E dos pés de João Mário e da cabeça de Coates aconteceu Sporting!
Todos os jogos até ao final do presente campeonato são finais de elevado grau de dificuldade e o próximo será sempre o mais difícil. Mas ao jogo de ontem surgia à nossa frente embrulhado num manto de recordações nefastas e agoirentas.
É que à mesma data, num jogo iniciado precisamente no mesmo dia, à mesma hora, em 2016 e também em Alvalade, o Sporting veria cair por terra as suas pretensões ao titulo, de forma inglória. Na cabeça de muitos de nós, e especialmente dos que viveram esse dia in loco, era impossível não notar a coincidência e cogitar, mesmo que ao de leve, se o triste fadário seria reeditado como em tantas outras ocasiões em que à beira de um êxito tão desejado "acontecia Sporting".
À medida que o jogo decorria e se sentia os nossos jogadores tolhidos de movimentos e enleados nas teias urdidas pelos açorianos, mais parecia confirmar-se o reencontro fatídico com o destino, que o empate concedido a escassos minutos do fim parecia querer confirmar. Mas se alguém teria que ser capaz de deslaçar este novelo seriam precisamente aqueles que entre nós, conheceram em campo com suor derramado, o quão amargo é o sabor dos sonhos desfeitos. Sairia dos pés de João Mário e da cabeça de Coates o antídoto, e que este seja o momento do esconjuro de todas as malapatas e desditas.
Esconjuro que não é nada mais nem menos para já que o adiamento até à confirmação plena e irrefutável pela matemática daquilo que tanto desejamos (mas quem nem me atrevo sequer a pronunciar para já) com uma batalha mais no pecúlio e menos uma montanha para escalar.
Não o ponho em palavras o sonho de todos nós por medo, porque os nossos jogadores, pela coragem com que se batem sempre até ao último silvo do apito, não merecem cobardias. Mas por realismo, que o jogo de ontem mais uma vez veio por na ordem do dia. Num sistema de três pontos por vitória e um por empate, as vantagens derretem-se mais facilmente que manteiga no cabaz de um veraneante incauto. O que se conquistou em Janeiro e Fevereiro pode ser rescindido num ápice ou decomposto paulatinamente até Maio.
Esse pragmatismo e realismo merece-o também Rúben Amorim. É muito fácil, sentados nas poltronas de comentadores, discorrer sobre quem joga melhor, mas muito mais difícil é fazer o que o Sporting tem estado a fazer com o que ele tem à disposição. O Sporting ontem fez um dos piores, senão o pior, jogo na presente Liga. A produção atacante andou muito próxima da nulidade, sem quase nunca conseguir ferir o adversário. Olhe-se pois para o que o treinador tinha à disposição para assaltar o último terço e compare-se com as dos treinadores rivais. O que esta equipa de gente brava que ele lidera tem conseguido alcançar até agora ganha ainda mais relevo quando comparado com os demais.
À comparação do valor individual e experiências de liderança do nosso plantel e de todo um clube acresce inevitavelmente a mudança de estatuto que o empate no Dragão conferiu. E se o peso da responsabilidade se tem feito notar há algumas jornadas em jogadores (como por exemplo Nuno Mendes), ontem parece ter -se estendido a toda a equipa como também RA fez notar no final do jogo. Foi preciso estar perante o espectro de um resultado indesejado que a equipa se transfigurou e acabou por chegar à vitória, parecendo recuperar a alma dos jogos com o Gil Vicente, Farense, SLB e que só não foi com Famalicão pelas razões sabidas por todos nós.
Essa atitude é também nova, comparada com o baixar de braços que tantas vezes notamos em equipas nossas muito melhor apetrechadas que a actual. Saber acreditar como eles e merecer a sua coragem é a nossa obrigação. Convenhamos que é uma tarefa muito mais fácil para nós que correr num relvado carregando aos ombros os seus sonhos juntamente com os anseios de milhões e enfrentar com esse peso às costas adversários mais poderosos e preparados. É verdade que temos tido estrelinha mas ela tem CORAGEM e DETERMINAÇÃO no apelido.
Façamos acontecer Sporting!
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