Fazer ao contrário e desejar/exigir que saia direito
Julgo que nem o mais pessimista dos Sportinguistas conseguiu antecipar que, por pior que corresse a época, nos encontrássemos na situação em que nos encontramos. O Sporting vive um momento de particular fragilidade que, por isso, merece um tratamento adequado às circunstâncias. Mas o que se tem visto, dos mais variados quadrantes do clube, e com raríssimas excepções, é precisamente o oposto.
Começando por quem toma as decisões, que são as acções cujos os efeitos mais rapidamente se fazem sentir, foi notório desde o inicio dos problemas - a pré-época deixava claro que havia questões essenciais para resolver - que não se estavam a escolher os melhores remédios para atalhar os sintomas de doença. Ao invés, como aqui o fui dizendo, mandava-se o bom sendo às malvas. Tal como acontece quando um avião cai, cometiam-se vários erros em simultâneo. Fosse apenas um e estaríamos a falar de meros percalços, não de uma hecatombe generalizada.
A renovação com Sá Pinto era quase inevitável face ao que foi o final da época sob o seu comando, apesar do desastre do Jamor. Mas se me parece impensável deixá-lo cair então, estender o contrato por mais do que um ano, sem se saber o que valia Sá Pinto a preparar uma época de raiz foi precipitado. Mais precipitado ainda se não se fazia a mínima intenção de viver com as consequências. Isso pelo menos é o que se depreende pela forma como o treinador foi ficando isolado e com uma equipa técnica claramente incapaz de o ajudar.
É incompreensível que se tenha dado a Sá Pinto carta branca para tomar decisões sobre a constituição do plantel e se tenham produzido alterações de monta até do ponto de vista financeiro para, em 2 meses, entregar a criança nos braços de um pai adoptivo. Despedir o treinador, a 24 horas de um jogo no dragão, é também injustificável sob qualquer ponto de vista. Uma jogada nitidamente "à Duque", que tinha tudo para resultar mal, confirmando que o macete Materasi/Inácio foi a excepção que a regra não confirma.
Deixar o plantel entregue a um Oceano de dúvidas, a ver no que dava, num limbo de semi-interinidade, foi o momento de não retorno na actual crise. Não se conhecem bons resultados causados por soluções deste tipo. Subsistem ainda dúvidas se a escolha de Vercauteren foi a mais avisada mas, como é bom de ver, o que actual equipa produz é muito menos do que se tivesse sido ele a preparar a época, valendo o mesmo quase para qualquer outro treinador no comando desde inicio.
Mas se são as decisões dos dirigentes as que determinam o essencial, não se pode retirar da equação o que os adeptos fazem e dizem. E aqui também encontramos motivos para pensar que do nosso lado se continua a proceder de forma oposta ao que aconselharia pelo menos o bom senso. Exigir a demissão dos corpos sociais após cada derrota até é compreensível no estádio, com a emoção à flor da pele. Fora dele o Sporting precisa mais da razão e dispensa bem o excesso de emoção.
Como o meu amigo Virgílio e o MF aqui deixaram bem claro, a demissão pura e simples dos actuais corpos sociais não muda nada no imediato e, creio, só concorreria para acentuar ainda mais a crise que já se vive. Só vejo 2 razões para, neste momento se insistir nesta ideia: a vontade de punir de Godinho Lopes e convicção que a saída dos actuais dirigentes e a entrada de outros resolveria de imediato todo e qualquer problema. A minha convicção é exactamente a oposta, não só poderia resolver muito pouco para esta época, como seria provável agravar. A punição concreta de Godinho Lopes recairia em abstracto sobre todo o clube, que nem é apenas o futebol.
É óbvio que no Sporting se fala demais e, em grande parte, se fala na hora errada, acrescido de propostas que só são boas porque nunca serão confrontadas com a sua aplicação prática. Citando um leitor deste blogue "não é no desespero que perco a visão, somente luto pela minha lucidez e sobrevivência de mim, ou do meu Grande Amor."
Também aqui andamos ao contrário, falando quando o momento recomenda contenção, e não são apenas os "notáveis", como muitas vezes se quer fazer crer. Tenho dúvidas que o excesso de ruído chegue da mesma forma ao plantel - os jogadores vivem nos seus mundos muito particulares - como se propaga pelo clube , subindo das redes sociais, pela comunicação social até aos gabinetes de Alvalade. Pensar que esse ruído não afecta o discernimento de quem tem a tarefa de decidir é ingenuidade. Se atendermos a que o barulho é sempre maior quando mais preciso era o silêncio e a reflexão temos explicadas pelo menos uma parte significativa das precipitações.
Claro, uma boa liderança é impermeável às pressões e o ruído, dirão. Não sei se estamos a dizer que o dirigismo no Sporting é apenas acessível aos super-homens. Pior ainda é constatar que se apregoa que a liderança é fraca, o que por si só a fragiliza ainda mais quer interna quer externamente.
Proclama-se a preocupação com a situação financeira mas, na mesma frase, exige-se a venda de uma série de jogadores que, face ao nosso momento e à conjuntura geral, só pode ser mau negócio. E pedem-se prendas de Natal para um final de época que pouco mais se pode ganhar do que reconstruir o amor próprio.
Redescobrem-se as virtudes da formação porque a equipa B é um sucesso, (ignorando-se "estratégicamente" a virtude da decisão e sua autoria), mas rejeita-se a mesma formação que nos colocou uma série de jogadores na equipa sénior e que estão num estado mais evoluído das suas capacidades.
