sábado, 9 de fevereiro de 2013

Entrevista de Godinho Lopes ao Record l



«Nunca direi não ao Sporting»


RECORD – Disse no Conselho Leonino que não iria recandidatar-se, mas há quem não tenha essa certeza. Esclareça: pode ou não ir a votos?

GODINHO LOPES – Não. A partir do momento em que começou a surgir a hipótese de eleições antecipadas, comecei a ficar contrariado porque entendo que os mandatos são para cumprir. Quando se apresenta uma proposta a eleições, é para se ser avaliado no final do mandato. Tinha três anos pela frente e para cada um deles foram criadas ideias que devem ser julgadas no final, ficando ao critério individual ser ou não ser candidato. Quando há uma interrupção, não somos julgados pelo que nos propusemos nem pelas conclusões que retirámos. E, então, das duas uma: ou se especula – poderíamos dizer que teríamos feito isto e aquilo, o que não é o meu estilo –, ou se encara a realidade – dizendo o que tinha sido proposto e o que foi interrompido.

R – Mas admite esse cenário?

GL – Vim para presidente do Sporting com o objetivo claro de mudar o paradigma da mudança de presidente de dois em dois anos. Tenho dito e repetido que é impossível num mandato terminar um projeto sustentável e sólido, pois fazer do Sporting o maior clube nacional é um projeto geracional. O Sporting era-o na época dos Violinos. Depois surgiu o Benfica a potenciar as suas conquistas na Taça dos Campeões. A seguir apareceu o FC Porto de Pinto da Costa em grande força e que passou a ter uma posição diferente a partir dos anos 80. Constata-se, pois, que as alterações significativas demoram uma geração. Com a base de sustentação que tem, provavelmente o Sporting não precisa agora de 15 anos para voltar a ser o maior clube de Portugal, mas ainda assim são precisos alguns. Entendi que essa dimensão proporcionaria, não neste final do mandato mas sim num próximo, bases sólidas de crescimento.

R – Com esta rutura, fica definitivamente afastada a hipótese de se apresentar a votos se não houver candidatos credíveis?

GL – Nunca direi não. O Sporting é mais importante.

R – Então, abre essa porta?

GL – Abro, exclusivamente nesse cenário.

R – E quais são os seus critérios?

GL – A dado passo admiti ser candidato, se apenas fosse julgado em maio. Os sportinguistas têm uma dimensão humana que extravasa os resultados imediatistas do futebol e percebem bem que o trabalho feito no campo desportivo teve significado maior do que aquilo que se quer fazer crer – lembro que em 2011/12 fomos a três meias-finais europeias, o que nunca tinha sucedido na história de qualquer clube português. Ao fim de 12 meses de mandato, fizemos algo que é o essencial num clube de projeção nacional: misturar o mundo do futebol com o das modalidades com assinalável sucesso.

R – Essas três meias-finais são a sua coroa de glória?

GL – Representam o cumprimento de objetivos desportivos, para além de outros que também foram atingidos. No entanto, e porque os interesses do Sporting estão sempre acima dos interesses individuais, entendi que deveria retroceder em relação à minha determinação em cumprir os três anos. Assim, já que não tinha condições para terminar o mandato de forma calma e pacífica – afinal, não se pode viver em turbulência constante e num clube dividido –, coloquei sobre a mesa a possibilidade de ser julgado em eleições em maio, sem estar preocupado com o que os resultados do futebol desta época pudessem influenciar no meu resultado eleitoral e apenas focalizar-me naquilo que tinha dito que ia fazer: a reestruturação financeira.

R – Não chegou a esse dia…

GL – Não. E é isso que lamento, pois os três objetivos que tinha no triénio – aproximar os sportinguistas do clube, reestruturar financeiramente e apostar na formação e através dela conseguir uma recuperação desportiva forte – foram interrompidos. É por essa razão que estou insatisfeito e por isso entrei em guerra efetiva com a mesa da assembleia geral – agora já enterrei o machado. Não me terem deixado chegar ao fim do triénio, mais do que ser mau para este mandato, é mau para o Sporting, pois, além de tudo o mais, foi abrir a porta a ações que não permitem manter a sustentabilidade que o clube poderia vir a ter. Fiquei magoado.

R – Voltamos à hipótese da recandidatura. Como chegará à conclusão de que não há candidatos credíveis?

GL – Não tenho direito a julgar ninguém nem dar lições aos sportinguistas em quem devem votar. Caberá aos sportinguistas fazer essa escolha. Assim como votaram em mim, votarão agora em quem entenderem ser o melhor candidato. Há, no entanto, uma análise que devo fazer.

