. Já tentamos de tudo, nem sempre com a melhor estratégia, nem sempre com a indispensável perseverança. A pescadinha de rabo na boca é prato único na ementa de um clube em permanente agitação e instabilidade. E desse espectáculo se alimentam os escribas, cartilheiros, fazedores de opinião e até a exibição velada ou expressa de ambiciosos projectos de poder sempre perfeitos no papel até serem as próximas vitimas.

Como adepto adiro de alma e coração à ideia de "onde vai um vai todos". Esta  equipa merece o nosso carinho e o nosso amparo. Não podemos estar no estádio com eles, mas eles vão sentir que não estão sozinhos. Onde eles forem nós vamos também, sempre!

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Sporting 2 - Moreirense 1: a metamorfose de Palhinha em eucalipto

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"Está tudo no início e em três jogos tudo muda completamente. A distância é curta e a equipa também é inexperiente em certos aspectos. Vamos ter calma, há que querer ganhar todos os jogos, mas não é preciso mais do que isso. Há que ter calma…" Ruben Amorim

O Sporting vive neste momento numa bolha de felicidade que, além da satisfação inevitável que provoca nos adeptos vai criando também expectativas. Adeptos, analistas e até adversários (pelo menos a avaliar por algumas declarações recentes...) vão-se interrogando, tentando perceber que tempo de vida tirá, se cresce ou tende a diminuir ou até aumentar. O apelo do treinador à calma, no final do jogo com o Moreirense, é uma boa dose de realismo a ser colocada em cima da mesa, num momento muito oportuno, tendo como pano de fundo o jogo que acabava de se realizar.


Antes de mais há a considerar uma série de exibições individuais muito abaixo do que nos havíamos habituado. Feddal, Nuno Mendes e até João Mário estiveram longe do acerto e preponderância que vinham exercendo. Porro também esteve muito menos produtivo na exploração do seu corredor mas foi Sporar quem deixou as maiores preocupações. Muito porque acentuou a imagem entre o alheamento e falta de entendimento com a generalidade dos companheiros de equipa que já havia exibido no jogo anterior e porque, seja abaixamento de forma sejam limitações próprias, não se vislumbra quem possa fazer o papel que lhe é requerido à altura das necessidades da equipa. 


Ora, com vários jogadores abaixo do seu rendimento individual dificilmente o jogo poderia resultar numa grande exibição. A isto acresceu um golo madrugador do adversário que poderia ter perturbado o estado anímico da equipa. Se perturbou a equipa não o deixou transparecer na forma como se entregou ao jogo mas o mesmo não se pode dizer relativamente à qualidade do desempenho. Obviamente que aqui há realçar com justiça a forma como o adversário se bateu, demonstrando nos argumentos exibidos que havia estudado bem a nossa equipa. Corredores laterais vedados à velocidade dos nossos laterais e meio campo preenchido de forma a partir a ligação defesa / ataque. Depois do encaixe das equipas foi visivel a nossa dificuldade em jogar no interior do bloco do Moreirense, obrigando o Sporting a reiniciar quase sempre as suas investidas. Nas vezes em que conseguiu chegar à frente com perigo a "ausência" de Sporar condenava ao fracasso as nossas investidas. 


Do outro lado da moeda à que realçar a exibição portentosa de Palhinha. Como disse depois do jogo meio a brincar meio a sério, de um menino Palhinha nasceu um eucalipto que seca os adversários à sua volta. Imperial desde o seu posto a observar as investidas do adversário o

Não terá sido por acaso por isso que os nossos golos resultem de uma assistência de Nuno Santos e uma iniciativa individual do inevitável Pedro Pote Gonçalves. Aqui, além do destaque óbvio ao nono golo (!) de Pote há destacar mais uma assistência do Nuno Santos que deixa a pensar quantos golos seriam da sua responsabilidade por via das suas assistências se mais à frente contássemos com um ponta-de-lança com uma melhor relação com o golo do que Sporar tem revelado. 


Para as ambições de qualquer equipa este é factor determinante e sem melhorar este factor, entre outras limitações do nosso plantel - o golo sofrido resulta de falhas consecutivas, em que o controlo da linha foi a últimas das falhas-  as nossas perspectivas terão ser sempre o mais realistas possíveis, no sentido do comedimento. Até porque os adversários não só têm maior disponibilidade em favor das escolhas dos seus treinadores, como jogam com tudo fora das quatro linhas...

