É ainda cedo para perceber todos os contornos do negócio ontem anunciado entre o operador NOS e o nosso eterno rival SLB. Assim, é ainda prematuro deliberar sobre que vantagens retirarão e prejuízos decorrerão para o nosso vizinho. Como não sou benfiquista essas são questões que não me afligem. Mas, sendo eu Sportinguista imutável e um adepto incondicional do futebol, interessam mais os efeitos colaterais que se farão sentir no futebol nacional e o que tal representa para o meu clube.
A consumação deste negócio constitui uma vitória indiscutível para a estratégia delineada pela actual gestão do SLB, com Luís Filipe Vieira à cabeça, mesmo que aqui chegar agora represente o difícil número de engolir a mesma espada que estes anos se andou a bramir contra a "infiel" Olivedesportos. Isto porque é muito provável que seja a SportTV o operador que ira disponibilizar os jogos do clube da Luz. Ainda assim sobra sempre uma saída pela porta dos fundos, podendo invocar-se o argumento do preço conseguido e que LFV continuou sem negociar com o "inimigo", ficando a cargo de cada um gostar ou rejeitar o prato que lhe é apresentado.
Parece-me claro que 40 milhões por época é um bom valor, 400 milhões é por isso ainda melhor. Não o desdenharia para o Sporting, antes pelo contrário. O facto de o contrato ter a duração de uma década ou poder ser renovado unilateralmente por uma das partes é, aos dias de hoje, precipitado atribuir como má para o SLB. O passar do tempo e as constantes mudanças no audiovisual pode vir a demonstrar o inverso.
Para o futebol nacional este contrato representa uma derrota. Derrota para os clubes porque se estima que, à semelhança de exemplos que já abundam por essa Europa, a negociação conjunta poderia trazer mais vantagens para todos. Infelizmente falta liderança e visão no nosso futebol, capaz de aglutinar esforços contra a tendência egoísta e bacoca de pensar que se pode construir uma hegemonia à custa da miséria da concorrência. Nem Fernando Gomes nem o recém-chegado Pedro Proença conseguiram alterar esta miopia e não parece que tenham sequer tentado.
É também uma derrota para a transparência, especialmente para um futebol onde campeia a suspeição. É isso que representa a partilha de patrocínio entre a principal competição e um dos seus principais pretendentes. É, no entanto, uma emulação do triste exemplo dos principais órgãos tutelares, a UEFA e a FIFA.
É uma derrota para o modelo de televisão universal de um clube . Ao contrário da propaganda dos últimos anos, fica bem claro, se preciso fosse, que, mesmo para quem se ufana de ter a maior massa adepta, que os clubes não têm vocação para enfrentar com ganhos a concorrência no audiovisual, a menos que dispusessem da totalidade dos jogos, ou pelo menos os dos seus rivais. Ora isso sabemos que é uma quimera. Isto é ainda mais evidente quando a BTV dispunha já da totalidade dos jogos de duas das melhores ligas, a que se somavam os seus jogos em casa. Se fosse bom não o vendiam agora.
Pode vir a representar também uma perda para o verdadeiro adepto do futebol. Dos que, sendo apaixonados pelo seu clube, também o são do futebol. Havendo a possibilidade de os jogos serem "aspergidos" por diversos operadores, ao invés de poderem ser vistos numa única plataforma, perder-se-á a noção do valor geral e do valor relativo das equipas que competem entre si. Acresce que, comercialmente, esta será uma solução suicidária.
Por fim o que esta mudança representa para o Sporting.
O acesso ao dinheiro é um factor desequilibrador entre concorrentes. Não é tudo, como se prova pelo comportamento das três equipas grandes no actual campeonato, mas é muito importante. Com o contrato ainda em vigor a durar ainda até 2017/18, há ainda tempo para tomar decisões. Falta saber se ele corre a nosso favor, ou se resultará num prejuízo não o poder negociar agora, quando aparecem vários players com apetite voraz para assim se puderem estabelecer com sucesso, conquistando mercado.