R – E qual é?

GL – Avisei até ao limite sobre a situação financeira em que o Sporting se encontra. Aliás, essa realidade apareceu bem mais espelhada na auditoria que prometi e fiz em janeiro 2012. Expliquei na altura as necessidades de dinheiro que havia para esta segunda época. Esclareci também que no terceiro ano teríamos resultados operacionais positivos mas que, pelo caminho, iríamos acabar as duas primeiras épocas com resultados negativos, para depois inverter o ciclo. Expliquei tudo!

R – Pode explicar como está agora?

GL – Preparámos um documento que será mostrado pelo Conselho Fiscal a quem se apresentar como candidato. Quem tiver reunido essas condições, pode vir a Alvalade e, depois de assinar um documento de confidencialidade, fica a ter conhecimento das condições efetivas e das necessidades de tesouraria. Outro só será entregue ao futuro presidente e nele estará detalhado o projeto que tínhamos pensado fazer para o resto da época e próxima.

R – Acha que alguns dos candidatos que lerem esse documento deixarão de o ser? É isso?

GL – Em setembro de 1012, disse num Conselho Leonino que faltavam 45 milhões. Passaram quatro meses e apareceram 20 milhões. Para acabar a época faltam, pois, 25 milhões. Não estou a dar novidade nenhuma, mas quero dizê-lo alto e bom som, para as pessoas perceberem a lógica de reestruturação que estávamos a seguir – que passou por decrescer os custos da SAD em janeiro com a saída de vários jogadores – e que tinha uma continuidade para a próxima.

R – Então, o que vai encontrar o futuro presidente?

GL – O candidato que ganhar as eleições terá de se sentar com os parceiros financeiros e concluir a reestruturação. Se quiser prosseguir a via que nós estávamos a seguir – e que lhe comunicaremos como presidente eleito –, precisará de 25 milhões de euros. Caso contrário, necessitará, até junho, de 45 milhões.

R – Porquê 45 milhões?

GL – Para seguir uma linha de desenvolvimento – aliás, é a que eu defendo – cativando um investidor que irá querer a maioria da SAD.

R – Tinha esses 45 milhões?

GL – Era a linha de pensamento que estávamos a ter.

R – E sendo assim, o que acha que pode acontecer quando mostrar essa documentação?

GL – Acredito que haja idoneidade e responsabilidade. Se ficarem demonstradas as condições que os candidatos têm para darem continuidade a esta linha, não ficarei preocupado.

R – No atual cenário de pré-campanha, vendo quem se está a posicionar como candidato, qual seria a sua decisão?

GL – Habituei-me a fazer algo, que gostava que no futuro do Sporting também fosse feito, seja quem for o presidente: não especular. Seria bom que as pessoas que não sabem rigorosamente nada do clube e nem sequer se preocuparam em ficar informadas, se calassem. A direção não está a gerir uma empresa que é dela, mas sim um clube que pertence aos sócios e portanto tem obrigação de explicar a quem estiver interessado. Assim, não sendo eu a origem dos rumores, não vou ser eu a especular sobre os candidatos.

R – Nem vai influenciar?

GL – Não serei eu a dizer que devem votar em A, B ou C. Vou ser completamente neutro e imparcial nestas eleições. Exceto se verificar que, seja qual for a candidatura, não ficou demonstrado ter capacidade para garantir a aplicação real das condições para a sobrevivência do Sporting.

«Há gente que passa a vida a falar mal»

R – Sempre se falou muito em investidores, mas nunca apareceu nenhum…

GL – Porquê?

R – Perguntamos nós, mas foi dizendo ao longo do tempo que era por causa do ruído que se fazia à volta do Sporting.

GL – Não foi só por isso. Havia três condições para cumprir mas ficámos a meio da segunda. A primeira foi a fusão da SPM com a SAD. Agora, quem entrar, terá as contas claras. A segunda era a reestruturação e a terceira a entrada propriamente dita do investidor. O problema, devo reconhecer, é que fui naïf.


R – Como assim?

GL – Sempre tivemos a certeza de que a entrada de um investidor maioritário na SAD acabaria com o tal ruído. Isto porque os habituais candidatos a candidatos deixariam de o ser e passavam a estar calados – assim como aqueles que vão para os programas de televisão dizer mal sem terem conhecimento da realidade –, pois o que lhes dá palco e “votos” é futebol. Ora, sem ter a possibilidade de meterem a foice em seara alheia e não tendo aptidão nem interesse em falar sobre modalidades, seguramente calar-se-iam.

