Derrota em Paços de Ferreira: ir à capital do móvel ver uma casa modelo
Se a derrota é sempre o pior resultado dos 3 possíveis, ontem o Sporting pôde perceber todo o peso desse significado: da possibilidade de ficar a depender apenas de si próprio (partindo principio que o Estoril perde mais logo) ficou a crua realidade: só muito dificilmente será possível a classificação para a Liga Europa.
Ficam algumas impressões de um jogo que tive oportunidade de ver ao vivo o que, mesmo sem as repetições da TV, é a ainda a melhor forma de ver um jogo de futebol.
1- Primeira nota para os adeptos do Sporting. Somos mesmo um clube especial com adeptos muito especiais. A bancada destinada à equipa visitante, a nossa, estava muito bem preenchida de homens e mulheres Sportinguistas - alguns dos quais levavam pela mão a sua prole, na óbvia tentativa de deixar sucessão para esse amor incondicional - que quiseram dizer presente num momento tão difícil como este que nos calhou em sorte viver. Difícil, invulgar e inesperado. Quem tem adeptos assim tem razões para esperar que o futuro pode ser melhor.
2- Não se pode dizer que o Sporting jogou mal. Também não jogou bem, apesar de ter entrado bem no jogo e ter posto o adversário em sentido. Jogou com uma das melhores equipas do campeonato, para quem ficar à frente do Braga será um acto de justiça, porque foi-lhe superior quer em regularidade quer em qualidade de jogo na maior parte do tempo do campeonato em curso.
3- André Leão, Josué e Vítor encheram o campo e os olhos de quem viu o jogo. Qualquer um deles seria uma excelente aquisição para o Sporting, que poderia dispensar - parece que vai ter que o fazer - jogadores que são bem mais caros. Tendo sido os que deram mais nas vistas há outros menos dotados que jogam hoje a um nível que dificilmente atingiram anteriormente nas suas carreiras.
4- Há que dizer porém que as circunstâncias são-lhes de todo favoráveis: estão a terminar por cima uma época de sonho, nos antípodas do que sucede com a generalidade dos jogadores do Sporting. Isto para dizer, sem contrariar a afirmação do ponto anterior, que qualquer um deles a jogar ontem no nosso lado sentiria muitas dificuldades em brilhar. As respectivas exibições foram marcantes não apenas pelas suas qualidades individuais, mas também pela forma como articulam com o resto da equipa. Dava gosto ver os processos simples de André Leão, desde sua colocação até ao contrariar a pressão inicial do Sporting, mas contava com a movimentação dos laterais e médios a dar-lhe mais de uma opção de passe. O mesmo se pode afirmar de Josué e Vítor, que não poderiam evidenciar a qualidade das decisões se não contassem com a percepção e entendimento das suas movimentações. Colectivamente são-nos superiores e é isso que potencia as qualidades individuais e disfarça as insuficiências. Apesar dos progressos conseguidos com a entrada de Jesualdo ainda há muito a fazer na qualidade do nosso jogo.
5- Ao contrário do que se foi tornando mais ou menos a vox populi, parece-me que o Sporting teve nestes dois últimos anos dos melhores plantéis dos últimos anos, mas não conseguiu retirar deles o potencial que devia. O ano passado a meia-final da Liga Europa ainda deu um ligeiro vislumbre do que poderia ter sido, a série de erros acumulados na preparação da presente época fizeram desmoronar por completo um edifício que não teve tempo nem engenho para se consolidar. É penoso constatar que, tendo agora um treinador capaz de potenciar o que ficou desse lote de jogadores e das chamadas pérolas da formação, tenhamos que ser obrigados a prescindir de muitos deles, provavelmente em ambos os lados. Este desencontro é-nos fatal e é a principal razão da insustentabilidade de um projecto desportivo.
6- Visitar um clube modesto como o Paços de Ferreira, mas que está consolidado num patamar já intangível da classificação, pode ser encarado com angústia e desolação. Mas também pode ser olhado como um exemplo e sobretudo como um sinal da imprescindível esperança e confiança de que o futuro pode ser melhor. O Sporting tem muito mais recursos e massa critica e é por eles, a par da sua história, que as suas obrigações são acrescidas.
7- Uma nota final para não deixar passar em claro Pedro Proença. Não a questão grande penalidade, que me pareceu no estádio e que hoje alguns "especialistas" confirmam. Mas o gesto que teve para a bancada do Sporting aquando do aquecimento. À tradicional assobiela na hora do aquecimento respondeu com uma provocação, num gesto deliberado. Da mesma forma que duvido que, fosse outro grande, aquele penalty não seria marcado, duvido que fizesse o mesmo gesto. Esta gente não gosta do Sporting, isso é nitido, e sem resolver este problema o Sporting será sempre menos que os outros.