Sporting 3 - Gil Vicente 1: "Quem porfia mata caça"
Quem porfia mata caça e quando já se pensava em jejuar o leão lá conseguiu abater um galo incómodo. Mas não foi fácil de ver e mais do que a qualidade do "jogo do galo" foi a má abordagem do leão, algures entre a displicência e a falta de inspiração para lidar com o bloco gilista.
Muita da responsabilidade dessa má abordagem tem de recair nos ombros de Rúben Amorim, ao insistir em oferecer a Jovane um papel para o qual não está nem preparado nem vocacionado. Dessa forma o treinador coloca em causa não apenas a sorte da equipa como até a do próprio jogador, cuja movimentação e até a linguagem corporal em muitos lances vão da inadequação, desânimo até à desistência.
Mas explicar tantos minutos jogados sem grandes lances de perigo a ameaçar a baliza do guarda-redes visitante, mesmo já quando em desvantagem no marcador, não se pode ficar apenas pela aposta inglória num jogador. Num jogo como este, e com Palhinha em campo a oferecer segurança para possíveis transições - que por sinal o adversário até abdicou ou não conseguiu realizar - pedia-se a presença de alguém diferente de como Matheus Nunes, que oferecesse maior capacidade de quebrar as linhas defensivas do adversário com o passe e não tanto em condução. Se ele é uma boa solução quando o jogo pede mais dimensão física, como vimos com o FCP, jogadores como Bragança e João Mário parecem oferecer mais soluções. Estando o segundo impedido regulamentarmente, o primeiro teria que ter chegado mais cedo ao jogo, ou até ver-lhe sido oferecida a titularidade.
Claro que agora parece fácil invocar Bragança por causa do passe de mel que contribuiu para o desatar de um nó que parecia insolúvel. Mas se o passe foi uma execução da mais rara filigrana, só lhe foi possível vislumbrar o brilho porque Tiago Tomás o antecipou e com seu movimento ofereceu-se como solução ao médio. Embora seja natural a exaltação do acto de Bragança, a dimensão colectiva do futebol ganhou aqui um exemplo para figurar em compêndios. Ora, sem querer entrar num exercício de "vejam como eu tenho razão", repare-se na postura de Jovane naquele momento (e em tantos outros neste jogo): quase imóvel, abaixo da linha dos centrais gilistas, completamente fora-de-jogo e fora do jogo. Rúben Amorim não pode ficar indiferente e tem obrigação de perceber a diferença entre a convicção e a obstinação.
De igual modo o treinador tem de rever a postura em bolas paradas, como que deu origem ao golo que, não fora os dez minutos à Sporting, quase custava três pontos. Não foi um lance casual, uma vez que, mesmo sem sofrer golos já aconteceram em outras ocasiões. A total passividade com que os oito elementos do Sporting abordaram o lance fizeram prevalecer sobre eles a vantagem de um dos cinco jogadores forasteiros na área.
A mesma displicência que se notava desde o inicio do jogo, como se tudo se fosse resolver por si só estava ali ilustrada: Palhinha foi espectador privilegiado, só lhe faltando uma cadeira de realizador de cinema e respectivo charuto. Dos centrais apenas Neto se preocupa com a marcação, Coates e Fedal marcaram à zona o éter, ficando o segundo ainda pior na pintura, por ter fechado os olhos e encolhido. A primeira barragem ao lance foi tornada inútil por um toque matreiro de cabeça, como estes lances pedem para melhorar a possibilidade de êxito.
Felizmente tudo se haveria de compor quando já procurava o número do gastroenterologista, com a perspectiva de não conseguir digerir este galo durante a noite e nos dias que se seguiriam. Espero contudo que o desfecho feliz não contribua para a repetição da mesma postura, porque são os resultados destes jogos que escrevem a sorte das equipas com mais ambições no campeonato e o Sporting é uma delas. Que a vitória e a chegada ao segundo lugar instale nos jogadores a sensação do imperativo que é disputar cada lance como se dele dependesse o nosso campeonato. É que depende mesmo!
Adán: se estivesse muito frio talvez pudesse ter congelado.
Porro: Muito activo mas depois de bem espremido não se viu grande sumo
Neto: algo está mal quando o Neto é um dos mais velhos entre os mais jovens, não é? Isto para dizer que apesar da aplicação e seriedade é muito curto.
Coates: O lance do golo é muito à Coates. Não pode estar a top oitenta e nove minutos e depois...
Fedal: O melhor central ontem, apesar do que é dito acima sobre a sua actuação no golo
Nuno Mendes: Não parece ser capaz de jogar mal mas, tal como em jogos anteriores, não foi capaz de jogar bem.
Palhinha: Um grande reforço, mas que hoje deve estar a perguntar ao realizador do jogo se é possível apagar aqueles segundos que vão da falta cometida ao golo sofrido.
Matheus Nunes: Sem ter espaço para conquistar à frente e sem muita necessidade de se empenhar no roubo de bola a sua utilização perde votos.
Pedro Gonçalves: O Pote não estava cheio mas ainda assim ainda de lá saiu um golo.
Jovane: Tudo dito acima.
Nuno Santos: Nunca será invocado para o homem do jogo mas podia ser e merecia.
Tiago Tomás: pouco tempo em campo chegou para ser decisivo.
Sporar: Fez o que se pede a um jogador da sua posição, especialmente quando o treinador não parece depositar grande confiança: golo
Daniel Bragança: Aquele meio campo ainda há-de ser da casa de Bragança. Precisa de jogar e a equipa precisa dele. A ver se cabe onde João Mário tem desenhado o destino.
Gonçalo Inácio: Entrou.
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