R – Então foi ingénuo porquê?

GL – Porque entendi que podia não seguir essa via e fui criando condições de minoria para governar. Verifiquei, porém, que essa gente só se interessou em transmitir coisas para o exterior e passa a vida a falar mal em vez de dar as mãos, estar unida e defender o clube. Essa mensagem de unidade só vi ser transmitida nos núcleos que visitei.

«A caminho dos 5 milhões de resultados positivos»

R – Confirma que haverá um cenário mais desafogado do ponto de vista financeiro na próxima época?

GL – Sim, claro. Seguindo o caminho do decréscimo continuado de custos e sem contar com o resultado das participações excecionais, como é o caso das participações nas provas europeias, com as receitas correntes que o Sporting voltará a ter, é expectável registar na próxima época 5 milhões de euros de resultados operacionais positivos. Isso significa que as necessidades de dinheiro que referi eram para esta época.


R – Essas receitas provêm dos direitos televisivos?

GL – E não só. Em março de 2011 havia compromissos com a televisão, gamebox, bilhética e patrocinadores, ou seja, não podíamos contar com esses fluxos financeiros. Para 2013/14 apenas vamos deixar um compromisso, que já vinha de trás – a publicidade nas camisolas que acaba, aliás, no final dessa época. Todas as outras receitas ficam libertas, ao contrário do que aconteceu em 2012/13 que estavam hipotecadas. Ou seja, em 2014, quem for presidente terá mais-valias para aplicar naquilo que bem entender: pagar passivo, investir em jogadores, etc.

«Tenho a certeza que ganharia a AG»

R – Teve receio de enfrentar os sócios na AG extraordinária?

GL – Se a AG se realizasse amanhã, nós ganhávamos. Quando digo nós, estou a falar do Sporting. E porquê? Aquilo que eu vi nos núcleos foi uma movimentação maciça, não de movimentos de Internet mas sim de autocarros reais, a serem preenchidos com pessoas para virem votar à AG. E aquilo que eu ouvi em todas as franjas, gostando ou não da minha pessoa, era uma manifestação clara de desagrado pelo assalto ao poder que estava a ser feito, pela forma maquiavélica de criar um modelo para destituir a direção, criando aqui jurisprudência ou uma repetição que poderia acontecer em futuros mandatos, uma forma única de assalto ao poder em 107 anos de história. Havia uma grande união no sentido de não deixar que isso acontecesse. Se todas as pessoas que estavam a querer criar este movimento de destituição pensassem que não são elas as mais importantes mas sim o Sporting, é obvio que não deveriam insistir na criação da AG. A nossa direção entendeu que, tendo sido interrompido este mandato conforme queriam, havia uma questão mais importante do que cada um de nós, que era o Sporting.


R – Sai do Sporting um homem mais pobre do que quando entrou?

GL – Prejudiquei-me a nível pessoal, pois não pude terminar o mandato. No entanto, prefiro arriscar o meu próprio nome, porque o Sporting é mais importante. Entendi que essa AG iria empobrecer o Sporting e preferi sair mais pobre em prol do clube. Empobrecer o Sporting porquê? Porque iria ser um enxovalho, iríamos ter cenas inacreditáveis devido ao local onde se iria realizar a AG. Mais do que isso, tinha a certeza de que o conjunto de pessoas que vinham protestar contra a decisão da mesa iriam deixar muito má imagem do Sporting. Não tenho o direito de permitir que o clube saia prejudicado.

R – Não quis correr esse risco, apesar de ter a certeza de que venceria…

GL – Tenho a certeza que ganharia a AG. Até posso dizer mais: o Conselho Leonino (CL) tem sete tendências e muitos dos seus elementos, ao longo do tempo, foram alinhando com a direção, pois reconheciam que estava a ser feito um trabalho sério, honesto e dedicado. Isto sem estarem de acordo com os resultados da equipa esta época nem com as substituições dos treinadores. Tanto é assim que, no final do último Conselho Leonino, fui cumprimentado por gente das mais variadas tendências, que me felicitaram pelo serviço que tinha prestado ao Sporting. Aliás, todos eles se manifestaram contra a decisão da mesa da AG, pelo facto de colocarem o Sporting numa situação complicada, desprestigiando o próprio CL, que não foi ouvido atempadamente antes da marcação da reunião magna. Não estava em causa ter medo de perder a AG. O que estava em causa era o bom-nome do Sporting.

R – Acreditou no início que poderia ter uma convivência pacífica com Eduardo Barroso. A partir de que momento é que concluiu que isso não seria assim?