Talvez por isso este jogo com o Moreirense tenha servido para demonstrar que o momento feliz que a equipa vive e nos vai proporcionando alegria não anuncia nenhum passeio no parque. Jogos como este vão-se repetir vezes sem conta e aí tenho que concordar mais uma vez com o treinador: não podendo golear sempre, os adeptos não terão de reclamar com a postura da equipa. E este jogo foi disso exemplo: sem ser muito feliz na procura dos golos, houve sempre grande empenho e inconformismo. É esta disposição que se pede para noites de menor inspiração como a de este jogo com o Moreirense. 


terça-feira, 24 de novembro de 2020

Sacavenense 1 - Sporting 7: Gente séria é outra coisa!

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O Sporting começou a definir a sorte da eliminatória no momento em que sobe dos balneários ao relvado  encarando o jogo com a seriedade e importância que merece aquele palco, onde muito recentemente fomos muito felizes. Assim, houve a festa necessária que a competição encerra, ao democratizar o acesso de grandes e pequenos às luzes da ribalta, mas sem as festinhas que, no ano passado, fizemos aos adversários com os resultados que se conhecem. 

A festa ficou-se pela doação da receita da transmissão televisiva, numa atitude garbosa que enobrece o nosso emblema. Num momento de mingua de receitas, como muito bem reconhece o ditado migalhas também são pão e estas dar-nos-iam jeito mas ao Sacavenense saberá como o pote de água ao fim da linha de horizonte.


Obviamente que as diferenças entre adversários eram abismais, estas provavelmente agravadas pela crise que a todos envolveu e que nos mais pequenos será ainda mais aguda e feroz. Mas basta olhar os resultados já conhecidos desta eliminatória que, quem os olhe em diagonal, facilmente repara que quem não porfiou não alcançou. Por isso mesmo o melhor sinal desta vitória seja precisamente a seriedade com que a equipa encarou o jogo, respeitando o adversário, a competição e até o espectáculo.

E tudo começou por esse monstro competitivo que é Nuno Santos. Para ele não há rodriguinhos ou adornos desnecessários. Não há entradas para estudar os adversários. No relvado é para competir e deixar a pele em campo. Por isso aos dois minutos de jogo já pudemos começar a pensar no nome do próximo adversário e ao fim de meia-hora de jogo a passagem estava carimbada. 


O exemplo de Nuno Santos foi seguido de perto pela generalidade dos colegas. Destaques obrigatórios para os mais novos, que rasgam os primeiros caminhos que alguns deles prometem de sucesso. De verde e branca vestida antes de mais, esperamos todos. Desses saltaram à vista a descrição e eficácia de Gonçalo Inácio, a revolução tranquila que a entrada de Daniel Bragança significou e o faro pelo golo que o pequeno grande Pedro Marques revelou. Tamanho não é documento, devem ter dito ambos naquele abraço após o segundo golo de Pedro Marques.

No final a pergunta que se impõe: durante o jogo alguém se lembrou que Pedro Gonçalves Pote não estava a jogar? Juntamente com a já louvada atitude colectiva, esse será também um bom motivo para celebrar. O Sporting não tem certamente equipa ou plantel para ganhar todos os jogos. Mas deixou bem claro até agora que não se lhe arrancarão pontos sem contar com uma luta incessante da nossa parte. E isso é bom e poder ser o principio das coisas boas que tanto ansiamos.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Vitória 0 - Sporting 4: Um conto de fadas em pleno castelo

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Não se depreenda do titulo menor consideração pelo adversário ou laivos de sobranceria por causa do resultado expressivo. Sendo indiscutível o mérito do Sporting também o é concluir que talvez tenha sido este um bom momento para este encontro em Guimarães. Ainda na vigência da anterior direcção técnica eram notórias as debilidades dos vitorianos que, com grande sorte, iam conseguindo bons resultados e sofrendo poucos golos, quando as histórias dos jogos (p.ex. Paços de Ferreira e SCBraga) nos diziam que os desfechos poderiam ter sido outros bem diferentes.

O mérito desta vitória começa certamente na forma como o jogo foi preparado primeiro e encarado pela equipa depois. E isso pôde ser constatado a dois tempos:

A forma como o Sporting se predispôs desde muito cedo a explorar as fraquezas de uma linha defensiva vitoriana muito subida mas sem exibir argumentos que lhe permitissem tal veleidade.

Ao contrário de tantos outros jogos num passado recente, o Sporting entrou "a matar" e, antes de se esgotar o primeiro minuto, já tinha construído duas situações eminentes de golo, com Sporar primeiro e João Mário de seguida, a esboçarem oportunidades clarissímas.