Julgo que será consensual estabelecer que este contrato induz pressão nos rivais do clube da Luz, nos quais nos incluímos. Deve ser também encarado como mais um grande desafio para a gestão do clube. Ela existe já quando nem nós nem o FCP conseguimos um patrocinador para as camisolas, abrindo um espaço vazio onde antes estavam 3 milhões de euros/ano.
Acresce que, para lá dos valores líquidos alcançados, há que realçar a implantação global do novo patrocinador, que leva o nome do patrocinado a todo o lado, ao contrário do que tinha sido alcançado até agora por todos. E que se vem juntar à nossa falta de receitas conseguidas com os "naming right" da Academia de Alcochete, da diferença de prestigio ou mesmo falta de alguns sponsors, ou dificuldade de captação de investidores. Ignorar isto é negar uma evidência.
De forma geral parece me um bom negócio por parte do slb, mas é tb bom para o sporting e porto, pois o interesse no futebol não se esgota num só clube. Acho que é altura que sporting e porto ponham as diferenças de lado e colaborem neste tema, pois os dois juntos têm(parece-me) mais peso que o benfica. Mas não sei se vai existir essa maturidade empresarial, tb temos algum tempo para encontrar a melhor solução e acho até que podemos fazer um contrato melhor que o slb, que pareceu me comprometer-se cedo de mais pelo principal activo deles.
ResponderEliminarRui Marques,
EliminarDuvido que consigamos valores semelhantes, nem me parece que isso possa ser exigido. O que me parece dever ser exigido é melhor do que o tem sido conseguido até agora porque precisamos de financiamento e desejavelmente com origem em parceiros prestigiados na sua área de intervenção.
Temos que concordar que o Luís Filipe Vieira é um negociador nato. Esteve-se marimbando para a cor clubística dos profissionais para a SAD do clube tendo mesmo ido buscar para presidente executivo um Domingo Soares de Oliveira que até é sportinguista. E nós nem conseguimos arranjar um patrocínio para as camisolas. E segundo se diz, está para breve mais um negócio de milhões lá para as bandas da Luz, com o naming do estádio.
EliminarDiscordo de muita coisa. Embora no curto prazo isto nos traga mais dificuldades - porque a diferença de orçamentos para o Benfica vai aumentar - penso que as consequências são benéficas no longo prazo.
ResponderEliminarPara já, provou-se que a Olivedesportos estava a pagar muito abaixo do valor real que o futebol vale - neste caso, 5 vezes abaixo. Isto tem duas consequências. Por um lado, acaba com a ideia de que os operadores nos estão a fazer um grande favor em comprar direitos televisivos - como se os jogos de futebol não fossem dos programas com maior audiência. Mas, mais importante, permite-nos também aspirar a receber mais. Aqui o que há a fazer é preparar o terreno para obter um aumento significativo dos valores que recebemos na próxima negociação. Se estarmos amarrados a um mau contrato até 2019 é uma desvantagem, dá-nos também tempo para sondarmos potenciais parceiros e preparar uma estratégia.
E aqui discordo completamente da conclusão sobre os canais de clube. A Benfica TV foi fundamental como alavanca negocial neste processo. Se não fosse por mais nada, já teria valido a pena para eles. Mas não é só isso: os canais de clube são hoje em dia um veículo fundamental para passar a história, cultura e dia-a-dia do clube (como no caso das modalidades com menos exposição mediática. Tanto quanto sei, o Benfica não perdeu dinheiro com isso, muito pelo contrário.
Também não concordo com a ideia da negociação coletiva. O facto de estarmos todos amarrados à SportTV não trouxe grandes vantagens a ninguém - a não ser para o Porto, o menos popular dos 3 grandes, que assim impediu durante anos que Benfica e Sporting se distanciassem neste aspeto.
Podes dizer-me: então se o futebol vale assim tanto, porque é que não temos patrocinadores para a camisola? E eu respondo: porque temos uma política completamente absurda de exposição mediática. Em todo o lado, faz-se tudo para aumentar a exposição das ligas ao máximo de espetadores possível. Em Portugal é ao contrário: faz-se tudo para o esconder. Despreza-se completamente o canal aberto, o que é um erro crasso. Não há nenhum programa de resumo estilo Domingo Desportivo que passe resumos de todos os jogos em canal aberto. Acabou-se com o jogo semanal em canal aberto. A SportTV coloca toda a espécie de limitações à passagem de resumos nos outros canais.