GL – Pedi no Conselho Leonino e peço também aqui no jornal a união de todos os sportinguistas. Eu, que estou contra a divisão criada pelo ruído constante fora do Sporting, contra as preocupações individuais superiores às do clube, não vou agora, na minha saída, provocar brechas ou entender que a desunião é a forma correta de tratar o Sporting. Aquilo que me interessa é que o clube saia reforçado pela atitude altruísta que tive neste processo, porque eu podia ter tido a atitude egoísta que cada uma dessas pessoas tem tido, que entendem que o seu nome é mais importante que o do Sporting. Deixava a AG realizar-se, desprestigiava o nome do Sporting, e depois dizia: “Estão a ver?”, e apontava o dedo aos culpados.

R – Mas não o vai fazer?

GL – Não vou apontar. Entendo que o Sporting tem de estar unido e tem de sair reforçado. Entendo que a minha atitude, que eu considero de empobrecimento pessoal, será de enriquecimento para o Sporting.

R – No fundo, já admitiu isso, dizendo que a mesa da AG foi infeliz em todo este processo…

GL – Não tenho o direito de dizer que os membros da mesa da AG agiram de forma premeditada a favor de A, B ou C. Aquilo que tenho o direito de dizer é que agiram de uma forma que iria prejudicar o Sporting. Portanto, considero que as suas atitudes não foram as melhores para o clube. Tentei tudo para impedir isso: tentei terminar o meu mandato, tentei acertar a demissão em maio e, finalmente, tive de chegar a uma cedência numa relação com a mesa a favor do Sporting. Achei que a atitude intransigente tomada pela mesa de querer uma AG no mês de fevereiro era infeliz, pois foi numa altura de negociação de compra e venda de jogadores. Foi infeliz, porque interrompeu a reestruturação financeira; foi infeliz, porque torna o Sporting mais pobre, na medida em que não permitiu fazer de forma correta as negociações que estávamos a levar a cabo, quer com jogadores quer com a banca.

R – Volvido este tempo, pode interpretar esse comportamento como uma mera infelicidade?

GL – Foi uma atitude que prejudicou o Sporting e apresento factos concretos: estava a tentar negociar a saída de um jogador por um determinado valor. Quando foi anunciada a intenção de marcar eleições antecipadas, as pessoas do Dínamo Kiev que estavam em Lisboa a negociar o passe do Van Wolfswinkel baixaram o valor de 10+3 [milhões de euros] para 8+3.

R – Tudo por causa do anúncio da mesa da AG?

GL – Então, mas seria por que razão? De um dia para outro iam mudar desta forma a maneira de negociar? Os dirigentes ucranianos sentiram o Sporting mais frágil e responderam em conformidade. Havia uma proposta de 10+3 mais a cedência de dois jogadores, Artem Milevskiy e Marco Ruben. Não estou a falar de coisas fictícias, mas sim de factos.

R – E esses dois jogadores viriam por empréstimo e sem custos para o Sporting?

GL – Sem qualquer custo. Estamos a falar de jogadores muito caros a nível salarial. Milevskiy, por exemplo, aufere 2 milhões de euros anuais mas, neste caso específico, o Sporting não iria pagar nada, além da casa e do carro. Fechávamos o plantel com a chegada destes dois avançados ou poderíamos ir à procura de outro elemento para o ataque. Interrompemos as negociações, pois entendemos que o Dínamo Kiev não iria oferecer aquilo que pretendíamos e, então, decidimos avançar para a contratação de outros jogadores. Se isto não é empobrecer o Sporting, então o que é?


«Não havia razão para justa causa»

R – Em que termos contestou a fundamentação de justa causa alegada para a realização da assembleia geral?

GL – Invocaram cinco razões para a nossa demissão. Primeira: que não tinha arranjado um fundo de 100 milhões. Mentira. O que disse é que arranjava 100 milhões para o Sporting, nunca falei em fundo, e acabei por arranjar 108. Aliás, ainda vou precisar de obter mais 4 milhões. Ou seja, vão ser 112 milhões de euros a entrar no Sporting. Segunda: que as modalidades não tiveram sucesso. Outra mentira. Tivemos na temporada passada mais títulos do que em qualquer outra temporada da história do clube, foram mais de 700 títulos em dois anos. Terceiro: o inêxito desportivo acrescido ao futebol. Ora na época passada conseguimos a proeza inédita de estar em três meias-finais europeias, uma delas com o futebol, que também chegou à final da Taça de Portugal. Quarta: o desfazer da estrutura diretiva. É completamente ridículo, pois apenas saíram dois elementos da direção, sendo perfeitamente normal que se procedam a cooptações. Mas ainda assim pergunto: sem estarem sujeitos a esta pressão, quantos daqueles que se candidataram às eleições mantêm as mesmas pessoas nas suas equipas. Quinta: não foi concluída a reestruturação financeira. Falso. Estávamos a fazê-la e só não a concluímos porque não nos deixaram.