Um terceiro factor, a eficácia. Começar e acabar a primeira a parte a "facturar" e, passados dez minutos do recomeço, reincidir no golo reduziu a pó as aspirações que os anfitriões poderiam acalentar em retirar pontos ao Sporting. Nada disto acontece sem sorte, obviamente mas a sorte dá muito trabalho e o Sporting trabalhou muito e bem.

No fim o que contam sempre mais do que quase tudo o resto é o resultado e a obtenção de pontos ajudar a construir uma muralha imprescindível: a confiança. Se esta qualidade/característica é necessária em todas as equipas, numa equipa impregnada de juventude e experiências de alta roda limitada mais ainda. E aqui há também que considerar dois pontos:

Apesar dos resultados surpreendentemente bons - ou muito bons, se atendermos aos números de melhora ataque, melhor defesa, goleador da Liga para Pote - esta não equipa não exerce ainda o domínio que um verdadeiro candidato costuma exibir. Entre o golo inaugural o Vitória, mesmo de forma incipiente e quase sempre muito dependente dos argumentos técnicos superlativos de Quaresma e Edwards, soube causar algum sofrimento e até suscitar alguma dúvida na marcha do marcador, mesmo sem criar mais do que uma situação de golo iminente em toda a partida. Gerir a vantagem recorrendo à posse criteriosa para descansar com bola e controlar as investidas do adversário é por onde esta equipa tem de ainda de crescer.

Não há nenhuma equipa que cresça saudavelmente sem a confiança que os bons resultados trazem e aqui há que reconhecer com justiça que este grupo de trabalho tem tido a coragem e diria até a irreverência e atrevimento de que se constroem as equipas vencedoras. O querer deste grupo é notável. A indiferença ao que dizia à sua volta, quer externa quer sobretudo internamente desde o inicio, a forma como superaram as dificuldades de um surto numa fase tão importante da época e o revés amargo de uma eliminação europeia precoce auguram excelente saúde e preparação.

Algumas notas individuais que me parecem imprescindíveis:


Adán: Fez o que se pede a um guarda-redes de um grande: mesmo que pouco interventivo tem de ser decisivo quando chamado. E foi!


Porro: Desculpem lá o francês, mas porra! que o homem corre, corre. Tem ainda por onde crescer mas, ao contrário dos seus predecessores recentes na posição, tem-o conseguido a olhos vistos.


Neto: Cumpriu  


Coates: Capitão


Fedal:
Há ainda ali algumas hesitações a corrigir mas tem sido o central que mais me tem surpreendido.


Nuno Mendes
: já quase não há adjectivos para classificar este miúdo feito homem em pouco tempo. Imperturbável e cheio de classe. Aquela arrancada quase dava um dos melhores golos da Liga, seguramente a par do outro do mesmo género que já facturou.

Palhinha: que diminutivo tão paradoxal para um esteio do nosso jogo. Saiu daqui um miúdo timorato e regressou um Homem, como se vê até pela forma como sabe usar o físico, argumento indispensável na sua posição.


João Mário: joga de pantufas, o que deve ser assaz irritante a quem vai atrás dele de dentes cerrados e pitões em riste. Ainda não está em forma, que se nota em momentos em que desaparece do jogo, mas faz coisas que mais ninguém com uma leveza que faz parecer tudo muito fácil.


Pedro Gonçalves: Baratito, não foi?


Nuno Santos: Raça, eficácia e alma. É impossível não gostar.


Sporar: um avançado é mais do que os golos que marca. E se pode ser mais eficaz neste aspecto é de salientar a sua participação decisiva na construção dos últimos resultados pela forma como assiste e se se envolve no jogo ofensivo.


Matheus Nunes: é hoje um melhor jogador que quando foi chamado pela primeira vez. Tem sabido aproveitar as oportunidade e crescer e isso é o melhor que se pode dizer de um jogador.

Um nota final

O Sporting vive neste momento um conto de fadas. Que deveria ser aproveitado para puxar atrás o filme da época atrás e verificar tudo que se disse e foi feito por cada um até aqui chegarmos. Não para o tradicional ajuste de contas entre adeptos e facções, mas para não repetirmos os erros de sempre que muitas vezes nos fazem perder antes de sairmos de casa e os jogos começarem. O Sporting precisa de uma retaguarda forte que só os seus adeptos podem proporcionar porque é clara a nossa desvantagem sobre quase todos os factores que condicionam os êxitos: do factor económico ao poder nos bastidores. 

