 |
Reactivação do vulcão "Alvalade" |
1. O Público. Admirável. Nota-se, à vista desarmada, que os sportinguistas estão de novo unidos em torno do seu clube e isto é uma sensação maravilhosa. Estivesse eu sentado numa das ‘curvas’ e quase que jurava que ontem estava a viver um dos quentinhos jogos grandes no ‘antigo’ José de Alvalade. O povo leonino vai continuar a acompanhar e a envolver-se com a sua equipa de futebol, mesmo depois do empate de sábado, com sabor a cerelac. Escrevo isto convencido de que os razoáveis resultados desportivos têm ajudado, claro, mais ainda quando comparados com as duas miseráveis épocas que deixamos para trás, mas estou verdadeiramente persuadido de que o que fez (e faz) regressar e compele os sportinguistas a acarinhar ainda mais o SCP, resume-se no capital de confiança que todo o actual elenco do futebol profissional conseguiu granjear.
2. A equipa. Coesa. Ao invés de se navegar em ‘piloto automático’ e deixar que o destino se encarregue do futuro da nau, percebe-se um rumo que apenas sofre ligeiras alterações de maneira a contornar os escolhos e obstáculos que sempre surgem (ou nos colocam…) no caminho que queremos trilhar. Hoje há critério, onde ontem existia confusão. E hoje, há defesa intransigente dos interesses do Sporting, onde ontem existia incúria e, pior, subserviência. Quando assim é, quando os sportinguistas sentem que os seus dirigentes apresentam um rumo para o futebol com um mínimo de coerência e defendem o clube com unhas e dentes; quando sentem que a equipa técnica que os dirigentes escolheram e que orienta a equipa dá mostras de possuir as capacidades necessárias; quando sentem que os jogadores da equipa se esforçam e produzem um futebol decente, os sportinguistas estarão sempre presentes! De modo que sim, o Sporting está mesmo de volta, apesar de ainda apresentar
falhas e dores de crescimento, o que é compreensível.
3. O jogo. Equilibrado. Ao vivo é sempre outra coisa, não só porque o ambiente é muito mais electrizante, mas também porque, por um lado, nos permite observar muito melhor a posição global da equipa e ver como funciona e combina colectivamente nas várias fases que o jogo exige e, por outro, permite notar a acção individual de cada um dos jogadores presentes no relvado, principalmente quando não estão na posse da bola ou nas suas imediações. E estes importantes factos dão-nos mais elementos de avaliação. No aspecto colectivo parece-me que defensivamente o SCP apresenta-se seguro, coeso, organizado. Anteontem, jogando contra um adversário de respeito, foi apanhado em desequilíbrio muito poucas vezes. Já ofensivamente, há ainda muito para engrenar e aperfeiçoar. O dia também não esteve famoso noutro aspecto que pode ser decisivo em jogos equilibrados: a sorte, que pendeu sempre mais para o FCP, como se pode exemplificar nos inúmeros ressaltos, carambolas, bolas divididas, segundas bolas que, sem justificação objectiva, invariavelmente acabavam na posse dos jogadores portistas… No entanto, a sensação final que levei para o autocarro e trouxe de regresso a casa, madrugada de sábado adentro, foi a de que também nos faltou um pouco mais de auto-confiança e ambição para levar de vencida um jogo, cuja vitória esteve perfeitamente ao nosso alcance. Agora, está mais complicado chegar ao topo e recuperar os pontos de diferença que distamos dos dois da frente.
Mas há que continuar a lutar. Convém também não esquecer as outras competições, imitando um famoso
sound-byte da vida politica 'tuga' diria que há mais época para além da Liga Zon.
4. Os jogadores. Batalhadores. Individualmente pude confirmar que Ricky, o jovem lobo, passa por fase de desinspiração e notei-o em perda resolutiva à medida que se caminhava para o final do jogo. Um golo, de bola corrida, urge! Movimenta-se bem, é lutador, procura participar mais no jogo, é solícito ao passe dos colegas e tenta sempre desmarcar-se, mas… continua um desastre na finalização. Mais uma jogada em que aparece isolado sem conseguir concretizar, mais um remate falhado na pequena área. Está difícil.
Capel muito apagado. Nem aquilo em que costuma ser melhor, conseguiu realizar: mexer com o jogo, aproveitar a sua velocidade para desposicionar o lento defesa que o marcava: Maicon.
Ao contrário de Ricky e Capel, está Onyewu, em crescendo e com muita confiança. Tal e qual como Rui Patrício com manifestos progressos no seu jogo com o pé. Quando foi preciso, disse sempre presente, com grande autoridade e estilo.
Insúa, um poço de força, de firmeza, mais uma vez o flanco esquerdo funcionou muito melhor com a sua subida, após entrada para a lateral-esquerda do (voluntarioso) Evaldo. Em dia de comemorar o seu 23.º aniversário, o argentino foi dos jogadores que mais batalhou para receber um presente extra: a vitória no clássico. Merecia.
Por fim, faço a análise a Stijn Schaars. Um senhor, com muita classe. Anotem nas vossas agendas: em todos os momentos, mesmo quando longe da bola, nunca desliga, está sempre focado no que tem para fazer e fá-lo especialmente bem. Possui um sentido colectivo elevadíssimo, um espírito competitivo invulgar e uma cultura táctica que o leva a ocupar os espaços de forma magistral. Depois, no passe, esteve sempre muito acertado e pertinente. Quando falava na importância de se assistir os jogos ao vivo para perceber a importância de toda a acção de um jogador, que pela Tv passa muitas vezes despercebida, um dos alvos que tinha em mente era precisamente o holandês. É o nosso Super 8 e está tudo dito…
5. A arbitragem. Gelatinosa. Não gosto de coisas gelatinosas e colunas vertebrais feitas desse material ultra maleável, ainda menos. Pedro Proença protagonizou mais uma arbitragem à portuguesa. Na dúvida a sua decisão foi sempre contra o mesmo, ou seja, a equipa da casa. Muita falta e faltinha de caca, daquelas que irritam e só se sancionam no nosso campeonato e em situações já tipificadas… No Estádio, alguns dos foras-de-jogo marcados ao ataque do Sporting, principalmente no decorrer da segunda parte, deixaram-me logo com muitas dúvidas. Confirmam-se, através das imagens da Tv, os clamorosos erros. E a coerência na disciplina? Essa fica para o dia de “São Nunca à Tarde”…