«Quem meteu 20 milhões é porque acreditou em mim»

R – Referiu que o dinheiro já não vem da banca. Algum veio do seu bolso?

GL – Não. Digo-lhe o seguinte: não é qualquer pessoa que, na atual situação do clube, em falência técnica pelo menos desde 2004, pode ser presidente do Sporting. Em março de 2011 fiz questão de conhecer as contas do clube, e em função dessa análise decidi manter o dr. José Filipe Nobre Guedes na direção. Foi uma opção responsável, como responsável foi Nobre Guedes quando resolveu ficar no clube depois de o anterior presidente ter saído.

R – Quanto dinheiro entrou no Sporting desde que assumiu a liderança?

GL – 108 milhões de euros.


R – E quantos foram seus?

GL – O que eu quero esclarecer é que a palavra credibilidade é fundamental quando se negoceia com alguém. E não apenas com a banca. Se consigo que um investidor ponha 20 milhões de euros no Sporting, por que razão ele arrisca esse dinheiro? Imagine que investe algum valor numa posição minoritária numa empresa. Naturalmente, tem de confiar nos maioritários, senão não mete lá dinheiro. Agora suponha que quer comprar a maioria. Então quer mandar. Quando alguém mete 20 milhões no Sporting, é porque acredita no Sporting representado por mim. Isto é credibilidade. Não estou a insinuar que sou o único credível, mas o que digo é que quem vier tem de ter credibilidade, sobretudo até a dívida estar reestruturada.

R – Essa credibilidade no imediato tem um valor: 25 milhões de euros.

GL – Exato. Se, porventura, quem for eleito não tiver essa credibilidade, é importante que os sportinguistas percebam que não vai haver jogos depois dessa data.

R – O Sporting tem os salários em dia, não só dos jogadores mas também dos funcionários do clube?

GL – O Sporting paga por volta do dia 10 aos jogadores e no fim do mês aos seus colaboradores. Já pagámos aos jogadores os salários de dezembro, e até 10 de fevereiro vamos pagar o mês de janeiro. Quanto à situação dos colaborares, só na semana do dia de 11 (após a AG) é que poderíamos saber se haveria condições para proceder aos pagamentos. Sem a realização da AG retomámos as conversas, as quais permitiram pagar hoje [ontem] parte dos ordenados de janeiro.

R – Jogadores e funcionários podem estar descansados, pois, no dia em que Godinho Lopes sair, os salários estarão regularizados?

GL – A situação complicou-se porque, quando há uma interrupção das condições normais do mandato, a minha posição face a quem ajuda é mais frágil. No entanto, tudo faremos para sair daqui com os salários pagos. Quer dos jogadores, quer dos funcionários. O que está em causa objetivamente é o seguinte: agora vai começar a feira das vaidades. Há pessoas que nunca serão candidatos a coisa nenhuma e, hoje em dia, o tempo para a apresentação das listas é reduzido, senão iriam andar até sete dias antes das eleições nas televisões a anunciar candidaturas que não existem. Isto obriga as pessoas a apresentarem as listas até 21 deste mês e, logo após, vão assinar um documento a provar que conhecem as condições do clube. Se querem andar a brincar a dizer que são candidatos e depois desistem, isso já é um problema individual. Uma coisa é certa: nós vamos comunicar a necessidades efetivas que houver. Tenho a certeza de que a minha pessoa, daqui até à data das eleições, só vai servir para criticar se perdermos os jogos e será ignorada se vencermos. Agora há outras pessoas que serão figuras de cartaz, pois vão trazer as soluções todas para o Sporting. Tenho consciência de que a minha posição ficou mais frágil a partir do momento em que assumo que não sou candidato e que a minha capacidade negocial com potenciais investidores ficou abalada pelas mesmas razões. Tudo isto está a dificultar a minha obrigação de pagar os salários.


R – Resumir o momento complicado que o clube vive atualmente ao impacto provocado pela AG de destituição, não é demasiado redutor?

