As primeiras 5 jornadas da Liga corresponderam a outras tantas vitórias, carimbando logo aí a seriedade da candidatura do Sporting ao título. Algumas das dúvidas relativamente à qualidade de alguns dos novos jogadores foram também por aí perdendo força. Apenas Coentrão confirmou a debilidade física que o fez sair de Madrid à procura da reafirmação e de um lugar no avião da selecção nacional para a Rússia, lá mais para o Verão. Piccini entraria ainda com hesitações que se tem encarregado de superar com distinção. Mathieu foi desfazendo os piores temores, sendo, de todo o quarteto defensivo, aquele que se revelaria a melhor surpresa, pela qualidade e equilíbrio das suas acções.
Mas a grande surpresa teria sotaque italiano pelo clube de origem, mas expressa-se em bom português: Bruno Fernandes. Uma das melhores aquisições do Sporting dos últimos anos e um dos melhores resgates do futebol nacional. A maior visibilidade proporcionada por jogar num dos grandes nacionais retirou-o da penumbra a que desde muito cedo se havia recolhido em Itália. Pela qualidade de soluções que o seu jogo empresta - ligação entre sectores, equilíbrio, meia distância - dificilmente poderá ficar excluído das escolhas de Fernando Santos à partida para a concentração em Kratovo, nos arredores de Moscovo. No final desta primeira metade do campeonato é um dos nomes incontornáveis quando se pensa em fazer lotes dos melhores.
Os primeiros tropeções
Estava tudo aparentemente bem encaminhado quando acontece o primeiro tropeção. Não se pode dizer que não estávamos avisados, pelo menos pelo historial de resultados surpreendentemente maus em Moreira de Cónegos. Mais surpreendente ainda que o resultado foi a exibição tristonha. Talvez se possa contabilizar este nulo (1-1) como os primeiros danos colaterais pela participação na Liga dos Campeões.
Danos Colaterais
A factura da participação nas competições europeias é paga por quase todas as equipas, mais tarde ou mais cedo, no campeonato. Seja por cansaço, seja pela dificuldade em manter foco e motivação permanentes. Talvez não tenha sido um acaso que o empate se tenha registado nesta viagem por tortuosas estradas ao coração do Minho a anteceder a recepção à multitude de flashes que habitualmente acompanham as estrelas do Barcelona. Isto depois de já ter mostrado ao Steua de Bucareste o sinal vermelho no play-off da Liga dos Campeões e tomado de assalto a base do Olimpiakos, no Pireu. Este jogo confirmaria uma das debilidades na construção do plantel: a ala esquerda da defesa fica exposta a cada ausência de Coentrão. A confiança na prontidão de Jonathan Silva é manifestamente infundada.
Fraqueza com os fortes
Até o inicio de Dezembro, enquanto decorreu o ciclo europeu, o Sporting haveria de perder mais quatro pontos - que poderiam ser seis, uma vez que do jogo em Vila do Conde salvou-se o resultado - todos eles com um ponto em comum que se voltaria a confirmar no derby da Luz: a incapacidade do Sporting em vencer os mais fortes do campeonato. Precisamente o oposto do que representou a chegada de Jorge Jesus a Alvalade, uma alteração que se associa também a uma outra ainda não totalmente confirmada: esta versão 17/18 parece querer abordar os jogos de forma mais conservadora, expectante, cínica até, mas denota dificuldade na sua concretização.
Seis dos oito pontos são perdidos
Seguindo a lógica que para ser campeão se é obrigado a ganhar todos os jogos com os pequenos em casa e fora e todos os jogos em casa e fora chega-se à conclusão que dos oito pontos que não conseguiu amealhar (Moreirense, FC Porto, SC Braga e SL Benfica) seis têm que ser dados como perdidos. Seguindo o mesmo critério ficou em vantagem relativamente ao SL Benfica para os jogos entre si, que podem ser importantes em caso de desempate, se cumprir a obrigação de ganhar o seu jogo em casa na volta do campeonato.
Curiosidades estatísticas
Desde a longínqua época de 1994/95 que o Sporting não dobrava a primeira metade do campeonato invicto. Porém isso à época valeu-lhe de pouco, uma vez que Bobby Robson vingava-se então de um despedimento absurdo de Sousa Cintra e venceria o campeonato.
Há ainda uma outra interessante e desafiadora: nas últimas sete vezes que o actual comandante virou na frente à primeira volta, foi sempre campeão. Porém na oitava vez foi precisamente o Sporting que o impediu de chegar ao titulo numa outra coincidência: tal como então, o Sporting buscava interromper um longo período sem vitórias.
Outro dado interessante para registo é que nos embates entre os principais candidatos ninguém logrou superiorizar-se na conquista de pontos, já no terreno jogo julgo ser inteiramente justo admitir que, no computo geral, o sinal mais foi dado pelo FC Porto nos jogos disputados entre candidatos.
E é aqui que surge alguma estranheza, que acentua a ideia de um Sporting diferente dos anos anteriores: na comparação entre rivais e contendores ao título o Sporting ostenta os número mais débeis em parâmetros importantes na análise de desempenho. Por exemplo, número de remates concedidos e efectuados, e os valores percentuais da posse de bola (dados GoalPoint).
