Sporting 4 - Tondela 0: Quando a esmola é muito grande o pobre desconfia
Foto zerozero |
Exibição de poder e categoria foi o que nos foi dado observar ontem em Alvalade, tal foi o caudal ofensivo e respectivo número de oportunidades criadas. O número de golos acaba por ser escasso, atendendo ao volume de jogo que asfixiou o adversário, que em grande parte do tempo se declarou impotente para fazer oposição minimamente consistente.
A pergunta que ocorre imediatamente é se tal se deveu a a um Sporting demasiado poderoso ou um Tondela demasiado frágil. Ou, em alternativa, se tratou de um acidente de percurso em que o futebol é fértil. Estas perguntas serão respondidas em capítulos posteriores no percurso das equipas mas não deixam de fazer algum sentido porque se atendermos ao trajecto do "Sporting de Amorim" esta foi talvez a primeira vez em que o Sporting exerceu sobre o adversário uma superioridade tão vincada.
Julgo que a mais avisada explicação, fugindo à especulação, é mantermo-nos pelo caminho dos factos e o que o jogo de ontem vincou foi uma boa preparação prévia do encontro por parte da equipa técnica de Rúben Amorim, revelando conhecimento do adversário. Depois de alguma indefinição inicial e após o ajuste das equipas, cedo se percebeu que a postura habitual da equipa de Pako Ayestarán, de linha bem subidas com o intuito de impedir ou condicionar a construção do adversário ia-lhes custar caro.
As alterações de Rúben Amorim deram frutos: Palhinha e João Mário serão a dupla natural ao centro, tal é a segurança que emprestam à equipa, seja a parar o jogo adversário seja a ligar para o momento de criação de jogo ofensivo. Sporar foi determinante para esse sucesso pela generosidade com que se entregou ao jogo, embora tenha sido muito perdulário. Mas a assistência para Pote, o goleador de serviço, de que resulta o primeiro golo, acaba por ser de uma importância para a definição do resultado final. Estava-se já nos momentos finais da primeira parte e a bola teimava em ir ter com Trigueira. Com obtenção do segundo golo quase no reinicio do encontro este acabaria sentenciado.
Há no entanto a assinalar dois aspectos menos positivos, que não devem passar despercebidos no jogo de ontem. O número de golos falhados, que contra um adversário mais capaz nos podem custar dissabores. E, tal como Amorim muito bem assinalou na conferência de imprensa, o golo sofrido que só não o foi por um acaso de poucos centímetros. Sobretudo pela forma como acontece, deixando à evidência aquela que será uma das nossas maiores fragilidades: a velocidade no extremo reduto. O lance anulado a Mário Gonzalez é toda uma ilustração de que como por em sentido uma defesa a jogar com muitos metros nas costas e sem um elemento suficientemente veloz para compensar.
Do lado positivo, e para lá dos números do resultado e da superioridade exercida, a constatação de que há mais soluções à disposição do treinador. O banco tem aliás um efeito regenerador que não se extingue no descanso temporário que proporciona aos atletas. Pode exercer igual efeito na "fome de bola" como aquela que se viu na primorosa assistência de Nuno Santos e de que resultou um golo de belo efeito de Porro, um lateral direito como há muito não se via por Alvalade. Tratando-se de um jovem de vinte e dois anos, com possibilidades de crescer e limar arestas, promete.
Mas talvez o melhor de tudo tenha sido a impassibilidade com que a equipa foi jogando e procurando o golo sem se descontrolar emocionalmente, perante a perspectiva de chegar ao primeiro lugar do pódio ou desequilibrar tacticamente para perseguir o desfazer da igualdade. De certa forma trata-se de uma novidade que revela confiança e segurança que gostávamos que viesse para ficar. Mas uma superioridade tão avassaladora é uma esmola demasiado grande para não ficar desconfiado, precisando de confirmação com adversário de cotação superior e nesse sentido o próximo jogo em Guimarães vem mesmo a calhar.
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