GL – O que significa se não tornar mais pobre o facto de o Diogo Matos ter feito um périplo pelos Estados Unidos para negociar a implementação de várias academias e ter recebido uma chamada antes de uma reunião, onde foi questionado: “Com a convocatória de eleições, vamos falar com quem no Sporting?”. Não é ficar mais pobre o facto de nós estamos na Índia a negociar uma parceria para 10 anos e, já numa fase avançada das conversas, sermos avisados de que só iriam negociar com quem viesse a seguir? Foram interrompidas coisas concretas que vamos escrever e que vamos dar às pessoas responsáveis que vão tomar conta dos destinos do Sporting para que sejam retomadas.

R – Então existe a possibilidade de essas negociações serem retomadas?

GL – Todas elas. Imagine o que é um patrocinador, com quem tínhamos um acordo, que estava em Angola a apoiar um projeto, com quem tínhamos uma reunião agendada para janeiro, que olhou para nós e disse o seguinte: “Vamos falar com quem?”. Além desse patrocinador, estávamos a negociar a eventual continuidade com a Puma ou a sua eventual substituição.


R – Mas consegue quantificar o valor que o Sporting perdeu por não ter ficado esses negócios?

GL – Se quem vier tiver credibilidade, pode seguir estar negociações. Como é eleito por quatro anos, até pode escolher outras pessoas. Se o novo presidente não tiver credibilidade, então isto vai parar tudo. E posso dizer mais: o contrato que estávamos prontos para assinar na Índia contempla um valor de 550 mil dólares por ano durante os próximos 10 anos. O contrato que estávamos a assinar nos Estados Unidos previa que, nas próximas três épocas, o estágio fosse feito naquele país e, para lá de ter todos os custos logísticos pagos, o Sporting ainda receberia 500 mil euros para fazer dois jogos. Além do mais, estava a ser discutida a implementação do “master franchising” da Academia com o respetivo desenvolvimento. Estamos, neste momento, a devolver um trabalho em Angola e ainda ontem me perguntaram se era para continuar e eu respondi que sim. Há coisas às quais podemos dar continuidade, mas há outras que tiveram de ser interrompidas. Estávamos a negociar uma parceria de formação para a Academia com a entrada de 60 milhões de euros. Não posso dizer com quem era, mas o negócio estava numa fase final. Quem vier, pode continuar. Nós diremos ao presidente (e não aos candidatos) as condições das negociações. Se este trabalho não tem sido interrompido, estávamos a estabelecer condições para não ser necessária a maioria na SAD. Paralelamente, estávamos a negociar com dois investidores – um de 132 milhões de euros e outro de 100 milhões de euros – a entrada de capital na SAD. Estas hipóteses estariam à espera do final da reestruturação financeira para avançarem, o que iria levar à realização de uma AG, já que isso implicaria a perda da maioria na SAD. Ainda hoje está a ser desenvolvido o negócio com um hipotético investidor, que terá de acertar os pormenores com o próximo presidente, num valor percentual menor mas que também quer a maioria na SAD com a injeção de 80 milhões.

«As críticas que fizeram ao Carlos Freitas são injustas»

R – Uma das acusações que lhe fazem foi o investimento realizado na equipa com a contratação de 25 jogadores em duas épocas.

GL – Quando chegámos, havia jogadores que não queriam ficar no Sporting. Além disso, não existia equipa B. Tínhamos muitos jovens emprestados e a única forma de acompanhar a sua evolução e integrá-los progressivamente na equipa principal, era através da equipa B. Para além disso, contratámos jogadores internacionais e que têm valor. As críticas que fizeram ao Carlos Freitas são injustas. Tanto é assim que os internacionais que o Sporting tem no plantel principal foram cobiçados ao longo da temporada, apesar de a prestação desportiva ter ficado aquém das expectativas.

R – O problema, porém, não foi só a quantidade, foi sobretudo o que representou em termos de aumento da massa salarial.

GL – Como diz o professor Jesualdo, há jogadores que estão na bancada e outros que têm um banco. E estes mudam o banco da equipa B para a equipa A até aqui se estabilizarem. À medida que eles forem entrando, teremos a possibilidade de realizar mais-valias com a venda de jogadores e, assim, diminuir a massa salarial. É verdade que ela aumentou, mas tivemos de passar por este processo para chegarmos a um ponto em que as coisas possam evoluir no sentido que referi.

R – Qual era a sua expectativa?

GL – Com a boa gestão desses ativos conseguiria não apenas recuperar o dinheiro gasto mas até superá-lo. Isto é, os jogadores contratados nos dois primeiros anos representaram um investimento de 34 milhões, tendo o Sporting gerado, até agora, 8,8 milhões de mais-valias na venda de alguns. Penso que até final da temporada seria possível ultrapassar em muito a verba inicialmente investida.

