Vitória 0 - Sporting 4: Um conto de fadas em pleno castelo
Não se depreenda do titulo menor consideração pelo adversário ou laivos de sobranceria por causa do resultado expressivo. Sendo indiscutível o mérito do Sporting também o é concluir que talvez tenha sido este um bom momento para este encontro em Guimarães. Ainda na vigência da anterior direcção técnica eram notórias as debilidades dos vitorianos que, com grande sorte, iam conseguindo bons resultados e sofrendo poucos golos, quando as histórias dos jogos (p.ex. Paços de Ferreira e SCBraga) nos diziam que os desfechos poderiam ter sido outros bem diferentes.
O mérito desta vitória começa certamente na forma como o jogo foi preparado primeiro e encarado pela equipa depois. E isso pôde ser constatado a dois tempos:
A forma como o Sporting se predispôs desde muito cedo a explorar as fraquezas de uma linha defensiva vitoriana muito subida mas sem exibir argumentos que lhe permitissem tal veleidade.
Ao contrário de tantos outros jogos num passado recente, o Sporting entrou "a matar" e, antes de se esgotar o primeiro minuto, já tinha construído duas situações eminentes de golo, com Sporar primeiro e João Mário de seguida, a esboçarem oportunidades clarissímas.
Um terceiro factor, a eficácia. Começar e acabar a primeira a parte a "facturar" e, passados dez minutos do recomeço, reincidir no golo reduziu a pó as aspirações que os anfitriões poderiam acalentar em retirar pontos ao Sporting. Nada disto acontece sem sorte, obviamente mas a sorte dá muito trabalho e o Sporting trabalhou muito e bem.
No fim o que contam sempre mais do que quase tudo o resto é o resultado e a obtenção de pontos ajudar a construir uma muralha imprescindível: a confiança. Se esta qualidade/característica é necessária em todas as equipas, numa equipa impregnada de juventude e experiências de alta roda limitada mais ainda. E aqui há também que considerar dois pontos:
Apesar dos resultados surpreendentemente bons - ou muito bons, se atendermos aos números de melhora ataque, melhor defesa, goleador da Liga para Pote - esta não equipa não exerce ainda o domínio que um verdadeiro candidato costuma exibir. Entre o golo inaugural o Vitória, mesmo de forma incipiente e quase sempre muito dependente dos argumentos técnicos superlativos de Quaresma e Edwards, soube causar algum sofrimento e até suscitar alguma dúvida na marcha do marcador, mesmo sem criar mais do que uma situação de golo iminente em toda a partida. Gerir a vantagem recorrendo à posse criteriosa para descansar com bola e controlar as investidas do adversário é por onde esta equipa tem de ainda de crescer.
Não há nenhuma equipa que cresça saudavelmente sem a confiança que os bons resultados trazem e aqui há que reconhecer com justiça que este grupo de trabalho tem tido a coragem e diria até a irreverência e atrevimento de que se constroem as equipas vencedoras. O querer deste grupo é notável. A indiferença ao que dizia à sua volta, quer externa quer sobretudo internamente desde o inicio, a forma como superaram as dificuldades de um surto numa fase tão importante da época e o revés amargo de uma eliminação europeia precoce auguram excelente saúde e preparação.
Algumas notas individuais que me parecem imprescindíveis:
Adán: Fez o que se pede a um guarda-redes de um grande: mesmo que pouco interventivo tem de ser decisivo quando chamado. E foi!
Porro: Desculpem lá o francês, mas porra! que o homem corre, corre. Tem ainda por onde crescer mas, ao contrário dos seus predecessores recentes na posição, tem-o conseguido a olhos vistos.
Neto: Cumpriu
Coates: Capitão
Fedal: Há ainda ali algumas hesitações a corrigir mas tem sido o central que mais me tem surpreendido.
Nuno Mendes: já quase não há adjectivos para classificar este miúdo feito homem em pouco tempo. Imperturbável e cheio de classe. Aquela arrancada quase dava um dos melhores golos da Liga, seguramente a par do outro do mesmo género que já facturou.
Palhinha: que diminutivo tão paradoxal para um esteio do nosso jogo. Saiu daqui um miúdo timorato e regressou um Homem, como se vê até pela forma como sabe usar o físico, argumento indispensável na sua posição.
João Mário: joga de pantufas, o que deve ser assaz irritante a quem vai atrás dele de dentes cerrados e pitões em riste. Ainda não está em forma, que se nota em momentos em que desaparece do jogo, mas faz coisas que mais ninguém com uma leveza que faz parecer tudo muito fácil.
Pedro Gonçalves: Baratito, não foi?
Nuno Santos: Raça, eficácia e alma. É impossível não gostar.
Sporar: um avançado é mais do que os golos que marca. E se pode ser mais eficaz neste aspecto é de salientar a sua participação decisiva na construção dos últimos resultados pela forma como assiste e se se envolve no jogo ofensivo.
Matheus Nunes: é hoje um melhor jogador que quando foi chamado pela primeira vez. Tem sabido aproveitar as oportunidade e crescer e isso é o melhor que se pode dizer de um jogador.
Um nota final:
O Sporting vive neste momento um conto de fadas. Que deveria ser aproveitado para puxar atrás o filme da época atrás e verificar tudo que se disse e foi feito por cada um até aqui chegarmos. Não para o tradicional ajuste de contas entre adeptos e facções, mas para não repetirmos os erros de sempre que muitas vezes nos fazem perder antes de sairmos de casa e os jogos começarem. O Sporting precisa de uma retaguarda forte que só os seus adeptos podem proporcionar porque é clara a nossa desvantagem sobre quase todos os factores que condicionam os êxitos: do factor económico ao poder nos bastidores.
É que se não somos os piores, como muita gente disse depois do jogo com o Lask (que ninguém contabiliza a participação da arbitragem no resultado final), também agora não somos os melhores, apesar do primeiro lugar. As lacunas do plantel são as mesmas do inicio época e com o tempo, as lesões, castigos as desvantagens para os adversários serão mais evidentes e servirão de lastro no balão das nossas pretensões e anseios.
Como tudo o que é bom e de qualidade ,nunca é demais e vale mais tarde do que nunca.
ResponderEliminarSaudações leoninas