Varandas: o ataque foi a melhor defesa
O discurso do presidente Frederico Varandas na gala “Rugidos de Leão” não foi apenas uma intervenção institucional — foi um manifesto de guerra. E não uma guerra subtil, diplomática ou simbólica: foi um ataque frontal, cirúrgico e calculado, com alvos escolhidos e munições pesadas. Villas-Boas, FC Porto, Benfica, arbitragem e narrativas rivais — ninguém escapou. E o que é mais interessante? Varandas já não fala como quem precisa de provar alguma coisa; fala como quem sabe que tem terreno ganho e capital político interno para arriscar.
Há anos que o Sporting vivia refém de discursos defensivos, complexos de inferioridade e guerras internas que minavam qualquer tentativa de afirmação. Varandas, goste-se ou não da persona, rompeu com esse paradigma. O que vimos na gala foi um presidente que escolheu o ataque como forma de identidade. Não se encolhe com as polémicas — não as antecipa mas quando os rivais se "esticam" molda-as e usa-as para unir a sua base.
A crítica ao “manto verde” — aquela ideia instalada e corrida em loop pelos rivais de que o Sporting é favorecido — foi uma jogada inteligente: desmonta o argumento com números, mas, acima de tudo, expõe a obsessão dos rivais com o sucesso recente do clube. E, de forma quase cirúrgica, transforma essa narrativa em combustível para a militância leonina.
A comparação entre Rui Borges e José Mourinho não foi inocente, nem gratuita. Quando Varandas diz que o seu treinador “não faz aquele show de comunicação”, está, no fundo, a posicionar o Sporting num contraste de valores: estabilidade em vez de espetáculo, competência em vez de retórica. Mas, ao contrário do que a comunicação social quis impor, não se tratou de um ataque a Mourinho, mas sim à própria comunicação social e cartilheiros que nela vão medrando, olhando para Rui Borges como um ponto frágil na estrutura leonina, por via do seu curto currículo. Muita dessa retórica é apenas mero preconceito de quem olha para País a partir da capital com tiques cosmopolitas manhosos.
Varandas está a marcar posição na discussão sobre arbitragem: não se limita a reclamar — exige punições duras para quem pressiona árbitros. Deixou um recado claríssimo aos rivais FCP e SLB, sem medo de segundas interpretações. Assume a intenção de proteger o futebol, marcando simultaneamente território político interno e externo. A referência ao “canto dos Açores” é uma forma de devolver o foco: um lance irrelevante transformado em bandeira anti-Sporting revela mais sobre a ansiedade dos rivais do que compromete o Sporting.
A quem Varandas dedicou especial atenção foi a A André Villas-Boas.A expressão “bafio e hipocrisia” não é o tipo de frase que um presidente usa levianamente. Varandas sabe perfeitamente o peso da linguagem. Ao acusar André Villas-Boas de uma operação premeditada de pressão sobre árbitros, está a:
É, talvez, o ataque mais duro entre presidentes dos últimos anos. E abre uma linha de conflito que não será resolvida com comunicados polidos. O objetivo final: coesão interna e legitimidade externa.
romper com a diplomacia tradicional entre grandes;
desafiar diretamente o poder azul e branco;
e sugerir que certas práticas são velhas demais para um futebol que se quer transparente.
O apelo final aos sportinguistas — “lutar lado a lado”, “orgulho de pertencer ao melhor Sporting da vossa vida” — não é apenas retórica emocional. É um exercício de mobilização política. Varandas quer um Sporting unido internamente, confiante e disponível para enfrentar estruturas que considera adversas. E, neste momento, a sua voz combina duas coisas raras no futebol português: autoridade institucional e legitimidade emocional perante os adeptos.
O Sporting tem hoje um presidente que fala como líder de guerra. Os rivais podem achar exagero. Podem acusá-lo de vitimização. Podem tentar responder com montagens de vídeo ou frases editadas. Mas uma coisa é certa: Varandas já não está no campeonato dos discursos cautelosos. Está num campeonato próprio. E, quer se goste quer não, isso dá força ao Sporting. E talvez seja exatamente essa a intenção.
O aftershock deste discurso não vai ser pequeno. Este é o tipo de intervenção que mexe com bastidores, incomoda poderes instalados e obriga muita gente a sair da zona de conforto. Talvez os adeptos mais velhos, que viveram anos de desgostos e contrariedades, sintam receio, para os mais novos, que vivem o tal melhor Sporting das nossas vidas, este é como deve ser o Sporting.

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