12 comentários:

  1. Ou seja, mais uma vez tanto papel desperdiçado, é típico do indivíduo ex-predidente, numa entrevista tão extensa acabou por dizer NADA!

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  2. É bom que se leia isto.

    Mais, é bom que os candidatos tomem consciência daquilo que têm de fazer. A pergunta é tão simples quão real: tens 25M?

    E não dá para enrolar. Ou têm ou não. Simples. Mais que um projecto desportivo, importa entender se estão na posso desses valores ou não necessários à reestruturação.

    Também fica claro que se tiverem vão ter mais margem pois estão reunidas as condições para o clube ter, novamente, receitas.

    Agora mantenho o que já disse noutro lado:

    (i) o clube precisa de dinheiro, os candidatos precisam de dinheiro. O discurso do Severino de "Pinto da Costa ia de autocarro para o Dragão" não cola. Não chega! Ou têm acesso ao dinheiro ou não têm. Quem não tem, como Severino, só se demonstra como Sportinguista se se afastar voluntariamente;

    (ii) o presidente tem de ser honesto e sério ao ponto de dar continuidade aos dossiers onde a direcção esteve bem. Isto é, ter coragem para dizer: "GL fez isto e nós vamos levar isto em diante". Isso exige carácter e capacidade de pôr os interesses do clube à frente dos seus.

    Não façam mal ao Sporting, se não têm acesso ao dinheiro afastem-se.

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  3. Resta é saber se é verdade o que ele diz nessa entrevista...e como o homem tem sido um mentiroso compulsivo...

    Agora o 3º ano passou a ser apostar na formação...quando antes era ser campeão. Só acredita nele quem quer.

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  4. mas o que é que este senhor algumas vez fez ou disse que vos permita acreditar numa só palavra que ele possa balbuciar?

    só o facto de este blog transcrever esta entrevista miseravel deste mentiroso incompetente mostra de que lado voçês estão.

    estão do lado dos interesses economicos, politicos e pessoais que têm destruido o Sporting nos ultimos 20 anos.

    em vez de romper com esta dinâmica de esturpação do SCP continua-se a levar a sério este discurso de chantegem nojento, que procura não permitir o acesso ao poder a pessoas honestas, humildes e que verdadeiramente gostam do SCP.

    JMM - voçê é cego, ou tem algum interesse pessoal na eleição destes mesmos trafulhas?

    não percebe quando lhe mentem e chantageiam para ganhos proprios e de terceiros?

    abra os olhos ou admita que o que quer é ver determinadas pessoas no poder, e não o melhor para o clube.

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  5. Caro Sporting sempre,

    Admito que vejo com estranheza o seu discurso tanto no que se dirige a mim como no que se dirige ao blog A Norte de Alvalade.

    O transcrever da entrevista é um favor que me fazem e é informação relevante que espalham. Não entendo como pode um Sportinguista não ter interesse numa entrevista do Presidente do Clube...

    Eu, por exemplo, achei deplorável a atitude de Eduardo Barroso e tinha muito interesse em ouvir o que ele tinha para dizer. Como Sportinguista tenho o máximo interesse pelo que o PMAG tem para dizer assim como pelo que o Presidente da instituição tem a comunicar. Estranho que alguém possa não ver a coisa assim.

    As opiniões são pessoais. O transcrever da entrevista, tanto quanto vejo, não carrega consigo qualquer comentário do LdA ou de qualquer outro. Mais lhe digo, se o autor do post tivesse opinado de forma favorável ou não mais não fazia que utilizar um direito que lhe assiste num blog que é o seu.

    O seu comentário parece revelar uma dificuldade em encaixar que alguém não pense da mesma forma. Isso tanto se revela na precipitação em tirar conclusões da transcrição como no comentário que fez à minha pessoa.

    Agora vamos a mim, não sou cego. Felizmente. Quanto a interesse, tenho muito interesse pois é do Sporting que se fala. O seu comentário parece ir no sentido de achar que quem deve ir para o Sporting será o que for por puro altruísmo. Não posso deixar de sorrir perante essa noção.

    Qualquer candidato ao Sporting terá, acredito eu que não julgo intenções que desconheço, a melhor das intenções. Contudo a par disso terá os seus interesses pessoais. Nada de mais normal, o interesse faz parte da vida. Ou acha que Severino ou BdC se candidatam sem qualquer interesse? Acha que não há ganhos próprios?

