Ei-los Que Partem, ou o fim de uma era
Foi com enorme surpresa, até com algum "estrondo", que os Sportinguistas receberam a noticia, dada pelo próprio, da partida do Capitão Coates. Em quatro penadas o Sporting perde os três capitães e ainda Paulinho, um dos lideres do balneário sem ostentar a braçadeira. É o final de uma era no Sporting, a era de reabilitação e restauro da competitividade desportiva do nosso futebol e, por consequência, do orgulho leonino. Porém, ao contrário da letra da música com que resolvi titular o post, os quatro elementos de saída não deixaram apenas "olhos molhados e coração triste" mas também muitas alegrias e títulos conquistados.
É por isso uma nova era a que se está a desenrolar à frente dos nossos olhos. Haverá novos líderes em Alcochete, estima-se que sejam Hjulmand, Daniel Bragança e Gonçalo Inácio os sucessores. O menos que se lhes deseja é que sejamos tão felizes com eles como fomos com os seus antecessores. Ressalta à vista um claro rejuvenescimento no comando, mas que resulta também numa clara diminuição de uma condição a que se atribui frequentemente um valor importante e substancial para caminhada para os títulos: a experiência.
É esta constatação que levanta a dúvida do quão programada foi esta abalada simultânea das referências do balneário. Dúvida realçada pelo facto de Coates se ter apresentado no inicio dos trabalhos e passado menos de uma semana ter decidido partir. Correm rumores que a aparentemente súbita partida do capitão se devem a questões ponderosas, relacionadas com a saúde de um familiar próximo. Sejam elas quais forem, a verdade é que toda esta catadupa de partidas importantes parecem resultar numa aparente vulnerabilidade de todo inesperada. Veremos se esse receio se confirma e sobretudo como a estrutura "lê" a situação e como reage a ela.
No caso concreto da partida de Coates, além da questão importante da liderança, - que me parece menos importante, uma vez que todos reconhecemos que o verdadeiro líder do balneário é claramente Rúben Amorim - ela parece-me condicionar o Sporting a dois níveis: no mercado e na forma como a equipa se vai comportar defensivamente.
Começando pelo primeiro condicionamento, o mercado. Sendo sabido que o Sporting, como qualquer clube grande nacional, precisa de fazer uma boa venda é nos centrais Diomande e Inácio que residem os alvos mais apetecidos pelo mercado. Antes da partida de Coates a saída de Diomande parecia já estar "coberta" pela entrada do igualmente jovem belga Debast, (que também já jogou do lado esquerdo da defesa) mantendo-se Matheus Reis como um nome a contar para o lugar. Sem Coates, a alienação de algum destes dois - Diomande ou Inácio - obrigará quase inevitavelmente a uma ida ao mercado.
No condicionamento que pode afectar o rendimento desportivo, e especialmente a capacidade defensiva com a partida de Coates, ficamos claramente mais vulneráveis no chamado jogo aéreo, onde Coates era normalmente imperial. E será necessário ainda substituir Paulinho, que desempenhava papel importante também, nomeadamente nas bolas paradas, sobretudo cantos. Aí teremos que contar com a evolução de Gyokeres neste aspecto do jogo. Veremos como Amorim resolve esta equação.
Há ainda uma última evidência que reforça a interrogação sobre a planificação da partida de Coates: a extrema juventude no seio dos centrais. A média de idade total neste momento é de 23,6, onde St.Just (27) e Matheus (29) fazem subir aquele valor. Mas a possibilidade de encararmos alguns jogos com um trio de quase teenagers (Debast-Diomande-Inácio) não é assim tão longínqua. Aí a média de idades desceria para os 20,66 anos.
Contudo, nem tudo é prejuízo. A saída de Coates, reconhecidamente cada vez menos veloz e sujeito a periódicas paragens para gestão de esforço e prevenção de lesões, permitirá outras opções, nomeadamente no avanço da linha defensiva, contando com isso com o facto de o novo guarda-redes parecer ser também bom de bola com os pés.
Por último o mais importante e a razão primordial deste post: o render de homenagem a Sebastian Coates, El Capitan. O nosso capitão não era só gigante em altura. A sua presença entre nós resultou numa série de adjectivos que se encandeiam entre si: sério, confiável, honesto, leal. Ou de substantivos: farol, bússola, exemplo. Mas reconhecer estes atributos ao nosso capitão não pretende iludir a relevância da sua atuação em campo.
Podia ter sido campeão - ou deveria ter sido?... - logo na época de chegada, tendo as suas actuações contribuído de forma primordial para a melhoria do desempenho da equipa. Ficou quando podia ter saído, abdicando o que poderia ter sido um bom negócio para si. Viveu o seu pior momento numa célebre actuação de João Pinheiro (o tal jogo dos 3 penaltys contra o Sporting) mas a chegada de Amorim resgatou-o ( a ele e nós) duma bruma de mediocridade que nos corroía.
Foi fundamental para o regresso aos títulos, não apenas a defender empenhadamente o nosso último reduto, mas também com os seus golos determinantes. E assim o voltou a ser este ano. Coates deixa saudades, pela sua acção deixa ao Sporting melhor do que encontrou, ficando da sua passagem um legado feito de títulos e de exemplo.
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