Nestas condições, como ficar surpreendido com o desinteresse dos patrocinadores? Quando o espetador casual - que deve representar 70 a 80% do publico do futebol - pode passar uma época inteira em que só tem oportunidade de ver as camisolas do Sporting/Benfica/Porto uma ou duas vezes. Ou quando - também por causa da escassez de imagens - os n programas sobre futebol dão 10x mais destaque aos "casos" de arbitragem do que aos golos e grandes jogadas e se entretém assim a destruir a imagem da modalidade? Faz-se tudo para diminuir o valor comercial do futebol. E depois surpreendemo-nos por não ter patrocinadores na camisola.
É aqui que está o verdadeiro problema. E é aqui que o esforço coletivo tem de ser feito. Se o for, será mais fácil a todos os clubes obterem um valor justo pelos seus direitos televisivos.
Pedro E.
EliminarHá uma mudança importante no panorama audiovisual que é importante reter. Ao contrário do momento em que foram negociados os contratos anteriores. À época negociou-se contra um detentor de um monopólio e teve que se viver com as regras por ele ditadas. Hoje há mais players e a concorrência entre eles poderá significar melhores propostas para os clubes.
Sobre os canais de clube o que eu digo é que "É uma derrota para o modelo de televisão universal de um clube" Sublinho o universal.
Relativamente à negociação colectiva ela nunca existiu. A Olivedesportos negociou sempre individualmente. A centralização das negociações é o modelo a que me refiro e que tem apresentado bons resultados para os clubes todos onde ela tem sido realizada.
Sobre a falta de interesse dos patrocinadores há muitas razões e não apenas as que foram destacadas. Aí os clubes e as suas guerrinhas de alecrim e manjerona também não têm ajudado muito, antes pelo contrário.
E se, na prática, isto fôr só mais uma engenharia financeira "orelhuda" para transferir dívida da SLB, SAD ao BCP para a NOS? Pense nisso, caso LdA...
ResponderEliminarLionClaw,
Eliminaressa parece-me a pior forma de olhar para isto:com sobranceria. Mesmo que fosse esse o negócio não deixaria de ser bom. Significaria oferecer as transmissões em troco do passivo ou parte, o que representaria um significativo alivio do serviço da divida, podendo esses montantes ser empregues noutras rubricas.
No presente, este é um bom contrato, se fosse o Sporting a celebrar um acordo similar tinha para mim dois handicaps, o principal a longa duração, como diz a canção "10 anos é muito tempo...", depois um factor que entronca com este a velocidade vertiginosa a que o futebol profissional consegue consumir dinheiro. Numa actividade normal, com antecipações de receita e empréstimos com este contrato como garantia eu diria que ao fim de oito anos este dinheiro estava consumido e eram necessárias receitas extraordinárias para cobrir os restantes 2, no futebol... duvido que não seja consumida esta verba em 5 anos, depois alguém que feche a porta...
ResponderEliminarIsto está aqui toda uma jogada que não sei se trará assim tanto lucro para o SL Benfica.
ResponderEliminarVou explicar as minhas contas agora:
1º A Sporttv dava cerca de 28M€/ano e eles rejeitaram;
2- BTV deu lucro de 17M na primeira época e cerca de 20M na 2º, ou seja, abaixo do preço que a Oliverdesportos dava.
2- Com a venda da BTV à NOS, o SL Benfica deixara de receber por parte das outras operadores (meo, cabovisão e vodafone) o valor que eles pagavam para poder passar o canal, que segundo o relatório de contas do SL Benfica , a meo paga 8,6M e a cabovisão 3,8 e a própria NOS pagava 6,8M , ou seja, feitas as contas dá logo cerca de 19M , que agora só serão 15, ou seja, perdem logo aqui 4M.
40-4=36 , a Oliverdesporto se desse 28 o SL Benfica ficou a ganhar mais 10M€/época, é muito bom não é ? o mal é que daqui a 10 anos o mercado pode estar inflacionado e o SLB não pode renegociar isto, pois o contrato é renovável unilateralmente.