"Se fosse fácil não era para nós"
Foi muito difícil a vitória em Arouca e ela acontece já quando o tempo de jogo estava praticamente esgotado. Esta semana João Mário, em entrevista à Rádio Renascença, usou a frase que titula o post, e que se tornou célebre pelo uso consecutivo dado por nada mais do que... Rui Vitória.
Terá sido casual o seu uso, feito por mimetismo causado pela mediatização ou intencional? A minha primeira opção para responder à questão recairia na primeira ou segunda possibilidade se estivessemos a falar de um qualquer futebolista. Atendendo a que se trata de João Mário inclino-me para a intencionalidade no uso da frase.
Uma das características que distingue João Mário é a inteligência e isso é observável no seu desempenho em campo. Não foi certamente por acaso que Jesus o escolheu para as actuais funções o seu 442. Essa característica é a que lhe permite fazer sem perda de rendimento várias posições em campo porque, compreendendo bem o jogo, executa quase sempre de acordo com as melhores opções ao seu dispor, com vantagem para o colectivo.
O mesmo se aplicará ao seu discurso: João Mário percebe o momento favorável face aos rivais e não dispensa o recurso à frase do treinador da outra equipa para o deixar bem vincado. Como se quisesse lembrar que de facto é difícil para todos, mas está a ser mais para uns do que para outros. É apenas um pormenor, não se ganham jogos por causa dele, mas não pode deixar de ser contabilizado e usado como vantagem.
Estando o campeonato a correr indiscutivelmente bem ao Sporting, não tem sido nada fácil. Nunca a disputa de um campeonato o poderia ser, o que se tem observado é que está a ser muito mais difícil do que os números avassaladores de posse de bola poderiam indicar. Isto é, o Sporting consegue muitas vezes dominar os adversários mas revela muitas dificuldades em materializar essa superioridade.
Não é certamente por acaso que apenas por três vezes o Sporting ganhou por mais do que a diferença mínima mas, atendendo ao carácter especial de um derby, só dois servirão de verdadeiro exemplo. Todos os outros resultados foram conseguidos por um golo de diferença. Nacional, Arouca, Tondela, e Rio Ave, a que se somam duas comprometedoras situações de empate em que ficou patente a impotência perante as defensivas contrárias.
Muitos dirão que o que importa é ganhar, o que, perante a evidência, não haverá qualquer contestação da minha parte. O que me parece importante destacar é que são várias as situações de vitórias conseguidas in extremis, depois de avassalador domínio, para não reflectir sobre o desempenho do nosso ataque.
Do que me tem sido dado observar, o jogo do Sporting tem sido geralmente bem construído mas quebra no último terço, quase sempre por falta de sequência das jogadas. Nesse particular quer Teo quer Slimani têm ainda muito que crescer para oferecer à equipa mais situações de perigo. Crescer sobretudo na compreensão das suas funções que não podem estar confinadas ao momento de finalizar.
Slimani tem estado particularmente em destaque pela importância dos seus golos nos pontos conseguidos. Mas continua a revelar importantes limitações técnicas e de compreensão dos movimentos dos seus colegas, contribuindo dessa forma para o curto-circuito das jogadas de ataque, obrigando a recomeçar tudo novo vezes sem conta. Infelizmente isto é fatal para o processo de jogo, por mais que passe despercebido nas estatísticas e aos olhos dos adeptos.
Teo tem sido uma presa demasiado fácil para os adversários encarregues de o marcar, ficando muito tempo completamente fora do jogo por largos minutos. Ainda mais preocupante é constatar os braços caídos de Montero, que parece agora aceitar resignado o papel de suplente que JJ lhe parece ter destinado. Uma imagem quase gritante no jogo em Arouca, que certamente terá chamado à atenção do treinador.
Como é evidente, a melhoria da nossa capacidade concretizadora não se limita ao que farão estes três elementos. A falta de Carrrillo acarretou problemas inesperados para as quais foram encontradas soluções de recurso, mas que não parecem de sustentabilidade a médio-longo prazo. Mas que todos eles podem e devem dar mais, no sentido de oferecer continuidade ao nosso jogo atacante, parece-me indiscutível.
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