É que se não somos os piores, como muita gente disse depois do jogo com o Lask (que ninguém contabiliza a participação da arbitragem no resultado final), também agora não somos os melhores, apesar do primeiro lugar. As lacunas do plantel são as mesmas do inicio época e com o tempo, as lesões, castigos  as desvantagens para os adversários serão mais evidentes e servirão de lastro no balão das nossas pretensões e anseios.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Sporting 4 - Tondela 0: Quando a esmola é muito grande o pobre desconfia

Foto zerozero

Exibição de poder e categoria foi o que nos foi dado observar ontem em Alvalade, tal foi o caudal ofensivo e respectivo número de oportunidades criadas. O número de golos acaba por ser escasso, atendendo ao volume de jogo que asfixiou o adversário, que em grande parte do tempo se declarou impotente para fazer oposição minimamente consistente.

A pergunta que ocorre imediatamente é se tal se deveu a a um Sporting demasiado poderoso ou um Tondela demasiado frágil. Ou, em alternativa, se tratou de um acidente de percurso em que o futebol é fértil. Estas perguntas serão respondidas em capítulos posteriores no percurso das equipas mas não deixam de fazer algum sentido porque se atendermos ao trajecto do "Sporting de Amorim" esta foi talvez a primeira vez em que o Sporting exerceu sobre o adversário uma superioridade tão vincada.

Julgo que a mais avisada explicação, fugindo à especulação, é mantermo-nos pelo caminho dos factos e o que o jogo de ontem vincou foi uma boa preparação prévia do encontro por parte da equipa técnica de Rúben Amorim, revelando conhecimento do adversário. Depois de alguma indefinição inicial e após o ajuste das equipas, cedo se percebeu que a postura habitual da equipa de Pako Ayestarán, de linha bem subidas com o intuito de impedir ou condicionar a construção do adversário ia-lhes custar caro. 

As alterações de Rúben Amorim deram frutos: Palhinha e João Mário serão a dupla natural ao centro, tal é a segurança que emprestam à equipa, seja a parar o jogo adversário seja a ligar para o momento de criação de jogo ofensivo. Sporar foi determinante para esse sucesso pela generosidade com que se entregou ao jogo, embora tenha sido muito perdulário. Mas a assistência para Pote, o goleador de serviço, de que resulta o primeiro golo, acaba por ser de uma importância para a definição do resultado final. Estava-se já nos momentos finais da primeira parte e a bola teimava em ir ter com Trigueira. Com obtenção do segundo golo quase no reinicio do encontro este acabaria sentenciado.

Há no entanto a assinalar dois aspectos menos positivos, que não devem passar despercebidos no jogo de ontem. O número de golos falhados, que contra um adversário mais capaz nos podem custar dissabores. E, tal como Amorim muito bem assinalou na conferência de imprensa, o golo sofrido que só não o foi por um acaso de poucos centímetros. Sobretudo pela forma como acontece, deixando à evidência aquela que será uma das nossas maiores fragilidades: a velocidade no extremo reduto. O lance anulado a Mário Gonzalez é toda uma ilustração de que como por em sentido uma defesa a jogar com muitos metros nas costas e sem um elemento suficientemente veloz para compensar. 

Do lado positivo, e para lá dos números do resultado e da superioridade exercida, a constatação de que há mais soluções à disposição do treinador. O banco tem aliás um efeito regenerador que não se extingue no descanso temporário que proporciona aos atletas. Pode exercer igual efeito na "fome de bola" como aquela que se viu na primorosa assistência de Nuno Santos e de que resultou um golo de belo efeito de Porro, um lateral direito como há muito não se via por Alvalade. Tratando-se de um jovem de vinte e dois anos, com possibilidades de crescer e limar arestas, promete.

Mas talvez o melhor de tudo tenha sido a impassibilidade com que a equipa foi jogando e procurando o golo sem se descontrolar emocionalmente, perante a perspectiva de chegar ao primeiro lugar do pódio   ou desequilibrar tacticamente para perseguir o desfazer da igualdade. De certa forma trata-se de uma novidade que revela confiança e segurança que gostávamos que viesse para ficar. Mas uma superioridade tão avassaladora é uma esmola demasiado grande para não ficar desconfiado, precisando de confirmação com adversário de cotação superior e nesse sentido o próximo  jogo em Guimarães vem mesmo a calhar.

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