José Eduardo Bettencourt deu uma entrevista à “Abola” que será publicada em 2 partes. A primeira está hoje nas bancas. Como é habitual, é minha intenção partilhá-la na íntegra com os nossos leitores, coisa que farei apenas na 2ª feira, por razões que se prendem com a minha vida particular. Se o interesse se mantiver. Mas hoje avanço com aqueles que me parecem os pontos fortes do capítulo hoje publicado.
Da extensão das declarações produzidas, num tom contraditório e uma humildade que não me soa genuína e a vitalização, há poucos factos novos. Mas há uma passagem que marca uma diferença de perspectiva fundamental entre o discurso do nosso presidente e a minha opinião. A dada altura da entrevista os jornalistas perguntam a JEB se “admite que os adeptos possam não ter visto em si aquilo que desejariam como imagem de poder?” JEB Responde: “Acho que têm razão, porque sempre humildemente disse que podia não ter perfil para isto. Mas também sabia que isso não era decisivo, porque no passado houve uns com mais e outors com menos perfil e isso não fez diferença nenhuma.”
De forma alguma posso concordar com este tipo de informação. Primeiro porque a eleição de JEB significou, nos momentos imediatos, uma lufada de esperança que há muito não se via no Sporting. Toda a contestação que de seguida teve lugar não nasceu por casmurrice ou antagonismo pessoal, mas sim por uma série de erros de palmatória que quem gosta do Sporting não podia deixar passar impunemente. É bom que se respeitem os factos e que a história não seja reescrita.
Depois porque a falta de perfil de líder para um clube como o Sporting, assumida agora pelo próprio, representaria sempre para nós um problema, como seria sempre para qualquer instituição. Talvez JEB devesse levar mais longe essa sua análise e ser mais consequente. Porque não ser o presidente que o Sporting precisa não quer dizer que não possa ser imensamente útil noutra função. Desde a sua entrada em funções que há melhorias significativas na modernização da área administrativa do clube, pelo menos da face que é visível para os sócios, com o é a recente possibilidade de imprimir-mos os nosso próprios bilhetes em casa.
Os prejuízos da sua acção até agora são muitos e evidentes e são agravados por ocorrerem num momento de particular fragilidade do clube e por JEB não ter atrás de si uma equipa que mitigue as suas fragilidades. Não ter um grande líder e uma equipa fraca é uma factura que o Sporting, isto é, nós todos, teremos que pagar. Certamente a juros bem elevados.
JEB crê que foi o destino que o colocou no Sporting. “Houve qualquer coisa que me mandou para aqui”. Sabemos o que essa noção de missão nos custou a todos em Alcacer-Quibir…
Ficam de seguida as frases que considero mais pertinentes nesta I parte:
Sabia que tinha de fazer de Messias para o povo judeu mas se calhar não era bem esse o Messias que estariam à espera”
Cometi o erro da impreparação porque não tive tempo para ver tudo e penso que confiei muito numa coisa que nunca devia ter confiado: acreditei que todos os egos do mundo se apagariam para ajudar um bom samaritano a levar o barco para a frente
Não houve qualquer pessoa muito importante no Sporting que me tivesse ligado a pedir par vir. Mas houve colaboradores que manifestaram muito interesse e o meu compromisso inicial foi com eles, não foi com pessoas mais conhecidas no Sporting.
Reconheço que tenho de melhorar muito o trabalho na mobilização das elites sportinguistas, porque se não as tivermos connosco dificilmente conseguiremos fazer alguma coisa.
(Há uma quinta coluna) Historicamente sempre assim foi, não há nada de novo. As pessoas descobriram agora que as AG`S são complicadas. De certeza que não estiveram nas AG´s de Sousa Cintra e João Rocha.
Tive uma expressão infeliz, aquela do terrorismo, e já pedi desculpa. Mas ninguém comenta a forma baixa e ordinária como tenho sido tratado por algumas pessoas.
Temos obrigação de andar lá em cima. Claramente temos que ficar 15 pontos à frente do SCBraga. Indiscutivelmente. Ainda por cima acho que não estamos no topo da tabela por um conjunto de circunstâncias e coisas estúpidas.
Há um fosso (para os rivais) e esse fosso foi criado numa altura em que ainda é mais difícil recuperar.
(Não teme que o contrato dos direitos televisivos seja considerado um mau acto de gestão) Já fomos acusados há dez anos, de termo feito um mau acto de gestão porque iriam aparecer não sei quantos operadores. A história mostra que não apareceu ninguém. (não fez o contrato por uma questão de adiantamento de dinheiro?) Fi-lo por um conjunto de circunstâncias.
Tentei fazer um programa (de governo) que é claramente de fusão. Se as pessoas quiserem ser sérias, havia mais do que uma plataforma de entendimento. Mas a verdade é que foram alterando o seu discurso , primeiro era porque o clube não era dos sócios, depois porque era da SAD, posteriormente era o ecletismo.
O Sporting tinha de passar pela fusão da tecnocracia com a emoção, com os valores do Sporting, com a cultura Sporting. O Sporting criou algumas expectativas mas foi sempre um projecto atormentado.
Não posso dizer à terça, à quinta e ao sábado que o clube é dos sócios e depois descobrir que só um xeque com petrodolares é que resolve isto. No futebol tenho a consciência que se arriscou um bocado, mas tinha que se tentar alguma coisa e aí corri alguns riscos, mas também acho que, com todo o respeito, se podiam ter corrido outros riscos no passado.
Desde que assumi a presidência encetei um processo de transformação, dizendo às pessoas como é que a casa tinha que ser arrumada. Esse é um legado extraordinário, em termos de mobilização e empenho das pessoas.
Não faço rigorosamente mais nada que não seja o Sporting. (O Sporting ocupa) em média mais de doze horas.
O dinheiro que ganhei este ano não deu para pagar o IRS que tive que pagar agora no final de Setembro.
O esforço e a dedicação de Costinha, na formação de um grupo forte e com princípios bem definidos.
O empenho e a forma profissional com o Paulo Sérgio e a sua equipa técnica tem trabalhado.
Estou optimista quanto ao futuro e acredito que o Sporting irá, certamente, entrar numa fase muito positiva.
O futebol português tem um deficit de coragem. Um País como Portugal não pode gastar o que gasta no futebol. Há um futebol que tem 95% por cento de pessoas extraordinárias. Depois acho que há uma componente de país pequeno terrível, muito baixa. Há cinco por cento de mafiosos.
Há uma coisa que quer queiram quer não, acontece no Sporting: As pessoas gostam de mim.