O fim do futebol de praia e o modelo queremos para o ecletismo
O Sporting anunciou ontem o fim da modalidade de futebol de praia. As reacções foram as esperadas, mas a verdade é que a quase totalidade dos que se pronunciaram, fosse a favor ou contra a decisão tomada, falaram sem conhecimento de causa.
Todos queremos ter muitas ou até todas as modalidades, do chinquilho à sueca, se preciso for. Até aquelas que não gostamos e não ligamos absolutamente nada, mesmo que uma das respectivas secções jogue à porta de casa. O que quase ninguém sabe ou quer saber é quanto custa cada modalidade, que vencimentos auferem os atletas que a cada ano passam pelo clube, que sustentabilidade tem o actual modelo.
Eu sou um dos que sabe muito pouco. Mas sei que devem custar muito dinheiro. Sei também que construir equipas ganhadoras todos os anos é um exercício particularmente difícil. O Sporting tem que ganhar aos eternos rivais SLB e FCP se estes estiverem na mesma competição (o FCP está em muito poucas...) e não pode perder com os ditos pequenos. Ainda que estes tenham modelos dedicados a apenas uma modalidade, ou elejam uma como mais representativa, numa espécie de especialização, como acontece por exemplo com o Hóquei de Barcelos, o Fonte Bastardo, etc.
Secções como o andebol ou o futsal, que são as que "conheço" melhor, são as que têm implantado o modelo que me parece o mais correcto: escalões de formação e alta-competição, com os melhores da formação a abastecerem a equipa principal, formando uma mescla de jogadores da casa e jogadores experientes e reputados.
Como era bom que todas fossem como os exemplos acima. Porém, para o conseguir, onde estão as instalações que permitam que centenas de atletas de cada modalidade treinem diariamente? O pavilhão João Rocha não é de certeza suficiente. Um verdadeiro pesadelo logístico, nunca tido em equação quando se se abordam estas matérias, a que acrescem os transportes de todas estas equipas em funcionamento, pelo país fora.
O hóquei, uma modalidade que também tem formação em tudo semelhante às modalidades acima faladas, mas que tarda em produzir resultados semelhantes no fornecimento de atletas à equipa principal, já o conseguiu, ao deslocar para Sacavém a sua secção.
Nunca houve coragem para uma discussão franca do modelo que se pretende para as modalidades, assumindo escolhas, ainda que por vezes estas possam ser dolorosas, como é agora o desaparecimento do futebol de praia. Porque falta informação e transparência. Mas elas são necessárias para se tomarem decisões - no caso dos sócios serem chamados a pronunciar-se, como deveria ser - ou para se apoiarem estas quando as escolhas se tornam necessárias ou até mesmo imprescindíveis.
Este situação de opacidade é transversal a todos os clubes grandes. Os nossos rivais também optam pela mesma estratégia. Esta porém faz ricochete em quem tem que tomar decisões, porque deixa campo para os "especialistas", "tudólogos" e os "exigentes". Porque estes, apoiados no desconhecimento geral, sabem sempre como fazer mais e melhor.
Conclusão: ser um clube eclético está na matriz fundadora do Sporting e têm sido as modalidades aquelas que mais têm contribuído para a manutenção do espírito de conquista de José Alvalade. Essa matriz é hoje em dia consensual, depois de um período de deriva de má memória e de cujas consequências vamos recuperando paulatinamente. Talvez mais importante do que dividir a actividade do clube entre futebol versus modalidades talvez esteja na altura para definir o que é alta-competição e o que é mera actividade desportiva. Que as duas componentes devem existir, é também consensual.
No que à alta-competição diz respeito urge definir quais são as modalidades em que o Sporting deve competir ao mais alto nível e para esse efeito aportar o melhor dos seus recursos, sabendo que o Sporting, pelo menos pela realidade que nos é conhecida actualmente, não poderá ser competitiva - isto é, lutar por títulos - em TODAS as modalidades de alta-competição. Para que se tenha noção, os Jogos Olímpicos de Tóquio tiveram em acção 46 modalidades. A estas acrescem ainda as competições paralimpicas, onde o Sporting tem já coleccionado alguns êxitos. Parece claro que não podemos ser vencedores em todas, mas é de entre elas as que devemos procurar definir as maiores apostas, quer nas modalidades colectivas, quer individuais. A ligação ao ideal olímpico é uma consequência natural do ecletismo.
Nota: por erro de copy-paste a conclusão não estava no post colocado inicialmente.
Amigo: Quando foi da introdução do basket também pensou assim? Está de acordo a introdução deste desporto, depois de muitos anos, com a lição que nos deu na sua publicação?
ResponderEliminarEspero resposta, pois só assim ficarei convencido, ou não!
José Manuel David
Meu caro, terá que me elucidar, uma vez que não sei a que se refere em concreto.
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