Regressou ontem o futebol a sério, há já tanto tempo que parecia que a época estava a começar. Para acentuar essa ideia, o Sporting apresentou um onze com jogadores que, na sua larga maioria, nunca tinham jogado juntos e, alguns deles, nunca o tinham feito sequer este ano a nível oficial. Deve ser também por esta sensação de jogo de pré-época que o nosso amigo Manuel Talhante do Apito não quis penalizar o jogo duro da equipa da casa, ou até marcar um incómodo penalty, que poderia ter dado uma distância de dois golos logo numa fase inicial do jogo.
Não se infira porém que a referência à arbitragem está aqui como calçadeira para fazer caber uma desculpa para a má exibição. Este jogo foi até mesmo muito importante para perceber aqueles que me parecem ser os principais problemas que enfrentaremos este ano, alguns dos quais são até mais evidentes à medida que os jogos vão decorrendo.
Um dos principais prende-se com o planeamento do plantel. Não abdicando da ideia que este é dos melhores plantéis de sempre do Sporting é também muito extenso, o que provoca largos hiatos sem competir a muitos jogadores. Jogadores que não jogam não só não têm ritmo para poderem executar ao seu melhor nível, como não têm grande identificação entre si, bem como com os princípios de jogo do treinador. Só por milagre se poderia esperar muito mais, daí que a severidade na
apreciação ao jogo e à generalidade dos jogadores deve ser contida.
É nestas duas premissas - jogadores sem ritmo individual e identificação colectiva - que assentam os nosso principais problemas, a que somam inevitavelmente questões que se prendem com a qualidade individual de alguns elementos.
Por exemplo:
Meli e Castaignos continuam sem minutos.
A dupla defensiva de ontem (Douglas e Paulo Oliveira) estreou-se a jogar e fazê-lo juntos, sendo particularmente notória a desarticulação entre si, nomeadamente no que diz respeito ao alinhamento defensivo.
Idem para Elias e Petrovic, sendo a inutilidade do sérvio grandemente responsável pela nossa falta de autoridade no meio-campo, ressentindo-se disso a nossa defesa. Por outro lado, a menor propensão de Elias em recuperar a bola e entregá-la jogável esteve na razão da fraca produção ofensiva, porque a bola poucas vezes chegou com qualidade à frente.
Markovic vai marcando, mas está claramente fora de ritmo e, porque não dizê-lo, sem grande confiança.
Jefferson é um pesadelo cada vez maior. Já sabíamos que defendia mal, os
jogos mais recentes vêm mostrando que, ao invés de aprender, parece que
esquece. Vive apenas dos rendimentos dos bons cruzamentos do pé
esquerdo, o que é claramente insuficiente.
A única razão para a presença de Alan Ruiz é a teimosia de JJ, que o jogador não demonstrou até agora ser merecedor. Também ele é em larga medida responsável pela falta de ligação no sector dianteiro.
Ontem o Famalicão criou-nos bastantes dificuldades, o que só é surpresa para quem não reconhece que a diferença entre as grande parte das equipas da divisão secundária e as da ultima metade da principal é mesmo o escalão onde militam. No que o jogo de ontem foi mais obviamente explicativo para a posição aflitiva na tabela classificativa que ocupa é que uma equipa que não marca não recolhe muitos pontos. Ora a quantidade de oportunidades concedidas são, essas sim, razões para preocupação. Com outro aproveitamento do adversário não sei se não teríamos agora mais a lamentar do que apenas uma má exibição.
JJ diagnosticou bem na conferência de imprensa os problemas, dando o foco
ao principal à necessidade de por a jogar os jogadores que o têm
feito com menos frequência, mas não adiantou como implementar a solução. Problemas que ganham maior expressão quando ficam indisponíveis os jogadores habitualmente titulares. Veremos um pouco disso já no próximo jogo, com a ausência de Adrien.