Promete-se apoio mas "com outros" e não "com estes" ignorando-se que um clube se constrói todos os dias, em cada momento. Julga-se o Sportinguismo na presunção de quem não só se acha mais Sportinguista que os outros, como se arvora o direito de decidir quem deveria ser ou não Sportinguista.
Não podia a fotografia ficar completa sem me debruçar pela ideia peregrina que é o protesto da Juve Leo. Compreendo como ninguém o seu desencanto e desespero face ao momento, que não será superior em nada aos demais. Mas a sua existência não faz sentido sem ser no estádio a apoiar a equipa quando ela mais precisa. Também o excesso de emoção parece estar a toldar o raciocínio a esta parte importante da família leonina.
Conheço muito bem o meio do futebol profissional para acreditar que os jogadores não querem ganhar ou que se aplicam menos por qualquer razão. Grande parte dessas teorias conspirativas não passam de mitos que servem como explicação para uma menor compreensão da importância que tem o treino e a táctica.
"Manguelas" há em todas as profissões, mas a regra é a necessidade do reconhecimento que só o jogar bem ou pelo menos as vitórias proporcionam. É o que que abre as portas aos melhores contratos para carreiras sempre pressionadas pela sua curta duração e pelas inúmeras vicissitudes. Pensar que os jogadores são o "inimigo" é uma visão enviesada e perigosa da realidade. O barco onde navegamos, adeptos e jogadores, é o mesmo, mas eles são, em campo, a nossa tripulação. O que não lhes falta são outros barcos para navegar mas nós só temos este.
Dizer que a época está totalmente perdida é um erro estratégico e simultaneamente contraditório com a exigência que se faz aos jogadores de respeitarem a camisola. É dizer que todo e qualquer esforço é inútil, quando podemos perder ainda muito e o temos o orgulho leonino para restaurar. E isso só se faz ganhando.
Também aqui andamos ao contrário, falando quando o momento recomenda contenção, e não são apenas os "notáveis", como muitas vezes se quer fazer crer. Tenho dúvidas que o excesso de ruído chegue da mesma forma ao plantel - os jogadores vivem nos seus mundos muito particulares - como se propaga pelo clube , subindo das redes sociais, pela comunicação social até aos gabinetes de Alvalade. Pensar que esse ruído não afecta o discernimento de quem tem a tarefa de decidir é ingenuidade. Se atendermos a que o barulho é sempre maior quando mais preciso era o silêncio e a reflexão temos explicadas pelo menos uma parte significativa das precipitações.
Claro, uma boa liderança é impermeável às pressões e o ruído, dirão. Não sei se estamos a dizer que o dirigismo no Sporting é apenas acessível aos super-homens. Pior ainda é constatar que se apregoa que a liderança é fraca, o que por si só a fragiliza ainda mais quer interna quer externamente.
Proclama-se a preocupação com a situação financeira mas, na mesma frase, exige-se a venda de uma série de jogadores que, face ao nosso momento e à conjuntura geral, só pode ser mau negócio. E pedem-se prendas de Natal para um final de época que pouco mais se pode ganhar do que reconstruir o amor próprio.
Redescobrem-se as virtudes da formação porque a equipa B é um sucesso, (ignorando-se "estratégicamente" a virtude da decisão e sua autoria), mas rejeita-se a mesma formação que nos colocou uma série de jogadores na equipa sénior e que estão num estado mais evoluído das suas capacidades.
Promete-se apoio mas "com outros" e não "com estes" ignorando-se que um clube se constrói todos os dias, em cada momento. Julga-se o Sportinguismo na presunção de quem não só se acha mais Sportinguista que os outros, como se arvora o direito de decidir quem deveria ser ou não Sportinguista.
Não podia a fotografia ficar completa sem me debruçar pela ideia peregrina que é o protesto da Juve Leo. Compreendo como ninguém o seu desencanto e desespero face ao momento, que não será superior em nada aos demais. Mas a sua existência não faz sentido sem ser no estádio a apoiar a equipa quando ela mais precisa. Também o excesso de emoção parece estar a toldar o raciocínio a esta parte importante da família leonina.
Conheço muito bem o meio do futebol profissional para acreditar que os jogadores não querem ganhar ou que se aplicam menos por qualquer razão. Grande parte dessas teorias conspirativas não passam de mitos que servem como explicação para uma menor compreensão da importância que tem o treino e a táctica.
"Manguelas" há em todas as profissões, mas a regra é a necessidade do reconhecimento que só o jogar bem ou pelo menos as vitórias proporcionam. É o que que abre as portas aos melhores contratos para carreiras sempre pressionadas pela sua curta duração e pelas inúmeras vicissitudes. Pensar que os jogadores são o "inimigo" é uma visão enviesada e perigosa da realidade. O barco onde navegamos, adeptos e jogadores, é o mesmo, mas eles são, em campo, a nossa tripulação. O que não lhes falta são outros barcos para navegar mas nós só temos este.
Dizer que a época está totalmente perdida é um erro estratégico e simultaneamente contraditório com a exigência que se faz aos jogadores de respeitarem a camisola. É dizer que todo e qualquer esforço é inútil, quando podemos perder ainda muito e o temos o orgulho leonino para restaurar. E isso só se faz ganhando.