    Quanto a pessoas serem honestas e humildes ou o contrário, devo dizer que não tenho informação para fazer juízos de valor a esse respeito. Muito menos para chamar "trafulha" a nenhum dos envolvidos no Sporting.

    Poderia, eventualmente, utilizar a sua linha de argumentação para chamar trafulha àqueles que, a meu ver, não são a melhor opção para o Sporting. Seria mais fácil. Não o farei porque os que não são melhores opções para o SCP apenas não são boas opções para o SCP na minha opinião. Nada mais que isso. Não sei se são trafulhas ou qualquer outra coisa.

    A situação do Sporting é por demais conhecida. Aliás, oponentes a esta direcção já o admitiram. Porque lhe custa tanto que eu afirme que os requisitos financeiros são necessários? Não os têm? Eu apenas coloquei critérios, e o financeiro foi até reconhecido pelo PMAG. Qual o problema?

    Quanto à sua ultima afirmação, não tem o direito de a fazer. Como não tem o direito de a fazer apenas direi isto quanto a ela: sou sócio do Sporting e cidadão livre pelo que tenho pleno direito de dar a minha opinião e votar de acordo com ela seguindo os critérios que bem entender e achar apropriados para o bem do clube. O mesmo direito que se lhe assiste a si e que eu nunca poderia colocar em causa, como não coloco.

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  6. Sporting Sempre

    Já tinha deixado aqui uma demonstração de pouca inteligência mas não satisfeito veio agora reiterá-la acrescentando uma atestado da alienação em que vive.

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  7. JMM, peço desculpa se o ofendi ou melindrei, tem todo o direito e liberdade para ter e expressar a sua opinião, obviamente..

    mas chegámos a uma altura em que não consigo aceitar ou compreender como podem ainda alguns socios do Sporting acreditar em mentiras obvias e chantagens evidentes de pessoas nada respeitáveis, que nos levaram ao lugar onde estamos.

    reconheço que qualquer pessoa tem interesses pessoais a proteger em quase qualquer acção, ainda mais numa candidatura a uma instituição desta grandeza, mas a diferença está na narrativa que nos é vendida por pessoas com prioridades que nada têm a ver com o clube.

    a narrativa alarmista de "o clube corre o risco de acabar" foi criada por estas mesmas pessoas, pela sua incompetência, pelo modo corrupto e interesseiro como operaram e defendem sempre interesses de terceiros em favor do clube.

    não acho possivel pessoas inteligentes não perceberem isto.

    quanto ao problema financeiro, prefiro começar do zero, das destritais mesmo, e com total independência para refazer o clube da maneira certa (o que nada interessaria aos nossos ´parceiros´ BES e BCP) do que viver a mendigar aos bancos, á olivedesportos, a patrocinadores e ao fcporto.

    hoje o SCP não tem dignidade, não tem orgulho nem tem o respeito de ninguém, nem mesmo dos Sportinguistas...

    Foi a este ponto que nos levaram estas pessoas, será possivel não perceber que uma roptura é o unico caminho possivel?

    LdA - voçê tem deixado post a post as provas da sua, hoje foi um exemplo perfeito. "Churralho de mentiras e chantagens? Copy&Past, tomem lá sportinguistas."

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  8. Depois de ano e meio agora e que de repente estavam a ser feitos os negocios todos...

    Ia ganhar a AGE e estava tao convicto que tentou boicota la de todas as maneiras possiveis.Ah, claro, agora e que ele ia fazer os negocios todos.

    O investidor tambem ia aparecer agora, claro...Precisamente agora que o clube esta no auge e sao resmas de investidores atras de nos...Obviante o engenheiro nao andou ano e meio pelo mundo atras de tudo e todos a levar naos... E a este respeito, gracas a Deus foi embora...Este modelo e tudo o que nao quero para o Sporting...Alias, ja o disse noutra sede e a proposito do que vem a seguir ...

    Quanto as contratacoes e a Carlos Freitas, e pena que o Sa Pinto nao venha a terreiro explicar algumas coisas que se passaram...

    Este homem esta a mostrar se um louco perigoso...

    Nao percebi a politica de investimento.Agora ia diminuir se a massa salarial.Provavelmente porque ja se tinham alcancado os objetivos e estavamos em grande.Foi uma estrategia logica e pensada...

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  9. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  11. Uma pergunta a liedshow: os advogados não devem poder ocupar cargos dirigentes no Sporting?

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  12. Que nivel de demência...

    Declarações completamente inacreditáveis...

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