E se houve algo verdadeiramente surpreendente no último dérby foi a apatia de Jesus no banco perante uma equipa sua tão distante daqueles princípios que tanto o notabilizaram: grande intensidade na pressão, quase sempre exercida em duas linhas, independentemente dela ser exercida alta ou com linhas mais recuadas. Muito critério na saída de bola no inicio de construção, sendo a proximidade entre sectores e as diversas soluções de passe que se oferecem ao portador determinantes para o sucesso da jogada.
Ao contrário, esta primeira volta revelou uma equipa demasiado permissiva com especial evidência no recente dérby. Viu-se um Sporting claramente partido entre sectores, onde um William demasiado encostado à linha defensiva compromete o êxito das saídas para o ataque. Dessa forma a bola ou chega raramente à frente sem bola e esta sem grande qualidade para permitir o êxito quando tal sucede. Mais estranho ainda foi constatar a inação de Jesus perante o desmontar de todos as cautelas e tracção traseira do adversário - Pizzi e Fejsa - sem que tivesse ocorrido uma resposta à altura a partir do banco.
Paradoxo Sporting
Para contrariar esta ideia de sinal negativo a equipa de Jesus vestiu o fato de gala para o encerramento da primeira volta, trucidando o Marítimo com uma mão cheia de golos. Por sinal, uma equipa cuja melhor virtude que lhe era apontada era a capacidade de defender. O Sporting é ainda uma equipa invicta, contrariando a ideia (que os números confirmam como uma das equipas que mais remates dentro da área concede) de equipa permissiva e os seus números de golos marcados (38) e sofridos (11) não estão distantes do que os seus rivais conseguiram: FC Porto 45M/9S e SL Benfica 40M/11S.
Ao contrário do que era a marca das equipas de Jorge Jesus, tem havido muito maior relevo para as acções individuais do que as de cariz colectivo. Aqui sobressaem Patrício, a realizar uma época no auge das suas faculdades, alcançando finalmente tudo aquilo que se lhe augurava. A eficácia de Bas Dost, mas muito dependente da capacidade que a equipa tem de lhe colocar a bola na área, onde é sibilinamente letal. Bruno Fernandes surge como a argamassa que une as diferentes pedras e o trio Piccini, Coates e Mathieu como muro que tudo sustenta quando à frente tudo falha.
Não menos paradoxal é o comportamento até ao momento no mercado de Janeiro. Apesar da qualidade indiscutível dos jogadores até agora contratados aquelas que seriam as principais prioridades - defesa esquerdo, número 8 "Adrien style", avançado para jogar com Bas Dost* - continuam por fechar. Ou haverá surpresa com Rúben Ribeiro e afinal Wendel este afinal é que é?
*Quando o artigo foi escrito não se conhecia ainda a vinda de Montero
As dúvidas
É verdade que as equipas de Jorge Jesus tendem a crescer sob o seu comando e talvez ninguém
tenha reparado que no recente jogo com o Marítimo, como na generalidade
dos jogos realizados desde Agosto, Jesus tenha jogado com quatro
titulares que chegaram este ano Ristowski, André Pinto, Coentrão, Bruno
Fernandes. Este número de jogadores sobe para sete considerando os
suplentes utilizados (Acuña, Battaglia e Medeiros).
As perguntas que agora se colocam é se este registo agora obtido é suficiente para chegar ao tão desejado campeonato. Confiando na sorte que tem protegido a equipa em alguns jogos e num eventual desaire futuro do actual comandante, claramente que sim. Parece-me no entanto demasiado ligeira este tipo de abordagem, por confiar em excesso em factores que lhe escapam ao controlo.
O ideal seria por isso eliminar as principais fraquezas acima descritas, o que não se afigura difícil para um técnico tão bem preparado e sagaz como Jorge Jesus. Ainda assim atrevia-me a um vaticínio: a equipa não se sente confortável num registo mais calculista. Ou então, além de uma maior reacção à perda, a melhor organização após posse e as transições deveriam ser melhor trabalhadas.
Saudações Leoninas
ResponderEliminarTambém partilho das tuas preocupações, acho importante a chegada de defesa esquerdo e de um extremo esquerdo. Em relação ao 8 tenho mixed feelings!
Apesar das vitórias do sporting e apesar de estarmos invictos não me dá a sensação de segurança que me deu na primeira época de jesus, onde eu acreditava piamente que dificilmente alguma equipa nos derrotava e o futebol de sufoco que praticavamos era espantoso. Este ano a equipa apesar das vitórias parece estarmos com estrelinha em muitos jogos e é a primeira vez que realmente fizemos jogos muito maus contra o benfica e porto (outros anos jogamos sempre melhor que os adversários).
Tenho a sensação que para sermos campeões teremos que dar um salto qualitativo nas nossas exibições e controlo de jogo, algo que não me parece existir até ao momento, este ano no futebol praticado pelo Sporting. Obviamente que nem tudo é mau, pois em termos de eficácia tanto defensiva como atacante estamos muitos furos acima como alguma vez tivemos, por isso se conseguirmos adicionar mais pressão e controlo de jogo no nosso futebol, acredito que ficaremos mais perto do titulo.
