Conclusão a retirar do clássico: é possível servir a dois senhores.
Começo pelo fim. Foi profundamente frustrante perder um jogo com o significado e a importância deste último clássico já quando o jogo se aprestava a terminar. Tendo em conta a forma como o jogo decorria não foi propriamente surpreendente o empate. O resultado era escasso e no futebol, e num clássico em particular, um erro, uma distração ou um momento de inspiração podem alterar o marcador a qualquer momento. E o Sporting, dando mostras de estar fatigado física mas sobretudo mentalmente, havia recuado excessivamente e esse estado era responsável pelo menor esclarecimento, fazendo com que a posse de bola fosse escassa, deixando assim a equipa em permanente sofrimento.
O momento alto do jogo terá sido o do golo do Sporting, pelo elevado
valor técnico da execução de Quenda, a oferecer o golo ao improvável
goleador Fresneda, num movimento que não é novo e surpreende os
adversários pelo posicionamento. O Sporting controlava o jogo, cedendo a
iniciativa ao adversário, a construir desde o seu sector recuado, que
pouco mais fazia do que demonstrar a sua pouca aptidão para o fazer. O
lance de maior perigo viria de uma desatenção de Inácio.
Rui Borges ainda tentou, no pouco que dispunha, alterar a disposição dos jogadores, que desde o apito inicial da segunda parte, pareceram aceitar tacitamente o domínio do adversário. Esta equipa tem sido sujeita aos maiores sacrifícios, exposta à dureza de um calendário muito exigente, pelo que acaba por ser compreensível esta reacção. Mais ainda quando os principais lances de perigo na primeira parte foram sobretudo resultante de perdas de bolas próprias do que mérito do adversário. Os jogos têm várias dimensões, nem tudo se explica por razões de ordem táctica, física ou técnica. A dimensão psicológica é também a ter em conta e creio que se explicará por aí esta postura mas defensiva na segunda parte.
Foi duro para todos, em particular para os jogadores, que deixaram tudo em campo, mesmo considerando que a inspiração foi escassa. E foi também muito duro para todos os muitos Sportinguistas que acorreram ao jogo e que, em grande parte do tempo de jogo, pareciam ser tantos ou mais que os espectadores portistas.
O jogo caminhava para o seu epílogo quando João Pinheiro resolveu ser o protagonista do jogo. Mais uma vez, no mesmo local onde já o tínhamos visto a ter o mesmo tipo de actuação e comportamento. Pinheiro guardou-se para o momento decisivo, demonstrando que a sua vontade de cumprir mais um serviço do que ser um bom árbitro. O seu caso é provavelmente uma evidência de profunda alergia ao Sporting, talvez mesmo algo só explicável pela psicologia ou psiquiatria. Ou então por algo mais básico, como a honestidade, neste caso a falta dela. Se a tivesse, e atendendo à colecção de "infelicidades" que regista quase a cada jogo, seria o próprio a pedir escusa a arbitrar jogos do Sporting. Que o clube não tenha feito já ao mais alto nível também deve ser um caso de estudo.
Isto acontece de forma reincidente porque o árbitro tem beneficiado do amparo da mão do status quo - ou sistema, porque ele continua a existir - porque bastaria uma ida mais do que justificada à jarra para o Pinheiro se perceber os limites. Mas não, ele sabe que tem carta branca e protecção para os seus erros. Na sua missão foi muito bem secundado pelo VAR, que em pelo menos duas ocasiões deveria ter obrigado o colega a ver um pouco de televisão. Ou então ao oculista. Mas Tiago Martins estava naqueles dias em que não conseguiria ver a Ponte da Arrábida ainda que batesse num dos seus pilares.
A ideia bíblica de que não se pode servir a dois senhores foi claramente contrariada. Com a sua actuação, João Pinheiro e Tiago Martins conseguiram reduzir a vantagem para um e impedir mais uma derrota a outro. Percebe-se assim a estranha euforia pela celebração do treinador portista pela quinta (!) jornada sem vencer que o deixam a 8 (!) pontos de distância do líder Sporting e com ainda com direito a volta olímpica. Estranho e até embaraçoso.
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