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Confesso que foi com grande apreensão que vivi quer os momentos que antecederam o dérby quer o jogo propriamente dito. As razões para tal basearam-se no reconhecimento do valor do adversário, especialmente o individual. Quanto tens bons valores individuais estás sempre mais perto seja de resolver um jogo a teu favor, seja regressar à produção que o teu potencial deixa adivinhar. A segunda premissa aplicava-se perfeitamente aos comandados de Deus, por ausência de JJ.
Ora foi precisamente pela postura do adversário que começou a minha desilusão mas também esperança relativamente ao dérby. O recurso aos três defesas, à semelhança do que vem sucedendo com a generalidade dos adversários que nos vêm defrontando, revelava desde logo pouca segurança, confiança ou convicção nas escolhas mais comuns, e que certamente resultariam do que é mais habitualmente treinado pelos lados do Seixal.
Desilusão por perceber que tal iria resultar em menos espaços, dos tais que Nuno Santos, Pote e TT precisam para melhor expressar o seu talento. Esperança porque tal opção deixava-nos por cima pelo menos do ponto de vista psicológico, porque não só dominávamos melhor o que nos era pedido pelo treinador, como percepcionávamos a importância que nos era atribuída pelo oponente. Não deixa de ser estranho que, com tamanho atraso pontual, o adversário pouco ou nada tenha arriscado para ganhar o jogo. Mais do que o querer ganhar, pareceu não o querer perder e isso, como bem sabemos, deixa-nos sempre mais perto do desgosto.
Ora se Deus não fez, não teríamos de ser nós, tidos como underdogs, a fazê-lo. O empate só nos servia do ponto de vista anímico, face ao resultado do jogo do FCP, mas antes manter a invencibilidade na Liga do que atirarmo-nos nas cavaladas de antanho, que tantas vezes nos acabaram por nos remeter para mares tantas vezes navegados de desgosto e frustração.
Da conjunção destes factores resultou uma exibição plena de consistência e personalidade. Aquele Sporting timorato, descrente de si mesmo, sobrevalorizando as melhores qualidades do adversário - e, dessa forma, diminuindo-se - foi deglutido por um Sporting determinado, firme e corajoso. Em nenhum momento se sentiu uma equipa desconfiada de si mesma, dócil ou submissa perante os nomes e os milhões do endinheirado oponente. Bem antes pelo contrário. Vimos uma equipa confortável e segura em todos os momentos de jogo. Para lá do resultado - que obviamente é o mais importante, porque é o que fica na história do dérby eterno e o que nos dá pão para alimentar o sonho, a fome de vitórias e a liderança da Liga - essa segurança que vem de dentro para fora é mais do que gratificante, digna de entusiasmo.
Valha a verdade que não foi um jogo espectacular, no sentido da velocidade e vertigem que nos lembramos de alguns dérbys ou clássicos. Muito por força da opção do adversário e por convicção de Rúben Amorim - que prefere acima de tudo a segurança dos pontos à fábula e utopia do que podia ser mas não é - as equipas estavam literalmente amarradas uma à outra. Ao invés da emoção óbvia de uma desenfreada corrida de cavalos, assistimos a um cerebral combate de xadrez, onde as peças se moviam sempre no sentido de anular o movimento pretérito do adversário. Não sendo espectacular, não deixou de ser sobriamente emocionante.
É muito difícil destacar individualidades acima daquela que tem sido a nossa maior força e que ainda ontem nos valeu para arrancar do fundo do empate que já se desenhava: a força colectiva, o foco, a abnegação e o empenho de todos concentrados na obtenção do bem comum. Ainda Assim arrisco:
Ádan: presença plena de segurança e eficácia em todas as intervenções. O Sporting precisava desta qualidades para poder crescer em segurança.
Porro: Trocou a habitual locomotiva expresso pelo diligente e eficaz pelo comboio pendular urbano, que leva todos ao destino. Mas com força suficiente para ir contribuir para causar a miséria final do adversário.
Neto: paradoxalmente é um dos avós desta equipa e, simultaneamente, a extensão de um dos braços e voz do treinador. A sua entrega e humildade é uma lição ao vivo para os miúdos do plantel.
Coates: encontrou finalmente o sistema onde fica mais confortável e onde melhor pode expressar as suas qualidades. Ao centro não fica tão exposto aos ímpetos dos adversários mais velozes e do, imponência dos seus quase dois metros, faz de controlador aéreo eficiente.
Fedal: Sóbrio, não inventa, integrou-se rápida e integralmente no clube e na linha de três que Rúben Amorim prefere. Tem sido uma mais valia indiscutível.
Nuno Mendes: um júnior que joga como um veterano, tal a eficácia, segurança a que acrescenta o indispensável talento. Ainda joga por nós e já se advinham saudades...
Matheus Nunes: O homem do jogo. Aposta de Amorim que progressivamente tem vindo a ser ganha. Para quem ainda há pouco tempo servia cafés numa pastelaria e ontem nos presenteou com a cereja topo do bolo, superando a desconfiança sobre o seu valor, não está nada mal.
João Mário: Sem jogar mal, não vive o seu melhor momento, não tendo a preponderância que dele se espera e o que seu valor exige.
Nuno Santos: foi dos mais prejudicados pelo encaixe das equipas, porque as suas características pedem espaço para o drible em progressão e não espaços em curtos e limitados.
Pote: Sem ser brilhante foi sempre de uma disponibilidade total e obrigou a vigilância apertada por dele se adivinhar sempre o perigo eminente.
TT: excelente desempenho, especialmente na primeira parte. Um júnior que levanta a garimpa para internacionais do quilate de Otamendi e Verthogen deixa um registo importante sobre si.
Palhinha: Depois da rábula do seu injustificado afastamento acabou por provar em campo as razões para impedir a sua presença, apesar das dificuldades para entrar no ritmos elevado em que o jogo decorria.
Tabata: Entrou num momento em que, após a entrada de Taarabt, o nosso meio campo perdia qualidade de decisão e em posse, acabando por abanar novamente o jogo o suficiente para voltar a impor respeito e cautela no ultimo reduto encarnado e participar no lance do golo do nosso contentamento.
Daniel Bragança: provavelmente só Rúben Amorim percebeu a necessidade da sua entrada nos descontos, mas lá estava ele na área encarnada no momento do golo.
Jovane: a sua presença foi discreta apesar - o que não é pouco! - da sua participação no lance do golo.