Mas tenho a certeza que este ano vai ser discutido até ao fim pelos 3 grandes, pois o Benfica está apenas numa competição e parece estar a dar sinais de melhoras; O Porto não parece querer quebrar e o Sporting está a encher-se de várias opções de qualidade para se manter nas várias frentes, por isso vamos ver o que no fim nos reserva, se felicidade ou um grande melão. Mas uma coisa tenho a certeza, a equipa que ficar em 3º lugar este ano vai ter consequências no futuro, pois os 3 grandes necessitam da champions como nós precisamos de água para sobreviver. Apesar de eu achar que tanto o Benfica como o Porto estão um pouco mais dependentes que nós nesse ponto, mas não deixaria de ser horrivel se tal viesse acontecer para os nossos lados!
Ponto positivo foi que RR7 pelos vistos veio acrescentar, e agora veremos se vamos começar a dar o tal salto qualitativo já em Setubal, o qual será um jogo muito dificil!
PS: acreditarei que estamos no caminho do titulo se até ao jogo no Dragão vencermos os jogos todos!
Cumprimentos leoninos
JF
Excelente análise meu caro Leão de Alvalade. Há, na verdade, uma marca que separa esta das outras épocas sob a liderança de Jorge jesus. O Sporting tornou-se uma equipa mais calculista, menos virada para o espectáculo. Essa atitude é transmitida de fora para dentro e tem a marca de JJ. Nos jogos contra os adversários directos fomos mais fracos e remetemo-nos - Porto e Benfica - a uma posição defensiva, lutando pelo empate -Porto - ou tentando manter a curta vantagem.
ResponderEliminarMais do que defender a contratação de novos jogadores acho que o nosso sucesso vai depender em grande medida da capacidade que Jorge jesus mostrar para gerir no limite as potencialidades do plantel à sua disposição. O passado recente e o histórico do nosso treinador mostram que essa não é a sua principal qualidade, infelizmente.
Ruben Ribeiro e Montero foram duas excelentes aquisições. Wendel e Misic não contam para este "campeonato". O brasileiro está a aprender chinês e, sendo muito mais dinâmico que Alain Ruiz, via-se nos vídeos disponíveis que marcava muitos golos de meia-distância a partir de posições em que estava liberto de pressão. Veremos como evolui. O macedónio não parece ser tão bom jogador que justifique a sua contratação. Mas o seu compatriota lateral direito revelou-se uma agradável surpresa. Ribeiro e Montero - ainda que este possa estar fora de forma - são valores seguros e excelentes reforços. Um lateral esquerdo bom e barato, daquele a custo zero, seria a cereja em cima do bolo.
LdA bom resumo, há um ponto em que discordo, a fraqueza contra os fortes, se é verdade que não vencemos é igualmente verdade que não perdemos e este outro prisma sobre o qual se pode olhar para esses resultados é para mim mais relevante dado o acumular de vitórias morais que tivemos em outros tempos. Confesso que andava cada vez mais farto de fazer enormes exibições de gala contra Porto e Benfica, para trazer para casa um lucro nulo ou muito reduzido.
ResponderEliminarEstranho que essa visão negativa sobre os nossos resultados contra os grandes, que tenho visto generalizada, aparente uma qualquer obrigação que o Sporting tenha de vencer "sem espinhas" os seus rivais directos, a meu ver não tem, aliás essa obrigação é deles, eles é que têm ganho tudo o que há para ganhar há mais de uma década, é deles a obrigação de nos vencer. Nós somos apenas o humilde underdog a tentar fazer pela vida para se aproximar do nível de conquistas conseguido nos últimos longos anos pelos nossos rivais.
E até agora, ainda nenhum nos venceu...
Sobre o derby, pessoalmente não gosto de William e Battaglia juntos, excepto quando o nosso adversário tem recursos individuais muito superiores aos nossos e é precisa atenção individual a algum jogador adversário, assumindo a equipa uma posição de contenção relativamente à iniciativa de jogo. Ora no derby essa situação não acontecia, ou melhor, devia ter acontecido uma marcação directa a Krovinovic à imagem do que foi feito a Messi ou Dybala o que não ocorreu, apenas estivemos sem necessidade numa postura ultra defensiva sem anular a principal unidade criativa do adversário e sem conseguir controlar o jogo. Foi um erro estratégico e tivemos sorte em sair com 1 ponto deixando a vitória moral com o adversário.
Para finalizar, com registo acima dos 80 pontos não tenho coragem para fazer grandes criticas. É esse o registo que quero e a que o Sporting se deve obrigar, depois se dá campeonato ou não já são outros "quinhentos". Acho que vai ser com um qualquer "pequeno" que este campeonato se vai decidir, ali ao virar da esquina quando um dos candidatos ao titulo baixar a guarda vai acontecer a surpresa... esperemos que a fava não nos saia a nós e quando acontecer a outro que o nosso foco se acentue ainda mais. Vai ser até à última.