Nesta "Missão Impossível" está tudo contra João Pereira
Vou aqui lembrar mais uma vez o facto de estar grato a João Pereira o facto de ter aceite a dificil missão de substituir a liderança que mudou o Sporting nos últimos quase cinco anos. Percurso que hoje é olhado apenas para os resultados recentes, que levaram à consagração do treinador em pleno Marquês ao ponto de ter nele o efeito enebriante traduzido na promessa da busca do bi-titulo, esquecendo ou optando por esquecer o quão dificil e feito de avanços e retrocessos foi a essa viagem.
Se assim é, creio que se deve ao facto de os Sportinguistas perceberem de onde saímos e quão rapidamente e tão longe chegamos. Se o campeonato anterior foi ganho com o reconhecimento abrangente da nossa superioridade, o inicio do actual projectava pouco menos do que um passeio no parque. Não é arrogante sermos nós a dizê-lo, os nossos rivais reconheciam-no. Por isso, mais do que os adeptos do Manchester United, foram deles os festejos mais efusivos ao ver Amorim fazer a travessia do Canal da Mancha.
Todos sabíamos que a substituição daquele que é considerado o melhor treinador das ultimas 6 / 7 décadas dificilmente não obrigaria a passar por um processo doloroso. Era consabido que dificilmente conseguiríamos sentar na mesma cadeira alguém que simultaneamente conseguisse encantar a plateia de adeptos e jornalistas e galvanizasse uma equipa e todo um clube, alcondorando-o ao lugar onde há muito o ansiávamos ver. Por isso aceitaríamos de bom grado que o lado desportivo ficasse acautelado, porque é do seu sucesso ou insucesso que tudo se constrói ou esboroa em seu redor.
Ora, num espaço de três semanas Amorim parece ter "acontecido" quase num tempo indeterminado e quase irreal, tamanho é o desfasamento entre o comportamento da equipa que deixou há três semanas e o que vimos sobretudo ontem. Ao invés de conseguir levar a nave a uma aterragem suave, sustendo a queda mais ou menos esperada, à entrada de João Pereira seguiu-se uma queda abrupta e vertiginosa, cujo fim não se vislumbra, apenas são fáceis de identificar as suas consequências.
Sabíamos da missão impossível de João Pereira, alguma coisa iria ficar pelo caminho e por isso mais do que esperança, foi recebido com a tolerância de quem reconhece a altíssima dificuldade da tarefa. Tudo parece estar contra o nóvel treinador: a ausência de tempo, de sorte, a impossibilidade de estar levantado a orientar a equipa, o discurso que não mobiliza, a figura pouco segura que projecta.
Mas o pior parece mesmo dever-se a si mesmo: a forma como rapidamente se afastou dos princípios que a levaram ao sucesso, parecendo confundir os jogadores e, assim, destruindo-lhes os níveis de desempenho e, por consequência, afastando a equipa das possibilidades do sucesso. Pior ainda, a confusão evidenciada nos momentos de substituição, projectando uma imagem de deriva, insegurança e sobretudo, ausência de liderança.
Não sei, mas imagino que ao nível directivo, que o apoio próximo não tem faltado, estando eles -sobretudo Varandas, provavelmente o mais perplexo de todos nós - perante a prestação do treinador que "daqui a uns anos estará num grande europeu". Não se pode pedir mais aos adeptos: embora sejam completamente reprováveis os insultos ouvidos ao treinador, obviamente que não se pode exigir que para, tal como a orquestra do Titanic, se continue a tocar enquanto o barco se afunda. E embora o descontentamento se compreenda, foi doloroso assistir como amnesicamente se insultaram jogadores que há menos de um mês se aplaudiam de pé. Não os vejo a regatear esforços, é com eles que contamos para sair deste atascanço, e eles parecem tão atónitos como nós face aos acontecimentos.
Não imagino nenhum daqueles jogadores que em Maio celebrei pelo seu comportamento exemplar, pelo notável espírito de corpo e missão como encarnaram a falhar por displicência. E, eles não jogam "apenas" os títulos, jogam as suas vidas também.
Frederico Varandas atou o seu destino, com sucesso, ao de Amorim. Agora fez o mesmo com João Pereira. É isso que está em jogo: se João Pereira arrastar o Sporting e não cair, Frederico Varandas terá que aguentar o treinador e a si próprio. Talvez o consiga até às próximas eleições mas verá o cofre que projectou para arrecadar as receitas provenientes das valorizações de Gyokeres ficar subitamente demasiado grande e muito vazio para pagar os projectos da renovação do estádio José Alvalade e até o que é necessário para alimentar uma equipa competitiva. Nada que ele não saiba, estou certo disso.
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